História Mais Clichê, Impossível (Hiatus) - Os Mais Dotados

Uma semana havia se passado desde o início das aulas de setembro.

Uma polêmica diferente quase sempre surgia dentro do colégio. E claro, os alunos gostavam de colocar mais fogo na lenha na fogueira e ver o circo pegar fogo. Literalmente.

Na manhã de segunda-feira não seria diferente.

Uma enorme aglomeração de pessoas se fazia presente no corredor do colégio. Mas precisamente de frente para o grande mural. Alguns estavam rindo, outros tiravam fotos, uns cochichavam, mas toda atenção estava voltada ao mural.

- O que está acontecendo? - Yuki sem entender nada decidiu manter certa distância para não ser empalado por tanta gente.

- Algum anônimo fez uma lista dos garotos mais dotados do colégio. - Ellen disse parecendo se divertir com toda a situação.

Yuki ficara totalmente besta.

- Como assim?

- Nada melhor para animar uma segunda-feira que uma exposição dessas. - Disse um garoto de trejeitos afeminados enquanto batia palminhas - Em primeiro lugar está aquele nerd esquisito, o Chris, que vive na sala de informática, com nada menos que vinte e três centímetros e meio.

Ellen gargalhou, enquanto Yuki ficava cada vez mais chocado.

Luke então prosseguiu.

- Em segundo lugar vem o Tom, conhecido como "O Turista" por só vim duas vezes por semana. Ele aparece com vinte dois centímetros. - Diz tentando segurar o riso - Em terceiro e quarto lugar aparecem empatados os gêmeos Gleen, ambos com vinte e um centímetros. - O garoto pegou o caderno e abanou a si próprio - É muita informação para processar. - No final sussurrou "Que calor", sendo que a sensação térmica não passava de treze graus.

Yuki estava pasmo, não muito diferente de outras pessoas ali.

- E em quinto lugar aparece um dos caras mais gostosos e perigosos que conhecemos. - Luke suspirou e fez um breve suspense - Victor François, com vinte centímetros e meio..

Yuki fez uma careta mudando completamente de expressão.

- O que foi? Vai me dizer que não acha esse Victor tudo de bom? - Luke disse enquanto ainda se abanava - Até os heteros reconhecessem isso.

- Vocês não acham isso… - Tentou encontrar a palavra certa - Meio… Hum… Inadequado? Q-quer dizer é algo tão… Íntimo.

Luke o olhou com estranheza.

- Que nada! O povo adora polêmica, isso com certeza vai ser falado pelos próximas semanas. Vai render bastante ainda.

- Agora fiquei curiosa. - Ellen retornou ao trio - Quem será que fez essa lista? Será que isso tudo é verdade mesmo?

- Pode ser que sim, pode ser que não. - Luke obviamente torcia para que fosse verdade - Talvez quem fez isso tenha ficado com todos eles. - Disse pensativo - Imagina na hora de fazer um oral? Como deve ser?

Ellen gargalhou altamente e deu um leve empurrão em Luke.

- Só imagino a pessoa se engasgando e tendo falta de ar!

- Nem me fala! - Luke arrepiou-se - Se eu morresse agora com certeza eu iria querer que fosse com um pau entalado na minha…

- Olha quem está chegando! - Uma garota disse indiscretamenente. 

Todo o burburinho voltou-se então de encontro a Victor que andava com a sua costumeira inexpressão e pose altiva.

As pessoas deram espaço, deixando que o garoto de um metro e noventa e nove passasse sem nenhum impedimento.

- Olha só para esse homem, com certeza o que ele tem entre as pernas deve ser proporcional ao tamanho dele. - Luke disse apaixonadamente.

- Só olhando com os próprios olhos para saber. - Ellen piscou o olho com um sorriso sacana.

Yuki durante todo o momento negava com a cabeça.

- Imaginava levar um tapa dele! - Luke disse sonhador. De repente voltou-se para Yuki - Garoto, você tem tanta sorte!

