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História Magico - Capítulo II


Escrita por: Cassino

Notas do Autor


Desejo a todos uma boa leitura.

Capítulo 2 - Capítulo II


Mais tarde naquele dia, enquanto os dois meninos apreciavam a boa vista da janela sacada que havia logo ao lado da mesa de centro, as duas portas pesadas se abriram num solavanco, uma rajada de vento tão forte que fizera os vidros da janela tremerem. De fora, vinha uma garotinha pequena, com as bochechas vermelhas provavelmente de tanto correr. Ela pressionava os dedos firmes na palma das próprias mãos, brava. Seu semblante era péssimo, de quem estava prestes a explodir.  

Para a surpresa de Tomioka, a garota tinha os cabelos escuros assim como os dele. Assumiu que era a irmã mais nova que Tanjiro havia mencionado mais cedo. Apesar de negras, as madeixas da menina não chegavam a ser tão escuras quanto as suas. Em contra partida, os olhos rosados da menina chamavam bastante atenção, nunca havia visto nada parecido antes. 

— Como pode trazer convidados sem me avisar, Tanjiro? - a baixinha bradou, inconformada. 

Era visível as gotas de suor frio que corriam pelo rosto do primogênito da casa Kamado. Ajeitando sua postura, o menino bateu com uma das mãos ao seu lado do sofá, gesticulando para que a irmã se sentasse ao seu lado. Permaneceu calado até que a mocinha estivesse bem acomodada, fazendo-lhe um cafuné na cabeça e curvando-se para Tomioka. 

— Por favor, senhor Tomioka, perdoe a indelicadeza da minha irmã. – Ele proferiu as palavras, um pouco nervoso – Essa é Nezuko, minha irmã mais nova. Gostaria que vocês pudessem se dar bem.  

— É um prazer, senhor Tomioka! – a pequena sorriu. 

— O prazer é meu, senhorita Kamado – O rapaz disse, sério – Sou Tomioka Giyuu, perdoe-me por não ter sido anunciado, estou acompanhando o senhor Urokodaki, acredito que tenha sido indelicadeza dele.  

— Sem formalidades, por favor! – a criança sorriu novamente – Me chame apenas de Nezuko, pode chamar eu e meu irmão pelo nome sem problemas. Pode me dizer quantos anos você tem? Eu tenho sete anos, Tanjiro tem oito! 

— Completei treze ainda esse ano – a resposta foi curta, quebrando totalmente as expectativas de Nezuko.  

— Mesmo que você já seja grande, por favor, brinque com Tanjiro – disse por entre um sorriso – Estou estudando para entrar na academia, por isso meu irmão tem se sentido muito sozinho. Vim até aqui apenas para cumprimentá-lo, estarei voltando aos meus estudos agora.  

O rosto do pequeno Tanjiro tingiu-se de um rosado tal como o das rosas que tanto apreciava, seu olhar baixo não escondia o constrangimento pela sinceridade da irmã. Giyuu quase chegou a esboçar um sorriso, mas se conteve, parecia estar sendo contaminado por aquele calor esquisito que todos emanavam. Em seguida, a menina se curvou e deu de costas, pedindo para que as empregadas abrissem as portas que antes havia aberto com magia.  

— Sua irmã... – Tomioka parou por um momento, pensando na melhor maneira de se expressar – Ela gosta bastante de você, Tanjiro.  

— Somos bem próximos, estivemos sempre juntos.  

— Você tem outros irmãos além dela?  

— Tive vários irmãos, mas eles já não estão mais entre nós – Kamado disse em tom sério pela primeira vez desde que se encontraram. 

— Perdoe minha estupidez, parece que perguntei sobre algo inapropriado.  

— Está tudo bem, não se preocupe. Tanto eu quanto Nezuko aprendemos a lidar com isso. 

Tomioka ponderou se deveria ou não perguntar mais a fundo sobre a história dos irmãos daquela casa, mentiria se dissesse que não estava curioso. Por um momento pareceu que por trás de toda aquela luz que os Kamado emanavam, havia bastante escuridão perpetuada por ali também. De fato, para uma família de aristocratas, eles tinham bem poucos filhos em comparação com os demais, bastante peculiar vindo de uma família com tanto prestigio. Giyuu não possuía tanto conhecimento acerca das casas nobres daquele reino, então recolheu-se ao seu desconhecimento e preferiu matar sua curiosidade ali mesmo.  

