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História Mais do que eu deveria - Se eu pudesse voltava no tempo.


Escrita por: romana_66

Capítulo 83 - Se eu pudesse voltava no tempo.


Fanfic / Fanfiction Mais do que eu deveria - Se eu pudesse voltava no tempo.


Caminhou até a porta e pegou o celular da mão de sua avó.

— Oi.

— Shalom alechem. -Disse Caleb.

Hadassa franziu a testa ao escutar aquilo, afinal, seu tio nunca cumprimentava ninguém assim.

— alechem shalom. -Respondeu de forma desconfiada.

— Hadassa, será que a gente pode conversar?

— Sim, pode dizer.

— Não por celular, eu digo conversar pessoalmente.

— Não sei se hoje é uma boa noite para isso, eu estou cansada, o voo foi longo e cansativo.

— Amanhã cedo então? -Insistiu.

Ela não estava à vontade em aceitar o convite, mas sabia que não teria como escapar, seu tio insistiria até lhe cansar.

— Tudo bem. -Suspirou fundo.

— Vamos fazer um passeio pela cidade velha, pode ser?

Caleb falava de uma maneira paciente e menos agitada, como era de costume.

— Ok, agora eu preciso desligar.

— Tenha uma boa noite.

— Você também.

Hadassa encostou suas costas na parede e encarou o teto por alguns segundos. A todo momento se perguntava o que estava acontecendo naquela família.

— O que foi, meu amor? -Renata lhe encarava.

— O Caleb quer fazer um passeio comigo amanhã cedo.

— Você aceitou? -Perguntou Renata.

— Sim, recusar não era uma opção. -Bocejou.

— Assim vai ser melhor, Hadassa. Não fique enrolando para resolver as coisas, isso piora tudo, vai por mim, sei do que eu estou falando. -Disse Lanza, fazendo a irmã lhe olhar surpresa pelo que tinha acabado de dizer.

A menina assentiu com a cabeça.

Durante quase todo o jantar Hadassa ficou em silêncio, as vezes soltava um riso abafado ao observar Lanza ao seu lado, um pouco receosa com a comida.

— O que é isso que eu estou comendo? -Cochichou para a menina.

Hadassa sabia que aquela oportunidade de fazer uma brincadeira com a cunhada era imperdível.

— Carne de pombo. -Respondeu no mesmo tom.

— O que?! -Lanza pousou o garfo lentamente no prato.

— Aqui é muito comum, se compra nos mercados. -Hadassa falava de forma séria, enquanto cortava um pedaço de carne.

Lanza ficou vermelha, parecia que tinha acabado de mastigar um pedaço de pimenta. Imediatamente começou a tomar água, Hadassa se segurava para não rir.

— Então, o que acharam da minha comida? -A avó de Hadassa perguntou sorridente.

— Me lembra minha infância, está perfeita, como sempre. -Ester jogou um beijo para a mãe.

— Eu amei, vó. -Sorriu.

Lanza e Renata continuaram em silêncio, até que Hadassa traduziu.

— Ela está perguntando o que vocês acharam da comida.

— Eu adorei a combinação de sabores. -Renata falou de forma gentil.

Lanza permanecia em silêncio, remexia na comida para disfarçar.

— Como você foi a que mais gostou, Lanza, vou pedir para ela te servir mais carne. -Hadassa segurou o riso.

— Não, Hadassa, eu estou satisfeita. -Disse ela apavorada.

— Vovó, a Lanza disse que gostou da carne e quer mais um pedacinho.

A avó de Hadassa abriu um largo sorriso, esticou a mão até o meio da mesa, pegou a bandeja com carne e começou a servir Lanza.

— Obrigada, eu estou satisfeita. -Tentou sorrir de forma gentil.

A mulher continuou a servir, já que não entendia nada do que ela falava.

— Thanks! Stop, please. -Disse Lanza agora de forma apavorada, na esperança da mulher entender.

Hadassa não aguentou e começou a rir sem parar.

— Ela está satisfeita, vovó. -Disse Hadassa entre risos.

Lanza não sabia o que fazer, encarava Renata como se pedisse socorro, sua feição estava hilária.

— Eu vou te matar. -Falou entre os dentes.

— O que está acontecendo? -O avô de Hadassa encarava as duas com curiosidade.

— A Hadassa falou algo sobre a comida para ela. -Ester respondeu, era a única que não sorria.

— Só fiz uma brincadeira, vovô, disse que a carne era de pombo.

