1. Spirit Fanfics >
  2. Luz sobre Tormenta >
  3. Como quem Dorme em Noite de Garoa

História Luz sobre Tormenta - Como quem Dorme em Noite de Garoa


Escrita por: prudencia

Notas do Autor


tal é minha forma de desejar a vocês um feliz natal ❤

Capítulo 36 - Como quem Dorme em Noite de Garoa


Fanfic / Fanfiction Luz sobre Tormenta - Como quem Dorme em Noite de Garoa

Em remanso ela subsistiu, mantendo as pálpebras baixas impossibilitando-o de ler seu olhar, ele se conservou no mesmo espaço, um véu lastimoso por toda sua face, a quietude não era um natural de Cassandra, mais parecia um escarmento. As duas íris que sugaram para si todo o brilho da sala o alvejaram, Severus sentiu-se exposto e suscetível, subiu o queixo então para esfriar sua aparência.

Abrigados nos olhos de Cassandra estavam os opostos de quaisquer repulsões que ele expectava, evidente em seu semblante estava a blandícia que atraiu a dúvida em Severus, suas sobrancelhas crisparam minimamente observando-a segurar suas mãos e beijar ambas para logo tornar a encará-lo com ternura.

– Deixe que eu lhe fale um pouco sobre o meu amor – fez uma minúscula pausa antes de prosseguir – Ele não é rúptil ou efêmero, impaciente ou covarde, e muito menos individualista – o âmago de Snape estremeceu – Assim sendo, não amarei apenas o que me convém.

Apesar de bambo ao ouvi-la, engoliu toda a sensibilização que florescia desenfreadamente.

– Cassandra, pondere com prudência – mussitou com escassez de solidez.

– O que acha que estou fazendo? – vagueou com os olhos pelo rosto dele.

– Sendo irracional, e incauta – disse com tom de reprimenda, afastando-se dela – Se insistir nisso, viverá uma vida fragmentada.

– Como pode ter tanta certeza? Tem alguma bola de cristal por aqui? – virou a cabeça para os lados.

– Não tente gracejar – disse entredentes.

– Severus, minha vida só será incompleta se eu não tiver você – confidenciou com tristeza – Eu jamais mentiria.

– Eu não suspeito de suas palavras – havia lhe dado as costas, apertava as bordas da escrivaninha detestando o como aquilo estava o abalando – Mas não a condenaria dessa maneira.

– Condenar? Não acha que está sendo excessivo? Eu...

– Cassandra – a cortou com um tom mais alto – Essas fantasias românticas em que crê são inverossímeis – virou-se, a fúria em sua voz era derrubada pela explícita prostração em seu rosto – Achei por um momento que poderia alertar seu senso, mas recusa-se a agir com discernimento. Concluo que minhas iniciais impressões sobre você não foram tão equivocadas.

– Diz tal coisa por que não tive a reação que esperava? – deu um passo avante – Acha que eu deveria o olhar com desprezo e ir embora ignorando sua redenção? Punindo-o como você faz consigo mesmo quando censura a si próprio qualquer mísero instante de felicidade? – maneou negativamente a cabeça – Quer que eu aja como os outros, por medo do inconstante, e por vaidade.

– Vaidade? – indignou-se.

– Frustrações anteriores o fizeram acreditar ser incapaz de ser amado, meu sentimento põe abaixo esse argumento – apertou os olhos – E você, com toda certeza não quer estar errado, não em coisas que lhe dizem o respeito.

– Eu não a arriscarei.

– A quê?

– A uma relação pestífera! – gritou com dor.

Ela arqueou os ombros, os abaixando lentamente, deixou as duas mãos sobre o próprio peito, olhando-o com compaixão.

– Não acha que... – sussurrou – Já basta de se ver com tanto ódio?

Snape cortou o contanto visual, estava combalido e desdenhando-se. Ali estava a quem adorava profundamente, mas a possibilidade de entrega não parecia realista. Sentia que todo aquele júbilo que lhe era oferecido esvairia se ousasse o tocar.

Entretanto, como antes dissera, o amor de Cassandra era paciente, ela ficou-lhe próxima, vendo aquele olhar aturdido e boca contraída, parecia estar revivendo seus próprios flagelos, abrigou o rosto dele com suas mãos e esperou que ele lhe olhasse, Severus suavemente fazia um movimento de negativa com a cabeça, suas expressões preludiam um choro, mas nenhuma lágrima escorria, era apenas a angústia lancinante.

– Eu cuidarei de você, e você cuidará de mim – disse ela.

– Eu não sei... Como – revelar tal coisa foi sufocante.

– Não tem problema, eu também não, é mais uma dessas coisas que teremos que aprender juntos – sorriu.

