Letárgico= Incapacidade para assimilar ou para responder às sensações, aos sentimentos, às emoções; desinteresse.
Diário,
Acho que é assim que as pessoas começam, certo? Bem, eu não sei. Minha psicóloga e meus amigos me encorajaram a escrever nestas folhas de papel.
“Uma palavra a cada dia” a doutora disse, algo que sinta profundamente ou que apenas tenham dito para você e que te marcou muito.
Faz bem, sabe?
Pra colocar os sentimentos para fora de uma forma não tão autodestrutiva, afinal, de acordo com eles eu ando muito instável e letárgico.
Eu digo que é passageiro e eles dizem que é loucura. Eles perguntam se isso é normal, todos os machucados... eu digo que são recordações não tão felizes assim.
Eu estou bem... aos poucos consigo desfrutar de uma paz passageira mas ainda sim, reconfortante.
Entretanto, eles ainda insistem em me olhar com pesar, como se não vissem um ser humano normal e sim alguém feito de porcelana, cercado de instabilidade e marcado permanentemente por cada coisa ruim que já me aconteceu, que ainda acontece e que ainda acontecerá...”
Eijirou Kirishima era um jovem talentoso, bonito e sempre disposto a ajudar os outros. Junto com seu irmão era dono de uma pequena loja de reparação de objetos antigos, trabalhava em um bar pela parte da noite, frequentava a faculdade e nos raríssimos tempos vagos praticava ballet e esculpia suas belíssimas obras em madeira.
— Você deveria descansar mais. Por que não deixa a loja por um tempo? Seu irmão já não disse que cuidaria de tudo?
Mina como uma boa amiga - praticamente irmã. - sempre se preocupava com a saúde física e metal do ruivo. Certificando-se de que ele tomasse os devidos remédios, se não estava forçando de mais o próprio corpo, se havia dormido bem... a rosada sempre esteve lá pelo melhor amigo, ajudando nas crises, dando conselhos, compartilhando das dores que o afligem. Seria capaz de matar por Kirishima, para protegê-lo de todos que ousassem encostar nele e ,principalmente, de si mesmo.
— Não, está tudo bem. Eu... estou dando conta, aliás não vem tanta gente assim na loja. É só para continuarmos com o legado da família. - deu de ombros, endireitando os fios rebeldes que vez ou outra escapuliam do elástico. — Eu ficaria muito triste se Tetsu tivesse que cuidar de tudo sozinho.
— Tem certeza de que você não está sobrecarregado? - a morena puxou o rosto do maior para si. — Olha essas olheiras. Você tomou os remédios? Já está na hora da primeira dosagem.
Ele riu sentindo-se grato por ter alguém tão protetora como a amiga.
— Não estou, só passei a noite inteira trabalhando na minha mais nova escultura.
Uma das poucas coisas que o ruivo adorava fazer era esculpir. Quando imaginava as imagens entalhadas na madeira não se sentia inseguro, não ficava se martirizando e remoendo os sentimentos de incapacidade que corroíam seu corpo toda vez em que dedicava sua atenção à alguma atividade qualquer. Ali ele poderia errar e transformar seu erro em algo deslumbrante aos olhos.
— Quero só ver o mais novo trabalho do nosso querido e estimado escultor contemporâneo. - fez uma pausa dramática. — Eijirou Kirishima. Palmas para ele minha gente.
Os dois se acabaram de rir enquanto a morena tirava algo de dentro da bolsa.
— Um escultor famoso não pode ter olheiras. Vem cá. - puxou a rosto do amigo com cuidado e aplicou base abaixo dos olhos tão vermelhos quanto sangue.
Também se ofereceu para tapar as marcas de mordidas e chupões no seu pescoço bronzeado, ele negou, levantou a gola da camisa e continuou seu percurso.
Mina suspirou, lembrando imediatamente de uma coisa que kirishima havia dito há um tempo atrás:
“— Gola, base, mangas. É só disso que eu preciso. - sorriu contagiado para a garota.
O que a perturbou profundamente, pois a situação em que se encontravam não era digna de um sorriso.
Seu amigo chegara em uma fase em que todos os sorrisos dele eram iguais, sem vida, sem brilho, mas mesmo assim, estranhamente genuínos.
Poderia até admirar a força que mantivera Eijirou de pé, apenas se não fosse um momento pesado e triste para a própria garota que não conseguia pensar em outra coisa a não ser chamar a ambulância.
