História Luminous Angel - Férias no Tártaro

 “— Se ele não volta ao menos que as Moiras permitam que eu o encontre em outra vida e possa mostrar que o amo e posso protegê-lo.

 Pediu a mesma coisa repetidas vezes enquanto embalava o corpo de seu amado, até que os olhos do cadáver se fecharam sem que ele os fechasse, era a mão das moiras, só poderia ser. Para confirmar seus pensamentos uma voz áspera lhe alertou:

 ‘Não desperdice sua segunda chance quando a hora chega’”

 

 Quando Will deu por si estava de volta ao salão feito pelos deuses no chalé de Zeus. Rachel desmaiou e Apolo a segurou antes que atingisse o chão, deixando-a com cuidado em cima de uma cadeira.

 — Eu desperdicei minha chance — disse se sentindo ainda pior por não ter salvado Nico quando pode — não o protegi, escolhi outras pessoas assim como no passado escolhi seguir Heitor e meus pensamentos mesquinhos.

 — Will, não estamos te mostrando isso apenas para te torturar, é para te alertar.

 Afrodite disse o encarando com olhos mais compassíveis, agora que ele sabia do seu passado como rei de Creta parecia que algo em seu olhar era familiar a ela, acompanhou aquela história de amor do começo ao fim, e agora a observava novamente.

 — Você ainda tem a sua segunda chance, a terá enquanto viver esta vida.

 Pensava em tudo que lhe mostraram, naquele dia em que perdeu seu grande amor pela primeira vez perdeu muitos homens, jurou também proteger a todos que podia, ao voltar como semideus filho de Apolo, curandeiro, estava cumprindo ainda com seu destino.

 Então seus dois objetivos naquela vida se cruzaram, proteger as pessoas e cuidar de Nico, seja qual fosse sua escolha naquele dia iria estar descumprindo uma de suas promessas.

 — Todos os deuses assistiram a tragédia daqueles dois jovens — Apolo disse — Hades em pessoa recebeu Nico no mundo inferior, eles acabaram se apegando um ao outro, quando era hora Nico aceitou voltar como semideus filho de Hades. Você ser meu filho foi uma escolha das moiras.

 Will o encarou mais atentamente no final de sua fala.

 — E eu não poderia estar mais orgulhoso de tal escolha.

 — Pai...

 — Você é um bom menino Will, cometeu erros no passado, mas a cada dia que passa mais os deixa para trás.

 O semideus não sabia se era o certo, e nem queria pensar naquilo, apenas se jogou nos braços do pai e o abraçou como se sua vida dependesse daquilo. Apolo retribuiu o carinho e deixou um longo selar os cabelos loiros do filho.

 — Eu não vou te abandonar à própria sorte, não vou. — disse mais para si mesmo do que para o outro, mas estava sendo completamente sincero.

 Sua relação com seu próprio pai já não andava tão boa, Zeus só queria saber de sua vingança contra Hades e já não ligava para mais nada, quem ia contra seus planos ia contra si.

 — Apolo, precisamos ir agora. — Afrodite chamou o irmão.

 O deus se afastou do corpo frágil e mortal e assentiu, aos poucos o salão se desfez e estavam novamente no simples chalé de Zeus. Apolo apontou para Rachel que ainda estava desmaiada.

 — A leve em segurança para casa, não precisa ir à enfermaria, ela está bem.

 Enquanto Will pegava a amiga no colo, os deuses voltaram ao Olimpo.

 

*********

 

 

 4 dias depois da abertura do tártaro

 

 Abriu os olhos com dificuldade, sempre demorava a que sua visão se acostumasse com a luz solar, mas daquela vez não havia sol. Sua cabeça doía como o inferno, aos poucos as lembranças do que aconteceu voltavam a sua mente.

  — Até que enfim acordou.

 Ágrio estava sentado ao seu lado, mas a certa distância, sujo e com a aparência era de alguém exausto.

 Olhou para os lados tentando identificar o lugar que estava deitado, era escuro e tinha cheiro de ferrugem, não demorou a perceber pelo som e pelo movimento que estava em uma carreta de trem.

 — Onde estamos? — sua voz estava uma fraca. Machucava sua garganta falar.

 Uma coisa tinha certeza, não estava no Tártaro, mas ao que se lembrava era aquele o lugar aonde deveria estar.

 — Estou te levando para casa.

