História Made In Japan - Nova decisão

Jimin's POV

Abrir meus olhos pareceu ser a tarefa mais difícil, minhas pálpebras pesavam tanto que cheguei a pensar que algo estava as segurando juntas, porém assim que finalmente consegui fazer aquilo, pude ver o teto branco do quarto estranho em que eu dormia, minha boca estava bastante seca também e vale ressaltar que algo apertava a minha mão com força, mas só ao olhar em volta que pude perceber que eu estava num leito de hospital, que Jungkook era quem segurava minha mão enquanto dormia sobre uma poltrona e que eu não fazia ideia do que eu estava fazendo ali.

Estranhamente a minha primeira ação ao perceber que eu estava numa cama de hospital foi levar a minha destra até minha barriga, lógico que eu não podia sentir o feto ou qualquer volume grande ali, porém algo dentro de mim parecia se ascender, um lado protetor e paterno que eu não sabia que poderia possuir, entretanto aquilo era bem mais forte do que minhas vontades, não consegui ir contra.

Ao tocar ali eu pude perceber que tinha um pequeno volume em meu abdômen, nada notável, porém podia sentir se tocasse delicadamente, o que me deixou um tanto preocupado, porque se eu me lembrava bem, quando acordei naquela manhã, minha barriga não tinha volume algum, o que me fazia pensar também que algo estava errado, e olha que eu estava tentando ignorar o fato de que eu não estava conseguindo sentir minhas pernas.

Podia ver que uma delas estava enfaixada, mas a outra também parecia imóvel, o que de certa forma me deixou bem preocupado, minha mente estava confusa e eu não conseguia raciocinar direito o que estava acontecendo ali, o soro em meu braço também era um indicativo de que eu não estava bem, sem contar o rosto cansado de Jungkook, que só pelas enormes olheiras era notável que ele mal dormia há umas boas noites.

Precisei de um certo tempo para me concentrar e lembrar o que estava acontecendo ali, me recordei da conversa tensa que eu tinha tido com Jungkook naquela cafeteria, me senti mal por ver o quanto ele ficou decepcionado comigo, porém eu também não poderia ser falso com ele, nunca esteve em meus planos ter filhos e não iria fingir ter ficado feliz simplesmente porque engravidei da pessoa que amo, eu continuava tendo os mesmos pensamentos, porém me doía saber que tinha magoado Jungkook.

Mas voltando a minha situação de confusão após acordar numa cama de hospital, acabei me lembrando da discussão final que Jungkook e eu tivemos, da forma como eu corri dali o mais rápido que pude apenas para não ter que ouvir o Jeon falar mais, ele me magoaria mesmo não sendo de propósito e eu não estava afim de ter mais alguém dizendo o quanto eu estava sendo insensível e imaturo, não o Jungkook me dizendo tais coisas ao menos.

Com as lembranças voltando, um flash rápido tomou minha mente, o som de uma buzina de carro e em seguida o forte ruído dos pneus de um carro freando sobre o asfalto, por fim aquela dor que se alastrou por todo o meu corpo quando algo grande o acertou em cheio, em seguida as memórias se tornavam turvas, fiquei ainda mais assustado ao perceber que eu estava naquela cama de hospital porque tinha sido atropelado.

Talvez aquele não fosse o meu ano de boa sorte mesmo.

— Jimin? — Uma voz sonolenta e baixa chamou, me tirando daqueles pensamentos. Era Jungkook quem falava.

— Oi... — Já a minha voz saiu quase sem som, estava fraca e rouca, eu mesmo quase não a escutei.

Vi Jungkook arregalar os olhos e apertar minha mão com bastante força, como se quisesse confirmar que era eu mesmo ali, correspondi o aperto e em seguida sorri levemente para ele, mas me surpreendi quando vi os olhos de Jeon se encherem de lágrimas e o mesmo se jogar — sem força — sobre mim, abraçando o meu tronco enquanto falava coisas incompreensíveis aos meus ouvidos, num choro abafado e de certa maneira até um tanto desesperado.