— Já tomou seus remédios? - engoliu o choro para o bem dos dois.
— Não.
— Toma, por favor. Por mim.”
Gola, base, mangas. Ele não mudara nadinha.
— Vou passar na sua casa pra pintar essa juba. - fez um breve carinho nos cabelos avermelhados.
— Ótimo. - sorriu para a garota. — Obrigado.
Se você soubesse, se visse metade do que eu vejo em você, talvez não estivesse a ponto de uma overdose. Ponderou Mina.
Ajeitou a própria jaqueta e distanciou-se do amigo.
Como amava aquele garoto, como odiava que ele tivesse que “vender” seu corpo, como odiava o fato dele não se sentir confiante, como odiava os remédios, os pais e a merda do chefe... tudo que ameaçasse seu precioso irmão estava em linha de frente com o ódio da morena.
As vezes sentia que estava falhando como amiga, como conselheira e não podia fazer nada a não ser zelar pelo ruivo e assistir com pesar enquanto ele se afunda lentamente.
O dia passou voando para Kirishima e secretamente deu graças pelo término das aulas e pelo rápido expediente na lojinha. Se o dia continuasse correndo desse jeito ele conseguiria sair mais cedo e chegar em sua aula de Ballet o mais rápido possível.
Assim que chegou no local pode vestir sua roupa com calma e prender o cabelo em um coque. Fez o alongamento sem a pressa costumeira de quem sempre chega atrasado e esperou pacientemente pelos outros alunos.
— Bom dia. - disse o professor substituto. — Quero avisar que hoje faremos uma aula experimental junto com a academia de dança feminina.
Burburinhos se espalharam pelo local, alguns alegres e outros maliciosos.
— Como vocês já sambem nossas apresentações estão sendo requisitadas com frequência. Então seria mais vantajoso nos juntarmos com a academia de dança feminina ao em vez de só ensaiarmos com as garotas de tempos em tempos.
Em determinado momento o professor parou os olhos em Eijirou, se deteve ali por um bom tempo e voltou a falar com os outros logo em seguida, satisfeito em ter intimidado sua presa.
Logo logo o professor Aizawa voltará. Ele só torceu o tornozelo. Ele irá voltar eu tenho certeza. Pensava o ruivo, quase clamando por uma divindade a qual não acreditava, pedindo em silêncio que seu desejo fosse concedido.
O moreno sempre o tratou como um filho, vez ou outra ia visita-lo para saber como estava, sempre disposto a ajudar em seus trabalhos fora da escola de dança.
Para o ruivo Aizawa era como um pai que sempre quis ter.
— Qualquer comportamento inadmissível que desagrade as garotas ocasionará em expulsão. Estão me ouvindo? Não tolero comportamentos inapropriados aqui dentro - a voz severa do professor substituto ecoou pela sala. — e em lugar nenhum. A partir do momento em que aquelas mulheres entrarem pela aquela porta serão minhas alunas também. E eu não suporto que destratem ou façam coisas que desagradem meus alunos.
Kirishima quase vomitou em repulsa com a frase tão falsa do mais velho. Talvez seja apenas o remédio, mas já sabia o que lhe aguardava no final da aula.
Entretanto ele havia chegado cedo, então não haveria motivos para ter mais alguns minutos de “aula” com aquele babaca.
Suspirou, certo de que realmente estaria livre nesta tarde.
— Bom dia. - disse uma moça alta e morena, os cabelos brancos descendo em cascatas pelos ombros. — É um prazer rever todos vocês. - sorriu abertamente para todos na sala logo após abrir espaço para as alunas.
Depois de muita ladainha e apresentações que sinceramente deixaram a cabeça do ruivo explodindo de informações inúteis finalmente foram formados os pares.
— Olá. - uma garota morena e de bochechas rosadas se aproximou dele e estendeu a mão em sua direção. — Meu nome é Ochako Uraraka, é um prazer conhecê-lo.
— Eijirou Kirishima, o prazer é todo meu. - com um sorriso enorme adornando o rosto ele apertou a mão da garota. — O que é pra fazer? Eu estava meio aéreo. - esfregou as têmporas e se desculpou com a garota pela sua distração.
— Sem problemas. É para montarmos uma pequena coreografia. - sorriu animada. — Estava pensado em nos basearmos em o lago dos cisnes.
— Muito previsível. Por que não fazemos Coppélia?
