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História L'ultimo Ballo - Quattordici


Escrita por: lutteando

Notas do Autor


2/6 💕

>>Música do capítulo: Only Love Can Hurt Like This – Paloma Faith<< (link nas notas finais)

Capítulo 15 - Quattordici


Fanfic / Fanfiction L'ultimo Ballo - Quattordici

"Crescer também é aprender com os erros, é aceitar que a culpa também é sua."


Nova York, Estados Unidos
Fevereiro de 2020

Luna Valente

Estava na varanda do meu apartamento sentindo as fortes rajadas de vento batendo contra minha pele e meus pelos eriçarem. A quentura do chocolate quente em minhas mãos dissipou-se há tempos no ar gelado. As férias de fim de ano já terminaram, porém o frio ainda era bastante intenso aqui nos Estados Unidos. Dentro do apartamento a animação era nítida, minha família resolveu passar as férias desse ano junto comigo por aqui mesmo. Fiquei feliz, pois não estava com cabeça para fazer uma nova viagem, tinha que me concentrar na primeira competição que eu participava depois do incidente meses atrás.

As vozes lá dentro eram abafadas para mim por conta do vidro que nos separava e impedia que eu ouvisse tudo o que falavam com clareza. Meus pensamentos encontravam-se bastante distantes dali. Há uma semana atrás recebi vários e-mails e todos com o mesmo remetente. Matteo Balsano. Não entendi nada daquilo, por qual motivo ele me escreveu esses e-mails? Não sabia as mensagens que continham neles, já que não tive coragem o suficiente para abri-los.

Espantei-me quando alguém sentou ao meu lado e tocou em meu ombro, pois não ouvi quando a porta foi aberta nem os seus passos. Era a Âmbar, ficamos muito próximas nos últimos anos, principalmente depois da conversa que tivemos quando ela saiu pela primeira vez da clínica. Nunca pensei que diria isso, por causa de tudo que passou entre nós duas, mas a tenho como uma irmã, sempre que nos encontramos conversamos bastante, sem contar que nunca deixamos de estar em contato uma com a outra por mensagens ou vídeo chamadas, também agora ela morava com meus pais e avô na mansão da Argentina.

— O que aconteceu com você? Nunca te vi assim tão calada, sempre era a que não parava a boca. Confesso que me irritava um pouquinho. — Soltei uma risada com a última parte.

— Só estou pensando na vida, sabe. É tudo muito estranho, eu sei que já faz anos, mas eu não consigo me acostumar com essa nova vida. — Senti as lágrimas inundarem meus olhos e tratei de respirar fundo para não deixá-las caírem.

— Não entendi, não era o seu sonho patinar em competições por todo o mundo? — sua pergunta mostrava claramente a confusão já estampada em seu rosto.

— Sim, mas não é a mesma coisa, eu sinto falta da privacidade que eu tinha, tenho saudades de patinar com todo mundo no roller, de me sentir livre. Aqui eu estou sempre rodeada de câmeras, pessoas querendo saber o que eu vou fazer da minha vida. Não importa o que seja, eu posso ir na esquina e no outro dia vai está nos  jornais querendo saber o que eu fui fazer na esquina. — Nunca tinha contado isso para ninguém, sempre guardei tudo dentro de mim, mas sabia que podia confiar na Âmbar, ela sempre tem algo para dizer e me animar. — Mas o pior foi eles terem buscado coisas do meu passado que eu queria esquecer para sempre.

— Você fala do site de fofoca que postou uma notícia sobre você e o Matteo? — confirmei com um maneio de cabeça, isso para mim foi o estopim. Com o meu sumiço das pistas por um tempo, eles não tinham nada para postar e resolveram ir em busca de coisas do meu passado, e não foi muito difícil encontrar vídeos meus com o Matteo, já que competimos muitas vezes juntos e a Jazmín fazia questão de gravar todos os momentos, tanto dentro quanto fora da pista.

— Eu não aguento mais isso, sem contar as diversas mensagens que eu recebo das pessoas dizendo que nós formamos um lindo casal e perguntando o porquê de termos terminado. — Revirei os olhos e soltei uma lufada de ar mostrando minha irritação.

— Apenas ignora, se você não der Ibope eles vão cansar e o foco irá mudar. — Queria muito que isso acontecesse não aguentava mais.

