1. Spirit Fanfics >
  2. Mais do que eu deveria >
  3. Até logo.

História Mais do que eu deveria - Até logo.


Escrita por: romana_66

Capítulo 49 - Até logo.


Fanfic / Fanfiction Mais do que eu deveria - Até logo.

Miguel estava visivelmente bêbado, olhava em volta atentamente observando a sala do apartamento. Renata estava assustada parada do lado da porta, lançou um olhar apavorado para Hadassa, provavelmente ele tinha entrado sem a permissão da mulher. Nina pulava nas pernas dele freneticamente, tentando chamar atenção, ele se abaixou no chão e abraçou o animal.

Hadassa revirou os olhos com inquietação, não conseguia acreditar na cena que via diante dos seus olhos. Paz parecia não ser uma opção na vida dela e de Renata, a todo momento algo ruim acontecia, como se tudo conspirasse contra o relacionamento. Sua saúde mental já estava desgastada, não tinha mais emocional para lidar com situações como aquela sem surtar, sua vontade era de pular no pescoço do homem e expulsa-lo daquele apartamento, mas não podia fazer isso, Renata teria que resolver a situação.

Encarou Renata mais uma vez, um ódio descomunal tomou conta de Hadassa, balançou a cabeça em sinal de reprovação para a mulher que permanecia parada na porta sem saber o que fazer. Miguel ainda acariciava nina, parecia não notar a presença de Hadassa na sala, não demorou muito e o homem encarou a feição furiosa da menina. Hadassa arqueou as sobrancelhas, fuzilava o homem com o olhar, Miguel levantou-se imediatamente e encarou Renata.

— Miguel, o que você está fazendo aqui? Ou melhor, o que você pensa que está fazendo aqui? Renata tentava manter a calma, mas estava com a voz trêmula de raiva.

— Eu quero conversar com você, mas a sós. -Deu uma breve olhada para Hadassa.

— Você está de brincadeira comigo? Eu não tenho mais nada para falar com você. - Renata apontou para a saída — Por favor saia.

— Como não? A gente foi casado por tanto tempo e poucos meses que você se separou de mim, já está com outra pessoa, você esquece rápido né? -Miguel tropeçava nas palavras.

Hadassa fechou os punhos com força total, sentia sua mandíbula tremer.

— Miguel, sai agora, eu não tenho mais nada com você e nem por um milagre eu voltaria atrás, pelo amor de Deus, que falta de noção você vir até a minha casa nesse horário para discutir o passado. -Renata estava furiosa.

Quando o homem tentou falar novamente, Renata fez uma coisa que não era muito comum, a mulher alterou seu tom de voz.

— Sai agora! -Sua voz ecoou pela sala do apartamento.

Hadassa arregalou os olhos, Miguel engoliu seco e saiu, antes de ir embora parou na entrada, Renata tomada por uma fúria bateu a porta com toda força e por pouco não atingiu em seu rosto.

Hadassa suspirou fundo, deu os ombros para Renata e saiu caminhando para o quarto novamente. Quando deitou na cama sentiu-se muito cansada, aquela raiva toda saia aos poucos de seu corpo, toda aquela situação a havia massacrado, foi a gota da água. Se encolheu em posição fetal, pedindo para o sono chegar o mais rápido possível, nina empurrou a porta do quarto com as patas e pulou na cama, esfregava o focinho no cabelo dela.

— Sai daqui, sua falsa. -Murmurou mau humorada.

—Nina, vem. -Renata chamava o animal na porta.

Nina se cansou de tentar chamar atenção de Hadassa e pulou da cama, não demorou muito e Renata se deitou.

— Meu bem? -Sussurrou — Fala comigo. -Massageou o ombro de Hadassa.

— Pode dizer. -Respondeu baixinho.

— Não foi culpa minha ele entrou de uma vez, não pude impedir. Olha para mim neném.

Hadassa se virou e encarou Renata.

— Eu sei que não foi culpa sua, mas eu realmente estou cansada Renata, não aguento mais, todo dia é um problema diferente. -Hadassa tinha a voz embargada e um semblante de decepção.

— Eu também estou cansada, mas vai passar, amor. -Renata acariciou o cabelo dela.