— Ótima ideia. Amei. - saltitou até o espaço onde os dois ficariam e agarrou o braço do ruivo.
A dupla já havia terminado a pequena coreografia e agora estavam conversando sobre coisas aleatórias do cotidiano.
O ruivo realmente apreciou esse momento com a morena. A companhia da garota era tão contagiante que até se esqueceu da dor de cabeça, focando apenas nas trivialidades que eram ditas ali.
Mal ele sabia que havia um par de olhos o secando do outro lado da sala. Rangendo os dentes toda vez em que o ruivo segurava na cintura da garota para a guiar em um salto, ou toda vez em que a mesma se pendurava no pescoço bronzeado que era seu por direito.
As apresentações foram todas magníficas, mas suas avaliações só seriam disponibilizadas na próxima aula.
— Acho que fizemos um bom trabalho. - Eijirou disse orgulhoso estendendo sua mão para um High five que prontamente foi atendido pela nova amiga.
— Arrasamos meu bem. - soltou os cabelos rindo toda feliz. — Aqui está meu número. - estendeu um pedaço de papel para o ruivo. — Oito em ponto passo no bar em que você trabalha. Tira uma folga, vamos beber juntos. - deu um soco de leve no ombro do maior. — Levarei alguns amigos e você leva os seus também, certo? Hoje, a noite é nossa meu amor. - saiu da academia aos risos.
Kirishima balançou a cabeça, pensando seriamente em tirar uma folga para curtir um pouco, o dia estava tão bom.
— Eijirou. - chamou o professor assim que ele pisou no vestiário. — Você fica.
— Mas, mas... eu não me atrasei.
Estava bom de mais para ser verdade.
O professor envolveu a cintura do ruivo com um braço e com o outro apertou o maxilar dele com força.
— Eu disse que não toleraria esse tipo de comportamento com meus alunos. - apertou ainda mais o corpo do menor, fazendo questão de friccionar os tecidos das calças.
— Eu não fiz nada. - tentou se afastar, mas foi bruscamente virado para a parede e prensado de costas no peitoral do maior.
Seu abdômen era pressionado com violência, o deixando enjoado aos poucos, o pescoço sofria com os castigos do homem acima de si, que não poupava esforços em morder com toda a força o local.
— Eu vi como olhou para a garota. - sussurrou no ouvido do menor, já abaixando as calças apertadas e levantando a justa camisa que delineavam todo o corpo bronzeado do ruivo.
Todas as curvas, os músculos, até as partes fartas de seu corpo como peitoral, coxas e bunda eram deliciosamente pressionadas pelo tecido comprometedor.
Um banquete para os olhos do professor, aquele aluno perfeito, com um corpo perfeito.
Desejava fazer tantas coisas com aquele corpo que nem cabiam em sua imaginação depravada.
— Você é meu, Kirishima, você é minha cadelinha particular. Não vou autorizar que minha cadela se assanhe com uma puta qualquer.
Esfregou o membro na bunda redonda do ruivo, o puxando pelos cabelos e gemendo em seu ouvido de uma maneira nojenta.
Eijirou queria chorar, mas não daria esse gostinho para aquele filha da puta.
— O que ela diria se soubesse que você gosta de um pau indo bem fundo dentro dessa bunda? - deu um tapa na coxa do ruivo que gritou pelo ato abusivo. — Você tem mais carga do que todas essas garotas juntas.
Referiu-se ao tamanho do traseiro do moreno, apertando-o e logo se dirigindo para peitoral definido.
— O que sua esposa diria se soubesse que você está cobiçando um corpo masculino? - Tentou alfinetar o maior que só pode rir da falha tentativa do ruivo.
— Aquela tábua? Eijirou você está enganado se pensa que seu corpo é masculino. - apertou ainda mais o peitoral do ruivo, como se quisesse que eles ganhassem o formato de seios. — O fato de você ter músculos e ser bem definido não esconde essas curvas, essa bunda, essas coxas. - mas uma seção de tapas foi desferido nas ancas do menor. — Esses peitos. - gemeu e revirou os olhos quando apertou o peitoral alheio com força, sentindo a estranha rigidez macia do local. — Você é uma puta gostosa.
— Isso não muda o fato de que eu tenho a porra de um pau no meio das minhas pernas, e para variar ele é bem maior que essa minhoca que você chama de pênis. - gritou para o professor.