— Obrigada por me escutar, agora eu vou dormir, amanhã tenho que acordar cedo porque tenho terapeuta. — despedi-me dela e entrei dentro do apartamento cumprimentando a todos e dando boa noite.

Fechei a porta do meu quarto e deitei em minha cama. Não conseguia pregar os olhos, meus pensamentos estavam uma bagunça e eu perguntava-me o que iria fazer agora, qual era a decisão certa a ser tomada? As mensagens do Matteo ainda ocupavam a maior parte da minha mente, estava com medo de ler o que tinha nelas e a dor dentro de mim aumentar mais.

Porém eu sempre fui curiosa, então peguei o meu notebook e liguei, em seguida loguei no meu e-mail e abri a caixa de entrada. A setinha pairava em uma das diversas mensagens dele, antes que a pequena faísca de coragem que surgiu dentro de mim se esvaísse, cliquei para abrir o e-mail.

De: Matteo Balsano

Data: 03 de Fevereiro de 2020

Para: Luna Valente

Assunto: Tudo vai ficar bem

“Eu estou orgulhoso de você, está seguindo em frente e buscando alcançar seus sonhos. Desde que eu te conheci que você é assim, nunca desiste de nada, sempre luta até o final, nada nunca te impedia e quando paro pra pensar, percebo o quanto você lutou para continuarmos juntos, infelizmente foi tarde demais. Talvez não fosse para ser, dói pensar dessa forma, mas todos os dias eu me esforço para te esquecer completamente, pois sei que sua felicidade não era comigo e que essa dor será passageira, em breve você encontrará alguém que faça seu coração acelerar e que consiga arrancar um sorriso seu sem você ao menos perceber, parece algo bem tosco, mas é verdade, quando o amor chegar até você, faça o favor de amar de volta, pois não é todo dia que isso acontece. Permita-se recomeçar, não pense no que passou nem em tudo o que vivemos juntos, o primeiro passo para recomeçar é deixar no passado algo que não lhe fez bem. Quem sabe um dia não iremos nos reencontrar em uma dessas estradas da vida, muito provavelmente estaremos com o nosso destino traçado e fazendo o que mais sonhamos, talvez já estejamos casados com outras pessoas vivendo e aprendendo. Recomeça e viva cada minuto intensamente. Não existe problema em esquecer e você pode ter certeza que no final tudo vai ficar bem.

De Matteo,

Com todo o carinho!”

Fechei a tela com força e afastei o notebook de perto de mim rapidamente. Dobrei minhas pernas fazendo com que minhas coxas encostassem em meu busto e apoiei minha testa no joelho, sentindo as lágrimas quentes que desciam de meu rosto molharem a pele fria abaixo dele. Não conseguia entender, por que ele enviou aquilo? Por que escreveu todas essas mensagens?

Acordei no dia seguinte totalmente indisposta, a noite de sono mal dormida me rendeu uma bela dor de cabeça e um inchaço na região abaixo dos meus olhos, por causa do choro que perdurou até altas horas. Sempre que eu tentava dormir, várias imagens inundavam meus pensamentos e atrapalhavam meu sono. Em especial, uma em que me encontrava caída no meio de uma pista de patinação com Matteo ao meu lado, não existia mais ninguém no local e em certo momento, senti o aperto em minha mão afrouxando-se e ele saindo do meu lado, fiquei apenas observando enquanto ele ia embora para longe de mim e eu não conseguia sair do lugar para tentar impedi-lo, foi quando tudo escureceu e eu acordei.

Depois desse sonho resolvi que não voltaria a dormir, então permaneci acordada durante toda a madrugada, tentando eliminar a sensação de perda e de que algo ruim aconteceria. Agora estava aqui passando uma boa camada de corretivo e base em meu rosto para diminuir o inchaço e eu aparecesse ao menos apresentável na sessão de hoje com a terapeuta.

Após alguns minutos esperando, a doutora Catarina apareceu para que eu entrasse na sala e começássemos a sessão. O ambiente era bastante amplo e arejado, haviam várias frases de motivação espalhadas pelas paredes. Sentei em uma poltrona de cor bege que ficava de frente para a outra no mesmo estilo e que era separada apenas por uma mesinha pequena de vidro que sustentava um prato com alguns biscoitinhos coloridos.

— Bom dia Luna, poderia me contar como foi o seu feriado? — Ela tinha um caderno em mãos para que pudesse anotar o que eu dissesse.

