História Madly Mad In Seul (HIATUS) - Seven

Capítulo 07

— Jeon, vamos logo! - o chamei -.

Meu Deus, ô carinha enrolado! Até pra sair de um táxi se embola todo!

— Pronto, pronto - ele diz saindo do carro - Nossa, apressado você, hein?!

Apressado, eu? Huh, sou mesmo!

— Lerdo você, hein?! - respondi irônico -.

— Sabe aquele ditado, "os opostos se atraem"? - ele perguntou, e eu respondi com um "sim" - Podemos aderir essa... - ele coloca seu braço em volta de meus ombros - O quê acha?

— Acho que ficou maluco - respondi me soltando dele - Como um hetero consegue fingir tão bem?

— Ué, do mesmo jeito que você finge, já que é hetero também!

Não parça, você errou.

Mas continue a achar que sou.

— Jimin, me responda, você é hetero, não é? - fodeu -.

Anda Jimin, corre que dá tempo, fuja para as colinas, vira amigo dos montes... Ou vira o homem que você não é e inventa algo. 

Eu voto na segunda opção, montanhas e eu não nos damos bem então...

— Aish, para de assuntos paralelos e vamos logo! - boa -.

— Jimin, eu só perguntei se é het-

— E eu tô falando que minha barriga tá roncando - coloquei a mão na barriga por cima da camiseta, só pra dar um show especial no fingimento - Aquela pipoca que você disse ser deliciosa cairia muito bem agora.

— Okay, okay... Vamos lá então - respondeu ele -.

Desculpa ae cara, mas vai lá saber o quê faria comigo caso eu contasse... Poderia agir das piores maneiras possíveis, tais como ameaças, assédios, aproveitos...

Normalmente os homens heteros são assim, não aceitam.

E como você já falou e deixou bem claro, és hetero.

— Que filme você quer assistir, Jiminnie? 

Jiminnie? Ele me chamou de Jiminnie?

Jeon, você 'tá bem? Ultimamente está criando metáforas, me dando apelido, aparecendo de toalha - okay, essa foi uma visão ótima, não posso reclamar - e, além disso tudo, está agindo estranho. 

Se bem que ele 'tá bem estranho desde hoje cedo quando viu o Jong-soo... 

Falando em Jong-soo, preciso me desculpar pelo jeito que Jeongguk agiu com ele... Foi tão rude! Certamente farei isso quando o encontrar na escola.

Mas espera... O quê é que o Jeon me perguntou mesmo? 

— Perdão, o quê disse? - eu havia me perdido em meus pensamentos -. 

— Ah... Eu lhe perguntei que filme quer assistir.

Jeon me encarava. 

Jeon tem olhos muito lindos, e um cabelo muito lindo também... 

Na verdade, ele é todo bem lindo. 

Ainda me encarando, Jeongguk dá um sorriso fraco, mostrando seus dentes adoráveis. 

Pare de ser tão bonito! 

— Eu... Não sei quais filmes estão em cartaz - corei, tímido - eu geralmente não sou convidado para sair de casa...

— Vá se acostumando - deu uma risada nasal e tomou minha frente, guiando o caminho, me levando para o local onde os filmes estavam em cartaz - Escolha um!

Olhei ao redor, todas as opções parecem ser boas! 

— Que tal... - aponto para o cartaz com um rapaz forte na capa - aquele?

— Ah... - Jeongguk faz uma careta de reprovação - Ação? Tem certeza?

Eu não entendo nada de filmes, não sei escolher! 

— Jeon... - disse baixinho, chamando sua atenção - eu não sei que filme escolher, essa é uma das minhas primeiras vezes indo ao cinema em anos... 

— Quer ajuda, então? - seus olhos praticamente me imploravam para dizer sim, então apenas assenti com a cabeça - Ótimo! Vamos analisar as opções...

De terror não, de terror não, de terror não.

— Achei um! - ele diz contente -.

— Ótimo! - falei - é de quê?

— Terror.

Filho da puta.

— Tudo bem pra você esse tipo de filme, né? - ele pergunta, parece preocupado - olha, se não gostar, não tem problema...

Ter tem, um marmanjo correndo de um filme de terror sobre...

Qual é o objetivo do filme mesmo?

— Sobre o quê é? - perguntei me escorando na parede -.