— Quero ir embora daqui.

— Como assim, amor? -Renata suspirou fundo.

— Eu quero ir embora desse país. -Uma lágrima escorreu e ela limpou rapidamente.

— Mas meu amor, isso é inviável agora. -Renata lhe encarava com tristeza.

— Eu não vou ir trabalhar amanhã. -Pegou o celular em cima da mesa de canto e começou a digitar.

— Vamos, meu amor, preciso te observar de longe naquela redação para ter forças.

— Ao menos na parte da manhã eu quero ficar quietinha aqui, Re. -Depois que avisou Ali, deixou o celular e encarou os olhos de Renata.

— Se você tivesse escolhido alguém de origem árabe, isso tudo isso não estaria acontecendo. -Riu.

— Renata, você é péssima. —Sorriu— Eu quero você mesmo com todos os problemas que te acompanham. -Acariciou a boca da mulher com a ponta dos dedos.

— Me beija então. -Sussurrou.

— Vem aqui. -Sorriu.

Renata lhe deu um beijo demorado, Hadassa acariciou cada parte de seu rosto levemente, depois ficou encarando os olhos pretos dela em silêncio até adormecer. Quando acordou no outro dia de manhã, ainda se sentia destruída. Ouviu vozes vindo da sala, depois de tomar seu banho matinal como de costume, se trocou e foi até a sala, abriu um sorriso ao ver que Lanza estava sentada no sofá.

— Olá, bom dia. -Ainda estava meio sonolenta.

— Bom dia, Hadassa, que carinha de cansada. -Lanza lançou um olhar pervertido à Renata, que devolveu revirando os olhos para a irmã.

— Bom dia, querida. -Renata sorriu.

— A noite não foi muito boa. -Hadassa se sentou ao lado de Lanza.

— Vai com calma, a Renata já é quarentona. -Riu.

— Lanza, não começa... -Renata lhe lançou um olhar de desaprovação, Hadassa não conseguiu segurar a risada.

— Hadassa, a parte boa das coisas acontecerem assim tudo de uma vez, é que depois não vai ter mais nada para incomodar pelos próximos 10 anos.

— Assim espero, Lanza. -Hadassa esfregou os olhos, era nítido que ela estava exausta não só fisicamente como psicologicamente.

O celular de Hadassa tocou, era um número desconhecido, ela pensou um pouco e resolveu atender.

— Oi.

—  Me ouve pelo menos alguns minutos, estamos indo embora para Nova York hoje à noite.

Hadassa levou a mão ao rosto ao escutar a voz de seu pai, sua vontade era de desligar a chamada, mas algo fez seu coração ficar apertado no peito. Se levantou e foi em direção à cozinha para ter mais privacidade, Renata tinha um olhar atento.

— A gente não tem mais nada para conversar pai, aliás acho que você lembra bem da nossa última conversa. -Segurou o choro.

— Eu liguei para dizer que eu sinto muito, não quero que a nossa história fique marcada por um único capítulo.

— Foi bárbaro pai, uma coisa daquelas não dá para se esquecer do dia para a noite. Minhas costas ainda ardem quando eu vou tomar banho, eu nem consigo me encarar na frente do espelho. -Quando notou, as lágrimas já escorriam em seu rosto.

— Por favor, Hadassa, me perdoa, eu amo você. Se tivesse como voltar no tempo eu voltaria, vem com a gente? Vamos superar isso juntos. -Suplicou.

— Não, pai, as coisas não funcionam assim, as pessoas precisam de tempo e você precisa entender isso.

— Eu sinto que você nos trocou, filha, éramos tão unidos e de repente tudo mudou, você mudou...

— Eu não mudei, pai, eu apenas comecei a descobrir o mundo, quem se afastou foram vocês. Eu até que tentei, mas a cada almoço era uma briga diferente, você nunca estava feliz com a minha presença, sempre tinha algo para falar ou jogar na minha cara. Sabe o que mais me dói? — Respirou fundo tentando cessar o choro, fracassou — Eu nunca concordei com todas as suas decisões, principalmente quando você foi trabalhar nesse governo, mas eu sempre respeitei, afinal a vida era sua e acima do homem de confiança de um genocida, acima do ministro da saúde, acima de tudo, você era o meu pai. Eu te amava o suficiente para superar isso, mas você, pai, não suportou nem o fato de eu ir trabalhar na Globo e começou a me tratar com indiferença.


