1. Spirit Fanfics >
  2. Mais que amigos, inimigos >
  3. Dois reis

História Mais que amigos, inimigos - Dois reis


Escrita por: hanabia

Notas do Autor


Voltei...
Dessa vez, com o último capítulo.
Eu ri muito (com todo respeito) dos comentários no capítulo passado haha obrigada por compartilharem as emoções comigo!

Não vou me alongar aqui, porque esse capítulo é enooorme!
Boa leitura e nos encontramos nas notas finais.

Capítulo 12 - Dois reis


Quando percebeu o que aconteceria se não reagisse, Kyungsoo virou o rosto. Ouviu Pietro suspirar pesado e, ao voltar a olhá-lo, depois de delicadamente tirar as mãos dele do seu rosto, o viu de cabeça baixa. 

— Me desculpa, eu… — O italiano disse, a voz trêmula denunciando que ele estava prestes a chorar. Não era para menos, ele se sentia destruído emocionalmente. Além do coração partido, agora tinha vergonha por cogitar beijar Daniel, mesmo sabendo que era muito provável que ele não fosse querer. Assistir a pessoa que gostava há tanto tempo virar o rosto para si foi muito mais doloroso do que imaginou quando se preparou mentalmente para aquele momento. — Eu não queria forçar você a nada, eu… — Ele não conseguia mais falar, já tinha externado muitas coisas, as palavras, então, sumiram de seu vocabulário.

— Tá tudo bem, Pietro. — Kyungsoo afirmou, terno. Não teve a mínima intenção de ser rude com seu amigo, alguém que esteve ao seu lado nos últimos anos, sempre o apoiando. Entendia perfeitamente a situação de Pietro; sabia das consequências de guardar sentimentos fortes, de deixá-los escondidos até que se enchessem de poeira. E, quanto à aproximação repentina que quase os levou a selarem os lábios, também não foi capaz de ficar com raiva, ainda mais quando Pietro logo entendeu que essa foi a única coisa que fez de errado e se arrependeu depressa. — Eu quero muito conversar melhor com você sobre… tudo o que você me disse, mas não acho que agora seja o melhor momento. — Ao falar, tocou o ombro alheio, apertando sem muita força.

Era verdade que Daniel preferia que continuassem a conversa — que vinha sendo um monólogo do Pietro — depois, mas ocultou o principal motivo: ainda precisava organizar sua mente, pensar melhor no que diria para não acabar machucando mais os sentimentos do seu amigo.

— Você tem razão. — O italiano fungou e passou as costas das mãos nas bochechas, a cena deixando Kyungsoo triste por saber não ser a pessoa ideal para consolá-lo. — É melhor a gente continuar depois. Eu vou… — Pausou para respirar fundo, o peitoral subindo e descendo de forma expressiva. — Eu vou indo... — anunciou e apontou com o polegar para a saída principal da escola.

— Se cuida… — murmurou o Do, sem saber se isso era o certo a se dizer. Sentia-se pisando em ovos ao tentar decidir o que falar. — Por favor.

 — Pode deixar. — Pietro lhe encarou uma última vez, com seus olhos molhados, e deu um sorriso triste. — Cuidado na volta pra casa. — E, então, saiu andando de cabeça baixa.

Quando ficou sozinho no estacionamento, assistindo o italiano ir embora, Kyungsoo esfregou o rosto com as mãos e abaixou-se, abraçando as próprias pernas. Ele sentia-se pequenininho, minúsculo diante do universo de coisas que estavam acontecendo ao seu redor sem que ele tivesse noção, como, por exemplo, o fato do seu amigo gostar de si. Daniel sabia muito bem que não era obrigado a ter reconhecido os sentimentos de Pietro antes, já não se culpava por isso. Porém, não era frio ao ponto de não conseguir se colocar no lugar do italiano e pensar em quantas vezes ele ficou triste por sua causa; isso lhe deixou muito mal.   

Tão mal que quase mudou seu centro de gravidade; Kyungsoo tinha medo de levantar e tropeçar nas próprias pernas de tão… surpreso. Não acreditava no que tinha acabado de acontecer, não mesmo. Inclusive, enquanto Pietro lhe confessava seus sentimentos, Daniel cogitou ser tudo uma alucinação por causa do cansaço.

Mas não era, estava longe de ser.

Aos poucos, os batimentos cardíacos de Kyungsoo foram voltando ao normal e ele se sentiu um pouquinho menos ruim, a cabeça pesando menos. Ele se ergueu de uma vez, trilhando melancolicamente o caminho de volta para a quadra, ansiando contar para Jongin tudo que aconteceu. Precisava muito conversar com alguém, com o pivô, e esperava que colocar para fora tudo que bombardeava sua mente fosse lhe fazer ficar mais calmo — internamente, porque externamente ele sequer havia se exaltado.   

 Ofereceu um sorriso fino ao zelador quando passou pela entrada da quadra e, a partir dali, seus olhos buscaram o Kim em cada canto do amplo espaço, cuja decoração metade pronta já deixava quem a visse perceber mais ou menos como o local estaria no sábado.

