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História Mais do que eu deveria - Sutilmente.


Escrita por: romana_66

Capítulo 69 - Sutilmente.


Fanfic / Fanfiction Mais do que eu deveria - Sutilmente.

4 de agosto de 2019, o sol lá fora estava escaldante, o céu sem nenhuma nuvem, tão azul quanto os olhos da aniversariante do dia. A brisa do mar invadia seu quarto, no morro do Joá, Hadassa despertou cedo naquela manhã, desceu rápido as escadas de mármore branco e abriu a imensa porta de madeira da sala. Seus olhos curiosos procuravam algo lá fora, ela parecia estar ansiosa, esperando por alguém, não demorou muito e avistou os portões de ferro medieval da mansão se abrirem e um carro preto passar por eles. Um largo sorriso tomou conta de seu rosto, agitou as mãos e deu uns pulinhos, como uma criança que está prestes a ganhar um brinquedo. Quando o carro parou em frente ao hall de entrada, um homem alto, com feições rústicas, vestido em um terno preto, desceu do veículo. A menina não se segurou e saiu correndo até ele, o homem abriu os braços, já estava aguardando aquela recepção calorosa.

— 24 anos, minha pequena. -Fechou os olhos ao segurar a filha em seus braços.

— Me diz que a gente vai fazer aquilo hoje? -Ela não conseguia conter o riso.

— Mas é claro, meu amor, eu tirei folga pelo resto da tarde só para isso. - Abraham rodou ela em sem seus braços, fazendo a menina soltar um gritinho de alegria.

— Abraham, pare! Vai fazê-la vomitar assim. -Ester estava parada no hall de entrada, olhando a cena.

O pai a colocou no chão novamente e lhe deu vários beijos no rosto, Hadassa teve uma crise risos causada pelas cócegas que a barba dele fazia.

— Por Israel, como o tempo passou rápido, ainda lembro de quando saí do hospital com você nos braços.

— Todo aniversário meu você fala isso. -Riu.

— Contratei um instrutor de mergulho para ir conosco. -Abraham agora abria o porta malas do carro.

— Seu medroso.

— Claro, minha filha, nem todo mundo é destemido como você.

Dentro do porta malas havia roupas e equipamentos de mergulho que pareciam ter sido comprados a poucas horas atrás.

— Feitas especialmente para nós. -Abraham aprontou para as roupas de mergulho da cor preta, que tinham o nome dos dois gravados em vermelho, ao lado do símbolo do Flamengo.

— Pai, não acredito! -Pegou a roupa na mão, seus olhos brilharam de felicidade.

— É claro, Flamengo na terra ou no mar, minha filha. -Disse orgulhoso.

— Abraham, você tem certeza que isso é uma boa ideia? -Ester olhava os equipamentos com desconfiança.

— É só uma tarde de mergulho, meu amor, a gente vai ir com um instrutor. -Beijou a testa da esposa.

— Não sei não, o mar é muito perigoso. Por que vocês não fazem outra coisa?

Hadassa não prestava atenção em nenhuma palavra sequer do que a mãe falava, estava fascinada olhando os equipamentos.

— Até parece que você não conhece a sua filha, faz mais de meses que ela me pede isso. -Abraham olhava para a menina, que continuava sem ouvir nada.

— Parece que nasceu dentro da água. -Ester levou a mão ao rosto, parecia um pouco preocupada, coisa de mãe.

Abraham riu e abraçou a esposa, ficaram observando a filha por algum tempo.

Logo depois do almoço Hadassa já estava vestida em sua roupa de mergulho, andando ansiosa pela casa, queria ir logo para o mar. Quando seu pai foi avisado que o iate já estava ancorado no píer ela saiu correndo, deixando o pai para trás.

— Segura a Hadassa aí fazendo um favor, porque se deixar, ela vai nadando daqui da costa até o alto mar. -Abraham falava com o instrutor pelo telefone, lhe arrancando risadas.

Passaram o dia todo no mar, Hadassa com certeza deixou o instrutor assustado e surpreso, pois ela nadava mais rápido que ele e sem medo algum. Seu corpo se movimentava em perfeita sincronia dentro da água, parecia pintar uma tela invisível com os pés naquela imensidão azul, ela era parte daquela paisagem. Quando se cansava de mergulhar, soltava o corpo e deixava a água lhe levar de volta até a superfície novamente e depois submergia, fez isso até o cilindro de ar comprimido dar sinal que estava acabando. Abraham ficava admirado vendo aquilo, o instrutor não sabia nem o que dizer, a menina impressionava até o mar, se Poseidon realmente existisse, ele seria seu pai sem dúvida alguma. Aquele dia ia ficar marcado em sua memória até a último dia de sua vida.

