Rose Weasley
Coloquei todos os meus pertences em minha mochila magicamente estendida o mais rápido que pude e desci as escadas correndo. Porém quando estava passando pelo corredor do segundo andar, fui interrompida.
— Rose. – A voz de Draco soou de dentro de seu escritório e eu estaquei no chão. – Venha até aqui, por favor.
Engolindo a seco eu abri a porta com cuidado e olhei bem para o ambiente antes de entrar, para ter certeza de que a mãe de Scorpius não estava lá. Draco Malfoy estava péssimo. Sua camisa estava amarrotada, a gravata frouxa, os cabelos despenteados, os olhos inchados e ele tinha um copo de whisky de fogo quase vazio em suas mãos.
— Pois não, senhor Malfoy?
— Como você está? – Ele perguntou e eu pensei em mil respostas para aquela pergunta, mas acabei escolhendo uma:
— Com medo. – Enxuguei uma lágrima que caiu sem permissão e ele me avaliou atentamente.
— Você está indo a algum lugar?
— Eu vou voltar para a minha casa. – Esclareci, não conseguindo segurar o soluço e o choro. – Eu não posso mais ficar aqui. Eu amo o Scorpius e estou muito preocupada com ele, mas ele vai ter que entender que tudo isso é demais para mim. Se eu ficar aqui mais uma hora, vou acabar surtando.
— Eu entendo. No seu lugar eu faria a mesma coisa. – Ele esfregou o rosto com as duas mãos. – Não consigo entender o que deu na Astória! Como ela pode…
— Eu não sei o que dizer. – Murmurei. – Apenas não quero ficar na mesma casa que alguém que tentou me matar e se eu pudesse, levaria Scorpius comigo.
— Eu sinto muito, Rose. E agradeço por você ter salvo a vida do meu filho.
— Não precisa agradecer, senhor. Ele faria a mesma coisa por mim. – Murmurei, choramingando. – Eu queria que tivesse sido eu a tomar aquela porcaria…
— Não diga isso. Você o salvou. – Draco bebeu mais um grande gole de seu Whisky, direto da garrafa. – Você fez o que eu jamais seria capaz de fazer. Se não fosse por você e pela sua agilidade, ele… eu… ele…
— Eu não gosto nem de pensar. – Abracei o meu próprio corpo, amedrontada.
— Você me lembra a sua mãe, sabia?
— É? – Franzi a testa, estranhando a mudança de assunto e esboçando um mínimo sorriso quando ele assentiu.
— Ela também era inteligente e rápida como você. Sempre conseguia se sair melhor que eu nas matérias e isso me deixava louco. – Ele deu uma risada anasalada. – E então ela cresceu e fodeu com a minha cabeça.
— Ela… o que? – Perguntei confusa e ele suspirou, tomando mais uma boa quantia da sua garrafa.
— Eu nunca conheci ninguém como Hermione Granger. – Ele constatou, olhando para a janela, com um sorriso saudoso. – É uma mulher diferente de todas as outras. Você tem muito dela em você, menina. O Scorpius tem muita sorte.
— A sortuda sou eu, senhor. – Sorri, timidamente. – O Scor é a melhor pessoa que eu já conheci.
— Ele é um grande homem. – Ele sorriu, orgulhoso. – Ele está no quarto dele, descansando, passe lá antes de ir para a sua casa.
— Certo. – Assenti, indo para a porta. – Muito obrigada por tudo, senhor Malfoy.
— Eu que agradeço, menina. – Ele deu um sorriso sem dentes e, quando eu estava saindo, voltou a me chamar. – Rose…
— Sim, senhor?
— Eu sinto muito por tudo.
— Eu também sinto. – Forcei um sorriso e saí de lá antes de ter outra crise de choro, indo diretamente para o quarto de Scorpius, onde ele estava deitado em sua cama, encarando o teto. Ele nem me olhou antes de falar:
— Você precisa sair dessa casa.
Me aproximei de sua cama e sentei na beirada, segurando a sua mão entre as minhas.
— Como você está? – Perguntei e ele suspirou.
— Cuidando de você. Você precisa sair daqui. A minha mãe enlouqueceu.
— Eu já estou de saída. – Disse para tranquilizá-lo. – Mas eu queria que você também saísse daqui. Me preocupo com você.
— Eu não tenho para onde ir agora, mas vou dar um jeito. Pode ficar tranquila, Rose.
Ele estava tão esquisito, tão frio. Levei a sua mão até a minha boca para beijar o dorso, mas ele a puxou.
— Você pode ir para a minha casa. – Sugeri e ele negou com a cabeça.
— Com que cara eu vou olhar para os seus pais depois do que aconteceu aqui? – Ele perguntou, irritado e eu suspirei.
— Com a cara de quem salvou a minha vida pela segunda vez. – Encolhi os ombros e ele deu uma risada desdenhosa. – Você não tem culpa de nada disso.
— Eu te trouxe aqui e te pedi para ficar.
— Eu fiquei porque eu quis. – Rebati e ele suspirou. – Eu vou amar se você for. De verdade. Eu vou poder cuidar de você.
— Rose, eu não sei.