Eijirou estava cansado dessa atitude do professor substituto, ele lutou por tanto tempo para ter seu tão almejado corpo “másculo”.
O que o entristecia não era a comparação com as curvas femininas, ele não ligaria se fosse só isso, mas sim a insistência do maior em tentar descontar o tesão reprimido em si, em colocar seu corpo em um pedestal e ignorar o fato de que os dois eram homens, o que sempre era relevado pelo professor, não porque ele era gay e sim porque se navegava a acreditar que estava fodendo alguém do mesmo sexo. Pois em sua concepção o corpo do ruivo era o ideal para satisfazer seus desejos, o completo equilíbrio entre o masculino e o feminino, até os longos cabelos ruivos encobertavam o fato de que estava realmente comendo um homem.
— Cala a boca vadia. - deu um tapa na cara do mais novo. — Esse corpo me pertence, essa bunda me pertence, esse rostinho de puta me pertence. - apertou as coxas alheias. — Agora, faça o que sabe de melhor e me dê prazer.
Sentou no chão e colocou o pau pra fora, esperando pacientemente que o ruivo se acomodasse ali.
Kirishima não tinha outra escolha senão fazer como foi pedido, sentou de costas para o professor e começou sua tarefa extraclasse.
Eijirou não queria largar sua segunda maior paixão por causa de um canalha temporário como aquele, iria persistir, continuaria com as aulas de dança e sempre tentaria fugir sem cometer um crime de ódio contra o mais velho.
Seu amado professor logo voltaria e botaria um fim nos abusos do substituto.
Mas por enquanto, só o que podia fazer em uma situação como essa era aproveitar e tentar sentir prazer.
Agora entendia porque a esposa do professor não o satisfaz, o cara é péssimo de cama.
— Você vai continuar aceitando isso? - Mina perguntou enquanto assistia o ruivo enxaguar o cabelo.
— O que eu possa fazer? Não há nada que eu possa fazer. - riu desolado. — Eu não vou agredir-ló e nem permitir que ele faça um escândalo na polícia, corro o risco de nunca mais ser aceito em uma escola de dança depois disso.
E era verdade. Além de haver pouca disponibilidade de escolas assim onde morava, aquela era a única acessível para seu bolso e tempo.
— Por que não fala com a esposa dele?
— Ela é uma fanática pelo marido. Provavelmente faria tempestade em um copo quase transbordando. Não quero isso. Esses problemas e afins... o máximo que posso fazer é tentar me esquivar.
— E funciona? - gritou para o ruivo. — Se olhe no espelho, veja todos esses machucados, acha mesmo que está em posição de negar ajuda? - segurou os pulsos do amigo e os levantou de encontro a face chorosa. — Você precisa disso.
— Mina, traição não é...
— Não estou falando daquele filha da puta. Estou falando de tudo, em um modo geral. - puxou o ruivo para o quarto e o sentou na cama macia.
Enquanto enxugava calmamente os cabelos vermelhos pensava em tudo o que o amigo teve que passar, tudo o que ele teve que aturar... ninguém nunca lhe ofereceu uma ajuda adequada.
— Chega uma hora em que até mesmo o exímio nadador se afunda no meio de águas turvas, acredite no que digo, não há ninguém que consiga tirá-lo de lá sem uma boia e técnicas adequadas.
— Eu já estou resolvendo isso, juro pra você. - o ruivo beijou as bochechas morenas da amiga.
— Promete pra mim?
— Prometo. - sorriu. — Vamos falar de coisas boas. - bateu as mãos e se jogou no colo da amiga. — Conheci uma garota muito interessante hoje.
— Ela é bonita? - Mina alfinetou.
— Acho que você adoraria. - devolveu Eijirou na mesma entonação. — Ela pediu para que eu levasse alguns amigos onde trabalho. Sei não, acho que... você não ia querer. - fungou fechando os olhos e fingindo tristeza.
— É claro que eu vou, seu besta. - riu, mas parou assim que lembrou da atual situação do amigo. — Mas e o expediente? Seu chefe não vai ficar com raiva?
— Não, eu pedi para o Sero trocar de lugar comigo. Tá tudo certo. - fez joinha com as mãos e sorriu para a garota.
— E ele não pediu nada em troca?
— Só uma foda.
A morena chegou a ter um ataque de tão enojada que estava.
— Não, Não. Eu tive essa visão, eu tive essa visão.