Seu olhar foi ao dela, nunca havia recebido tamanha dedicação, e valor. A cada segundo as distâncias entre os rostos diminuíam, até que sentisse de maneira calorosa, e serena os lábios que achava tão majestosos.

Os céus cederam, não se tratava mais de qual astro assumia o trono, ambos se unificaram, pois as encenações chegavam ao fim. Era realmente um ponto sem retorno, onde as almas eram seduzidas e entregues a lascividade que já inundara o corpo, onde o sentir vulcânico que fora contido até inativar-se, ameaçava uma feroz erupção.

Severus delineou com seus dedos os contornos que faziam o corpo de Cassandra para em um ato contínuo abraçar sua cintura com a intenção de deixa-la o menos afastada possível, o beijo converteu-se para algo mais sério do que a nução das coisas ditas anteriormente, ele era agora o invite para uma entrega corpórea. Amuleto fez com que suas mãos caíssem do rosto para as costas de Snape, as mantendo ocultas pela capa negra, ainda que tecidos amantassem sua pele, era possível sentir as unhas dela indo de cima a baixo.

Essa ação o deixou em chamas, segurou-lhe pelo interior das coxas e a elevou, entretanto dessemelhante ao passado, não a levou para a escrivaninha, mas sim para a sua cama. Permitindo-se de vez se enfeitiçar pelo arco-do-cupido arredondado, ou pelos cílios pequenos que adornavam seus olhos.

– Devo ascender a lareira? – preocupou-se com a pouca resistência dela ao frio.

Ela assentiu, ouvindo o início do crepitar da chama: – Mesmo que, você já me deixe febril o suficiente.

Snape sorriu, um sorriso aliciente que conciliado com a luz proveniente do fogo refletido em seu olhar, causou em Amuleto regozijos indescritíveis, se desfez da capa dele, que despencou performaticamente no chão, os dedos dele primeiro desalinharam o laço que segurava nela o tecido cor pêssego, e logo após alcançaram sua nuca, rastejando com seus lábios pela clavícula desinibida agora que a capa estava sobre o carpete escuro.

As peles estavam veementes, e desejosas, assim como a carne que lhe cobriam os ossos, ávidas pela embriaguez que poderiam receber, e conceder. Cassandra dobrou suas pernas, os joelhos apontados para cima, a palma de Severus contornaram seu tornozelo e percorreram sua canela afastando o tecido do seu vestido, apreciando a pele bronzeada que adquiria um fulgor tentador sob a luz do fogo e com uma vontade descomedida abandonou o pescoço dela e retornou aos seus lábios, a voracidade não se ausentava mesmo que seus movimentos fossem lentos. As mãos de Cassandra manuseavam os botões do sobretudo e um por um ela os desfez, o restante da peça foi retirada por ele, largando-a ao pé da cama, a professora fascinou-se de tamanha maneira, que seu olhar era de quem estava diante de uma presença divina.

Havia sob todas aquelas peças, uma camisa social branca, a que anteriormente só ficava visível pelas mangas e colarinho, ela sentiu-se honrada por ter aquela visão que para si era inteiramente celestial, tocou aquele tecido com encanto, ouvindo o próprio coração bambolear em alegria extremada, enquanto o zíper das suas costas estava a ser aberto, então ele imediatamente parou, e a olhando com urgência teve que dizê-la, ou morreria.

– Cassandra... – a voz rouca, de quem não se saciaria em apenas avistar – Eu a amo, com extrema devoção.

A emoção dela fora tamanha, que teve vontade de se desmanchar em lágrimas, a cada minúsculo de tempo que passava seu amor por ele se engrandecia, e ela o disse isso, para desferir-se em seus braços logo após, o que lhe parecia extremamente certo, e assim seria pelo resto de sua vida.

Sob a guarda da lua que hipocritamente afugentava os espiões, houve a entrega. Os quadris de Cassandra o elevavam a volúpia, em conjunto com os lábios doces, e luxuriosos, os corpos de tão harmoniosos moviam-se quase que performaticamente, o magnetismo carnal que os fazia querer que aquilo não mais findasse, uma calidez pulsante e instigante que os circundava e possuía. Cada espaço, mesmo que mínimo da pele de Cassandra fora beijado por ele agradecendo-a por tal sensação e momento.

O amor era tão claro no olhar e sorriso dela, no modo ardoroso com que o tocava, transmitindo-o vibrações etéreas, tudo exalava paixão. E quando seu rosto ficou milímetros do de Cassandra, ele sorriu, sorriu genuinamente como nunca antes feito, rugas formaram-se abaixo das pálpebras inferiores.