— Só não entra na minha cabeça, Hadassa, o fato de você ir contra mim. No começo eu achei que poderia ser rebeldia, só que o tempo passava e cada vez mais você se tornava algo diferente do que eu jamais poderia imaginar. Eu também sofri muito, não é fácil um pai se afastar de uma filha, e essa última notícia acabou comigo, eu me sinto destruído, minha família se evaporou e meu trabalho se foi, a polícia federal está na minha cola. Sabe, eu estou transtornado, não foi assim que eu imaginei minha vida 5 anos atrás. -Abraham falava baixo, Hadassa conseguia sentir o quanto ele estava desamparado.

— Pai, você ainda tem muito o que aprender com a vida, nem tudo se trata de você. As pessoas ao seu redor têm vida própria, opiniões diversas, olham a vida de maneira diferente, você não pode mudar isso. Se você me ama tem que aprender a me respeitar. -Hadassa sentia seu coração apertar cada vez mais a cada palavra.

— Eu só quero minha filha de volta, espero que esse tempo possa curar todas as feridas entre nós, espero que Deus me de forças para compreender o que me minha mente não é capaz.

— Assim eu espero. -Hadassa mordeu a palma da mão tentando não chorar.

— Eu fui um pai ruim?

— Não, você foi um ótimo pai, sempre me protegeu de tudo, mas chegou um dia que eu não precisei mais dessa proteção e você acabou me surpreendendo de uma forma ruim. -Hadassa não conseguiu segurar o pranto.

— Me perdoa então? Eu preciso disso para ir em paz, para recomeçar longe daqui. Eu vou sentir tanto a sua falta, juro que só vou lembrar dos momentos bons e vou te dar o tempo que precisar para que isso também aconteça com você. Escuta uma coisa, Hadassa, nós pais não somos perfeitos, a gente erra muito, nem sempre estamos certos.

Por um momento, Hadassa viu o homem que sempre acreditou que seu pai fosse, aquele Abraham que levava ela aos domingos para ver o Flamengo jogar no maracanã, o homem que lhe ensinou a nadar no mar aberto, que sempre a protegeu.

— Eu perdoo, pai, pode ir em paz, o tempo vai dar um jeito em tudo. Ainda vai haver muitos domingos para irmos ao maracanã, tenha fé, Ani ohev otach (Eu te amo).

— Ani rotsah shalom (Eu quero paz). -Suspirou fundo — Ani ohev otach lehitra’ot (Eu te amo, tchau.)

— lehitra’ot Aba (Tchau pai).

Hadassa desligou o celular, seu pranto pôde ser ouvido da sala, imediatamente Renata e Lanza correram até a cozinha.

— O que aconteceu? -Renata lhe abraçou na mesma hora.

Hadassa sentia seu peito arder, era uma sensação estranha, parecia que algo havia sido arrancado dele, por algum motivo quis estar com a sua família. Apertou os braços de Renata pressionando ainda mais seu rosto contra o ombro dela.

— Hadassa, o que foi? -Renata perguntou mais uma vez.

Lanza tinha o olhar assustado.

Hadassa respondeu atropelando as palavras, mas quando terminou notou que Lanza e Renata se entreolhavam de forma estranha.

— Entendi foi nada. -Lanza murmurou olhando para Renata com os olhos arregalados.

Renata se levantou e pegou um copo de água para Hadassa.

— Se acalma, e dessa vez fale tudo na nossa língua. -Disse Renata gentilmente.

Depois de alguns minutos em silêncio, Hadassa encarou duas, Lanza tinha um semblante de susto e estava um pouco distante.

— Eu acho que falei tudo em hebraico, né? - Corou as bochechas.

— Seja lá que linguagem for essa, mas eu morri de medo. -Disse Lanza agora se aproximando.

— Desculpa, eu faço isso as vezes quando durmo, mas nunca tinha feito isso estando acordado. -Sorriu sem jeito.

— Tudo bem, já passou, agora me fala o que aconteceu? -Renata tinha uma urgência na voz.