4 de agosto de 2020, Hadassa estava em sua mesa na redação, girando a cadeira de um lado para o outro, tinha os brilhantes olhos azuis fixos no teto, na ponta dos dedos agitava uma caneta sem parar, não sabia ao certo se estava entediada ou só distraída mesmo. Naquela manhã acordou com beijos e abraços de Renata, o clima ainda não estava muito bom, o final de semana foi pacato e silencioso, ainda resultado da discussão das duas. Dessa vez Hadassa estava tranquila, sabia que o relacionamento não iria acabar por causa daquilo, talvez estivesse aprendendo o que é o casamento e o desafio da vida a dois.

O que mais a impressionava era a mudança que ocorreu em sua vida dentro de um ano. A essas horas, no ano anterior, ela estaria em alto mar mergulhando com o pai, jamais imaginou que aos 25 anos estaria grávida e muito feliz com a ideia e muitos menos que seu pai lhe deixaria tão cedo, a vida é engraçada, não é mesmo, Hadassa? Quando a gente pensa que está tudo indo como o planejado, o caminho muda e os ventos sopram em outra direção, nos levando para onde nós menos esperamos, e no seu caso, ela lhe surpreendeu de uma maneira extraordinária. Logo você, que dizia não ter tempo para o amor, se apaixonou na primeira vez que seus olhos se encontraram com os de Renata, você moveu tudo ao seu redor, lutou com unhas e dentes, até vê-la acordar sem maquiagem todos os dias ao seu lado. Quando quis engravidar bateu o pé e foi até o fim, desafiou a médica embriologista e foi presenteada em dose dupla, menina petulante, né? O que tem de bonita tem de afrontosa, chega até ser irritante a maneira que ela briga pelo que quer, tudo bem, Hadassa, não esperaríamos menos de uma leonina feroz. Sua alma cheira a autoconfiança e otimismo, mas como nem tudo é perfeito, você tinha que ter alguns defeitos, as entidades não poderiam te conceder uma beleza natural como essa e deixá-la vir com uma personalidade intacta, seria muito injusto com todos. Te mandaram então à essa terra com a missão de vencer sua sombra pessoal: o egocentrismo, até agora você falhou um pouco, mas dentro de si já estava a cura para o problema.

— Hadassa Werneck? -Uma mulher lhe chamava.

— Sou eu. -Ela respondeu de imediato, quando encarou a mulher viu que ela tinha um buquê de rosas brancas nos braços.

— Isso chegou na portaria para a senhora. -A mulher lhe estendeu o buquê.

Hadassa ainda estava um pouco distraída, com o pensamento meio distante, demorou alguns segundos até seu cérebro assimilar que ela deveria pegar as flores das mãos da mulher.

— Obrigado, quem mandou? -Ela corou levemente ao perceber que alguns colegas lhe observavam.

— Tem um cartão aí do lado. -A mulher sorriu.

Hadassa já havia mandado rosas brancas antes para Renata, no seu aniversário de 48 anos, um buquê dessa flor é uma forma de dizer que espera uma relação amorosa sólida, pura e eterna. A rosa vermelha significa “eu te amo”, a rosa branca já é algo como “eu te amo para sempre”. Abriu o cartão com cuidado, reconheceu a caligrafia na hora, a letra era de Renata.

"Você é o motivo do meu mais sincero sorriso, o motivo do brilho no meu olhar. Você é a razão pela qual não me faz desistir, me faz querer continuar tentando, sempre. Te ver sorrindo me dá forças para quebrar todos os obstáculos, ultrapassar todas as barreiras, me dá coragem para enfrentar tudo e todos. É por você que luto, é para você que venço. Se eu vivo, meu bem, é porque tenho você." (Autor desconhecido.)

Feliz aniversário, eu te amo.

Ass: A mãe dos seus filhos.