O homem começou a rir.

— Lanza, é brincadeira. É carne de cordeiro, bobona. -Hadassa ainda ria.

— Espera para você ver o que eu vou fazer com aquelas suas fotos do Justin Bieber. -Disse mau humorada, voltando a comer.

— Pode fazer o que você quiser, mas durante uma semana você está em minhas mãos. -Riu.

Renata não sabia se ria ou se ficava com pena da irmã.

Depois do jantar Hadassa novamente foi para o quarto onde Renata estava, não queria dormir longe dela. Já estava tão acostumada a todo os dias lhe abraçar e acariciar seus cabelos antes de adormecer que nem se lembrava da última vez que ocupou uma cama sozinha.

— Me deixa dormir aqui no meio de vocês? -Beijava o rosto de Renata.

— Amor, sua mãe não vai gostar.

— Ela trata a gente como duas adolescentes. -Protestou.

— Vamos relevar ela, meu bem. -Renata pediu gentilmente.

Hadassa estava relutante em ir para o quarto da mãe, suas pálpebras já estavam pesando de sono, Lanza já dormia profundamente ao seu lado. Ficou por alguns segundos encarando os olhos pretos de Renata de perto, sentiu a mulher acariciar seu abdômen com a ponta dos dedos.

— Já escolheu o nome dela? -Perguntou baixinho.

— Pensei em um, mas acho que você vai odiar. -Disse sonolenta.

— Não me diga que a senhorita ainda está pensando em Hermione?

— Não, amor. -Riu baixinho, piscava lentamente, tentando manter os olhos abertos.

— Eu acho Heloisa um nome muito bonito. -Disse Renata.

— Não gostei, amor. -Tinha um sorriso bobo nos lábios.

— É mais bonito que Daenarys.

— Pelo menos ela é a rainha de Westeros.

— Não começa, Hadassa Ayara. -Renata deu uma leve mordida em seu ombro, lhe fazendo arrepiar.

— Eu queria colocar algo relacionado ao mar, mas os nomes das divindades marinhas são muito estranhos, o mais comum é Ariel.

Renata arqueou as sobrancelhas, Hadassa mesmo de olhos fechados já imaginava a feição de desaprovação da noiva, começou a rir.

— Vou colocar de Mera, como a menina do Aquaman. -Brincou.

— Eu termino o nosso noivado, eu não estou brincando. -Renata cochichou em seu ouvido.

— Termina nada, eu não aceito. -Se aconchegou no peito dela.

— Esse nome é horrível. -Renata continuava falando em seu ouvido.

— Que tal Atena? Eu acho um nome bonito.

— Amor, você gosta de uns nomes meios exóticos, né? -Riu.

— Vai se chamar Rosângela, então. -Hadassa abafou o riso no peito dela.

— Eu amei, uma ótima homenagem à tia dela. -Renata se controlava para rir baixo.

— Me ajuda, amor, eu estou confusa.

— Já que você está pensando em algo relacionado a água, que tal Yara?

— Yara?

— Sim, é uma sereia brasileira que vive no rio amazonas, segundo a lenda.

— Esse eu achei bonito. -Bocejou.

Renata começou a dar ideia sobre alguns outros nomes, mas Hadassa não ouviu nem metade e adormeceu. Foi acordada por algumas batidas na porta.

— Entre. -Renata respondeu baixinho para não acordar Lanza.

— Hadassa, vamos? -Ester estava entre meio a porta.

— Mãe, eu já estou dormindo. -Relutava para abrir os olhos.

— Não está, mas se preferir eu posso deitar aí com vocês. -Ameaçou.

Hadassa na mesma hora abriu os olhos, pois sabia que a mãe era capaz de fazer isso.

— Mãe, tem horas que você me impressiona. -Resmungou ao sair da cama.

— Renata, você é católica, né? -Ester perguntou.

— Sim, porém não sou muito ligada a esse negócio de religião.

— Não tem problema, amanhã vamos dar um passeio juntas. -Disse Ester.

Renata não sabia se aquilo era um convite e agora ela teria que dizer sim, ou se a mulher já tinha decido pelas duas, percebeu que a última opção era a correta, e então assentiu com a cabeça.

— Vamos, Hadassa, anda logo. -Ester falava agora sem paciência.

A menina estava parada ao lado da cama observando a conversa, revirou os olhos e saiu do lugar. Ao chegar no quarto da mãe ainda não acreditava que ela lhe fez passar por isso.