— Ah, fala que é sobre um garoto que ajuda um cara que na verdade é um vampiro, acaba rolando um clima e tals - nossa, melhor resumidor de filmes você é hein! - Não parece ser tão assustador assim. Vamos?

É, realmente não parece tão assustador, são só vampiros, né?

Vampiros não existem de verdade para chupar seu pescoço, pois pra isso serve os humanos tarados na hora da transa.

— Okay, vamos! - caminho até a fila para pegar os ingressos -.

— Jimin, vou indo pegar os baldes de pipoca e os refrigerantes, você quer mais alguma coisa? - pergunta ele do outro lado da fila -.

— Chocolate? - cairia muito bem -.

— Chocolate! - afirmou -.

Isso continua estranho demais... De duas uma, ou ele aprontou algo, ou ele vai aprontar!

— Boa noite rapaz, qual o filme? - um senhor de idade com um uniforme vinho como os de garçons e baristas me pergunta -.

— Dois ingressos para o filme "Desejos Carnais", por favor.

— Quais assentos? 

— Os que ficam bem no meio, de preferência. 

O senhor escolhe os assentos por mim e depois de alguns segundos me encara novamente. 

— Vai pagar como?

Boa pergunta... As coisas são pagas com cartões, cheques, dinheiro... Só que eu não tenho nada aqui, até porquê um indivíduo me convidou e disse que pagaria todos os meus gastos...

JEON JUNGKOOK, CADÊ A DROGA DA GRANA?

— Oh, então... - disse, envergonhado - Meu amigo foi comprar pipoca pra gente e o dinheiro está todo com ele... 

O senhor me olhava e dava a impressão de que ele estava segurando o riso... Ah, não era impressão, ele realmente estava. Eu devia estar parecendo um pimentão de tão vermelho. 

— Moço, eu juro que ele já vai chegar aqui e pagar tudo... - CADÊ O BURACO NO CHÃO PRA EU ENFIAR A CARA E NÃO TER QUE PASSAR POR ISSO? - Tem como-

— Jiminnie! - Nunca fiquei tão aliviado por ouvir a maldita voz de Jungkook - Você esqueceu de pegar o dinheiro comigo!

Jeon para ao meu lado com dois baldes ENORMES de pipoca amanteigada - que estava bem cheirosa, por sinal - e refrigerantes.

Como é que ele conseguia levar tudo isso em duas mãos? 

— Então essa é a sua companhia? - o senhor se pronunciou -.

— Oh, sim! Eu sou a companhia dele. - é impressão minha ou ele disse isso com um tom de orgulho na voz? - Vou pagar no cartão, você aceita débito?

— Claro. - Jeon o paga e logo o senhor estende nossos ingressos - Escolheram um ótimo filme, os casais adoram. 

— Quê? 

Jungkook me entrega um balde de pipoca e pega nossos ingressos, agradecendo ao senhor. 

— Aproveitem o filme, rapazes! 

Aproveitar eu até vou, agora, esquecer que esse senhor pensou que Jeongguk e eu somos um casal... Ah, isso nunca.

De uma forma ruim, claro...

O estranho é que Jeon parece não ter se importado com a tal fala, o que é bem estranho, já que ele é hetero, e heteros não gostam de ser confundidos com gays ou algo do tipo.

— Jeon - o chamo -.

Caminhavamos um pouco rápido, pois queríamos chegar na sala do cinema antes do filme acabar, parece que ele, assim como eu, gosta de ver até os trailers de outros filmes que sempre aparecem antes do filme principal.

— Sim? - falou baixo, mas no tom exato para que eu pudesse escutar -.

— Você ouviu o que aquele senhor pensou, ou melhor, falou sobre nós dois? - perguntei receoso de receber um olhar fuzilador dele -.

— Que somos um casal e que fizemos uma boa escolha de filme porquê os casais gostam de assisti-lo? - disse simples -.

Estranho... Isso saiu de uma maneira tão fácil da boca dele, como se... Como se não importasse com isso, não se importasse de ser confundindo com um gay.

— É... - suspirei, ainda estranhando tudo aquilo - Não ficou bravo?

A probabilidade de eu ser esmurrado agora é bem grande, mas minha curiosidade é maior.

— Você ficou bravo por te acharem ser o meu namorado? - me olhou como nunca havia me olhado antes, parece se importar muito com o que vou responder -.

Não sei, acho que sim... Ou não?