- Oi?!

- Você deve ser o único desse lugar que não precisa fazer esforço para ter a atenção dele.

- Ah sim, ter o meu dinheiro e os meus chocolates roubados é magnífico! - Disse irônico.

- Qual é, Yuki? - Ellen alisou a bochecha do garoto - Vai me dizer que quando ele se aproxima você não fica com as pernas bambas?

Yuki encontrava-se totalmente incrédulo com o que estava tendo que ouvir.

- Ou quando ele te encurrala contra o armário e sussurra no ouvido com aquele forte sotaque francês e sexy perguntando o que você trouxe de lanche. - De repente Ellen e Luke caíram na gargalhada, fazendo Yuki se sentir mil vezes mais constrangido.

Não era a primeira vez que alguém insinuava algo do tipo. Victor parecia não se importa, já que realmente não se importava com nada, mas de certa forma os comentários atingiam Yuki que vez ou outra tinha de lidar com piadinhas idiotas e toques indiscretos dos amados colegas de classe. Poderiam não mexer com Victor, mas mexiam exageradamente consigo. O que não era legal, pois quando se defendia não era levado a sério, enquanto o troglodita do Victor com apenas o olhar fazia os outros manterem uma distância segura.

- Chega! Chega dessa baderna! - O diretor surgiu empurrando todos que via pela frente - Para a sala agora! - Gritou arrancando o papel do mural e amassando entre as mãos - Vamos! - De longe dava para notar que o diretor usava uma peruca, muito mal colocado por sinal. - O que estão esperando? Andem!

O sinal se quer havia tocado, mas todos decidiram seguir a ordem dada. Melhor que levar detenção ou advertência.

Yuki sentou-se em seu habitual lugar, mas estranhou quando notou pessoas diferentes em sua sala.

- Provavelmente vocês devem ter lido os avisos no mural, que hoje inclusive estava uma bagunça. - A professora ditou olhando para todos da sala - Para os desavisados, no decorrer dessa semana as duas turmas do penúltimo ano estudarão juntas e talvez isso tenha chance de ser algo permanente, mas isso será em outro momento.

Yuki ficou indiferente quando a decisão, esperava que uma isso não o afetasse em nada. Afinal estava decidido a dar o melhor de si esse ano.

Ou talvez surgisse algum empecilho.

Fez uma careta quando percebeu a presença de Victor bem ao seu lado.

Até então ele prestava atenção ao que a professora dizia, mas assim que se sentiu observado, virou o roto encontrando o olhar de Yuki sobre si.

Como sempre inexpressivo. Yuki se perguntava se existia algum tipo de emoção ou sentimento dentro daquele garoto.

Victor era a própria versão masculina de Kristen Stewart atuando em crepúsculo. A diferença estava apenas em não ser ator. Ou será que era? Dificilmente iria saber.

De repente sentiu uma bolinha de papel atingir sua nuca.

Olhou para o fundo da sala, encontrando nada mais, nada menos que Greg rindo como um perfeito idiota da sua cara. O que tinha de tão engraçado em jogar bolinha do papel no outro? Se pudesse revidaria jogando uma bomba maior que a de Hiroshima e Nagasaki no patético do Greg.

Era sempre tão calmo e pacífico, mas simplesmente tinha alguns que parecia gostar de vê-lo surtando.

Estava quase lá.

- Yuki vira-se para mim agora se não quiser levar uma advertência. - A professora ordenou com rigidez.

Por um momento havia se esquecido de como a professora de matemática era rígida..

E como sempre toda a turma prestava atenção em si.

- Desculpa professora, mas a culpa é do Greg! - Apontou de forma acusatória para o loiro oxigenado ao fundo da sala.

Greg fingiu-se estar chocado e decidiu rebater.

- Professora ele está me acusando sem provas, pois eu durante todo esse momento estava quieto no meu canto.

Yuki estava pasmo.

Como um homem daquele tamanho podia se portar de tal forma? Será que não percebia que isso era feio?