Infelizmente, Daniel não achou o seu vizinho de jeito nenhum. Onde ele tinha se metido? Em busca de sanar essa dúvida, aproximou-se de um dos alunos do comitê.

— Você viu o Kai? — Com as mãos na cintura, Kyungsoo perguntou ao garoto que estava acabando de guardar uns materiais espalhados pela quadra.

— Ele saiu na mesma hora que você, Dan — contou o garoto, sem desviar a atenção das caixas que empilhava para olhar o Do —, depois voltou pra pegar a mochila e foi embora, eu acho.

— Ele foi embora? — O Do repetiu, surpreso. Eles não tinham combinado de voltar juntos?

— É… não tenho certeza. — O garoto se corrigiu. — Talvez ele esteja no banheiro…? — Ao sugerir, ele deu de ombros e voltou a focar no trabalho que fazia.

Kyungsoo assentiu vagarosamente, com um bico pensativo nos lábios.

 

“cadê você?”

 

Mandou a mensagem e apertou o celular entre os dedos.

Daniel não demorou para se despedir dos três alunos ainda presentes, orientando-os a ir para casa descansar também, e foi procurar Jongin no banheiro. Ao não encontrá-lo, foi até o vestiário, concluindo que ele poderia ter ido pegar algo em seu armário ou alguma coisa do tipo. Entretanto, não teve sucesso.          

Já planejava voltar para o prédio principal de NewFort para procurá-lo quando teve a ideia de perguntar ao zelador se ele tinha visto para onde o Kim tinha ido.

— Se ele não estiver no jardim ou no estacionamento, deve ter ido para casa — o homem de cabelos grisalhos deu um longo bocejo —, porque, numa hora dessas, todos os outros prédios já estão trancados.

— Certo, obrigado. — Kyungsoo deu suspiro curto e franziu os lábios. 

 

“fiquei te procurando...zzz”

“por que não me esperou?”

“:(”

 

Daniel só usava o emoji de carinha triste umas três vezes ao ano, mas agora estava pronto para mandar mil desses para o pivô. “Ok, só pode ter sido alguma emergência em casa.”,  pensou Daniel, entre as mensagens que digitava rapidamente.

 

“aconteceu algo?”

“sua mãe ligou, foi?”

 

Sem resposta, murchou os ombros e buscou os fones de ouvido em sua mochila; a sua primeira noite voltando para casa ao lado do Kim, seu sem-status-de-relacionamento-definido-ainda, tinha acabado de ser arruinada, então só lhe restava ouvir uma das suas playlists enquanto andava sozinho.

 

“indo pra casa”

“sozinho... rur”

 

Jongin não visualizava nenhuma das mensagens, mesmo que a confirmação de que ele as tinha recebido aparecesse na tela de Daniel quase imediatamente após o envio. Sem saber se estava chateado, preocupado ou um pouco dos dois, Kyungsoo chegou em casa e foi direto para o seu quarto, negando quando sua mãe perguntou se deveria esquentar seu jantar.

Fazendo a primeira coisa que lhe veio à cabeça, largou a mochila no chão do cômodo e foi até a janela. Abriu-a um pouquinho só para poder olhar a casa do seu vizinho e, para piorar sua situação, encontrou a janela alheia fechada. A cortina preta, que Jongin muito dificilmente fechava, estava puxada por completo, impossibilitando que o Do visse qualquer coisa do quarto do pivô.

— Estranho, muito estranho… — Kyungsoo murmurou para si e, mais uma vez, encarou o celular, o aplicativo de mensagens aberto e nada de “online” aparecer debaixo da foto de Jongin.

Por impulso, começou a escrever tudo que lhe deu vontade, não se preocupando em encher o Kim de notificações.

 

“cadê você???”

“preciso te contar uma coisa”

“pessoalmente”

“e só quando você explicar onde se meteu!”

“jonginnn”

“kai kai kai”

“...”

“:(”

 

Parou de insistir quando percebeu que não adiantaria; naquela noite, não importava quantas mensagens mandasse, nada mudaria o fato de que Jongin, por sabe-se lá qual motivo, não o responderia.

 

 

Deitado na cama, agarrado com as próprias pernas e com o celular desbloqueado ao seu lado, Jongin havia passado um bom tempo acompanhando cada mensagem de Kyungsoo  estampar a tela, lendo-as pela barra de notificações, evitando respondê-las de cabeça quente. Não entendia como a pessoa que estava quase beijando Pietro — não tinha visto o beijo propriamente dito — poderia ser a mesma que estava lhe escrevendo coisas tão fofas, como se nada demais tivesse acontecido.

Nem mesmo quando as mensagens pararam, Jongin conseguiu pregar os olhos. Mentira; até às cinco horas da manhã, quando definitivamente desistiu de continuar deitado, ele até deu uns cochilos de poucos minutos, perdendo-se entre os lençóis de tanto se remexer, mas nada suficiente para que descansasse. Por isso, quando levantou-se, estava acabado. 

“O Kyungsoo que eu conheço nunca faria uma coisa dessas.” O Kim pensou pela milésima vez, enquanto escovava os dentes encarando sua feição derrotada no espelho.