Bem, de qualquer modo isso não mudaria nada, ele é hetero, eu sou gay, e isso não vai mudar, mesmo que eu fale que não fiquei bravo, não mudará nada.

— Eu... - vai Jimin, fala a verdade, não é tão difícil - Eu nã-

— Jimin-ah! - uma voz é ouvida por mim, fazendo-me parar de falar -.

Essa voz, ela é familiar...

— Jung-soo! - exclamei - que surpresa!

Que baita coincidência! 

— Eu quem diga! - Hyun abriu um sorriso - Oh, olá Jungkook!

Jeon ficou parado, não o cumprimentou e revirou os olhos. 

— Jeongguk! - chamei sua atenção - Seja educado!

E, me ignorando completamente, o rapaz continuou parado, bufando, revirando os olhos e, ainda por cima, batia o pé direito no chão como se estivesse impaciente. 

— Perdão pelo Jungkook, acho que ele tá de TPM ultimamente, por isso que-

— Jimin - Jeon pigarreou - estamos perdendo o filme, vamos? 

Eu nunca tinha visto ele daquela maneira. 

Eu nunca tinha visto Jeon Jungkook daquele jeito, com aquela voz. 

Seu tom de voz era tão direto, tão imperativo, tão... Daddy. 

Park Jimin, pare com suas fantasias.

— V-vamos... - isso pareceu um gemido, de tão manhosa que minha voz saiu -.

E quando eu pensei que já tinha sido surpreendido, uma mão se entrelaçou na minha. 

Era a mão de Jungkook. 

Eu não conseguia falar nada, nem sabia como reagir. O quê ele estava fazendo? 

— Com licença, Jong-soo, - forçou um sorriso - temos um filme para assistir, e eu quero aproveitá-lo ao máximo com a minha companhia. 

Sem ao menos esperar uma resposta, minha mão foi gentilmente puxada pela de Jeon, que me levava até a sala onde iríamos finalmente assistir o filme. 

Caralho, caralho, caralho.

O quê diachos acabou de acontecer aqui? Meu Deus!

[...]

Puxar assunto, sim ou não? Eis a duvidosa questão! (não é Shakespeare*, eu juro!)

Já faz bastante tempo desde que entramos na sala depois de encontrar Jung-soo (pra falar a verdade, quem nos achou foi ele), e até então Jeon e eu não trocamos uma palavra sequer, eu já tomei coragem várias vezes para falar pelo menos um *"O quê está achando do filme?"*, mas não sai, sabe? A voz trava e fica falha, é como se eu ficasse mudo do nada.

Park Jimin, você não é de (nem nunca foi) sair com pessoas a não ser sua mãe, e agora que isso acontece você trava? Qual é a sua, meu chapa?!

Irônico eu falar de mim mesmo na terceira pessoa, isso só acontece quando... DROGA!

Eu 'tô nervoso e com medo!

Nervoso de puxar assunto, e medo de ser ignorado.

Jimin, lide com isso.

— Jimin quer conversar... - porra Jimin, era pra puxar assunto, não falar baixo praticamente sussurrando -.

Se fosse só o sussurro estaria ótimo, mas acontece que sussurrei no ouvido dele, e o quê acontece quando sussurramos no ouvido de alguém? Isso mesmo, ela surta.

— O que disse? - Jeon pergunta com certa dificuldade na voz, parecia até que estava tentando se concentrar em outra coisa -.

Ele respira fundo, com os olhos fechados, como se quisesse se acalmar.

Será que está irritado comigo? 

— Jimin está te deixando irritado? - se sim então, por favor, não me bata Jungkook -.

— Sério que você ainda me pergunta isso? - me encolhi na cadeira pela resposta direta que havia recebido, mas logo os olhos de Jeon encontraram os meus e acho que ele percebeu o jeito como eu estava amedrontado - Jiminnie, você me irrita apenas quando me deixa _nesse_ estado e me faz duvidar da minha própria identidade...

Eu não consegui prestar muita atenção no que Jungkook me disse, mas "me faz duvidar da minha própria identidade"... Isso certamente não vai sair da minha mente tão cedo. 

O jeito como ele me olhava, o jeito como agia, o jeito como dizia essas coisas... Será que ele é hetero mesmo? 

— Que estado, Jeonggukie?

Eu estava o provocando? Talvez. 

