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História L'ultimo Ballo - Quattro


Escrita por: lutteando

Notas do Autor


>>Música do capítulo: Volverte a Oír – Ventino<< (link nas notas finais)
Boa leitura meus amores

Capítulo 5 - Quattro


Fanfic / Fanfiction L'ultimo Ballo - Quattro

"Cancún naquele momento chorava, chorava por mim, por ele, por nós. Por mais uma história de amor que teve um final trágico.”

 

Luna Valente

— Adeus Chica delivery.

Minhas pernas fraquejaram e meus joelhos foram de encontro ao chão, a dor que esse contato causou foi imperceptível comparada a dor que me preenchia completamente por dentro.

Essas foram as últimas palavras de Matteo, que me destruíram mais do que qualquer erro que ele cometeu, apenas essas duas palavras foram necessárias para eu ficar no estado que estava agora.

Naquele momento eu era apenas uma constituição de lágrimas e dor. Meu rosto estava completamente molhado, não me importava nenhum pouco com o sabor salgado das lágrimas que entravam em contato com meus lábios. Eu precisava do elemento fundamental para a vida, não importava o quanto de ar que eu inalasse, nada adiantava, era como se estivesse inalando gás carbônico ao invés de gás oxigênio, o que matava-me lentamente. Tossi algumas vezes, tentando fazer aquela sensação desaparecer de dentro de mim. Nada resolvia. Estava engasgada, não sabia se o motivo era os meus fortes soluços ou as lágrimas que ingeria. Essa dor acabava comigo.

Eu afogava-me? Se for, a sensação é terrivelmente ruim, mesmo estando consciente não conseguia me mover, era como se algo estivesse me puxando cada vez mais para o fundo, impedindo-me de levantar. Minhas mãos tremiam nervosamente e suavam.

Minha visão foi ficando turva e uma dor agoniante atingiu toda a região acima dos meus olhos, fechei-os rapidamente, tentando suavizar essa sensação. Quando os abri de novo, tive o pressentimento que a dor no meu corpo estava evaporando em forma de micropartículas bem diante dos meus olhos. Respirei desesperadamente e por fim o ar entrou em meus pulmões, queimando cada espaço por onde passava.

A vontade de chorar estava presa na garganta, mas não conseguia, nada saía. Acreditava que não tinha mais lágrimas para serem derramadas por causa da desidratação acumulada dos últimos dois dias e pelo tanto que já as derramei.

Cancún naquele momento chorava, chorava por mim, por ele, por nós. Por mais uma história de amor que teve um final trágico. Perguntava-me quantas e quantas pessoas não estavam terminando um relacionamento de anos naquele exato momento. Nós éramos apenas mais um em meio a tantos.  

Nunca pensei que um dia fosse sentir algo tão forte por alguém e, que esse sentimento fosse me fazer sofrer tanto. Agora só restava-me juntar os pedaços do meu coração, guardar em um lugar seguro, onde ninguém terá acesso, e aos poucos ir juntando pedaço por pedaço, para só assim tentar voltar a amar. Não vai ser fácil, sei disso, mas preciso tentar.

Levantei do chão com a intenção de voltar para minha cama, enrolar-me com o edredom e ficar ali no quentinho. Minhas pernas estavam trêmulas e até a simples atividade de caminhar era um grande esforço. Deitei-me e senti o cheiro do perfume dele nos lençóis, na realidade todo o quarto cheirava à ele. Permiti-me sonhar mais um pouco e abracei o travesseiro inalando fortemente a fragrância amadeirada, pensando que ele ainda estava ali comigo, que meu corpo encontrava-se sobre o quente e macio do seu, imaginei isso até ser invadida pela incoerência e entrar no mundo dos sonhos.

Estávamos no avião prestes a decolar para voltarmos a Buenos Aires. Apesar da derrota, todos estavam eufóricos e com a certeza de missão cumprida. Juliana ficou orgulhosa e parabenizou a todos dizendo que fizemos o nosso melhor mesmo com todas as desavenças que sucederam ao longo do caminho. Mas, sentia que ela escondia algo e que isso estava a perturbando. Tentaria descobrir o que era, porém, não tinha disposição para fazê-lo por agora.

Agradeci por o assento de Matteo ser bem distante do meu, não sei se suportaria ficar tão perto dele. Só em saber que estávamos dividindo o mesmo ambiente me sentia enjoada, a raiva que eu sentia por ele era enorme.

