História Maid-Café - Maid-Café. - Parte 07. - Chá Gelado

Os curiosos se acumulavam cada vez mais no enorme corredor, e a quantidade de pessoas aumentava simultaneamente ao murmurio que circulava, Sakura levantou os olhos por um momento, vendo pela janela a loira sentada mexendo em seu celular enquanto levava a lata de chá gelado até a boca, a Haruno respirou fundo quando sentiu os dedos em seu ombro a empurrando para que ela andasse mais rápido, sendo seguida pelas garotas que continuavam a ameaçando e rindo, a rosada correu os olhos para a classe atrás da sua, confirmando que como em todos os intervalos, o Uchiha não estava ali, parou diante da porta e virou-se...

Ino sentiu a mão em seu ombro e foi obrigada a levantar a cabeça... “estão com a Sakura” a garota assustada ao seu lado falou baixinho, e só então a loira viu a cena fora da sala de aula, a “quadrilha” como ela especialmente decidiu chamar estava diante de Sakura, enquanto a Haruno com o rosto inchado e vermelho as encarava, cercadas por dezenas de estudantes curiosos...

— Ele não está aqui...

— Não tem problema, nós o esperaremos, afinal, ele vai passar reto por todas nós e ignorá-la como tem feito... — Respondeu a dona dos cabelos vermelhos...

— Espera que eu fique aqui parada o esperando de bom grado?

— Não... nós tornaremos isso bem desagradável para você...

A Haruno levantou o braço cobrindo o rosto e fechou os olhos instintivamente quando viu a garota de pele morena vindo em sua direção, mas nada aconteceu, e quando ela abriu os olhos novamente pode ver a mesma morena caída nos braços de uma das garotas enquanto de sua boca saia um filete de sangue... “Mas que merda...” a voz da loira a sua frente chamou toda sua atenção, a loira balançava a mão no ar como quem, obviamente, não está acostumada a dar um soco em outro alguém, Sakura pode jurar naquele momento, que faria tudo que a Yamanaka lhe pedisse sem pestanejar ou retrucar a partir daquele dia, afinal, dentre todas as dezenas de pessoas paradas ali, ela foi a única a defendê-la, e isso tocou o coração da rosada... Sakura pode ver a única daquelas garotas que conhecia pelo nome avançarem sobre a loira, Karin ia acertá-la enquanto ainda estava destraida com a morena no chão, mas isso a Haruno não permitiria, puxou Ino pela gola de sua camisa para trás e colocou-se diante dela, enquanto encarava a ruiva com fúria, desafiando-a a continuar...

— Sakura!!!

Todo o barulho naquele lugar foi engolido pela voz dele instantaneamente, em um tom alto e imponente, como ninguém ali jamais tinha visto.. Karin automaticamente arrumou o cabelo desgrenhado e a saia, não queria que ele a visse descabelada ou coisa parecida afinal, enquanto a muvuca de estudantes abria caminho para ele passar por todos e chegar até elas...

Sasuke parou em silencio por um momento, com as mãos nos bolsos da calça e o cabelo negro levemente bagunçado pelo vento, observando a cena que era apresentada diante dele, Ino era amparada ao lado da porta de entrada da sala por duas meninas que a ajudavam a se recompor, enquanto do outro lado diante da janela estava Karin e as mesmas garotas que sempre o perseguiam pela escola, com as mesmas caras de santas de sempre, e no meio estava ela, com o enorme cabelo cor de rosa bagunçado e sujo de terra, em um tom muito mais opaco que o normal, quase como se aquele cabelo fosse a manifestação de seu humor, a mão arranhada e suja de sangue fechada, quase como se ela tentasse esconder aquilo dele, Sasuke teve que engolir a raiva que emergiu quando voltou os olhos para o rosto dela, baixo e sem olhá-lo diretamente, exatamente como ela vinha fazendo nos últimos dias, Sasuke voltou a caminhar em sua direção, aproximando-se o suficiente para pegar a mão dela e olhar diretamente o ferimento nesta, não era profundo ou algo assim, mas sujo de areia como estava e ainda sangrando poderia causar uma infecção, voltou a cobri-la com os olhos negros, mas não teve resposta dos dela, Sakura mantinha sua cabeça levemente baixa e virada em outra direção, com o cabelo cobrindo a vermelhidão em sua bochecha...

