História Mais de você. - Isso machuca!

Naquele momento, a sala da agência Devil May Cry se tornou o palco de um espetáculo de máscaras. Todos ali, exceto Dante - que parecia apenas vestir uma leve suspeita – estavam tentando transparecer indiferença ou serenidade com o ocorrido. Mesmo assim, a tensão era quase palpável.

O mais novo abaixou-se e pegou, delicadamente, a pequena peça nas mãos. Ficou olhando para ela como se esta pudesse, a qualquer momento, explicar o que diabos estava havendo ali.

Dante caminhou até Vergil e parou bem em frente ao irmão. Lady e Thist se entreolharam apreensivas, porém Vergil continuou sustentando a sua costumeira expressão de frieza e indiferença.

Dante apoiou a peça nos ombros de Vergil como se estivesse medindo-a nele. Dante riu zombeteiro.

Vergil revirou os olhos de forma exausta. É lógico que o idiota do seu irmãozinho só sabia brincar e nunca levaria nada a sério, e isso o incluía.

— Olha irmãozão,tudo bem que mesmo você sendo mais velho, você é menor mas, não acha que exagerou no tamanho não? Não acha My Lady?

Lady apenas mostrou os dentes de forma medonha tentando simular um sorriso, que para Vergil apenas conseguiu assustá-los.

— Idiota! Isso não é meu.

— Hum, verdade Verg, eu notei que você vem engordando muito ultimamente. - Dante riu da cara de pânico de Vergil. – Calma maninho, ainda te amo.

— É normal seu burro eu parei de lutar já faz um bom tempo, sua anta!

— Bem então talvez eu tenha feito da forma errada…

Então de repente Dante deslisou o macacão até parar sobre a barriga de Vergil.

Vergil quase desabou de choque, porém tentou se manter impassível, torcendo para que Dante, como sempre, estivesse apenas zombando de tudo. Mas Dante fez uma expressão chateada, como se tivesse se arrependido da brincadeira e jogou a peça para que Vergil a segurasse.

— Isso é ridículo, joga essa droga fora… ninguém merece. Vou tomar um banho para esfriar a cabeça, já vi muita merda hoje - e dizendo isso subiu as escadas sumindo no corredor.

Vergil ficou olhando para a peça desgostoso e muito triste. Jogou-a no sofá e imitou Dante, subindo as escadas lentamente contendo a vontade de se jogar delas e acabar com tudo isso.

Vergil terminou de subir as escadas desnorteado. Então fora tudo exatamente como havia imaginado. Dante nunca aceitaria aquela criança, e consequentemente, também o rejeitaria e o consideraria uma aberração.

Entrou no quarto que passara dividir com o irmão desde que voltou do inferno. Parou em frente a janela e ficou ali observando a chuva bater violenta contra a superfície escura que refletia o anoitecer.

Escuro. Era assim que enxergava tudo agora. Parecia não haver aquela luz no fim do túnel afinal.

Um imenso lampejo de luz cortou o céu lá for a. Então Vergil pode ver o reflexo de My Lady parada atrás de si com o pequeno macacão nas mãos.. Ela, apesar de tudo, tentava ( o que era bem evidente) sorrir naturalmente. A garota se aproximou cautelosa, sabia que Vergil estava despedaçado com aquela atitude mesquinha do irmão.

— Isso ainda é seu, sabia? - a morena estendeu a peça apesar de Vergil ainda lhe dar as costas.

— É, mas talvez não devesse ser… não sei mais se quero. - Vergil respondeu melancólico, ficando evidente a dor em cada letra pronunciada.

— Pare com isso Vergil!! - repentinamente Lady ficou muito nervosa. – Não seja egoísta e cruel como o Dante foi com você agora a pouco. - Lady apertou a pequena peça de roupa nas mãos como se o abraçasse – Ele não tem culpa de ter sido gerado por dois completos idiotas. Mary apertou ainda mais a peça. – Por favor Vergil… não faça ele sofrer, não desista dele… você é tudo o que ele tem agora, Vergil.

A garota observou pelo reflexo escurecido da janela Vergil se desarmando. As lágrimas já eram visíveis em seus olhos que costumavam ser sempre tão gélidos e vazios. Lady se aproximou ainda mais do homem a sua frente surpreendendo-o com um intenso e caloroso abraço.

Vergil sentiu as gotas quentes molharem o tecido escuro de seu colete.

Ainda aos prantos, Lady tocou timidamente o abdômen de Vergil que agora já começava a apresentar um pouco mais de volume. Foi um toque carinhoso mas muito breve, apesar de sua atual situação ela sabia que o único que conseguia tocá-lo tão intimamente desta forma era Dante.

— Vou cuidar de vocês, eu juro… como se fossem da minha família, como se fossem meus!

Aquilo surpreendeu Vergil de certa forma. A garota sempre adorava implicar com ele e vivia dando sermões em Dante por tê-lo aceito assim tão fácil de volta. E agora ali estava ela abraçando-o como se o simples fato de soltá-lo pudesse matá-lo. Vergil sorriu e acabou segurando as mãos de My Lady sob as suas em um gesto de agradecimento à garota.

Mais um lampejo cortou a noite, e totalmente distraídos em suas dores, ninguém viu que naquele momento, mais um reflexo fazia parte daquela cena tão linda pintada na moldura da janela escura.