— Luna, você está bem? — Nina perguntou, ela estava dando o meu espaço e não questionou sobre nada do que aconteceu e eu agradeci por ela entender que eu queria ficar sozinha sem eu precisar falar nada. Mas eu sabia que uma hora ela perguntaria e eu falaria tudo porque não estava mais aguentando guardar toda essa angústia e ódio dentro de mim. Esse não seria o momento, precisava de mais um tempo só para mim.

— Não, não estou bem. Mas não precisa se preocupar, vou ficar. — Queria manter-me confiante, se eu fosse positiva comigo mesma tudo daria certo no final das contas. — Eu sei que um dia eu vou esquecê-lo, e toda essa dor e ódio que tenho aqui dentro vão sumir, é apenas uma questão de adaptação.

— Eu fico feliz que pense assim, sei que você é forte o suficiente para superar. Eu li uma vez que se você tiver os pensamentos positivos é mais fácil de lidar com as consequências e tem mais chances de você esquecer completamente o que aconteceu ou o que sentiu. — Não sei o que seria de mim sem a Nina, apesar de muitas vezes ela falar coisas que eu não entendia nada, sempre estava me apoiando e dizendo que tudo ficaria bem.

— Mas como você está em relação ao seu passado? — Ela chegou em um assunto que eu não gostaria de lembrar. Bloqueava tudo sobre isso.

— Eu prefiro não pensar, é mais fácil fazer minha mente acreditar que tudo não passou de um sonho.

— Você não pensar nos seus problemas não significa que eles não vão mais existir. Não pode ficar adiando o inevitável, foi algo que te pegou de surpresa e que te abalou. Você está tentando colocar toda a culpa da sua dor no Matteo, pelo que ele lhe fez, tentando bloquear as memórias do seu passado e esquecer o que descobriu. Você precisa tentar entender e aceitar para conseguir superar. Caso não, isso vai lhe perseguir para sempre, nunca irá acabar, estará sempre em sua mente te lembrando o quão terrível foi e ainda é.

Não falei nada, apenas fechei os olhos e tentei segurar as lágrimas que insistiam em sair. Sabia que ela estava certa, mas não queria aceitar, preferia continuar no meu mundinho onde meus pais biológicos não morreram em um incêndio causado por minha tia psicopata que nutria uma paixão platônica pelo marido da irmã. Para minha cabeça e meu coração era melhor mentir e dizer que a dor que eu sentia foi causada apenas por um garoto que destruiu e desestabilizou todo o meu ser. Não era totalmente mentira, era uma verdade parcial, estava apenas preservando a minha saúde mental.

 

As semanas passaram como um filme sendo adiantado, rápido e sem você poder ter noção de algo que tivesse passando na tela. Já fazia um mês que eu falei pela última vez com o Matteo e duas semanas que cheguei a Buenos Aires. Durante esse tempo fiz de tudo para me esquivar do assunto "meu passado", passava a maior parte do meu dia dentro do quarto, raramente saía para comer e minha mãe sempre trazia minha comida, que ficava praticamente intocada. Não sentia fome ou sede. Meus lábios secos e rachados por causa da desidratação clamavam por água.

Meus pais adotivos e o senhor Alfredo estavam respeitando minha decisão e não insistiram em falar sobre o que aconteceu. Nos últimos dias minha mãe fazia questão de ficar no quarto até eu comer tudo, e todas as vezes ela insistia em perguntar o que passou em Cancún, pois acreditava que aconteceu outra coisa além de descobrirmos que eu sou a Sol Benson, mas eu sempre negava, não queria que ela ficasse ainda mais preocupada. Também não estou falando muito, apenas palavras curtas e objetivas. Há várias chamadas perdidas do Simón e da Nina em meu celular, não queria conversar com ninguém. São raras ou nulas as coisas que me animavam.

Fiquei sabendo que o Matteo viajava hoje e senti meu coração apertar dentro do peito, não queria sentir isso, eu o odeio por está fazendo isso comigo.

Pela primeira vez em semanas eu resolvi fazer a refeição na mesa junto com os outros. Eu continuava no meu quartinho de sempre, não me importava por ser pequeno, era ali onde eu encontrava minha paz, ocupar um quarto na mansão seria terrivelmente estranho naquele momento.

Vou para a sala de jantar onde Mônica, Miguel e o senhor Alfredo já se acomodavam em suas cadeiras. Ao me ver o Alfredo se alegrou e começou a perguntar se estou bem, eu apenas balancei a cabeça tentando parecer confiante com a resposta.

— Ora ora, olha só quem resolveu aparecer para nos dar a honra de sua presença. — Âmbar despontou no final da escada falando ironicamente. Engoli em seco, não estava preparada para aquela situação.