— O que está acontecendo aqui? — Perguntou o Uchiha, mas não obteve resposta de ninguém... — Sakura... — Assim que terminou de pronunciar seu nome ela puxou a mão, ainda olhando para o lado, e num tom rude respondeu...

— Nada que seja da sua conta. Não é como se realmente se importasse afinal.

Ele quase riu, quando a viu virar o rosto e como se fosse uma criança um bico se formou em seus lábios rosados, ele expirou, e voltou a levar a mão em direção à Haruno, era incrível como a pele dela era macia, segurou seu rosto levemente, como se segura o rosto de porcelana de uma boneca japonesa, delicadamente, e logo ela não resistiu mais, cobrindo-o com o verde puro de seus olhos, tão surpresa quanto qualquer outro que observasse a cena, e com a voz tão doce, como se existisse apenas ela naquele local ele a respondeu...

— É claro que me importo. Achou que eu permitiria que qualquer coisa lhe acontecesse sem eu interferir? — Ele curvou-se, e aproximou seu rosto ainda mais do dela, baixando seu tom de voz, e vendo suas bochechas corarem... — Afinal, sou seu cavalheiro de armadura.!

A solitária lagrima correu o rosto dela, lembrando-se de quando ela havia o chamado daquela forma, e sabia que o vermelho do machucado de seu rosto agora era disfarçado pelo rubor em sua pele, podia sentir o sangue esquentando suas bochechas, vê-lo sorrir para ela daquela maneira tão meiga, aqueles olhos tão escuros brilhando apenas em sua direção, não importava mais o que ela havia passado por causa dele, aquele momento único, já havia feito valer a pena...

Sasuke afastou-se novamente e correu os olhos por todos parados observando, vendo os olhares espantados de todos ao redor, a loira que sempre andava com Sakura estava estática com os enormes olhos azuis brilhando, enquanto Naruto tinha as mãos atrás da cabeça, sorrindo orgulhosamente da atitude do amigo, e por fim, Sasuke colocou os olhos nela, a garota dos cabelos vermelhos que parecia não acreditar do que estava acontecendo diante de seus olhos, Sasuke então insistiu, ainda sem tirar os olhos de cima de Karin ele voltou a perguntar...

— O que aconteceu com seu rosto, Sakura?

— Não... foi nada, não é importante. — Sua voz baixa saiu depois de alguns segundos de silencio...

— Você tem razão... Não é nada importante...

O Uchiha voltou os olhos para ela, e novamente a doçura voltou a bordar seu olhar como os olhos de uma criança diante do sol, ele levou as duas mãos em sua direção, tocando seu rosto e colocando o cabelo colorido para trás de sua orelha, o toque delicado, preocupado, quase apaixonado... curvou-se para poder alcançar seus lábios na pele macia da bochecha inchada e doida, plantando ali um delicado beijo, na esperança de que como ela era para ele, ele também fosse como um remédio para seus males...

— Ainda assim.. é a garota mais linda que já vi em minha vida!

O sorriso tão delicado que brotou nos lábios dela encantou a tudo e todos ao redor, era como ver uma flor brotando entre cascalhos, e encantando como uma poesia...

Sasuke pegou-a pela mão, e apenas olhando para as pessoas ao redor todos já entenderam que aquilo, fosse lá o que fosse, havia acabado, abrindo caminho para passarem enquanto ele a puxava pela mão para longe de tudo aquilo...

O barulho da gaveta se fechando bruscamente arrancou-a de seus pensamentos, a sala cheia de cortinas e camas em tons de branco era serena e calma, seria ainda mais se não fosse pelo Uchiha batendo seus armários a procura de curativos e analgésicos, ela colocou as mãos sobre os joelhos, sentada na cama fofa, baixou a cabeça por um momento, suspirando fundo e tentando entender passo a passo o que havia acontecido naquela manha tão conturbada...

Sasuke puxou um banco e colocou-o a sua frente, setando-se nele e colocando a pequena caixa de metal na cama ao lado dela, com cuidado pegou sua mão e com soro e algodão começou a lavá-la, em silencio, deixando apenas que a memoria do que havia acontecido se aprofundasse cada segundo mais, tornasse-se mais nítida em suas mentes, ela puxou a mão, e um pequeno gemido de dor soou no ar...

— Desculpe... — Ele falou, pegando sua mão novamente e recomeçando com ainda mais cuidado...