— Mãe, que diferença vai fazer eu dormir com você ou com a Renata?

— A gente já falou sobre isso. -Ester se deitou ao lado dela.

— Olha o tamanho da minha barriga, você acha mesmo que dá para fazer alguma coisa?

— Minha filha, uma mão alcança lugares que você nem imagina. -Apagou a luz do abajur.

— O que é isso mãe? Olha o respeito. -Hadassa sentiu seu rosto queimar, agradeceu por estar no escuro.

— Para, Hadassa. Você não deve saber de muita coisa, mas minha nora querida, que tem a mesma idade que eu, sabe do que eu estou falando. -Disse em tom irônico.

— Você perdeu a noção das coisas por completo, mãe. Olha os tipos de coisas que você está se importando e falando. -Hadassa respirava fundo, tentando se manter calma.

— Já acabou? - Ester revirou os olhos.

— Eu não faço aqui, mas lá no Rio eu sen... -Antes que Hadassa terminasse a frase, Ester tapou sua boca.

— Hadassa, você deixa de ser afrontosa, olha o jeito que você fala, aqui é minhas regras. -Tirou a mão da boca dela.

Afastou o corpo da mãe em uma distância que julgava ser segura e retrucou.

— Hipocrisia que fala né? 

— Afastou o corpo por que? Ficou com medo de levar um beliscão? Tem medo, mas não tem vergonha.

Era exatamente disso que a menina estava com medo. Como já não tinha mais nada para falar, mas mesmo assim queria cutucar a mãe, resolveu falar de Caleb.

— Meu futuro padrasto me ligou hoje. -Disse como quem não quer nada.

Ester ficou alguns segundos em silêncio pensando no que responder.

— O que ele queria?

— Quer conversar comigo amanhã cedo.

— Ah tá. -Disse Ester.

— Mãe, por que? -Hadassa se virou para ela.

— Não começa, Hadassa. A gente já conversou sobre isso. - Suspirou fundo.

— Esse casamento não faz sentido, você não pode ter filhos.

Ester não respondeu, ficou em silêncio.

— Mãe? -Hadassa chacoalhou seu ombro.

— Eu sei que eu não posso ter filhos, garota. -Respondeu de forma ríspida.

— E por que você vai casar então, se o motivo desse casamento é deixar um herdeiro do sexo masculino?

— Eu já disse que estou casando para ajudar seu tio.

— Mãe, para de mentir, chega! -Hadassa se arrastou em cima da cama até chegar ao abajur e o acendeu.

— Hadassa, estou quase mudando de ideia e te mandando ir dormir com a Renata. -Disse Ester irritada.

— Você está apaixonada por ele, mãe?

— Apaga essa luz. -Ester pediu, tentando manter a calma.

— Porque se você estiver, mãe, ele não é o papai.

Ester levou a mão até o abajur e apagou a luz.

— Desse jeito fica difícil, mãe. Você não conversa comigo, não me diz nada sobre o que está acontecendo, fica de mau humor o dia inteiro. -Hadassa se virou novamente para o outro lado. Ester novamente ficou em silêncio.

O sono demorou a chegar, seu pensamento estava a mil, tentava entender de todas as formas o que estava acontecendo. Sentiu a mãe se aproximar dela, lhe cobriu com o edredom, e deu um beijo em seu rosto, talvez pensasse que a filha estivesse dormindo. As horas foram se passando e mesmo assim o sono não chegava. Queria ter o corpo de Renata para acariciar, sentir o cheiro natural dela, aquilo lhe trazia paz, se estivesse no quarto ao lado já teria adormecido há horas.

Aos poucos, foi colocando os pés para fora da cama, com cuidado para não acordar a mãe. Foi até porta pisando com as pontas dos pés e quase foi traída pelo assoalho de madeira, que começou a ranger. Prendeu a respiração ao ver a mãe se mexer, abriu a porta devagarinho e saiu do quarto.

Quando chegou ao quarto onde Renata estava, ficou um pouco confusa, pois estava escuro e ela não sabia se as duas tinham trocado de lugar, seu medo era de abraçar Lanza. Resolveu se aconchegar na mulher da esquerda, que era o lado onde a noiva estava. Ficou meio receosa, mas logo sentiu o cheiro inconfundível de Renata, que lhe abraçou.

— Meu bem, a Ester vai te matar. -Resmungou sonolenta.