— Meu pai estava estranho no telefone, me disse várias coisas, eu senti algo muito ruim dentro de mim, sabe?

— Como assim? Ele te ameaçou? O que ele fez? -Renata estava incrédula.

— Não, Re, ele me pediu perdão, disse que queria paz, mas não foi tão simples assim tinha algo diferente nele. -Hadassa encarou o nada — Ele disse que está indo embora para Nova York hoje, e vamos deixar ele ir, por favor não diga nada a imprensa.

Abraham não tinha sido exonerado do cargo de ministro da saúde, e por esse motivo poderia entrar nos Estados Unidos tranquilamente sem precisar de restrições, daria muita polêmica pois aqui no Brasil ele estava sobe investigação, mas provavelmente iria usar o álibi de que se mudou a trabalho.

— Tudo bem, Hadassa, eu quero que ele seja feliz não importa onde, e principalmente, nos deixe em paz. -Renata disse em tom firme.

— Hadassa, fica calma, eu te entendo, ele é seu pai, é normal você chorar e ficar chateada, mas tudo vai se acalmar. -Lanza fez um breve carinho na mão dela.

Mesmo depois de se acalmar, Hadassa ainda sentia uma tristeza tomar conta de seu peito. Se pudesse, tomava um remédio para curar aquela sensação horrível, a única coisa capaz distrai-la foi Lanza, que estava surtando porque a filha tinha começado a namorar, Renata cozinhava algo que cheirava muito bem.

— Não sei se eu estou preparada, Tata, minha filha tão linda era um neném até esses dias. -Cruzou os braços.

— Lanza, pelo amor de Deus, deixa de ser ciumenta. -Renata riu.

— Olha quem fala, você também ficou com ciúmes quando o Miguel começou a namorar.

— Eu fiquei sim, mas eu não posso fazer nada, a vida é dele afinal.

— Tata, eu não vou aguentar, é muito para o meu coração, imagina só moleque me chamando de sogrona e sentando no meu sofá. -Lanza tampou os olhos ao imaginar a cena.

Hadassa olhou para Renata e gargalhou.

— Tomara que ele abra sua geladeira e pegue suas cervejas. -Renata provocou.

— Deus me livre, eu infarto, gente do céu. Se eu pudesse eu só a deixava namorar quando fizesse 25 anos. Será que ela sabe se cuidar? Ai não quero pensar nisso!

— Claro que sabe, Lanza, você a educou muito bem, e outra, Mariana é bem responsável. - Renata estava se divertindo com situação.

— Você diz isso, Renata, porque tem dois filhos homens. -Lanza apontava para a irmã.

— Calma, sua louca — Riu— Não vem com essa história não, porque eu já deixei bem claro que se algum deles engravidar alguém vai ser guarda compartilhada, vai ter o mesmo papel que a mãe, nada de pegar a cada 15 dias e achar que pensão é tudo.

Hadassa não conseguia parar de rir das reações de Lanza.

— Hadassa, não tenha filhos, é sério. Quando são crianças são uma benção na nossa vida, depois que crescem é só ladeira abaixo.

— Para de ser dramática, Lanza, é só um namoro, deixa a menina amar em paz- disse Renata.

Depois do almoço, Hadassa e Renata foram para redação, o dia estava nublado e cinza, as cores das coisas pareciam desbotadas. Assim que Hadassa pisou na redação viu as pessoas correndo de um lado para o outro, Renata piscou para a menina e foi para sua sala. Hadassa resolveu ficar em sua mesa trabalhando em alguns artigos do G1, ao se sentar notou que muita gente lhe encarava, ela ficou sem jeito e sentiu seu rosto queimar. Abriu o notebook e foi direto para o Word digitar uma coluna sobre o MEC e as datas de provas do Enem, acabou se distraindo, mas não demorou muito e sentiu uma mão tocar seu ombro, era Renata.

— Hadassa, vem comigo? -Renata estava pálida.

— Para onde? -Murmurou.

— Vamos. -Engoliu seco.

Hadassa arqueou as sobrancelhas, seu coração disparou no peito, sem entender muito a situação ela seguiu a mulher até o elevador, notou que muitas pessoas na redação lançavam olhares apreensivos a ela.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...