— Obrigada por me defender.

— Eu fui o defendido hoje, é por minha culpa que está machucada. Se alguém tem que pedir perdão esse alguém sou eu...

A Haruno suspirou, e virou o rosto para a janela enorme ao seu lado, o dia estava tão lindo visto dali, com o vidro fechado e o céu azul acinzentado, que mal poderia acreditar que lá fora, uma ventania se formava, ela olhou-o de canto, concentrado em cuidar de seus ferimentos e não conseguiu não sorrir em vê-lo tao empenhado em algo, que obviamente, não estava acostumado...

— Deveria me pedir desculpas mesmo.. mas não por hoje, e sim por fugir de mim.. — Sasuke levantou o rosto para olhá-la, mas ao contrario do que ela imaginou, não parecia surpreso, era quase como se ele já estivesse preparado para aquela conversa...

— Me desculpe. — Respondeu em voz calma... — Mas eu não fugi de você Sakura.

— Não foi o que pareceu...

— Não foi minha intensão magoá-la...

— Não foi sua intenção? — Ela parecia incrédula, e com a voz no tom desacreditado ela recomeçou... — Você me ignorou por dias, depois de me beijar daquela maneira, sem me dizer se quer uma palavra do porquê.

Ele calou-se, virou o rosto, desviou o olhar, fez de tudo para não precisar olhá-la naquele momento, como cão que foi pego roubando, tentando se esconder entre as próprias orelhas... Mas ela não desistiu, não deixaria passar assim, a ferida ainda estava ardendo de mais para que ela pudesse deixar pra lá, puxou sua camisa com força, obrigando-o a encará-la, desafiando-o a continuar com aquilo, e passando os minutos, olhando-o nos olhos, encorajando-o a continuar, mesmo que fosse para para magoá-la no final, a resposta não importava mais, contanto que ele conseguisse se expressar... Contanto que ela não simplesmente virasse um nada ou ninguém em sua vida...

— Eu não tenho mais certeza... de que consigo conviver com você tão próxima... — Ela suspirou fundo, e suspirou novamente para só então continuar...

— O que eu fiz a você? Qual foi meu tão imperdoável erro?

— Você foi... você... Sakura Haruno... — Era obvia a confusão na mente dela depois de tais palavras, e por algum motivo, ele não temeu continuar... — Você se aproxima de uma maneira tão pura que quando dei por mim já fazia parte da minha vida. Sorri como uma criança, se mexe como uma permanente dança, tem olhos que brilham como se a luz do sol pertencesse somente a eles... Você me encanta. Me faz sorrir, mesmo não querendo, me faz ver o mundo com olhos mais abertos, me faz pensar, e me faz lembrar... mesmo de coisas que eu quero que continuem esquecidas...

O barulho do banco dele arrastando no chão desconcertou seus pensamentos, ela levantou-se e segurou-o pela manga de sua roupa, com força, impedindo-o de continuar e em silencio tentando reorganizar sua mente ela permaneceu por algum tempo... ainda sem conseguir compreendê-lo por inteiro, quase como se ela estivesse pensando em voz alta ela recomeçou...

— Eu... você fala como... se estivesse ap... — Ele cortou-a, o mais rápido que pode, até porquê, não tinha certeza de que conseguiria negar se ela concluísse aquela frase...

— Eu não sei.

— Como não? Como alguém pode não saber o que sente...

Os olhos negros do Uchiha estavam frios, profundos e perdidos em um oceano de pensamentos e sentimentos que ele não compreendia, ele agarrou sua mão, forte o suficiente para fazê-la largar sua camisa branca, e um tom de confissão saiu junto a sua voz rouca...

— Quando eu era criança... Vivia com meus pais e meu irmão e minha vida era a como de qualquer uma... e como qualquer criança ficaria, fiquei perdido sem meus pais, que foram arrancados de meus braços sem dó algum, ainda lembro da sensação do meu corpo batendo contra os bancos e sendo jogado pela janela... eu os vi serem consumidos pelas chamas entre a lataria, as vezes, quando tudo está em silencio, ainda posso ouvir seus gritos... Eu perdi totalmente o amor pela vida naquele dia... perdi toda fé, toda a esperança, toda a alegria... a criança que existia em mim morreu, e quando eu pensei que não havia mais volta... Eu conheci ela... Era tão alegre e cheia de vida que era o suficiente para nós dois, ela me puxou de volta para a realidade, trouxe cor aos meus dias, e por algum tempo pude realmente sentir felicidade... e quando eu voltei a pensar que eu poderia finalmente seguir em frente... Ela foi brutalmente tirada de mim... o barulho de seus ossos quebrando durante o impacto... seu corpo sendo arremessado por metros... o sangue se espalhando pelo asfalto... tudo isso, ainda está fresco em minha mente...