Enquanto as horas se passavam, Tanjiro tentava puxar conversas com Giyuu de diversas maneiras, falhando miseravelmente em todas. Quando perguntava sobre os interesses do menino, recebia as respostas mais vagas possíveis. Caso perguntasse sobre a vida de Tomioka, ele apenas dizia que era indelicado perguntar sobre o assunto quando se conheciam tão pouco. Para uma criança metediça como era, o mais novo atacava-o com todo tipo de questionamento possível, quase como se demandasse uma resposta apropriada para cada questão.  

Na realidade, Tomioka gostaria de poder tratar sobre esse tipo de assunto. Entretanto, havia tido um conjunto de experiências que diziam a ele para não confiar seus segredos a ninguém. Tinha um medo com fundamentos sólidos, fantasmas que assombravam da pior maneira a cabeça de um menino tão jovem.   

Perdeu seu olhar na bela vista do jardim de rosas, nunca em sua vida teve a oportunidade de ver rosas tão grandes como aquelas. Tanjiro era inteligente, por mais que tivesse recusado seu convite, o garoto o trouxe para um cômodo onde estrategicamente pudesse olhar para a imensidão de flores. Pressupôs que as rosas se tratavam de um símbolo bastante importante para a família Kamado, tendo em mente que estava presente em todos os brasões espalhados pela casa.  

— São bonitas, não são? – o menino sorriu – É uma tradição nossa, cultivamos elas fazem gerações.  

— Jamais pensei que veria rosas como essas.  

 

— 

Alguns meses se passaram desde o primeiro encontro que tivera com Tomioka. A partir daquele dia, Urokodaki o adotou como filho, algo que ninguém esperava ver vindo do velho. Em função disso, Tanjiro encontrava-se com Giyuu frequentemente nos dias de treino, o que motivava o menino a terminar seus afazeres o mais rápido possível de maneira que pudesse aproveitar a presença de Tomioka.  

A cada encontro, conseguia sentir que quebrava mais uma camada da barreira quase impenetrável que o garoto construiu em volta de si. Mesmo após tanto tempo, a chama do interesse de Tanjiro não havia desaparecido. Ansiava conhecer tudo sobre o novo amigo que parecia tão melancólico e sofrido, esperava poder levar a ele o mesmo calor que recebia por todos em sua casa, um carinho sem tamanho que poderia derreter qualquer pensamento negativo. Se tornaria forte para poder ser a espada que acompanharia o futuro mago em suas aventuras, uma pessoa em quem Giyuu poderia um dia confiar sua vida. 

— Posso ler com você? – a pergunta veio tão sorrateira quanto o menino que acabara de entrar na biblioteca. 

No sorriso de Tanjiro, Tomioka não via aberturas para recusar. Os olhos carmesins brilhavam, como duas joias cintilantes. 

— Você e minha irmã são exatamente iguais, sempre lendo – ele completou. 

— Somos magos, afinal. 

— Pelo menos ainda tenho você por perto, Tomioka. Minha irmã foi para a academia e só voltará daqui a sete anos – a fala saiu ressentida, uma tristeza quase palpável vinda do mais novo – Diga, Tomioka, você também vai me deixar sozinho? Pretende visitar a academia também?  

— Senhor Urokodaki disse que devo manter meus estudos em casa até que eu atinja a idade adulta. Ele tem medo do que pode acontecer caso as pessoas me descubram.  

— Isso significa que ficaremos juntos? – a criança indagou, animada. 

— Apenas se você trabalhar duro, assim como eu.  

— Irei me tornar um grande mestre, Tomioka! – animado, Tanjiro pulou em uma pose heroica – Quero ser alguém que esteja à altura de acompanhar o grande mago que você se tornará.  

Mais uma vez, Tanjiro sorriu. Aquele sorriso descontraído, aquele sol. Giyuu nunca sabia como reagir, sentia suas defesas sendo quebradas por uma criança tão boba. Seu coração falhava com o semblante doce que o Kamado sempre apresentava para si naqueles olhos inocentes sem sinal de malícia alguma. Sentia que talvez, ali, tivesse encontrado alguém em quem pudesse confiar.  

— A partir de hoje, venha aqui depois de seus treinos, vou cuidar dessas feridas para você – concluiu, apontando para a testa do rapaz e conjurando uma magia breve. 