Por mais que eu soubesse que era arriscado e que eu poderia sair com um olho roxo dali, Jeon me passava certa "confiança" para o provocar. Ele me deixava fazê-lo, ele me deixava comandar a situação - por mais que fosse por um mísero momento -. 

Era até cômico o quão diferente ele era do que os outros falavam. 

Ou o quão forte ele estava tentando me iludir. 

— Um estado incomum... - ele responde ainda com dificuldade -.

— E esse estado incomum é ruim? - me inclino para frente, ficando centímetros de distância do rosto dele -.

Esse olhar me parece tão... Sedento. 

— Ah sim - ele balança a cabeça lentamente para cima e para baixo - um incomum gostoso de lidar... Ah...

Ele gemeu arrastado? Ah, que se dane!

Ele se aproxima de mim devagar, nós já estavamos pertos antes, agora estamos praticamente colados, eu sinto a respiração ofegante dele, e ele com certeza deve estar sentindo a minha também.

Calor, aqui está muito quente...

Por impulso me jogo nele, eu queria beijá-lo. Sim, beijar mais e mais. Seu jeito bobão e brincalhão me fascina no mesmo nível que me deixa nervoso.

Luzes se acendem e o que parecia estar sendo uma eternidade de repente voltou a ser uma medida de tempo menor. 

Estávamos grudados um no outro, o filme tinha acabado e agora centenas de pessoas nos encaravam. 

Sabe aquele clima gostoso, aquela tensão? 'Tava tudo virando constrangimento. 

— Desculpa - sussurrei, me afastando da atmosfera quente em que nos encontrávamos, dando espaço para Jungkook -.

As pessoas passavam e faziam questão de nos encarar com caras de desgosto. Fala sério! É como se eles mesmos nunca tivessem levado seus namorados para o cinema! 

Espera... Eu nos comparei com namorados? 

Parabéns, Jimin, você entrou em um nível bem profundo da ilusão. 

[...]

Nunca foi tão difícil estar em um ônibus quanto estou agora, não é que esteja lotado de pessoas, ou crianças chorando e gritando.

Jeon está do meu lado, e esse é o meu problema.

Depois do ocorrido no cinema, nós não trocamos uma palavra sequer, apenas olhares.

O clima tá muito tenso...

— Eu desço aqui - falei me levantando  do banco - Bem... Obrigado por hoje, foi bem divertido.

— Eu quem agradeço - ele me olha - Desculpa qualquer... Qualquer coisa.

— Me desculpe também... - vai Jimin, só vai - Tchau, até amanhã.

Eu já estava prestes a me virar e descer do ônibus, mas senti uma mão quente em meu ombro, e em seguida um beijo rápido e molhado na bochecha.

Foi ele.

— Até - ele se senta no banco novamente -.

O ônibus parou e eu desci do mesmo. Por sorte o ponto de ônibus era realmente próximo de minha residência, então seriam poucos minutos de caminhada até lá. 

Agora, pensando bem no que aconteceu no cinema... 

Jeon e eu estávamos sedentos, quase nos beijando, e eu acho que teríamos o feito se as luzes tivessem permanecido apagadas - o que, com certeza me faria arrepender-me depois -. 

Não que eu desprezasse Jungkook - afinal, ele parece ser um bom rapaz -, mas eu tinha medo; medo de que ele me use, que me abuse, que me faça arrepender-me amargamente por ter me entregado a si. 

De qualquer forma, meu foco é estudar. Não vou vacilar em notas por causa de um garoto que diz ser hetero, arranja encrenca comigo, me faz chorar em um dos primeiros dias de aula, me manda um nude, insiste em dizer que quer ser meu amigo, aparece de cueca no vestiário, me leva para o cinema, é atencioso, geme arrastado do meu lado, cola seu corpo no meu, quase me beija no cinema e me faz ficar constrangido toda hora.

Isso tudo aconteceu em três dias. Sim, apenas três, mas já tinha sido o suficiente para detonar com meu psicológico. 

Cheguei em casa e, após entrar, tranquei a porta. Deixei com que meus pés me levassem lentamente até meu quarto, onde finalmente pude me jogar em minha cama. O intuito era que eu ficasse ali e esquecesse da minha própria existência, mas parece que não é isso que minha mente quer. 

Jeon Jungkook, eu te odeio por me iludir tanto, mas tanto, à ponto de me fazer imaginar como seria um beijo nosso. 

E, puta merda, seria divino.