 — Casa?

 — Estamos indo pra Itália meu amor.

 Nico ficou em silencio, tinha muitas perguntas para fazer e ao mesmo tempo tinha medo de fazê-las, só queria que Ágrio o dissesse que havia o sequestrado e plantado memórias falsas na sua mente, mas sabia que tudo tinha sido verdade.

 “—...se for para escolher entre você e salvar um grupo de pessoas, você nunca será prioridade.”

 Ágrio estava certo todo aquele tempo, se ao menos tivesse lhe dado atenção. Sentiu as lágrimas molharem seu rosto quando não conseguiu mais segurar a dor que comprimia seu peito.

 O deus o chamou e foi se arrastando como um cachorrinho se abrigar nos braços dele.

 — O-o que aconteceu com você? — perguntou com a voz embargada, o rosto grudado no peito de Ágrio.

 Sentia uma vibração estranha vindo do deus, ele parecia tão frágil que se fosse um mortal provavelmente estaria fazendo a passagem.

 — Quando te vi caindo no tártaro não consegui ficar sem fazer nada, usei toda minha força para as sombras nos tirarem de lá ainda perto da superfície, você desmaiou e eu consegui nos levar para uma estação de trem de carga, nos botei aqui e desmaiei também. Você dormiu por quatro dias inteiros.

 Pensou em agradecer, mas não conseguiu, se sentia tão culpado que o máximo que conseguiu fazer foi manchar a camisa do deus com suas lágrimas. Ágrio quase havia se matado, lutar contra a atração do Tártaro era demais até para um deus, ele não desistiu de si nem por um segundo.

 Chorou por longos minutos se culpando por ter acreditado que poderia ser feliz e que Will realmente se importava com ele.

 — J-jason? — lembrou do amigo que gritava seu nome e corria em sua direção.

 — Acredito que esteja bem, Piper estava logo atrás dele para impedir qualquer besteira — “como se jogar no Tártaro por mim como você fez?” o pensamento que veio rápido, mas não falou. — Ele e provavelmente há essa hora suas irmãs, acreditam que nós dois realmente caímos.

 Nico levantou um pouco a cabeça, mas sem se desgrudar do abraço.

 — Eles devem estar tão preocupados, eu preciso avisá-lo que...

 — Ei ei pensamos em como avisá-los quando estivermos seguros na Itália sim? Hoje mesmo pegamos a embarcação.

 Entendia o que Ágrio queria dizer, depois da profecia não se tinha certeza quais eram os deuses ao lado de Zeus e agora iriam entrar no território de Poseidon, não havia nenhuma garantia que permaneceria vivo para ver seu país.

 — Mas não se preocupe, estarei com você.

 O deus tentou acalmá-lo fazendo carinho em seus cabelos já longos, não demorou muito para que tivesse pegado no sono novamente.

 

 

 Um mês se passou até que os dois tivessem chegado à Itália, Ágrio estava melhorando, mas sem néctar nem ambrosia sua recuperação estava demorando mais o que o esperado para um deus.

 Nico já estava reestabelecido por completo, então ele que fazia viagens até a cozinha dos operários do navio de carga para lhes conseguir comida, sempre que se aproximavam de alguma costa a comida que conseguiam era melhor.

 Não era preciso dizer o sentimento bom que se apossou do semideus quando ele enfim inspirou o ar de sua Veneza, estava cada vez mais linda. Sentia que voltava a ser criança ao pisar naquela terra.

 — Para onde vamos agora? — questionou com um sorriso nos lábios que não passou despercebido por Ágrio.

 — Consegui me comunicar com meu pai, ele conseguiu um hostel para nos abrigar — mostrou a chave para o mortal — por conta do mundo inferior meu amor.

 Nico riu da besteira alheia, mas então algo lhe ocorreu.

 — Em que momento falou com ele? Não me diga que...

 — Não fui até lá, ainda sem forças pra isso. Foi uma mensagem de Íris, ele me enviou por meio de um espectro.

  Deixaram a discussão sobre o lugar que ficariam de lado e começaram a planejar como Nico avisaria aos amigos que estava bem e fora do Tártaro, mesmo que não fora de perigo afinal estavam nas terras antigas.

 — Uma carta é sempre boa ideia.

 — Mas demoria Ágrio, quero fazer isso hoje mesmo.

 — Mensagem de Íris.