— Para de bobeira. É só entre amigos.
— Eu já falei pra você que o Sero é como o tio do pavê. Você não transa com o tio do pavê, você expulsa ele.
— Diz isso para o namorado dele. Aquele corno. - riu imaginando a cara do outro amigo.
É claro que Eijirou esfregaria na cara do Denki logo na primeira oportunidade. Já tinha até a frase montada em sua cabeça:
“Deixa de bobeira, corta esse chifre e faz um berrante, pra chamar seu gado de volta.”
“Bro, não me abraça, seu chifre tá me furando.”
— Você é um desgraçado. - A rosada juntou-se aos risos histéricos do amigo.
— Fazer o que se os dois me amam?
Algumas horas se passaram com os amigos rindo e conversando sobre os mais diversos assuntos.
Quando deu a hora de sair Mina rapidamente puxou o amigo para seu closet e começou a pedir sugestões de roupas. Kirishima que nada sabia do assunto só concordava com a mulher, recebendo dos mais diversos tipos de elogios e agradecimentos até a mais suja das ofensas, o que obviamente, o ruivo não levou a sério, já conhecia o temperamento da amiga quando o assunto era moda, não era atoa que ela estava cursando nesse ramo.
Depois de muito decidir a garota optou por um vestido simples e provocante ao mesmo tempo.
— E agora você. Deixa eu ver o que nosso ruivo pode usar. - girou o amigo e logo de cara pegou uma calça justa, uma blusa branca colada e um cardigan que segundo a garota era para tampar o excesso de gostosura.
O ruivo sabia que era para tapar as marcas, mas estava tudo bem, ficou grato pela atitude altruísta.
— Vamos logo não quero me atrasar.
Eijirou praticamente arrastou a garota pra fora de casa.
— Mas estamos bem adiantados.
— Melhor ainda.
Pegou a moto, tacou um capacete para amiga e colocou o seu - customizado com pequenos chifres e adesivos. - para em seguida sair arrancando pelas ruas movimentas.
— Eu, você, depois do meu expediente, atrás do bar. - Denki ameaçou o amigo que só conseguiu rir da situação.
— Calma touro.
E como se para atentar ainda mais o loiro, kirishima fez um movimento como se estivesse acariciando seus chifres.
— Pronto, pronto, passou.
O ruivo se acabava de rir com o amigo baixinho.
— Para de palhaçada vocês dois. Sabe o que é isso? Falta de sexo. - Mina batucou com os dedos no tampo da mesa.
— Pra mim não. - Eijirou lançou um beijo no ar. — Tenho compromisso com um certo moreno.
Kaminari bateu com os pés no chão e olhou para a rosada com um biquinho delineando os lábios.
— Olha ele Mina. Manda ele parar.
O loiro e o ruivo pareciam dois irmãos brigando por causa de um brinquedo, não que fugissem disso. Na verdade essas birras infantis eram frequentes, Mina já estava até acostumada com seu papel de mãezona.
— Acabou, chega vocês dois. Depois você se resolve com seu namorado.
Kirishima sorriu convencido e deu língua para o melhor amigo.
— Ô Mina, olha o que ele tá fazendo. - afinou a voz e apontou um dedo acusador na direção do maior.
— Chega Kirishima, que perturbação. Sem cerveja pra você.
— O que? Por que? Foi ele quem começou.
— Você que quer transar com o meu namorado.
— A culpa não é minha. Ele quem pediu. - reclinou-se no banho e lentamente lambeu o lábio inferior, conseguindo alguns olhares maliciosos de caras e de mulheres que passavam ali perto. — E como um ótimo amigo, resolvi dar essa... mãozinha pra ele.
— Talarico.
— Deixa de cu doce Denki, não é como se nós dois nunca tivéssemos transado.
Silêncio, a boca de Denki abria e fechava rapidamente, mas nunca emitindo nenhum som compreensível.
— É amigo. Ele tem um ponto. - a rosada chegou até a bater na mesa do tanto que ria.
— Muito engraçado vocês...
Denki parou de falar assim que uma garota morena acompanhada de dois homens apareceu em nossa frente e pediu licença por ter interrompido a conversa.
— Kirishima, boa noite. - disse animada indo direto abraçar o ruivo que retribuiu na mesma intensidade.
— Boa noite. O caminho foi tranquilo?