Sasuke completou levando a mão até a cabeça, tão perturbado por suas lembranças sombrias ele não pode perceber o olhar assombrado que tomou conta dos olhos dela, a garganta apertada segurando o nó desesperador, ela pode sentir a mão firme dele perder as forças, sendo consumido por aquela escuridão, e aquele turbilhão de sensações que até mesmo para ela eram visíveis através de seus olhos negros e opacos...

As mãos geladas dele adornaram seu rosto fino, entrelaçando os dedos em seu cabelo colorido, enquanto a escuridão dos olhos dele transbordava e partia seu coração... Diante de seus olhos, daquela maneira tão frágil, tal como ela jamais imaginou vê-lo... O rosto sempre tão serio e sereno, cortado pelas lagrimas que caiam por seu queixo e batiam contra o chão, Sakura, mais uma vez hipnotizou-se por aqueles olhos negros, que tão silenciosamente puxavam-na para dentro daquele turbilhão... Ele a olhava, como um ser inalcançável, mesmo estando tão perto, mesmo podendo tocá-la, era como se houvesse uma imensidão que os separava... sua voz fria que ela já estava acostumada sumiu, deu lugar a um tom aflito...

— E quando olho pra você... só consigo pensar que eu não suportaria perdê-la... Você me faz bem, sua mera presença me acalma, quando a vi vestida naquelas roupas de maid... foi difícil pensar sem as palavras “eu quero”... Quando olha nos meus olhos, no mais profundo dos meus olhos, como está fazendo agora, eu sinto que tudo aquilo que eu perdi está sendo devolvido, você me acalma, me trás paz, acorda minha alma adormecida, dá luz aos meus dias, seu sorriso me fascina, seu cheiro me embriaga, sua voz me encanta, não consigo me conter quando estou ao seu lado... e fico constantemente me perguntando... quando, exatamente, meu coração começou a bater só por você... e como fazer isso parar...

As nuvens finalmente abriram caminho, dando espaço para que a luz do sol passasse, atravessando os vidros das janelas fechadas e iluminando o local... as pontas dos pés dela quase não tocavam o chão, enquanto a cintura fina era enlaçada pelos braços fortes dele, que de tão apertado estava prestes a levantá-la no ar, os cabelos coloridos soltos e brilhando ainda mais intensamente, enquanto ela enrolava seus braços no pescoço do Uchiha, puxando-o contra seu corpo, como quem quer desesperadamente mais, roubando seus lábios com tanto desejo e emoção... ah, o beijo, aquele beijo que ela desejou tanto quanto ele, que embalava seus sonhos e bagunçava sua respiração... só de encostar, o toque quente de seus lábios, já se fez justiça, o adocicado de sua boca era tão real quanto o primeiro, tão desejável e apaixonável quanto a primeira vez que possuiu aquela boca, ela poderia derreter entre seus braços graças a aquele beijo, lábios que conversavam sem ao menos falar, sem se importar com o sufocar de seus pulmões, sentindo as mãos dele caminharem por seu corpo, torturando-a por ter que eventualmente separar-se dele...

Os brilhantes e cativantes olhos verdes o encarando tão de perto, com tanta paixão e tão evidentemente expostos, ele sentia-se totalmente seguro com ela envolta em seu pescoço, sentia sua respiração batendo contra sua pele fria o embriagando, ela era como um veneno, que o deixava vulnerável e ao mesmo tempo o remédio que o curava. E com o tom de voz tão envolvente quanto seus lábios, ela começou...

— Você certamente sofreu Sasuke... como eu jamais poderei imaginar... e por isso mesmo eu te digo, não se deixe intimidar, tanta coisa já foi superada mesmo sem perceber... Eu não vou ter pena de você, eu não vou tornar as coisas mais fáceis, e nem posso te prometer que um dia você não possa me perder... Mas de uma coisa tenho certeza... Eu estou completamente, desesperadamente, perdidamente e loucamente... Apaixonada por você!