— Ai meu Deus! Você acordou mesmo! — Ele exclamou se levantando de supetão, correndo até a porta do quarto e chamando alguém que estava lá fora.

— Jungkook... — O chamei porém não fui ouvido, logo uma enfermeira e um médico adentraram o quarto, vindo para cima de mim fazendo diversas perguntas enquanto me examinavam.

Eu estava ainda desentendido e desorientado, mas enquanto a enfermeira fazia alguns procedimentos em mim, o doutor me explicava o que e tinha acontecido comigo. Basicamente eu tive sorte, segundo ele o carro que me atropelou até tinha tentado frear, mas mesmo assim me atingiu pois não conseguiu a tempo, o motorista prestou socorro imediato, o que cooperou para que eu estivesse aqui, ainda vivo, porém a pancada de força reduzida pela sua tentativa de freada não me livrou de um tombo feio, eu havia batido a cabeça ao cair, o que me fez entrar em coma após a cirurgia que fizeram em mim, eu tinha passado três semanas desacordado.

Porém não havia parado por aí, acabei também fraturando uma das pernas, o ligamento do meu joelho estava bastante machucado, tanto que eu já tinha passado por duas cirurgias, a primeira dois dias depois de chegar ao hospital e a segunda naquele mesmo dia em que acordei, eu despertei do coma após o fim dessa segunda operação no caso, por isso ainda não estava conseguindo sentir bem as minhas pernas, o efeito da morfina ainda não tinha passado completamente.

Minha primeira pergunta após isso foi questionar sobre eu poder ou não dançar agora que estava com uma fratura em meu joelho, felizmente o médico me tranquilizou, dizendo que o tratamento correto juntamente da fisioterapia iriam me ajudar a recuperar os movimentos normalmente, talvez eu ficasse menos ágil do que antes, porém isso seria o de menos, afinal eu tive sorte de não ter machucado a coluna cervical. 

Acabei questionando também sobre o feto em meu ventre, o médico sorriu e disse que o embrião não tinha sofrido nada, o que era surpreendente também, pois perder um neném nos primeiros meses de gravidez é mais corriqueiro, ainda mais após sofrer um acidente violento como aquele, porém o doutor afirmou que o feto estava saudável, alguns exames tinham sido feitos e tudo estava bem com ele.

Após os procedimentos serem feitos e o médico dizer que eu estava estável mas já poderia receber visitas, o quarto foi invadido por meus pais, Namjoon foi o primeiro a chegar em minha cama, papai chorava enquanto me abraçava e isso acabou me fazendo derramar algumas lágrimas também, meu pai Jin veio em seguida, me apertando em seus braços e lutando para não se desmanchar em lágrimas também, os dois pareciam exaustos, suas expressões eram de puro cansaço, com certeza me ter nesse hospital os fez perder noites e mais noites de sono, de certa forma eu me senti culpado por não ter sido mais atento e olhado onde eu pisava e também antes de atravessar a rua.

Meu irmão Yoongi se aproximou da cama sem dizer nada, apenas se inclinou e me deu o abraço mais carinhoso entre os poucos que já tinha me dado na vida, o alfa estava tentando manter uma pose durona, mas bastou retribuir aquele contato para Yoongi também ter água salgada rolando em abundância por suas bochechas enquanto dizia o quanto ficou preocupado, desabei mais ainda naquele instante, pois a gente não era muito ligado, mesmo que não houvesse brigas, nós pouco nos falávamos, principalmente depois dele ir para a faculdade e eu também sair de casa alguns anos depois.

Hoseok foi o próximo da fila para falar comigo, o ômega parecia inconsolável, ele sempre foi um tanto sensível, mas eu nunca tinha o visto daquela forma, seu abraço foi tão forte que senti como se ele não me visse há décadas, realmente estava começando a me sentir culpado pelo que aconteceu, está certo que eu não esperava que ia me machucar ou saí de casa na intenção de sofrer um acidente, porém sabia que poderia ter evitado se tivesse sido mais cuidadoso.