— Sim, sim, nós moramos aqui perto, menos o... - deu um tapinha na testa e riu envergonhada. — Deixa eu te apresentar aos meus amigos. Esses são Todoroki e Midoriya. - apontou para cada um, que acenavam conforme foram sendo apresentados. — Estamos esperando mais um, ele pode demorar um pouquinho.
— Sem problemas. - sorriu. — É um prazer conhecer vocês. Essa aqui é a Mina e esse é o Denki ele é nosso... garçom hoje. - olhou para o amigo em deboche que apenas revirou os olhos.
Depois que o grupo terminou de fazer as devidas apresentações e Denki anotou os pedidos a conversa fluiu animadamente, sendo entrecortada por risos histéricos e exposições da vida alheia como: fatos vergonhosos ou apenas gostos em comum.
— Licença, preciso sair um pouquinho.
Kirishima sorriu para o grupo e sinalizou um pequeno frasco dentro do seu bolso para a melhor amiga que apenas assentiu compreensiva.
A garota suspirou aliviada por ver o frasco do remédio. Seu coração havia falhado três batidas quando Eijirou pediu para se retirar, nunca acontece nada de bom quando do nada ele decide sair de alguma conversa, algum lugar... que seja.
— Tá tudo bem? - a garota morena perguntou, preocupada com a estranha mudança de atitude da outra que, ainda pouco, sorria animada.
— Tá sim. Eu só fiquei um pouco tonta. - forçou um sorriso.
Aflita. Era assim que a morena de cabelos rosa estava, na mais completa aflição.
Teria que confiar em Kirishima e deixar de pensar na última vez na qual o mesmo foi parar do outro lado da cidade, sem memória, inconsciente, bêbado, drogado e...
Não vamos lembrar disso agora, ele está bem.
Enquanto isso, do lado de fora, o ruivo pode em fim respirar o ar sereno da noite ironicamente movimentada.
Tirou o cardigan, amarrou-o na cintura, fechou os olhos e enfim engoliu de uma vez as duas pílulas.
Pouco tempo se passou antes que ouvisse as risadas sacanas de um grupinho ali perto.
— A mercadoria é da boa. - um deles falou enquanto se aproximava de si por um lado.
— O que faz aqui fora enh? Está usando algo que ninguém pode ver. - outro, dessa vez posicionou-se de modo que bloqueasse as saídas laterais do ruivo.
— Não é da conta de vocês. - Kirishima disse impassível.
— Olha, ele é arisco, gosto disso em um homem. - disse a mulher do grupo, fechando sua dianteira.
— É uma pena, gosto dos mais submissos. - um homem com a voz grossa fechou o caminho por trás quase encoxando o ruivo.
— Se afaste. - ameaçou com ódio transbordando das íris escarlate.
O grupo começou a rir e a soltar piadas zombeteiras sobre o que o ruivo faria com eles.
— Ora, ora, ora... o que temos aqui? - a rodinha se abriu para dar lugar a um homem alto, barbudo e com uma cara de tarado sexual da porra. — O que faz aqui fora? Não está frio de mais para você? - perguntou para o ruivo como se o mesmo fosse uma criança. — Não se sente confortável ali dentro? Eu posso te levar pra casa em segurança.
A mulher sem querer deixou escapar uma risada, em consequência o homem a fulminou com o olhar.
— Qual é seu nome?
Eijirou nada respondeu, apenas continuou olhando firme para qualquer ponto fora da rodinha.
— Entendi, ele é difícil. - estalou os dedos. — Muito bem meu anjo...
— Não me chame assim.
— De que? De anjo? - o maior puxou o queixo do ruivo para cima, ficando a centímetros de distância da bochecha avermelhada. — Mas esse rosto parece mesmo com o de um anjo.
— Com licença.
Com a pouca paciência que tinha no momento, Eijirou desvencilhou-se do aperto grotesco em seu queixo e saiu andando na direção oposta do grupinho.
— Onde você pensa que vai? - ralhou o homem barbudo assim que conseguiu agarrar o pulso do menor.
— Me solta, agora.
— Com quem você pensa que está falando? Meu an...
Não conseguiu terminar a frase por conta do soco bem dado que Kirishima desferiu-lhe na boca.
— Você vai se arrepender amargamente disso. - o homem praticamente gritou.
Por mais que a cena fosse assustadora e a insinuação do maior apavorante, Eijirou continuou parado no lugar, observando o belo estrago que havia feito.
Sangue escorrendo pela barba espessa.