 — Caso eles estejam com outras pessoas? Não quero ver mais ninguém daquele lugar. — Will, não queria ter a chance de ver Will, mas não iria aquilo para o deus, mesmo que este tivesse captado a mensagem.

 Permaneceram um tempo em silêncio dentro do táxi que os levava ao hostel.

 — Já sei o que farei! E logo depois irei à busca de um néctar pra você.

 — E onde achara? — Ágrio perguntou divertido pela carinha séria de Nico.

 — Tenho meus contatos aqui — disse cheio de si — você precisa estar bem para hoje à noite.

 — O que tem hoje?

 — Iremos jantar fora. Merecemos depois de tanto tempo comendo comida congelada.

 Os olhos do deus brilharam, tudo que queria era a atenção de Nico para si e a estava tendo por completo agora, tinha mais esperanças de logo conseguir o amor dele também.

 Estava olhando bobo para o céu azul de Veneza pela janela do táxi quando sentiu a mão gelada de Nico segurando a sua, o olhou surpreso.

 — Obrigada por estar comigo.

 — Eu sempre vou estar.

 Havia determinação em seus olhos e Nico soube que Ágrio sempre cuidaria de si não importava as circunstâncias.

 

*********

 

 O clima no acampamento ainda não era dos melhores, desde a visita dos deuses no dia anterior os semideuses estavam sem esperanças.

 Nico não poderia os ajudar, Hazel não poderia fazer o serviço do irmão, Hades não mexeria um dedo para ajudá-los.

 Já estavam quase no segundo mês desde que a vala foi aberta e as coisas só pioravam, os campistas treinavam dia e noite, e o sono era cada vez mais deixado de lado porque o medo tomava conta sempre que fechavam os olhos.

 Mal se via os filhos de Atena e quando os viam fora do chalé estavam juntos e ninguém poderia atrapalhar, aqueles semideuses trabalhavam dia e noite atrás de uma boa solução para seus problemas. Ainda não havia nenhum sinal de que aquela vala era como uma porta e que os monstros poderiam usá-la para sair do Tártaro, mas de qualquer forma ela ficava cada vez maior e mais difícil de controlar.

 Naquele dia em especial tinha um intruso no meio das crias de Atena na hora do almoço, Will havia apresentado uma estratégia, ele próprio iria até o mundo inferior e pediria para que Hades interferi-se no lugar de Nico, a ideia parecia insana, mas o filho de Apolo dizia ter argumentos o suficiente para o sogro o ouvir.

 — Não sei não, a chance dele te matar é grande — uma garota ruiva disse — dizem que Hades era bem apegado a Nico e deve estar bravo por...

 — Por eu tê-lo deixado cair no Tártaro, sim sim — cortou a garota, estava começando a se irritar com as pequenas alfinetadas que as pessoas o davam.

 — Will, Amelia não estava querendo te ofender — Annabeth falou olhando feio pra garota — mas tem que admitir que é perigoso.

 — Hazel vai comigo, não se preocupe Anna ela disse que vai fazer o possível para Hades não me manter lá.

 Assim que a loira foi tentar dizer mais algum argumento contra sua ideia Will segurou sua mão.

 — Por favor Anna, estamos a meses sem esperança e essa é pelo menos uma tentativa. Eu já não posso mais ficar de braços cruzados.

 A intensidade nos olhos do filho de Apolo diziam tudo que ela precisava entender, ir ver Hades também era uma esperança para que ganhasse o apoio e a ajuda do deus para tira-lo do Tártaro, conseguia imaginar a dor que se Will possuía, mas jamais incentivaria o amigo a ir para aquele lugar, nem se fosse para procurar Nico.

 Até porque ele nunca acharia, não pensava em Will como alguém fraco, mas era um fato que ele teve que lutar no campo poucas vezes e não ia há muitas missões, provavelmente ele enlouqueceria antes mesmo de sentir a presença do namorado.

 Por outro lado a agonizava pensar em ir para o Tártaro por uma segunda vez e aquela era a realidade horrível do filho de Hades.

 — Ok você pode ir — era a conselheira do chalé, seus irmãos esperavam apenas que ela batesse o martelo quanto ao pedido de Will.

 Mas a verdade era que Annabeth tinha esperanças que Hades falasse da forma mais dura o possível para que Will entendesse o quão inútil seria ele ir para o Tártaro sozinho.