Num piscar de olhos, os machucados de Tanjiro desapareceram e, para ele, parecia que as feridas no coração de Tomioka estavam sumindo também. 

A contar daquele dia, os dois passaram a se ver mais ainda. Tomioka sempre cuidava de todas as possíveis lesões que o mais novo adquirisse durante seus treinos, bastava um simples toque e tudo se curava, quase como um anjo. Cada vez mais próximos, cresceram juntos, se familiarizando ainda mais conforme os anos se passaram.  

Em cinco anos, aos meados do inverno, Giyuu finalmente atingiu a idade adulta. Vendo o amigo, agora em seus dezoito anos, Tanjiro podia perceber como o rapaz havia crescido depois de todo aquele tempo, era datada uma despedida. Assim que realizassem a festa de maioridade de Tomioka, ele seria enviado a capital para aprofundar seus estudos em magia, o que significa que pela primeira vez o filho da casa Kamado estaria sozinho: sem Nezuko e tampouco Tomioka. Sabia que essa hora iria chegar e, por mais maduro que quisesse acreditar que fosse, ainda era apenas uma criança. Sabia, bem lá no fundo, a falta que o mais velho faria de agora em diante. 

No fatídico dia da festa, viu Giyuu ser apresentado pela primeira vez a sociedade, como filho de Urokodaki. Para o espanto de todos, o rapaz não seguiria o caminho da espada, era um mago nato. Durante o baile, todos os comentários se dirigiam apenas ao preto incomum dos cabelos de Tomioka. Alguns, com medo, se retiraram do baile mais cedo do que o normal. Por outro lado, algumas meninas curiosas, cercavam afoitas o herdeiro da casa Urokodaki. Era claro para todos os presentes que em um futuro muito próximo, o aniversariante se tornaria um grande e prestigiado mago, competindo entre os melhores no reino.  

— É uma ocasião especial, Tanjiro! Por que está com essa cara tão triste? Deveria estar feliz por Giyuu – disse Nezuko, era a primeira vez que via a irmã em anos.  

— Hoje é o dia em que me despeço dele, Nezuko – sorriu triste. 

— Despedidas são tristes, irmão, mas não significa que são insuperáveis. Nós dois nos despedimos há um longo tempo atrás, não é verdade? Ainda que estejamos longe um do outro, mantivemos contato através das cartas, quando as leio sinto como se vivesse com você cada momento que conta para mim. Deveria fazer o mesmo com Giyuu, escreva cartas para ele, tenho certeza que mesmo com aquele jeitão dele, vai deixá-lo feliz.  

Tanjiro acenou com a cabeça, Nezuko tinha razão. Se conseguiu superar a falta da irmã, conseguiria entender a ausência de Tomioka também. Não existem despedidas felizes, mas com certeza ele estaria feliz por ver o amigo traçar o caminho pelo qual esperou por tantos anos. Afagou os cabelos da menina, trazendo-a para um abraço cálido, sentia saudades de Nezuko, sua irmã tão querida. Beijou a testa da mais nova, sorrindo calorosamente. 

Momentos como esse tornavam Kamado mais forte, faziam-no acreditar que poderia vencer os momentos de solidão sem pestanejar, por mais que essa não fosse exatamente a realidade.  

— Me concede essa dança, minha dama? – ofereceu sua mão para a irmã, que a aceitou em prontidão, sorrindo de uma ponta a outra de seu rosto. 

— Mas é claro, meu cavalheiro!  

Enquanto dançavam pelo salão, os problemas todos pareciam se esvair, Nezuko era realmente uma pessoa especial, sabia exatamente o que falar para acalmar o coração aflito do irmão.  

Já na outra ponta do salão, o aniversariante não aproveitava tanto assim a celebração. Odiava mais do que tudo a presença de desconhecidos, ainda mais em bandos tão grandes. Ninguém ali estava feliz pela sua chegada à idade adulta, apenas gostariam de se aproveitar da situação de maneira a obter mais um contato na sociedade, principalmente com a casa Urokodaki que até então não possuía sequer um sucessor. Nem mesmo Tanjiro estava feliz por ele nesse dia, a comemoração representava a despedida para os dois.  