Kirishima só pensava o quanto isso foi gratificante.
Sangue escorrendo em abundância pela barba espessa.
Sorriu, não podia se importar menos com o grupo correndo em sua direção.
Ali perto, um certo loiro resmungava, lembrando que foi praticamente arrastado para aquele encontro por conta de um esverdeado tapado que tentava a todo custo voltar com a ex.
Ele não podia simplesmente desistir da morena? Afinal, havia muita gente afim dele.
Mas não, o esverdeado poderia ser o gênio que fosse, mas sempre seria um tapado no quesito romântico.
Não que Bakugou estivesse longe disso, bom... pelo menos ele tinha a consciência de quem queria dar para ele, e Katsuki, como um bom samaritano, sempre agradava o desejo de certas garotas que atraiam seu interesse.
E algo estava atraindo seu interesse neste exato momento.
Ao sair do carro se deparou com uma cena um tanto quanto impressionante por assim dizer.
Um cara lutava sozinho contra uma gangue inteira, se esforçando ao máximo para não apanhar de volta, usando seu talento no ballet como um bônus para dar chutes altos e até pular para longe de um soco.
— Vocês estão de brincadeira? São cinco contra um. Peguem ele agora. - gritou o chefe.
Infelizmente em um momento de fraqueza e cansaço o ruivo tropeçou. Vendo essa oportunidade os capangas do cara barbudo e ensanguentado começaram amarrar sua vítima.
Eijirou se debatia, chorava, gritava... tudo mais que pudesse extravasar afim de tentar chamar a atenção de alguém que fosse.
— Cala a boca. - a única mulher do grupo ralhou com o ruivo que apenas se esperneou ainda mais, como que em um desafio indireto, convidando a mesma a fazê-lo parar.
Aceitando o desafio a mulher puxou uma meia rastão de dentro da bolsa e a amarrou ao redor do pescoço da vítima.
— Não mate-o, quero esse ruivinho vivo. Ele ainda tem muita coisa a tratar comigo. - sorriu maliciosamente para o garoto.
O loiro que só expectava naquele momento andou na direção da gangue, não podia deixar aquilo acontecer, não podia deixar aquele garoto que lutou bravamente ser levado sem mais nem menos.
— Solte-o. - rosnou para o cara barbado.
O homem se inclinou um pouco, afim de ficar na mesma altura que Bakugou, depois riu rente a cara dele como se estivesse intimidando o loiro.
— Ou o que? Você é o namoradinho dele? - o sequestrador soltou outra risada estrondosa. — Sabe o que seria melhor para você? Emprestar o ruivo. - deu três tapinhas nas costas do menor e puxou o corpo imobilizado de Eijirou para perto. — Eu e ele temos muitos assuntos a tratar, certo? - perguntou para Kirishima enquanto o mesmo o olhava com asco. — Talvez, quando nos cansarmos dele a gente te devolva essa belezinha.
— E você sabe o que seria melhor para você? Me entregar o ruivo. - retrucou Katsuki.
Eijirou não entendia de onde surgiu esse cara, nem se quer conseguia enxergar o rosto dele, apenas uma cabeleira loira, porte físico musculoso e um brilho avermelhado.
Estava perdendo a consciência aos poucos, o esforço que fez após ingerir o remédio não lhe ajudava nesta situação tenebrosa.
— Já liguei para a polícia, eles devem chegar a qualquer momento. - Bakugou sorriu sínico mas por dentro se perguntava que caralhas estava fazendo. — Se eu fosse vocês deixaria o ruivinho em paz e iria embora o mais rápido possível.
— Está blefando. - gritou a mulher.
— Vocês vão ficar aqui para descobrir se eu realmente estou blefando? - ameaçou.
Katsuki deu graças por ter passado uma viatura perto dali soando aquela característica sirene. Bem a tempo.
Os integrantes da gangue se entreolharam assustados enquanto o homem barbudo rosnava para Bakugou.
— Seu filha da puta desgraçado. Fica com a sua vadia. - jogou Eijirou para o garoto e se mandou o mais rápido possível do local.
Assim que o grupinho saiu Katsuki pegou o ruivo no colo e o levou até o carro, sentou ele no banco do carona, desamarrou as cordas e tirou com cuidado a meia de sua garganta.
— Você está bem? - perguntou tentando manter a calma a medida que os olhos escarlates se fechavam. — Consegue me ouvir?