 — Obrigada, direi a Quíron que concordaram na minha saída ser uma missão e se ele permitir irei hoje mesmo.

 A animação do garoto o deixou com um aspecto radiante, não era nada certo, mas era uma esperança em que podia se agarrar.

 Um grito chamou a atenção, Jason vinha correndo em direção do pavilhão e parou ofegante na mesa de Poseidon onde estavam Percy, Frank, Leo, Piper e Calipso.

 — O-o Nico — disse apenas e respirou fundo, Annabeth e Will se levantaram correndo até o filho de Júpiter ao ouvir o nome do garoto.

 — O que tem? — Percy apressou já ficando nervoso.

 — Ele saiu do Tártaro.

 — O que?

 A atenção de todos campistas no pavilhão estava voltada para eles naquele momento.

 — Não brinque com essas coisas Jason. — Will soou magoado.

 — Eu não brincaria com isso Solace. — respondeu ofendido.

 — Como sabe disso Jason? — Frank perguntou.

 — Eu estava saindo do meu chalé quando percebi que alguém me olhava, era um espectro, ele acenou e sumiu.

 Não era como se não acreditassem em Jason, mas aquilo parecia pouca coisa para se ter certeza que Nico estava vivo, talvez Frank fosse o presente que mais entendia o que aquilo queria dizer já que em Nova Roma havia os lemures.

 Jason pareceu ler nos rostos alheios que não era o suficiente para eles.

 — Nico me disse várias vezes que os espectros eram utilizados para dar recados, ele não conseguiria mandá-lo se estivesse no Tártaro.

 Eles permaneceram em silêncio tentando digerir as informações.

 Foi quando Hazel veio correndo até eles com um sorriso enorme.

 — Nico está fora de perigo, não está mais no Tártaro.

 — Era o que eu dizia para eles! — Jason ficou ainda mais feliz por ter alguém para fazer aqueles cabeças-dura acreditarem nele.

 — Eu estava no chalé quando um espectro apareceu, ele me disse que Nico havia o mandado avisar que estava bem.

 Claro Hazel poderia falar com aqueles seres, a informação vinha ainda mais completa para ela.

 — Por que Nico avisou só vocês? — Percy perguntou emburrado, estava feliz pelo garoto estar bem, mas novamente ele parecia demonstrar que Percy não era importante para si.

 Will também se dividia nas emoções, Nico estava bem e seguro, havia conseguido escapar do Tártaro mais uma vez. Mas o fato de não ter sido avisado por um espectro o deixava triste, significava que o namorado estava magoado com ele.

 Conseguiria lidar com todos o culpando, até mesmo com ele próprio, mas Nico o fazendo seria demais para que aguentasse.

 Não se surpreenderam quando Reyna veio correndo e se jogou nos braços de Hazel.

 — Ele está bem. — a romana soltou exultante, sabia que o espectro que aparecera para si tinha aparecido para a filha de Plutão também.

 Se afastou ainda sorrindo.

 — Esse garoto da morte apenas tira férias no Tártaro, todo mundo preocupado e ele já ta de volta. — Leo brincou, mas por dentro se sentia aliviado pelo amigo ser tão “duro na queda”.

 O murmurinho se espalhava pelo acampamento, Nico di Ângelo poderia salvá-los afinal não estava mais no Tártaro, tinham esperanças. Mas Will nem se sequer pensava na grande vala aberta, pensou muito nas últimas semanas em o que faria quando o namorado volta-se, e agora que era uma realidade e não um “e se” tinha medo de encará-lo.

 Mas sabia que não adiantaria de nada fugir e que precisava vê-lo, dizer olhando nos seus olhos que não queria deixá-lo sozinho. Prometeu ser a luz do menino e falhará, mas não aconteceria novamente.

 — Temos que falar com Quíron agora e ir Hazel, para o mundo inferior. — disse firme chamando a atenção dos amigos que comemoravam.

 — Mas não precisamos mais pedir ajuda ao meu pai. — a garota soou confusa.

 — Nico com certeza deve estar lá, preciso vê-lo, por favor.

 Fazia duas semanas que o curandeiro estava completamente empenhado em resgatar o namorado, sua determinação barrou as lágrimas que tanto derramava nas primeiras semanas, mas agora os olhos azuis voltavam a marejar.

 — Vou falar com Quíron, aproveitamos e vamos juntos, quero vê-lo também. — Percy falou já indo até a casa grande avisar o centauro.