Hadassa soltou um sorriso imenso, percebeu o quanto era sortuda por ter Renata em sua vida. Como a gravidez tinha transformando seu coração em manteiga derretida, a vontade de chorar não demorou a aparecer, principalmente quando ela lembrou da briga que teve com a mulher e de como estava sendo morna com ela nesses últimos dois dias. Pegou o buquê de flores e ignorou os olhares dos colegas, saiu andando apressadamente até a sala de Renata, bateu na porta 5 vezes seguidas, tinha pressa em entrar.

— Pode entrar. -Ouviu a voz gentil de Renata falar.

Assim que abriu a porta e olhou no rosto de Renata, caiu no choro, fazendo a mulher se levantar de imediato da cadeira.

— O que aconteceu, meu amor? -Renata imediatamente veio em sua direção.

Hadassa não falava nada, apenas chorava abraçada nas flores.

— Ei? Olha para mim. -Colocou a mão no rosto dela.

— Eu sou um ser humano horrível. -As palavras mal saíam.

— Por que você está dizendo isso? -Renata franziu a testa.

— Porque eu só brigo com você. -Falava entre soluços.

— Para de falar assim, meu amor, nós duas somos briguentas. -Renata segurava para não rir.

A mulher trancou a porta e em seguida pegou na mão dela, levando-a até sua mesa.

— Senta aqui. -Chamou

Hadassa se sentou em suas pernas, apoiou a cabeça em seu ombro e suspirou fundo, sentindo o cheiro doce do perfume dela, se perguntou como era possível amar tanto uma pessoa.

— Meu bem, vou fazer um jantar para nós hoje. -Acariciava o cabelo dela.

— O que vai cozinhar?

— Comida israelense, eu passei o final de semana lendo a respeito disso. -Sorriu.

Hadassa agora enxugava as lágrimas, levantou a cabeça do ombro dela e lhe encarou, soltando um sorriso.

— Já que você tocou nesse assunto de Israel, hoje de manhã eu lembrei do meu pai. No meu aniversário do ano passado ele me levou para mergulhar. -Hadassa ainda tinha um certo ressentimento do pai, porém não podia negar que seu coração transbordava de saudade.

— Imagino que você não deve ter saído da água nem por um segundo. -Riu.

— Acertou, meu pai amava me ver nadar. -Olhou para o nada.

— Ei? Não quero ver você triste hoje.

Hadassa ainda tinha os olhos fixos para o nada, provavelmente lembrando do pai.

— Ele cumpriu o tempo dele aqui, meu bem. -Levou a mão no rosto dela e começou a acaricia-lo, ela sabia que o assunto do pai era algo complicado, e que na hora certa Hadassa ia pôr tudo para fora.

Ela ficou mais alguns minutos em silêncio enquanto sentia o toque de Renata, depois voltou encara-la.

— Eu amo suas marcas de expressão. -Levou as mãos aos óculos de Renata e o tirou.

— Minhas marcas de expressão? -Sorriu.

— Sim. -Levou as mãos até o canto dos olhos dela e dedilhou com cuidado.

— Isso são rugas, meu bem. -Riu.

— Você fica tão linda sem maquiagem, sua beleza é tão natural, eu sou completamente encantada por você. -Sussurrou.

— Então me dá um beijo. -Respondeu no mesmo tom.

Hadassa roçou seu nariz no dela de forma carinhosa, depois a beijou calmamente. Renata conhecia cada canto de sua boca e sabia explorar cada um deles, passava sua mão carinhosamente no braço dela, se sentiu a pessoa mais segura do mundo.

Depois que o jornal terminou, ambas foram para casa, mesmo tarde da noite Renata cozinhou um banquete de comida israelense para Hadassa. A menina não enjoou com o cheiro de nenhuma delas, o que era recorrente em quase todas as refeições.

— Re, estava pensando sobre a gente já começar a escolher o nome dos bebês. -Deu uma garfada na comida.

— E o que você tem em mente?

— Bom, levando em conta o nosso acordo, eu escolho o nome do primeiro que nascer e você do segundo, então se for menina, quero colocar o nome de Hermione. -Riu e observou a reação da mulher.

— Mas só por cima do meu cadáver. -Renata arregalou os olhos para ela, lhe arrancando um gargalhada.

— Amor, esse nome é lindo.

— Nem pensar.

— Daenarys então? -Hadassa tinha um olhar sapeca no rosto, estava se divertindo à beça com os olhares que Renata lhe lançava.

— Meu bem, você bateu com a cabeça hoje?

