Escrita por: FreakAccident
"Ouça, Sibéria: Durante sua época mais precatória,
Como um ode a sua velha glória,
A honra de uma grande nação
Seus filhos defenderão."
-- Vladimir Gilyarovsky, "Marcha do Regimento Siberiano"
BEREZNIKI, 12 DE DEZEMBRO DE 1945
B БЕРЕЗНИКИ, 12 ДЕКАБРЯ 1945 Г.
Hoje, as carruagens já ocupavam todo o centro da cidade, a velha neve siberiana cobrindo-as no cinza monótono que Vasily conhecia bem. De certa forma, conseguia suspender a descrença, e tentava se lembrar dos dias de verão siberiano durante sua infância. Para ele, a neve sempre foi uma antagonista. Vasily procurava desesperadamente qualquer coisa que ajudasse ele a esquecer que talvez hoje fosse o pior dia da sua vida.
“Vasily! Desce ‘cá, piá!” A voz de seu pai ecoa da escada do andar de baixo, penetrando as aberturas do piso de madeira onde sua antiga cama se apoiava. Com um aperto de ansiedade no estômago, Vasily retorna da sua imaginação e se desencosta da janela abafada do seu quarto, se recolhendo de volta a sua cama e virando sua cabeça para o outro lado da sala.
Serjei Mikhaylov era uma das poucas pessoas que Vasily respeitava; determinado e paciente, porém ainda profundamente compassivo. Vasily viveu sozinho com seu pai por grande parte de sua vida, trabalhando em quaisquer trabalho manual que o povo da cidade precisasse, gastando o pouco dinheiro que lhe sobrava em livros antigos e cartas para sua mãe. O medo do futuro ainda perfurava seu espírito feito agulhas. Talvez mais importante, a culpa de não ter feito o que queria ter feito, as amizades que queria ter formado, tudo isso pesava no seu peito como uma âncora. Talvez ele nunca mais voltasse para Berezniki, depois desse dia. Talvez ele não deveria.
“Olha, Vasily, eu sei que tudo parece confuso hoje em dia.” Seu pai já estava sentado ao seu lado, sua expressão calma e gentil. “Mas vai ficar tudo bem. Você é a pessoa que eu mais me importo nesta cidade, sabe?”
Virando a cabeça na direção dele, Vasily tira seus pés da cama e deixa sair um suspiro.
“A gente estará seguro em Sverdlovsk, entendido? Você sabe que a escumalha alemã está se aproximando. Não temos outra escolha.”
“Por que ninguém para eles, pai? Por que eles estão fazendo isso? E-e o que a gente fez para merecer isso, pai?”
Uma lágrima escorre pela face de Vasily, e seu pai congela momentaneamente, antes de dar um gole com sua garganta e seus olhos recaírem para o piso como pedras; uma emoção que Vasily só conseguiu definir como ‘derrota’.
“Eu não sei, filho.
Eu não sei."
Subindo a cabeça novamente, Sergei vira para encarar seu filho, do qual seus olhos ainda estavam ensopado de lágrimas.
"A única coisa que importa pra mim agora é que você fique seguro.”
Com um treme de seus ombros, Vasily tenta conter sua emoção, e com um pesado esforço, simplesmente responde:
“Obrigado, pai.”
"Vamo lá, filho, se arrume. O dia vai ser longo."
E, pouco os dois deles sabiam, este seria o dia mais longo de suas vidas.
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