 — Precisamos todos ir? — Frank perguntou baixo.

 Mesmo que os anos se passassem ainda tinha um medo enorme de tudo que envolvia Plutão.

 — E-eu também não quero ir. — Calipso avisou nervosa.

 — Não precisam ir todos — Hazel falou gentil, não achava uma boa ideia levar tantas pessoas para o mundo inferior, mas de qualquer forma não deixaria que nada de mal acontecesse com eles.

 A menina saiu do pavilhão indo até a grama, pôs a mão no chão que se abriu revelando uma porção de dracmas.

 — Peguem — entregou os punhados para os amigos — Caronte não faz promoção para as almas que chegam.

 A garota riu, mas nem todos ficaram calmos com a brincadeira.

 

*******

 

 — O senhor do submundo já os espera.

 O barqueiro Caronte avisou assim que os deixou na frente do palácio. 

 Jason, Percy, Leo, Piper, Annabeth, Reyna e Will haviam ido junto com Hazel, tiveram que pegar o táxi da danação até a entrada mais próxima do submundo, Hollywood.

 A filha de Plutão foi a primeira a deixar o barco, abriu a porta do palácio para os amigos e foi adentrando.

 — Uau quanto luxo — Leo comentou ao que Hazel abria as portas de prata.

 Reyna também parecia tão admirada quanto ele, nunca havia visto mais do submundo do que as paredes do quarto de Nico durante as mensagens de Íris, era surpreendente para ela achar beleza no céu de negro, sem nuvens nem estrelas.

 — Da última vez que vim aqui quase fomos atacados por cães infernais. — Annabeth relembrou.

Percy se lembrou que a última vez que estivera ali quase matara Nico numa cela, mas achou que a informação não cairia em boa hora.

  Andaram poucos metros até ver Hades da sua forma mais humana possível, largado em seu trono com as pernas por cima do apoio dos braços. Ele vestia roupas normais, calça jeans preta, cabelos rebeldes e uma camiseta com uma frase mal educada de uma banda de rock.

 Will prendeu a respiração quando o deus os olhou, ele parecia estranhamente similar a Nico.

 — O que fazem aqui? — perguntou seco, então sua imagem tremeluziu e ele estava em ereto no trono com um manto negro bem mais sério — é bom vê-la minha filha.

 Até mesmo seu tom de voz mudou, ali se encontrava Plutão.

 — Oi pai, pode voltar a sua forma grega, quero falar sobre o Nico.

  O deus assentiu e o homem despojado de antes voltou, ele se levantou se aproximando deles.

 — O que desejam falar sobre meu filho? É realmente uma surpresa receber os filhos dos meus irmãos, e principalmente você filho de Apolo.

 Seus olhos foram de Jason e Percy para Will.

 — Viemos ver o Nico. — Solace disse tentando não fazer transparecer o medo que tinha pelo sogro.

 E naquele caso com razão, as chamas negras atravessaram num lampejo os olhos de Hades que abriu um sorriso seco para tentar se acalmar.

 — E o que os faz pensar que ele está aqui?

 Deu um passo a frente, então Hazel assumiu a responsabilidade de acalmar os ânimos.

 — Nico nos enviou mensagens pai, achamos que a chance dele vir pra cá depois de voltar do Tártaro eram maiores.

 Ao contrário do que esperavam Hades soltou uma longa gargalhada, parecia que tinham acabado de lhe contar a piada mais engraça em todos os seus milhões de anos.

 — Faz uns bons meses que meu filho voltou do Tártaro, antes mesmo da Gaia ser derrotada. — disse após se acalmar.

 — M-mas o vimos cair.

 — Você melhor que os outros não é mesmo Will Solace? — o sorrio se desfez do rosto do deus — Nico está bem, Ágrio quase se destruiu, mas o tirou de lá, enquanto você fez a mesma coisa que anos atrás.

 Os outros presentes sentiram o exato momento em que o clima ficou pesado, Will olhou para Hades de uma forma diferente, nunca se sentira daquele jeito diante de um deus, mas era capaz de mesmo com todo o medo acertá-lo um soco.

 — Eu não fiz como há anos atrás Hades, não tem nem sequer comparação.