Algumas garotas, muito bonitas por sinal, tentavam a todo custo puxar conversas vazias. Completamente diferente de quando conheceu Tanjiro, elas sequer apresentavam um pingo de interesse nos questionamentos que faziam.  

— Jamais imaginaríamos que o sucessor da casa Urokodaki seria um mago – disse uma das meninas, Giyuu sequer lembrava o nome delas.  

— Quem diria, não é mesmo? – a outra garota respondeu – Duas das mais prestigiadas casas de espadachins tendo magos na mesma geração, parece ser o destino! As moças da sociedade dizem que o senhor é bem próximo da família Kamado e existe um rumor dizendo que é planejado um casamento arranjado entre você e a senhorita, é verdade? 

Tomioka grunhiu em descontentamento, mal conhecia Nezuko, era próximo apenas de Tanjiro. Desde que se tornou filho de Urokodaki, o velho o prometeu jamais se meter em sua vida. Apenas ignorou os comentários, evitando as perguntas e fingindo não ouvir os absurdos debatidos pelas meninas.  

No salão, seu olhar se perdeu procurando pelos cabelos carmesins. O encontrou dançando com a irmã, rindo e se divertindo, completamente oposto a Giyuu. Tanjiro havia acabado de entrar na puberdade e, apesar de não estar tão alto como Tomioka, os ombros largos e o porte atlético demonstravam que o rapaz seria um homem muito atraente em um futuro próximo. Sorrindo, o mais velho se dirigiu a uma das sacadas, fechando as portas de vidro e suspirando profundamente, esperava que tudo aquilo acabasse logo e pudesse descansar, afinal, teria um longo caminho de carruagem até a capital no dia seguinte. 

— Tomioka? – a voz familiar o chamou. 

Virou de encontro com o Kamado, agora sem a irmã. Ao dar de encontro com os olhos escarlate, sentiu um aperto ruim em seu peito. Uma dor sentimental, de quem sentiria falta daquela figura de agora em diante.  

— Vejo que o ponto alto da festa foi o encontro com sua irmã – ele afirmou –, fico feliz em ver que esse dia pode te trazer alguma lembrança feliz, Tanjiro. 

A expressão triste de Giyuu quebrou o coração do mais novo, era o primeiro sorriso que via o garoto esboçar, um sorriso triste e amargo. Ajoelhou, diante do amigo, encarando-o da maneira mais séria que pode. 

— Quando você voltar, quero jurar-me a ti como um cavaleiro, Tomioka. Sei que agora você ainda deve me considerar um garoto, uma criança que mal sabe sobre a vida, mas tenho certeza que jamais mudarei de ideia quanto a isso. O Tanjiro de cinco anos atrás pensava a mesma coisa, em dar a vida pelas pessoas que admira e uma delas, Tomioka, é você.  

— Se realmente quiser ser meu cavaleiro, acho melhor sair desse baile e começar a treinar agora, Tanjiro – brincou. Que eu saiba entre nós dois, consigo me proteger muito melhor do que você. Estarei esperando resultados quando voltar. 

— Me prometa, prometa que me aceitará.  

— Não posso prometer aceitar alguém mais fraco como meu cavaleiro, Tanjiro. Mas, posso prometer te esperar. Levante, estamos de igual para igual, você não precisa se ajoelhar perante a mim agora. 

Giyuu estendeu a mão para o rapaz, que aceitou de prontidão. A feição do Kamado deixava claro o quão decepcionado estava por se sentir tão impotente, não era forte o suficiente para proteger nenhum dos dois, nem Tomioka e muito menos Nezuko. Fitou o amigo, esperando encontrar na profundeza daqueles olhos azuis uma resposta para sua aflição, mas não a encontrava. Virou-se de costas, apercebeu-se da vontade imensa de chorar que já não poderia ser contida, se via extremamente triste.  

— Vou te esperar, Tanjiro – reafirmou, pousando uma das mãos no ombro do menino. 

— Prometo que me tornarei alguém em que você possa depender, também estarei te esperando, Giyuu.  


Notas Finais


No próximo capítulo, farei um time skip novamente. Corrigirei os erros do capítulo assim que tiver tempo.
Obrigado a todos que leram até aqui, caso queiram acompanhar mais trabalhos meus, eu faço algumas ilustrações de tanjiro x tomioka e tanjiro x inosuke, que posto no meu twitter: https://twitter.com/_marechii


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