— Te amo. -Entrelaçou as pernas nas dela.

— Te amo. -Renata sussurrou em resposta.

Durante o café da manhã sua mãe não lhe disse nada, talvez pensasse que a menina tivesse despertado primeiro que ela. O dia estava quente e abafado, Renata ajudava sua avó a cuidar de algumas plantas no Jardim, ela se divertia observando as duas tentando se comunicar. Quase próximo da hora do almoço, Caleb lhe mandou uma mensagem avisando que estava esperando-a na rua de baixo.

Durante o trajeto até a cidade velha, ambos foram em silêncio no carro, Caleb lhe convidou para almoçar em um lugar que tinha ampla visão para o muro das lamentações, monumento símbolo da religião judaica.

— Então tio, pode começar a falar, sem rodeios. -Disse a menina folheando o cardápio.

— Hadassa, eu vou ser bem direto. Eu sei que você está brava comigo. -O homem tentava a encarar enquanto ela olhava o cardápio.

— É claro que eu estou brava, você era o meu tio favorito, e do nada resolveu se casar com a minha mãe. -Agora fuzilou o homem com os olhos.

— Não foi do nada, você sabe... -Antes que Caleb terminasse a menina lhe interrompeu.

— Não vem me dizer que é por causa dos mandamentos, porque você sabe muito bem que a minha mãe já não tem idade para essa loucura de herdeiro.

— Tudo bem, você ganhou. -Caleb levantou as mãos, em sinal de rendição.

— Eu quero a verdade. -Encarou o homem.

— Sua mãe está me ajudando, é só um casamento de negócios para eu não perder tudo.

— Qual a parte sobre falar a verdade você não entendeu? Se as próximas palavras que você me disser não forem uma explicação plausível, eu vou me levantar e sair desse lugar.

Caleb suspirou fundo fechou os olhos por alguns segundos e então tomou coragem.

— Quando o Abraham entrou para a faculdade de medicina, ele não foi o único, eu também entrei, nós estudávamos juntos. A Ester era a mulher mais bonita da turma, eu e meu irmão nos apaixonamos e começamos a disputar ela silenciosamente, sabe? Tudo subentendido para não haver brigas entre nós. Ele sabia que eu estava apaixonado e eu também sabia que ele estava, mas a sua mãe o escolheu e eu desisti da faculdade, porque não suportava ver os dois juntos.

Hadassa tinha uma expressão vazia no rosto, era impossível saber o que ela estava pensando.

— Eu era destemido, queria conhecer a vida, levava ela para acampar, nadar no rio, viajar de moto, mas sua mãe era medrosa não gostava de se aventurar, e então escolheu o meu irmão. Abraham era quieto, estudioso, recatado, mandava flores e chocolates para ela, e eu perdi porque era imaturo demais na época. Já que ele tinha ganhado a disputa eu jurei nunca mais tocar no assunto, até porque eu a respeitava e respeitava meu irmão. -Quando terminou tinha a respiração descompassada.

— O que? -Hadassa perguntou incrédula, levantando as mãos na altura da cabeça.

— Eu fui obrigado a esquece-la... E depois eles se casaram e tiveram você. Eu fiquei remoendo isso, sabe? Eu deveria ter sido mais atencioso, ter prestado atenção nos detalhes dela, deveria tê-la ouvido melhor. Eu era babaca demais, imaturo, e depois disso só piorei, se eu pudesse voltava no tempo... -Fechou os olhos.

— Por favor, traz um copo de água com açúcar para mim? -Hadassa pediu ao garçom.

— E agora surgiu esse casamento, eu não estou obrigando ela a se casar comigo, eu já disse isso. Eu arco com as consequências, mas ela não me diz nada, não me diz o que pensa, eu estou confuso.

— Está confuso faltando uma semana para seu casamento? Gente, isso é loucura demais para minha cabeça. -Hadassa se levantou, não sabia muito o que fazer ou o que pensar.

— Senta, por favor. -O homem implorou.

— Isso é loucura, você está tentando me dizer que ainda é apaixonado por ela? Por Israel, o papai deve estar se revirando no túmulo. - Hadassa levou as mãos à cabeça.

— Não estou confuso em relação ao casamento, eu quero me casar com ela, mas eu quero que ela me diga que também quer, senão eu não posso levar a diante. Por favor, me ajuda? - Caleb se levantou, encarou Hadassa.

A menina observou o tio, realmente não sabia o que fazer.



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