— Eu estou brincando. -Riu.

— Eu ainda não pensei, mas eu gostaria que os nomes deles ficassem em sintonia.

— O seu e da Lanza não estão bem em uma sintonia.

— O nome da Lanza nem é Lanza, meu bem.

—Como é que é? -Hadassa quase engasgou com o suco.

— É Rosângela, e ela detesta que chamem ela assim. -Começou a rir.

— Você está falando sério, amor?

— Seríssimo, quer ver ela irritada chama de dona Rosângela.

— Se ela descobrir que você me contou, vai te matar. -Hadassa estava a ponto de perder o fôlego de tanto rir.

— Ela anda merecendo, está muito estranha comigo. -Renata fechou o sorriso de imediato e desviou o olhar, pensativa.

Depois do jantar se sentaram na sala, Renata tinha decorado o lugar com algumas velas, apagou as luzes e ligou uma música no home theater da TV, enquanto Hadassa bebia água ela tomava uma taça de vinho. A atmosfera era agradável, o cheiro das velas misturado com o perfume de Renata fez Hadassa sentir uma nostalgia inexplicável de algo que nunca aconteceu. Ficaram abraçadas por alguns momentos, em um silêncio confortável, Renata acariciava a barriga de Hadassa carinhosamente, sorria a todo momento.

— Meu bem, comprei isso para você. -A mulher lhe entregou uma caixinha preta.

— Amor, não precisava, você já fez tanta coisa por mim hoje. -Deu um selinho nela.

— Toda vez que você olhar para isso que está aí dentro, vai lembrar de nós. -Apontou para ela e depois para o abdômen da menina.

Hadassa abriu a caixinha na maior curiosidade, antes mesmo de ver o que estava dentro, já estava sorrindo. Era uma gargantilha de ouro rose, o preferido da menina, e o pingente era uma família composta por duas mulheres e dois bebes. Olhar para aquele presente fez Hadassa ter flashbacks de tudo o que elas passaram até chegarem no ponto onde estavam naquele momento. A menina não lembrava de, em algum momento na vida, ter sentido seu coração tão quentinho. A delicadeza de Renata era com certeza um dos aspectos mais atraentes de sua personalidade, ela nunca cansava de surpreende-la.

—Gostou? -A mulher tirou Hadassa de seu transe.

— Re, é tão lindo, eu não sei o que te dizer. -Mesmo no escuro, Renata conseguiu ver seus olhos azuis brilhantes.

Renata pegou a gargantilha e colocou no pescoço dela, passando as mãos delicadamente em sua nuca após fechar o adereço. Depositou um beijo leve no lado do pescoço da menina e a abraçou carinhosamente por trás, escorando seu queixo no ombro de Hadassa.

— É a nossa família, e você é a chefe dela. -Sorriu.

— Eu te amo tanto. -Hadassa sussurrou próximo a boca dela.

— Também te amo, dança comigo? -Respondeu no mesmo tom.

— Danço, meu amor.

A música escolhida por Renata foi Sutilmente, do Skank. A menina deitou a cabeça em seu ombro e ela conduziu a dança de forma delicada. Hadassa fechou os olhos e apenas se entregou ao balanço, sentia seu coração quase explodir no peito, queria ficar presa naquele momento para sempre. Tudo ali era perfeito, o ambiente iluminado somente pelas velas, o perfume de mulher invadindo sua alma, a música que tinha a letra que representava muito bem o que ambas sentiam. Amava tanto aquela mulher que todo aquele sentimento quase não cabia peito. Quando era mais jovem ela ouvia frequentemente falarem sobre encontro de almas, como era uma coisa rara, mas também como era uma coisa poderosa e intensa. Hadassa sentia que tinha conseguido isso, sentia-se conectada com Renata de uma forma que nunca se sentiu com ninguém em sua vida inteira, e sabia que a mulher se sentia da mesma forma. Apertou seus braços ao redor do pescoço dela, que segurou sua cintura com mais força, em resposta.

— Eu quero que essa seja a nossa música. -Hadassa sussurrou no ouvido dela.

— Então ela já é, meu bem.

— Eu te amo tanto que não sei nem como dizer isso em palavras, Re. -A menina afastou um pouco o rosto para tentar, no escuro, olhar nos olhos de Renata.

— Então não use palavras. -Se aproximou lentamente e a beijou.



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