 — Fez, você o destruiu e eu sei bem como foi da primeira vez, eu estava aqui para recebê-lo. Meu filho foi para os campos Elísios como um herói, ele não se lembrava de nada da sua vida até que você veio para os Asfódelos e eu tive que contar, eu mostrei cada detalhe e vi a decepção nos olhos dele.

 Will não recuou diante das acusações, não ajudaria a si mesmo e a Nico se ficasse apenas se culpando por erros passados.

 O filho de Apolo não havia contado para nem um dos amigos a revelação que os deuses tinham o feito aquele dia, então nenhum entendia o que estavam falando.

 — E você se apegou a ele desde o primeiro segundo, caso contrário não tinha cuidado dele pessoalmente. Você o quis como seu filho nessa vida.

 — Sim — Hades respondeu simples — eu também queria o proteger.

 — O ignorando por tantos anos? Você foi horrível para Nico quando ele mais precisou de você após a morte de Bianca.

 — Will. — Hazel chamou tentando acalmá-lo.

 A garota já estava um passo a frente dos demais, se sentia responsável pelos amigos já que havia os trazido até ali.

 Os ombros de Hades tremeram, mais do que a dor a acusação era a raiva por um mortal estar lhe dirigindo a palavra daquele modo, se perguntava se aquele serzinho não percebia que podia ser pulverizado a qualquer momento.

 O corpo de Percy ficou tenso, aquele assunto ainda mexia com ele e imaginava que Hades não gostaria nem um pouco de ser lembrado.

 — Isso não lhe diz respeito! — seu tom dava um ponto final na discussão.

 Poderia matá-lo, mas se o fizesse não seria perdoado por nenhum de seus filhos.

 — Não estou te julgando, fez como eu, falhou com ele, mas se redimiu. Deixe eu me redimir também.

 Hazel se pôs na frente do curandeiro no exato momento em que Hades levantou o punho, não iria apenas lhe ferir fisicamente, naquele momento um toque do deus o mataria tamanha sua irritação.

 — Pai...

 — O que está acontecendo?

 Perséfone entrou no salão onde se encontravam, o olhar de Leo e Jason que não a conheciam pessoalmente se focou no mesmo instante na mulher que parecia puxar a atenção para si.

 — Ah, amigos do Nico — ela desmanchou a cara séria em um sorriso ao notá-los — é um prazer recebê-los. Percy, Annabeth, quanto tempo.

 Recebeu um aceno sem jeito de ambos.

 — Pequena Hazel.

 Não tinha tanto contato com a garota como tinha com Nico, mas ainda sim a achava adorável.

 — Já estamos de saída senhora Perséfone. — a menina pareceu se desculpar.

 — Que isso, fiquem para jantar, não será difícil pedir para que a comida seja feita em maiores porções.

 Ninguém ali se sentia muito tentando a aceitar o convite.

 — Realmente não queremos incomodar. — Piper fortaleceu a recusa.

 — Não seja boba filha de Afrodite, é um prazer receber uma irmã de Ágrio.

 A garota ficou sem falas, não imaginava que a rainha do submundo era tão gentil e conseguia sentia sinceridade de suas palavras, além de que ser apresentada como irmã de Ágrio era confuso pra ela. Não havia trocado nem uma palavra com ele.

 — Hades... — Will chamou trazendo a atenção do deus que até então estava calado e parecia pensativo — por favor.

 Reyna desejou cortar a língua de Will, o garoto simplesmente não percebia o perigo.

 — Ele está na Itália, posso mandá-los para lá com segurança garantida na ida e na volta, mas estarão por suas contas em risco enquanto estiverem nas terras antigas. Mas aconselho que tentem fazer contato antes.

 Hades deixou a todos de queixo caído e Will respirando aliviado, Annabeth tinha que admitir que o amigo não estava apenas se iludindo quando disse que tinham argumentos capazes de fazer o deus os ajudar.

 Aos semideuses da profecia restou um calafrio ao se dar conta que poderiam estar diante da possibilidade de voltar para um lugar que lhes trazia tantas memórias ruins. Não sabiam se conseguiriam.

 — Obrigada eu... — Hades o pediu silêncio ao levantar uma das mãos.

 — Não faço por você, faço pelo meu filho. Agora vão para sala de jantar com Perséfone e me deixem em paz.

 Como não havia chances de sair daquele palácio sem antes comer, andaram como cordeirinhos atrás da deusa que tagarelava pelos corredores extensos e luxuosos.