— Bom dia, meu feriado foi muito bom, minha família veio da Argentina para ficar aqui comigo e eu fiquei muito feliz, porque fazia tempo que não os via e não conversava pessoalmente com eles e com minha prima Âmbar. — Depois de terminar de contar isso, fiquei sem saber o que dizer, não queria contar sobre as mensagens do Matteo, pelo menos não agora.

— Você ficou desconfortável, aconteceu algo que lhe chateou ou lhe deixou triste durante o feriado? — ela continuava a fazer suas anotações e eu apenas balancei a cabeça afirmando. — E você quer me falar o que foi que aconteceu?

— Poderíamos não falar disso hoje? É que eu ainda não estou preparada.

— Claro, vamos falar sobre outra coisa. — Agradeci por ela não ter insistido. Meus pensamentos sobre isso ainda eram uma bagunça e eu não sabia o que sentir ou o que pensar sobre tudo. — Hum... Fiquei sabendo sobre o que lhe aconteceu na última competição. Será que poderia me contar o que estava sentindo e por que aquilo sucedeu?

Respirei fundo várias vezes tentando criar coragem para falar sobre, não era mais um assunto tão recente, porém, em todos as sessões eu adiava. Na verdade estava adiando todos os assuntos que envolviam o Matteo, um dos principais causadores da minha instabilidade psicológica. Falei sobre o meu passado, a Sharon, a Âmbar, sobre tudo, menos sobre ele, apenas superficialmente, nada muito aprofundado.

— Eu não sei bem o que aconteceu, eu estava lá patinando e de repente quando olhei para a minha mão e não o encontrei lá, um desespero subiu pelo meu peito e tudo ao meu redor sumiu, conseguia ver apenas uma sombra que ia se afastando gradativamente e a pessoa repetia algo que eu não entendi, mas eu sabia que era ele e que falava do anel.

Olhei para fora pela janela de vidro e observei o exato momento em que uma nuvem em formato de morango passou em frente ao prédio, ótimo, minha cabeça agora fica imaginando coisas relacionadas a ele que não existem, é exaustivo para a minha mente.

— Que anel é esse Luna? E quem era essa pessoa que você viu? — sua voz doce e tranquila fez eu me acalmar um pouco.

— O Matteo. — Foi a única coisa que eu consegui dizer.

— Pelo pouco que você me falou, Matteo é o seu ex, certo? — confirmei com um balançar afirmativo de cabeça. — Okay... Fale-me sobre esse anel, qual a importância dele para você? Por que dessa reação sua quando se deu conta de que não o usava?

— O Matteo quem me deu esse anel, foi algumas semanas antes de ir embora. Ele disse que sempre que eu estivesse usando aquele anel ele me traria sorte e eu conseguiria realizar qualquer coisa que eu quisesse — inspirei com dificuldade e percebe um soluço contido ali. — Não é algo extravagante, é aqueles anéis que as crianças gostam de brincar, e que tem uma luzinha, ele também disse que toda vez que acendesse ele estaria pensando em mim.

— Pelo que está me dizendo, é um objeto de um grande valor sentimental. Você ainda guarda esse anel? — respondi a sua pergunta apenas com um "sim" que saiu quase inaudível de meus lábios. — Por que você não o usou no dia da apresentação?

— Alguns dias antes o Matteo me ligou e isso mexeu muito com os meus sentimentos, eu pensava que já havia superado, mas foi apenas ouvir sua voz que tudo desabou. A tristeza se apoderou de mim e eu não sabia o que fazer, passei muito tempo esperando por pelo menos uma ligação dele e não aconteceu. No dia da competição, antes de entrar na pista eu tirei e guardei o anel, queria livrar-me de todas as coisas que ainda me ligassem a ele.

— Ele foi alguém muito especial para você, e não será a ausência de algo que o lembre que fará você esquecê-lo e deixar de sentir o que sente.

— Mas é que... Já faz quase três anos que ele foi embora e eu tentei, juro como tentei deixar de sentir o que eu sinto, eu queria com todas as forças odiá-lo por ter me deixado naquele estado. — As palavras saíram apressadas e falhas por causa do choro preso em minha garganta.