— Âmbar por favor, não começa. — O senhor Alfredo interviu ao meu favor. Estava sentindo que eu não iria ficar confortável com qualquer conversa que ela quisesse ter comigo.

— Não começar o quê? Estou apenas tentando conversar com a Luninha, não é priminha? — ela olhava para mim a todo o momento, seu olhar faiscava em ódio e eu não a culpava por isso. Apenas abaixei a cabeça desviando o olhar do dela. — Sabe, essa família está tão cheia de mentiras que eu me pergunto se você é realmente a Sol Benson. Porque assim, ninguém tem certeza não é mesmo?

Senti meus olhos marejarem e sem que eu pudesse fazer nada as lágrimas já saíam de meus olhos. Não sei porquê, mas suas palavras me atingiram de uma forma muito intensa. Será que eu sou mesmo a Sol?

— Porém o que eu quero saber mesmo é outra coisa, me responda: esse showzinho todo que você tá fazendo é por que descobriu ser a Sol Benson? Ou por que o Matteo não te aguentou e resolveu ir para outro continente bem longe de você? — Ela continuava a desfilar o seu veneno. Eu não iria aguentar por muito mais.

— Matteo? Não é aquele garoto que você namorava? Qual a relação dele nessa história toda, o que ele te fez Luna? — meu pai perguntou alterado, o que eu menos queria agora era que ele surtasse por causa disso. Por mais que eu estivesse odiando o Matteo naquele momento não desejava que o envolvessem nos assuntos familiares, ele não tinha nada com isso.

— NADA, o Matteo não fez nada. — Levantei da cadeira em um rompante, minha voz mais alta do que eu desejava. — Fui eu, eu que fiz.

Eu precisava sair dali. Não apenas da cozinha, mas daquela casa. Tudo ali me sufocava, destruindo tudo o que ainda restava dentro de mim. Não sei de onde reuni forças, mas naquele momento eu já estava fora daquela mansão, sentindo o vento gelado batendo contra o meu rosto. O frio que fazia lá fora não me incomodava em nada, eu queimava por dentro.

Meus pés latejavam implorando para que eu parasse de correr. Meu coração ardia e as lágrimas, ah as lágrimas, minhas mais novas companheiras me acompanhavam mais uma vez. Quando parei percebi para onde eu tinha ido. Estava no aeroporto. Não sei como cheguei ali nem o porquê. Então lembrei, Matteo iria embora hoje.

Você não deveria está fazendo isso. Corre daí rápido Luna, você não quer ver isso.

Entrei no local e segui até a sala de embarques. Parei por um segundo em busca de respostas. O que eu queria com tudo isso?

Saia agora. Você vai se arrepender do que verá aí dentro.

Mas eu apenas segui, sem importar-me com as instruções sensatas da minha mente. Ingênua como sou, continuei obedecendo as ordens do meu insano coração.

Tola. Burra. Masoquista. Estúpida. Dê meia volta agora. Volte e refaça o seu destino.

Continuei andando e só parei quando o avistei. Meu coração parou, mas não demorou muito para voltar a bombear com uma velocidade intensa. Tão lindo. Então ele virou e o chão desabou abaixo dos meus pés. Seus olhos sempre tão brilhantes e intensos agora opacos e cheios de escuridão. Estava diferente, não conseguia enxergar a energia que sempre irradiava dele. Eu não deveria ficar preocupada com o seu estado, minha mente gritava dizendo que eu deveria ficar feliz por ele se encontrar tão mal quanto eu.

Quando ele me viu senti todas as minhas células saindo do corpo e indo em sua direção, clamando por seu toque. Ele deu um passo, como se estivesse prestes a vir em minha direção. Um alerta piscou em minha cabeça mandando eu sair daquele lugar agora. Pela primeira vez naquele dia eu obedeci ao meu cérebro e corri para longe do Matteo.

Escorei-me em uma pilastra, sem ao menos raciocinar eu já estava sentada ao chão, com as mãos no rosto e chorando como uma criança. As pessoas passavam e me olhavam com pena, algumas assustadas pela situação deplorável em que me encontrava. Não me importava com nenhuma delas.

Voltei a olhar para trás no exato momento em que ele virava as costas para mim e seguia para o portão de embarque.

Enquanto ele estava indo embora meu coração queria pedir para que ele ficasse e não destruísse o que nós um dia tivemos. Mas meu orgulho apenas permitiu que eu dissesse um se cuida silencioso. E ele se foi.

Doeu.

 


Notas Finais




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