Taehyung — amigo de Jungkook — também estava ali, a gente não tinha mais uma amizade, mas mantínhamos o contato básico de "oi" e "tchau", porque anos atrás, muito antes de Jungkook e eu termos alguma coisa, rolava um boato de que Taehyung tinha interesse em mim, porém eu nunca me interessei de volta e ele também não sabia que Jungkook gostava de mim, mesmo que os dois fossem amigos há um tempinho.

Para encurtar a história, Taehyung viu que não tinha chances e eu comecei a namorar o Jungkook, as coisas se resolveram, entretanto eu ainda me sentia um tanto incomodado perto de Taehyung, mesmo sem motivos para isso, mas saber que ele já gostou de mim era algo que fazia eu me sentir desconfortável e ele percebia isso, tanto que naquele momento ali no hospital, apenas falou aquelas frases clichês de quando alguém está passando por uma situação como a minha e logo se afastou.

O clima ficou mais confortável quando todos começaram a conversar, tentando me fazer sorrir ou algo assim, eu via meu irmão flertando com Hoseok descaradamente e isso com certeza era um motivo para os meus risos, Taehyung acabou também sendo alvo dos flertes de meu irmão, porém sendo um alfa, o Kim pareceu ficar bem surpreso e sem graça de ser cantado por outro alfa, eu apenas ria contido e baixo, observando a desenvoltura de Yoongi com seus dois novos pretendentes.

Porque, meus caros amigos, Yoongi não perde a chance de mostrar o seu charme para qualquer ômega descompromissado que lhe desperte interesse, mas também não perde as chances de se jogar para perto de algum alfa que o chame atenção.

Eu estava curioso para saber onde isso poderia dar, poderia dizer que já "shippava" meu irmão com os dois.

[...]

Infelizmente logo todos tiveram que sair, a enfermeira avisou que eu deveria descansar e apenas um acompanhante poderia ficar, Jungkook foi o primeiro a se oferecer, isso me pegou de surpresa, eu achava que ele ainda poderia estar bravo comigo por tudo que eu havia falado, mas claro, três semanas já tinham se passado para ele.

— Como você se sente? — Jungkook perguntou se aproximando da cama novamente, se sentando naquela poltrona que continuava ali.

— Cansado e dolorido. — Respondi sincero.

— Daqui a pouco a enfermeira traz seu remédio, ela sempre vem essa hora, quando também traz um jantar para mim. — Ele explicou me mostrando aquele seu belo sorriso, acabei por retribuir, mesmo que o meu fosse bem mais fraco e desanimado.

— Você ficou aqui esse tempo todo? — Indaguei me referindo as semanas que estive "dormindo", Jungkook deveria ter perdido suas aulas.

— Quando o doutor disse que você poderia acordar a qualquer momento ou talvez passar anos dessa forma eu entrei em pânico. — Ele iniciou, logo segurando minha mão. — Então decidi que ficaria aqui e te ajudaria a acordar, mesmo que a única coisa que pude fazer foi conversar contido, a enfermeira disse que ajudaria.

— E se eu não acordasse? — Perguntei pois havia chances d'eu sequer despertar novamente, isso me soava desesperador, eu preferia não pensar, mas era impossível não ter meus pensamentos debatendo sobre as possibilidades boas e ruins.

— Eu teria ficado aqui até o seu último segundo. — Expressou me dando seu olhar carinhoso e brilhoso, a forma que me olhava sempre quando se declarava. — Eu te amo tanto, Jimin... — Sorriu doce, entrelaçando nossos dedos. 

— Também te amo, muito mesmo. — Falei apertando sua mão contra a minha, acariciando a superfície de sua destra, tentando controlar as lágrimas que estavam começando a inundar os meus olhos.

— Não chore, querido. — Falou enquanto levava seus dedos até abaixo dos meus olhos, limpando às lágrimas fujonas que acabaram escapando.