— Água.
— Certo. - Katsuki abriu o porta luvas e tirou de lá uma garrafa térmica. — Aqui.
Kirishima nem percebeu que havia prendido a mão de seu salvador junto da dele. Bebeu a água até quase se afogar com o líquido refrescante.
— Obrigado por me ajudar. - o ruivo sorriu para o maior. — Isso foi uma cena tão clichê.
— Você poderia ter sido sequestrado, cuzão. - Bakugou cruzou os braços e se apoiou na lateral do carro, observando o outro com cautela.
O ruivo é muito bonito, exalava uma fragilidade estranha, impregnada por uma força descomunal, uma vontade, algo que nem o próprio Katsuki soube explicar, apenas observar enquanto ficava cada vez mais convicto de que tinha algo se movimentando nas belas íris vermelhas.
Seria estranho se o ficasse encarando por tanto tempo, mas Bakugou não ligava, contanto que desvendasse o mistério daquele olhar.
— Gostou do que viu? - passou a mão por entre o peitoral marcado pela camisa justa.
Katsuki nunca ficou tão excitado com a merda de uma camisa em toda a sua vida. Lambeu os lábios antes de mandar o ruivo ir tomar no cu, foi então que reparou nas marcas em seus braços, pescoço e em parte do peitoral descoberto, algumas eram antigas, outras recentes pela vermelhidão e pelo tom arroxeado ao redor, de tamanhos derivados, profundidades distintas, contudo, as que sangravam é que eram o verdadeiro problema.
— Eles te machucaram?
— Não muito, só preciso de um saco de gelo e uma boa dose de cerveja para esquecer esses putos. — riu animado, pegou o cardigan e o pôs antes de se encostar ao lado do loiro irritadinho.
— Por que eles te abordaram? - perguntou o salvador do ruivo.
— Drogas. - fez uma cara de assustado para o maior ao seu lado.
Katsuki não acreditava que esse garoto estava envolvido no mundo das drogas.
Kirishima se acabou de rir com os olhos de coruja que o maior abriu.
— É brincadeira. São meus remédios prescritos, eles confundiram com drogas ou sei lá. Por isso me pegaram. - Eijirou estendeu um pequeno frasco na direção do loiro.
Katsuki suspirou aliviado.
— Onde aprendeu a lutar daquele jeito? - perguntou para tentar aliviar o clima que se instaurou e também acalmar o ruivo de um possível estresse por conta do quase sequestro.
— Minha mãe praticava luta, ela me ensinou o básico para autodefesa. - demonstrou alguns golpes socando o ar. — E eu também danço. - lançou um chute alto perfeitamente executado e elegante. — Ainda bem que você estava por perto, meu esforço não foi em vão a final. - cerrou o punho em frente a cara. — Obrigado...
— Katsuki Bakugou.
— Obrigado Bakugou. - estendeu a mão que foi rejeitada pelo maior.
O loiro nem sabia por que havia repelido aquela ação tão simplória, apenas não soube como reagir perante aquele sorriso peculiar e belo.
Eijirou não se abalou com isso, ao invés, chamou-o para que entrassem no estabelecimento.
Assim que passaram pela porta Kirishima tropeçou e soltou um gemido de dor.
— Minha perna, acho que torci. - resmungou se segurando no corpo do loiro.
Katsuki suspirou, revirou os olhos e ajudou o ruivo a andar sem que precisasse se apoiar na perna machucada.
— Eijirou. - uma morena com cabelos rosa se aproximou dos dois, aos prantos tomou o corpo do ruivo para si. — O que aconteceu? Você está bem?
— Mina, não foi nada. Eu só tropecei e caí no meio-fio. - riu se apoiando na amiga. — Eu estou bem. Sorte minha que o Bakugou me ajudou, se não eu ainda estaria estirado no chão. - apontou para o garoto loiro.
Katsuki apenas concordou sem saber o que fazer. Deveria ou não contar a verdade?
— Bakugou. - ouviu vozes conhecidas ao fundo, rapidamente seu mau humor voltou.
— Então você já conheceu o Kirishima? - Perguntou Uraraka. — Que bom que o ajudou, estávamos preocupados com a demora dele.
Enquanto todos prestavam assistência ao ruivo, Katsuki ficou afastando como se tentasse processar tudo o que aconteceu.
Estava letárgico desde que resgatou o ruivo daquela gangue.
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