Tão dedicados um ao outro não perceberam que a noite ia de forma relutante dispersando-se, a aurora estava em seu esplendor dourado quando houve o êxtase, e eles se deleitaram com seus cansaços, aproximando-se dos corpos desnudos um do outro.

Embeveciam com a respiração um do outro, o ar quente tocando os rostos abençoando-os como um recobro. A áurea do mundo estava eufônica, as mentes estavam lhanas como quem dorme em noite de garoa, sossegados como quem perambula por um pomar de maçãs, prósperos como quem acaba de receber um beijo na testa.

Com as pontas dos dedos, ela afagava a palma da mão de Severus, admirando o desalinho de fios em sua cabeça que se espalhavam sobre o travesseiro. Decoraria cada detalhe daquele momento precioso, pois essa seria para sempre sua visão favorita.

– Não me recordo de ter falado de seus pais – disse ele após minutos em silêncio – Estes são um completo mistério em sua história.

Ela sorriu.

– Meu pai era um trouxa, historiador e tão apaixonado pela cultura indígena que se casou com minha mãe, que era uma índia, e sublime em astronomia. Por ela, ele deixou toda a vida urbana para trás, os dois eram exemplos de bandoleiros – ela riu – Foi em uma das suas peregrinações que encontraram um grupo de nômades, meses depois eu nasci.

– E aonde estão agora? – ela respirou fundo.

– Alguns anciões desse grupo começavam a querer se alojar, erguendo uma tribo no coração da Amazônia, meus pais não apreciavam essa ideia, haviam ficado muito tempo inertes por conta do meu nascimento. Foi então que o líder da tribo os disse para partirem, e ele cuidaria de mim, já que eu era pequena demais para viagens.

– Eles a abandonaram? – uma linha de fereza luziu nos olhos negros.

– Eles sempre voltavam – revelou – Ou me enviavam cartas, aprendi a ler cedo por conta delas. Mais velha eu tentei acompanha-los, mas eles eram como um rio, e eu uma árvore grande, meus pensamentos e espírito sempre estavam a voar com os pássaros, mas eu apreciava ter raízes profundas na terra – ela uniu seus dedos ao dele ao fim dessa fala – Eu fiquei, devorando cartas e mais cartas, até que... – olhou profundamente nos olhos dele – Veio a última delas, enviada por um amigo que viajava com eles. Estavam na Grécia, foram surpreendidos por uma manticora – apertou os olhos intensamente.

Severus afligiu-se então com a explícita tristeza dela, cada parte do seu ser atormentava-se ao vê-la acometida com qualquer pesar.

– Cassandra, perdoe-me por fazê-la reviver isso ao me contar – ela trouxe para perto de sua boca a mão dele.

– Escolheu me mostrar suas dores, então eu escolho lhe mostrar as minhas – suas pupilas estavam completamente dilatadas – Sobre seus pais...

A dor aguda dessa reminiscência atingiu sua mente, as ferroadas eram intermináveis e frequentes quando se lembrava dos anos encolhido como um animal machucado.

– Não será um assunto agradável.

Entretanto, a doçura exalada naqueles olhos de jabuticaba lhe vinham como uma anestesia, no passado ele teria dado crédito apenas as mãos de Cassandra, mas a sensação de brandura vinha somente do afeto que ela cultivava, tamanho era que exalava dos seus poros, o fazendo se emocionar quando pensava sobre isso.

– Meu pai, de quem desafortunadamente herdei o nome, era um trouxa infausto e ébrio. Condenou minha mãe a uma amaldiçoada vida – a mão que não estava acalentada pela professora, fechou-se canalizando todo o seu ódio – Presumivelmente, ela não deva ter demonstrado esforço algum para viver quando a morte lhe cochichou.

Os músculos da face de Severus se lapidaram, era o modo para não ceder a tortura que se tornava prosseguir com aquelas palavras, Cassandra poupara-o de dar continuidade. Partiu para tentar segurar sua outra mão, mas ele a evitou afastando a mesma, o motivo era alvo, a marca negra em seu antebraço. Ela já havia a visto na penseira, e ao fluir da noite.

Em um ato pacífico ela insistiu em trazer para perto de si o que ele estava a rejeitar, e não exibiu um único traço de desdém quando seus olhos entraram em contato com a marca, colocou aquele braço sobre sua cintura, por baixo do cobertor.

– E se eu cantar uma canção de ninar? – provocou ela.

– Seria mais prazeroso ir a estufa e ouvir as mandrágoras – seu tom estava plácido, mas ainda sim irônico.

– Que horror! – emitiram risadas.

A flama deu fim a madeira, e descansou. E Severus e Cassandra, escudados pelo sol da aurora, adormeceram.


Notas Finais


não sou de mendigar comentários, mas eu mereço um amorzinho por esse capítulo né não? KKKKK


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...