— Luna, as coisas não funcionam assim. Talvez nunca deixe de sentir isso, possa ser que esse sentimento que existe aí dentro nunca suma. Você deve apenas tentar se acostumar com a ausência dele, aprender a conviver com ela e entender que nada nem ninguém é responsável pela sua felicidade, deve viver a sua vida sem querer apagar o que existe dentro de você.

— Não é fácil, eu sinto muita saudades e isso é horrível, eu não aguento mais. — minha voz saiu embargada por causa das lágrimas que meu corpo já liberava.

— Sentir saudades é bom Luna. Talvez você devesse apenas aceitar a ida dele. Sofrer também faz parte da mudança.

 

As semanas seguintes passaram como um flash diante dos meus olhos, meus dias foram resumidos em ensaiar bastante para conseguir passar das regionais e me classificar para as nacionais. Estava esforçando-me para apagar de uma vez o acontecimento da última competição, com a ajuda da doutora Catarina eu alcancei meu objetivo e fiz uma apresentação incrível garantindo minha vaga.

Hoje era mais um dia de consulta e eu me encontrava bastante nervosa, nos últimos dias eu andei lendo outras mensagens do Matteo e estava disposta a falar sobre o assunto na sessão de hoje.

Sentei na mesma poltrona de sempre e fiquei quieta durante bons minutos esperando que ela iniciasse a conversa, não tinha coragem o suficiente para o fazer e necessitava de um empurrãozinho.

— Vejo que você está bastante nervosa, quer me contar algo?

— Lembra que eu tinha falado que aconteceu algo durante o feriado de fim ano? — perguntei e ela respondeu que sim, confirmando. — Bom... é-é eu recebi algumas mensagens do Ma-Matteo — gesticulava com as mãos tentando liberar a tensão que dominava o meu corpo.

— E você chegou a ler alguma dessas mensagens?

— Nos últimos dias eu andei lendo bastante, ainda não consegui ler todas e, apesar de ainda me sentir triste, não é mais tão doloroso como um dia já foi. — Não havia me dado conta desse fato até aquele momento, eu não sentia mais o vazio de antes e não entrei em pânico, como aconteceu quando li a primeira mensagem.

— Isso é ótimo Luna, será que você poderia ler um desses e-mails para mim? — sua pergunta pegou-me de surpresa. Eu teria coragem para ler em voz alta? Eu realmente queria que outra pessoa além de mim soubesse o que tinha escrito naquelas mensagens?

Com as mãos trêmulas e suadas, abri a bolsa e peguei meu celular lá dentro, nervosamente entrei na aba do e-mail e abri uma das mensagens, ainda não havia lido aquela. Respirei fundo algumas vezes para criar coragem e ler em voz alta.

De: Matteo Balsano

Data: 03 de fevereiro de 2020

Para: Luna Valente

Assunto: Você é forte

"Fiquei sabendo o que aconteceu com a Âmbar e sinto muito, espero que você esteja bem e recuperada. Sempre soube que ela tinha problemas, mas nunca cheguei a imaginar que fosse tão sério, desejo que ela fique bem logo. Nossa, falar disso é bem difícil, mas eu sei que tudo terminará bem, você é forte e sempre encara todos os problemas de frente, nunca desiste e aceita uma derrota de cabeça baixa, não imagina o quanto sempre admirei isso em ti. Muitas vezes invejei essa sua força de vontade, eu podia ser o mauricinho que se achava o melhor em tudo o que fazia, mas na realidade eu tinha medo, medo de errar, medo de tentar e não conseguir, morria de medo de me apaixonar por você e olha só para mim, não consigo te esquecer. Pensando bem, eu não tinha medo de amar você, não, eu tinha medo do que poderia acontecer se eu amasse você, tinha medo de sentir o que eu estou sentindo agora, de sentir que eu não pertenço a lugar nenhum que não for ao seu lado. É, talvez eu tenha feito tudo errado e talvez eu sinta muito a sua falta, sei que isso vai ser para sempre, assim como o meu amor por você.

Atenciosamente,

Chico fresa!"

Um sorriso surgiu em meio as lágrimas que embaçaram minha vista, nunca pensei que ouviria o Matteo dizer que sentia medo, na verdade eu não ouvi, mas dá no mesmo. Será que estaríamos juntos agora caso ele não tivesse ido embora? Talvez sim, talvez não, nunca saberemos a resposta.

— O que sentiu ao ler essa mensagem?