De repente um por um da sala começou a falar até se transformar numa enorme conversação, uma mistura de diversas vozes em tons cada vez mais altos.

- Parem! Parem! - A professora tentou inutilmente tentar conter o exagerado falatório.

Todos então pararem de falar assim que Victor questionou rundemente quem havia jogado uma bola de papel suja de corretivo em seu braço.

- Quem foi, porra? Eu vou surrar a cara do maldito!

A professora suspirou e então ordenou que os três esperassem na sala até o sinal tocar.

Yuki choramingou, pois sabia que poderia pegar uma advertência ou pior, uma detenção. Conhecendo bem a professora não duvidava disso.

O tempo passou em um piscar de olhos e assim que o sinal tocou os alunos saíram criando um verdadeiro tumulto na porta da sala.

Yuki tentou se aproveitar dessa pequena brecha para fugir, mas a professora o viu a tempo e o puxou pela manga da camisa de volta a fileira.

- O que eu disse sobre você esperar, ham?

- Professora, e-eu…

- Calado! - O cortou o quanto antes. Pegou o seu material e virou-se para os três últimos que ficaram na sala. - Me acompanhem.

Os três adolescentes não precisavam adivinhar para onde iriam.

Chegando a porta da sala do diretor, a professora pediu para que os três esperassem para serem chamados.

Tamanha a surpresa ao encontrarem Ellen e Jennifer sentadas nas bancas ao lado da porta da secretária.

- O que vocês fazem aqui? - Yuki perguntou confuso.

- Fui pega tentando fugir com a minha bicicleta. - Ellen explicou.

- Estava mexendo no celular dentro da sala de informática e algum maldito me viu e me entregou ao diretor. - Jennifer disse bufando impaciente.

- Aposto que estava mandando foto dos peitos para algum carinha. - Greg alegou e levou um chute no joelho.

- Olha com quem você está falando seu maconheiro safado!

- Falando desse jeito até parece que nunca me ofereceu dinheiro para comprar um dos meus baseados.

Ellen e Yuki abriram a boca perplexos.

Victor continuou inexpressivo como sempre.

- Ora seu… - Levantou-se furiosa - Eu vou arranhar toda a sua cara de mongolóide, seu maldito fedido! -Jennifer avançou, mas foi contida a tempo por Ellen e Yuki - Ele tá pedindo! Vou acabar com ele!

- Mas que show de horrores é esse em frente a minha sala?

Jennifer se soltou e riu sem graça para o diretor.

- Era uma cena de uma peça que vamos fazer no teatro. Estávamos ensaiando.

Yuki levou as mãos ao rosto com uma desculpa tão esfarrapada e descarada.

- Entrem! - Deu espaço para que cada um passasse.

Havendo apenas duas cadeiras, Jennifer e Greg foram os primeiros a se sentar.

- Diretor, eu estou aqui por engano. - Yuki tentou se explicar, mas como sempre foi cortado.

- Sem desculpas, Sr. Okamoto. - Disse sentando-se em sua cadeira - Se estão aqui é por fazerem algo inadequado e por isso os cinco levaram uma detenção.

Yuki definitivamente sentiu vontade de chorar.

- Não é necessário isso, diretor. O que fizemos não vai mais se repetir. - Ellen tentou reverter a situação.

- É justamente por isso que ficarão em detenção, as aulas começaram a menos de uma semana e tudo que menos quero é confusão e desordem. Você servirão como exemplo para que os outros não façam o mesmo.

Cada um lamentou internamente.

- Mas como eu sou bom, vocês terão apenas que arrumar a biblioteca que algum engraçadinho resolveu bagunçar. Essa será a detenção de vocês, e assim que arrumaram tudo estarão dispensados. Estamos entendidos?

Nenhum respondeu.

- Estamos entendidos?!

- Sim! - Responderam em uníssono.

- Saíam da minha sala.

Os cincos adolescentes saíram como ordenado.