— Me desculpa por não ser a pessoa certa para você, nunca serei o esposo que você sonhou para constituir uma família. — Proferi abaixado o olhar.

— Você realmente não era o que eu sonhava. — Levou os dígitos até meu queixo, elevando meu rosto. — Você é muito melhor.

— Não diga essas frases clichês enquanto eu estou chorando, Jungkook! — Brinquei, ainda limpando algumas lágrimas e ele riu soprado.

— Ter esse neném pode não ser o seu sonho, mas mesmo assim vamos ser uma família, do nosso modo e do nosso jeito. — Jungkook disse com aquele ser ar esperançoso.

— Não mudei os meus pensamentos, Jungkook. — Soltei sua mão calmamente.

— São noves meses com ele em seu ventre, talvez você vá mudando o seu modo de ver as coisas com o passar do tempo e quando se acostumar com tudo isso. — Novamente Jungkook trazia aquele seu tom otimista.

— Não sei não. — Ri negando, o Jeon desviou o olhar.

— Eu posso falar com ele? — Indagou me deixando desentendido.

— Que? Falar com quem? — Perguntei olhando em volta no quarto, só havia ele e eu ali.

— Com nosso filho ué! — O encarei como se fosse um maluco e Jungkook riu. — Assim, desse jeito. — Se levantou e se apoiou na cama, tirando o lençol de cima do meu corpo, em seguida levantando a camisa do hospital que eu vestia, expondo minha barriga, logo tocou minha pele, deixando também um beijo leve próximo ao meu umbigo, o que me fez arrepiar. — Oi meu amor, está calorzinho ai dentro?

— Acho que ele ainda não te escuta. — Falei rindo da cena de ver Jungkook conversando com minha barriga.

— Mas não faz mal bater um papinho com ele, né filho? — Indagou cutucando meu abdômen devagar, o que fez minha risada dobrar.

— Você está meio doido, Jungkook! — Exclamei dando uns tapinhas leves em suas mãos que me tocavam, porém Jungkook ficou sério do nada, franzindo o cenho e tomando uma expressão pensativa.

— Ele está em seu corpo, você não sente amor por ele? — Jeon perguntou voltando a me encarar.

— O quê disse? — Indaguei desentendido.

— Não sou eu que o carrego, mas já sinto um amor imenso por esse neném, você não? — O beta falou me olhando atentamente. 

— A gente não decide se vai ou não sentir amor por alguém, por enquanto eu não sinto nada diferente. — Jeon mostrou aquele seu olhar decepcionando mais uma vez, eu não gostava de presenciar. — Eu não tenho raiva do embrião e nem de você ou de mim mesmo, apenas estou no meu direito de não estar feliz com o fato do meu corpo inteiro estar mudando, sem contar as dores e inchaços que virão. — Expliquei, afinal, não entendia porque todos em minha volta não aceitavam que eu simplesmente tinha o direito de não querer estar dando pulos de alegria.

— Tudo bem, me desculpa... Você está apenas sendo sincero em relação ao que sente, eu tenho que lhe entender e não ficar te questionando. — Retrucou abaixando o olhar, eu apenas me limitei a acenar positivamente com a cabeça.

— Bom... Pode continuar aí conversando com minha barriga se quiser. — Falei e o mesmo me devolveu um riso baixinho.

Continuei observando Jungkook falar com minha barriga como se a qualquer hora algo ali dentro fosse lhe responder, me incomodava um tanto o fato d'eu ter perdido o abdômen definido, minha pele estava reta e até um tanto flácida, mas Jungkook não se importaria com algo superficial assim, sem contar que o beta parecia radiante enquanto conversava com o seu bebê.

Sabia que Jungkook cuidaria daquele filho com todo o seu carinho, ele seria um pai incrível, mas eu ainda estava preocupado em como nosso relacionamento ficaria, pois havia algo que eu ainda tinha contado para Jungkook ainda, e esse fato mudaria tudo, e olha que nem tinha relação com a gravidez