— É só arrumar a sua mochila e ir comigo. – Pedi e ele negou com a cabeça.
— Eu quero ficar. Meu pai chamou os aurores, vou precisar depor, mas você não precisa passar por isso. Vá para a sua casa e tente pensar em coisas leves e descansar. Eu vou ficar bem.
— Certo. – Enxuguei o meu rosto com as mãos e peguei um papel que tinha guardado dentro da minha mochila, colocando-o debaixo do travesseiro de Scorpius. – Se mudar de idéia, aqui está o meu endereço. É só aparatar.
— Beleza. – Ele fechou os olhos e eu suspirei, frustrada.
— Eu te comprei um presente, ia te dar no natal, mas…
— Pode deixar aí em cima. – Ele disse friamente e eu murchei, colocando o pacote vermelho sobre o seu criado mudo. Aquela conversa estava soando como um ponto final e aquilo me assustava muito.
Eu não podia perder Scorpius, constatei. Eu precisava fazer alguma coisa para fazê-lo voltar a ser doce e carinhoso, da forma como eu estava acostumada. Por isso, eu me inclinei, dando um beijo suave em seus lábios e logo me afastei.
— Eu vou ficar esperando por você. Espero que goste do presente que eu comprei. – Ele nem se mexeu e eu rolei os olhos. Ele queria se afastar para que eu não corresse mais riscos por ser sua namorada e aquela era uma ideia de merda. O pensamento mais tosco que eu já tinha visto em toda a minha vida.
— Rose, vá para a sua casa. – Ele pediu mais uma vez e eu me levantei, dando um último beijo em sua testa.
— Eu te amo, Scorpius. Não vou desistir de você. Essa sua tentativa idiota de bancar o cavalheiro dos romances clichês não vai te levar a nada. Só te torna um grande idiota. – Disse firmemente. – Quando o seu complexo de mártir passar, eu vou estar te esperando na minha casa.
Ele deu um sorrisinho, mas não disse mais nada, então eu apenas saí do seu quarto e desci o resto das escadas até estar do lado de fora da mansão, onde eu conseguiria aparatar em minha casa.
Assim que entrei em casa, pude ver minha família assistindo a um filme na sala de estar. Pigarreei para chamar a atenção de todos, que me olharam assustados.
— Rosinha! – Meu pai abriu um sorriso.
— O que você está fazendo aqui? – Hugo estreitou os olhos.
— O Scorpius veio? – Minha mãe perguntou e eu neguei com a cabeça.
— Não. Não veio, não. – Suspirei. – Nós meio que discutimos. A família dele é muito esquisita!
— E que roupas são essas? – Ela perguntou e Hugo, ao reparar, caiu na gargalhada.
— Você está parecendo uma velha amargurada, Rose!
— É, eu sei… – Forcei um sorriso, olhando para o meu vestido. – Eu vou tomar um banho e colocar um pijama.
— Vá sim, bebê. – Minha mãe sorriu. – Assim que o filme acabar, eu vou fazer um chá para nós duas conversarmos.
— Certo. – Eu assenti e fui para a escada, mas antes de chegar, fui interrompida.
— Rose?
— Sim, mãe? – Eu me virei para olhá-la.
— Você está bem?
— Eu acho que sim. – Menti, forçando outro sorriso e quando ela assentiu com a típica expressão de quem não estava acreditando em mim, eu corri para cima das escadas e me tranquei em meu quarto.
Apesar de tudo, era ótimo estar em casa. Meu quarto com as minhas coisas simples e bonitas estava do jeitinho que eu deixei antes de ir para a escola. Abri o meu guarda-roupas e não pude deixar de sorrir ao ver todas as peças coloridas que eu tinha, e então escolhi um pijama cor-de-rosa e fui para o banheiro que eu dividia com o Hugo, para tomar o meu merecido banho quente, tentando relaxar um pouco.
Esfreguei o meu cabelo com um shampoo cheiroso, massageei os meus ombros com a esponja macia e deixei a água levar toda a minha tensão pelo ralo. Quando eu saí do banho e sequei o meu cabelo com a varinha, já estava me sentindo bem melhor. Vesti o pijama, as meias e desci para a cozinha, onde a minha mãe já me esperava com a chaleira.
Um trovão soou assim que eu coloquei o pé no andar de baixo e eu dei um pulo de susto, observando pela janela que uma forte tempestade havia começado a cair. Fiz uma careta e voltei a encarar minha mãe que tinha um sorriso acolhedor em seus lábios.
— Sente-se querida. Vamos colocar a conversa em dia.
Eu a obedeci, me sentando em cima do balcão da cozinha enquanto ela colocava a bebida quente em duas xícaras para nós. Mais um trovão soou e um raio piscou do lado de fora, mas foi ignorado por nós duas.
— E então… me conte como foi na mansão dos Malfoy.