Do lado de fora passaram a discutir sobre a punição dada e se realmente era justa.

- Eu não estaca fazendo nada demais, apenas não estava disposta a assistir aula. - Jennifer tentou se defender.

- Eu tive uma urgência e o diretor simplesmente não quis me liberar, achei que poderia fugir sem ser vista. - Ellen disse cabisbaixa.

- Estou aqui por conta desse nanico aí! - Disse revoltado enquanto olhava ameaçador para Yuki - Depois que eu te der uma lição, você nunca mais vai… Aí porra! - Greg começou a pular sobre uma perna. Victor havia pisado sem dó algum em seu pé esquerdo. - Por que fez isso cara? - A dor se espalhou por todo o pé chegando ao tornozelo.

- Pensei ter visto uma barata no chão. - Disse com um sorrisinho de deboche - Desculpa aí.

Greg forçou um sorriso.

- Tudo bem, acidentes acontecem. - Victor definitivamente era uma das figuras mais respeitadas da escola, ou uma das mais temidas, dependendo da visão de cada um. Pisar no pé do outro propositalmente e ficar só por isso? Enfrentá-lo Greg não iria.

- Bom. - Deu de ombros.

- Talvez nós devêssemos arrumar a biblioteca agora? - Ellen disse com desânimo.

- Agora não dá. - Jennifer saiu sem dar nenhuma explicação.

Greg decidiu ir em seguida, mancando de lado e resmungando de dor.

Ellen sorriu cúmplice para Yuki e seguiu o mesmo rumo dos outros.

O japonês se viu novamente sozinho com Victor, que estranhamente parecia um pouco acanhado.

- Eu vou te dar uma carona hoje. - O maior disse sem mais nem menos.

- Oi?! - Yuki por fim o encarou nos olhos.

- Seu pai me disse que não vai poder levá-lo a casa da sua avó, então me encarregou disso.

Yuki riu nervoso.

- E por que ele não vai poder me levar?

- Ele vai viajar a negócios hoje com sua mãe.

O jovem ficou descrente. Como assim seus país iam viajar a negócios e não o disseram antes? Como Victor soube bem antes que si? Espera… Desde quando seus pais estavam tão próximo do troglodita para confiarem tal informação para ele?

- Algum problema?

Yuki deu um passo para trás quando se viu perigosamente perto do poste em forma de gente.

- Sim… Q-quer dizer sim… Não… Sem problema. - Alegou torcendo os dedos das mãos - Mas não precisa se incomodar, eu posso ir de oni…

- Não! Eu vou levá-lo. - Disse convicto, mudando de faceta pela primeira vez no dia.

Yuki engoliu a seco.

- Por mim tudo bem, mas antes vou precisar passar em casa para pegas algumas roupas.

Victor assentiu.

Ellen estava infelizmente malditamente certa, suas perna ficavam bambas só por estar perto de Victor e não sabia bem o porquê disso. Ele causava medo? Causava, mas havia algo a mais e tentava negar veemente que fosse qualquer tipo de atração, não era um ninfomaníaco como Luke, que ainda por cima era louco por Victor por ele ter cara e jeito de quem sabia dominar na cama. Quantas vezes não pegou o outro falando sacanagens sobre o francês? Pior ainda o mesmo já chegou a confessar que Victor era o motivo de muitas de suas masturbações.

Não era porque Victor era todo bruto e mal encarado que era bom de cama. Pensava. Mesmo que fosse totalmente inexperiente nesse assunto.

Apostava ainda que aquela lista divulgada era falsa e que Victor compensava a falta de tamanho com o jeito de ser e agir.

Por isso se comportava de tal modo.

Isso. Deveria ser isso mesmo.

- Deve ser o que? - Victor questionou.

Yuki mordeu a própria língua traiçoeira. Havia falado alto demais.

- Nada não. - Seus olhos se cerraram se transformando em pequenas fendas - Tchau. - Acenou indo embora o mais rápido possível.