— Senti saudades, porém não fiquei triste como das outras vezes. — confessar aquilo em voz alta fez um suspiro de alívio sair por meus lábios e meu coração aliviar.

— Não quer dizer que aconteça, mas se acontecer, o que você faria se reencontrasse com o Matteo e tivessem uma nova oportunidade de ficarem juntos? — Sua pergunta foi uma surpresa para mim, apesar de sentir-me bem melhor em relação a sua ida, não sei se estava preparada para encontrá-lo cara a cara, tinha medo que tudo que eu consegui superar até agora fosse por água abaixo quando eu olhasse em seus olhos castanhos que sempre me deixaram hipnotizada e me fizeram amá-lo tanto.

— Eu não sei, eu realmente não faço a menor ideia.

Nova York, Estados Unidos
Novembro de 2020

Sempre me importei e não recebi nada de volta. Sempre coloquei a felicidade dos outros acima da minha e agora, entendia que não poderia dar a felicidade aos outros se eu não soubesse o significado desse sentimento, se eu não estivesse feliz comigo mesma. Estive por muito tempo buscando felicidade em outras pessoas, em outros lugares, sem saber que ela habitava aqui dentro de mim, apenas esperando para ser liberta.

Aprendi a pensar em mim antes de tudo e sim, sei que é egoísmo, mas é sempre bom ter um pouco disso dentro de nós. De nada adianta ir acumulando sentimentos ruins, mágoas dentro de si, colocando os problemas dos outros na frente dos seus, pois vai chegar um momento que tudo isso que você juntou vai precisar sair, porque você não aguenta mais essa dor e tudo vai desabar, suas estruturas cairão e você não saberá o que fazer pois nunca foi nenhum pouquinho egoísta e sempre pensou nos problemas dos outros e nunca nos seus. Eu lhes garanto que vai doer, vai doer muito, terá dias que você irá querer apenas se manter longe, que você vai chorar encolhida em um canto do seu quarto, mas saiba que todo esse sofrimento é essencial, pois foi a única forma que seu corpo achou de aniquilar suas mágoas, através da dor.

Em todas as noites que sucederam a despedida do Matteo, minhas grandes companheiras de todas as noites eram as lágrimas e em certo momento, o cansaço já havia dominado o meu corpo, era só assim que eu conseguia dormir e foi assim por muito tempo.

Eu queria a todo custo odiar o Matteo, porque na minha mente ele não merecia todo o meu sofrimento, não merecia o meu amor, não merecia nem sequer o meu ódio, nenhum sentimento vindo de mim, tanto bons quanto ruins. Foi inútil pensar dessa forma, meu coração já era dele e isso nunca mudaria, eu poderia mudar, mas esses sentimentos não.

No começo, as palavras que ele me disse machucaram de maneira bem intensa, senti como se meu coração estivesse partido em milhares de pedacinhos e foi o que pareceu mesmo, ao longo dos anos fui aprendendo a me reconstruir através da dor. E agora eu percebia, eu sou tão culpada quanto ele, nosso relacionamento não funcionou porque eu não o entendia nem ele entendia a mim. Crescer também é aprender com os erros, é aceitar que a culpa também é sua. Eu exigia algo do Matteo que eu não dava, minha terapeuta falou que para dar certo deve existir reciprocidade, não apenas reciprocidade de amor, reciprocidade de todo o resto, de companheirismo, compreensão, respeito e principalmente, de confiança. Enquanto tínhamos alguns em grandes quantidades, tínhamos outros quase se esgotando.

Pensei bastante antes de tomar essa atitude, não queria fazer algo precipitado, mas eu sabia que era o momento, eu precisava liberar tudo isso que existia aqui dentro de mim, todos os sentimentos que me sondaram durante os últimos anos.

Com isso em mente, fui até a minha escrivaninha e peguei folhas de papéis e um lápis. Eu iria escrever uma carta para o Matteo, ele merecia saber como eu me senti e que eu o perdoei por todo o mal que ele me fez, esperava que ele também me perdoasse pelo mal que o fiz.

Não foi nada fácil, passaram-se longas horas sem eu ao menos saber como iniciar aquela carta, nada parecia estar bom o suficiente. Mas ao terminar o primeiro parágrafo, o restante fluiu como a correnteza de um rio, sem precisar de muito esforço, as palavras apenas seguiram o seu rumo.


Notas Finais




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