— Foi horrível, mãe. – Desabafei, deixando os meus ombros caírem. – A mãe dele foi super antipática. “Esquecia” de colocar louça para mim, puxava certos assuntos só para me deixar constrangida, me alojou em um quarto isolado de todos os outros…
— Ah, bebê, eu sinto muito. – Ela suspirou e eu sacudi os ombros, bebendo um gole do meu chá. – O que te fez voltar? Você estava pálida, parecia que tinha visto um bicho papão…
— Ela tentou me envenenar. – Eu disse, sob a trilha sonora de mais um assustador trovão que veio acompanhado de um raio, que fez a luz da minha casa piscar. Mas a mãe leoa que eu tinha pareceu nem notar.
— O que? – Minha mãe gritou, horrorizada e eu assenti, em concordância, mas pedindo silêncio.
— Por favor, o papai não pode saber disso. – Implorei. – Ela tinha envenenado a minha bebida, mas o Scorpius a tomou antes de mim e quase… quase… – Gesticulei com as mãos, sem coragem para terminar a frase.
— Santo Deus! – Minha mãe arfou, segurando a ponte de seu nariz com os dedos. – Que tragédia! Ele está bem?
— Está. Eu consegui achar um bezoar e o salvei. Mas eu não podia ficar mais um segundo sequer naquela casa com aquela maluca, então eu vim. Você acha que eu fiz mal?
— Não! É claro que não! Você fez bem, filha… Nossa, eu… Você tem certeza que foi ela? Pode ter sido o…
— Não foi o Draco, mãe. – Eu a interrompi. – Ele ficou horrorizado. Estava péssimo e me pediu desculpas por tudo. Ele foi legal o tempo todo e… – Dei um sorrisinho divertido. – Eu acho que ele tinha uma quedinha por você.
— Que bobagem! – Minha mãe se levantou, com as bochechas vermelhas e eu dei risada. De repente, o teor da conversa mudou, mesmo que mais um trovão tenha me feito pular de susto. – Ele era arqui inimigo do seu pai e do seu tio. Isso é quase impossível!
— Isso só torna a história mais interessante. – Eu provoquei e um apito soou na área de serviço.
— Eu preciso ir. – Ela rolou os olhos. – Tenho uma pilha de roupas para por na secadora. E você, trate de terminar o seu chá.
— Espera, só me diz uma coisa. – Segurei em seu braço e ela fez sinal de que estava ouvindo. – Você acha o Scorpius bonito?
— Ah… Sim, filha.. – Ela franziu o cenho. – Sim. Ele é um garoto muito bonito. Por que?
— Ele é a cara do pai dele. – Provoquei mais uma vez e ela cedeu à risada.
— Ah, pelo amor de Deus, Rose! – Reclamou, indo para a máquina de lavar.
— Você nem nega! – Gritei e ela gritou de volta:
— Me deixe cuidar das minhas roupas em paz, mocinha, ou eu te coloco de castigo.
Ri disso e continuei tomando o meu chá em silêncio. Alguns trovões depois, a minha campainha tocou e eu pulei do balcão gritando:
— Eu atendo!
Hugo desceu correndo, mas eu cheguei antes e abri a porta, dando de cara com um Scorpius ensopado e com os olhos inchados.
— Oi! – Eu dei um sorriso surpreso e ele me correspondeu com um sorriso culpado.
— Oi. Eu posso entrar?
— É claro que pode! Entre logo! – Eu me afastei para que ele entrasse e assim que ele o fez eu o puxei para um abraço, nem me importando se ele estava molhando o meu pijama ou fazendo uma poça de água no chão da sala. Ele correspondeu ao abraço me apertando contra o seu corpo ao mesmo tempo em que Hugo fechava a porta.
— Eu sinto muito. Fui um babaca.
— Depois, amor. – Decretei, pegando a minha varinha sobre a mesa e secando suas roupas com um feitiço. – Temos chá quentinho. Venha tomar um pouco para se aquecer, depois você toma um banho quente e nós conversamos com calma.
O puxei pela mão sem que ele concordasse, colocando-o sentado em uma das cadeiras da mesa de jantar. Hugo se sentou ao lado dele e eu servi chá para os dois antes de perguntar:
— Como está se sentindo?
— Como se um gigante tivesse passado por cima de mim. – Ele respondeu. – Estou exausto e com o corpo meio mole.
— Não é pra menos. – Considerei, preocupada. – Mas amanhã, depois de uma boa noite de sono, você já estará melhor.
— Eu espero que sim. – Ele concordou.
Escutamos passos na escada e logo em seguida o meu pai apareceu, sonolento, com os seus pijamas de listras e pantufas. Quase não abria os olhos para andar e obviamente não enxergou a poça de água que o fez escorregar e cair de bunda no chão.
Hugo e eu caímos na gargalhada enquanto Scorpius apenas arregalou os olhos, aterrorizado.
— Mas… Mas o que diabos… Quem foi que… – Meu pai resmungou, se levantando e Scorpius pigarreou.
— Me desculpe, senhor Weasley. Eu me molhei por causa da chuva e acabei molhando o chão. Foi minha culpa, mas eu vou…
Meu pai o encarou, confuso e depois foi para a cozinha murmurando um:
— Moleque do caralho…
Hugo, zombeteiro, deu dois tapinhas no ombro de Scorpius, que suspirou derrotado, esfregando o rosto com as mãos. Ele estava ferrado!
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