Ignorando que o relógio acima da sua mesinha de cabeceira o alertava ainda ser cedo demais, vestiu uma roupa esportiva toda preta, um short de tecido fino com uma legging por baixo, para protegê-lo do frio cortante, e uma blusa térmica sobreposta por uma camisa. Prendeu os cabelos com um elástico e também colocou uma faixa da sua coleção de faixas amarelas; esperava que, quando fosse para a faculdade, pudesse escolher outra cor para ser sua marca registrada, porque já estava cansado de amarelo. 

Jongin arrumou a mochila e seus outros pertences, guardando uma calça jeans e uma blusa na bolsa. Passou a mochila sobre os ombros e colocou seu headphone envolta do pescoço, pronto para seguir seu plano para espairecer. Contudo, parou diante da soleira da porta do seu quarto: viu mais mensagens de Kyungsoo assim que desbloqueou o celular para escolher a primeira música que ouviria naquele dia.   

 

“bom dia”

“dê algum sinal de vida”

“é uma ordem”

 

Assim que as leu, riu um pouco porque imaginou como Daniel ficava quando estava frustrado, as bochechas infladas e os lábios formando um bico muito beijável. Porém, nos instantes seguintes, a culpa por deixar o Do sem notícias suas atingiu o Kim em cheio. Concluindo que talvez estivesse sendo um pouco injusto, digitou:

 

“está tudo bem”

“a gente conversa depois”

“bom dia”

 

Sabia que isso não chegava nem perto do que deveria dizer, mas achou melhor conversarem pessoalmente, como o próprio Kyungsoo havia proposto. E precisava colocar sua cabeça no lugar antes de encontrá-lo; apesar de querer buscar uma explicação plausível para o que presenciou na noite anterior, não queria discutir ou se exaltar de forma alguma, por isso era necessário que abstraísse um pouco da sua primeira reação àquela cena.

Encarou o celular uma última vez — Daniel havia visualizado suas mensagens, mas não lhe escreveu nada de volta — quando desceu as escadas e foi até a cozinha. Finalmente deu play na música mais barulhenta que encontrou entre suas playlists, arrumou o headphone nas orelhas e jogou uma maçã e uma banana dentro da mochila. Deixou um recadinho para seus pais pendurado na geladeira, mentindo ao escrever que precisava chegar cedo na escola para um compromisso do comitê. Assim, calçou os sapatos na entrada de casa e saiu um pouco depois das seis.

Ao passar pelo portão principal de NewFort, acenou para o porteiro trabalhando aquele dia — o homem esguio que só não perguntou o que ele estava fazendo ali naquele horário porque sabia que, às vezes, o pivô se antecipava para poder treinar antes das aulas. 

Somente quase uma hora depois, Jongin parou de correr. Como a quadra estava interditada para o baile, ele deu incontáveis voltas na pista de atletismo da escola, lugar onde quase nunca ia, e, depois de tanto esforço, cada partezinha do seu corpo pingava suor. Mesmo desse jeito, o Kim não se sentiu tão aliviado quanto pensou que estaria. Sua mente ainda borbulhava conclusões precipitadas, meias-verdades e palpites que ele sentia a necessidade de externar; talvez essa fosse a única forma de se ver livre de tanta baboseira.

 

“tá aonde?”

“já chegou na escola?”

 

Jongin limpou o suor do rosto com a barra da camisa e catou seu celular na mochila, que havia jogado ali ao lado. Enviou as mensagens para Catherine, a pessoa a quem sempre recorria quando precisava conversar, e só parou de olhar para a tela do aparelho quando a sede falou mais alto. Ele pegou a garrafinha d’água que nunca desgrudava de si e deu um longo gole.  

 

“na piscina”

“o peixinho tá treinando”

 

Catherine respondeu no mesmo minuto, anexando uma foto de Joshua boiando dentro da enorme piscina, aberto feito uma estrela-do-mar.

 

“tô indo aí”

 

Jongin riu soprado, dando zoom na expressão divertida de Joshua, e avisou-a que iria encontrá-los. Então, rumou devagar e ofegante até o anexo ao lado, seus músculos estavam doloridos pelo tanto que correu. 

Chegando lá, encontrou apenas seus dois amigos e se aproximou deles. Catherine trajava o uniforme das líderes de torcida e tinha os cabelos loiros soltos, algumas mechas à frente do rosto, e, em seu pescoço, feito um colar, estava pendurado um cronômetro digital, esse que ela segurava na mão direita, o polegar sobre o botão de parar a contagem. Dentro da piscina, estava Joshua nadando de costas, e tudo que o Kim pôde ver era que ele usava uma touca e um short no mesmo tom de vermelho.

— Bom dia. — Catherine cumprimentou o pivô, sem desviar o olhar da piscina. — Por que veio tão cedo? — Era comum encontrar o Kim naquela hora na escola, mas não em pleno inverno, não quando a temporada de jogos de basquete havia acabado; ela pensava que ele estava descansando.

Quando Joshua completou mais uma volta, afundou rente aos azulejos da piscina e rapidamente voltou à superfície, apoiando os braços largos na borda.

— Bom dia, garotão — disse Joshua, a sua respiração ainda normalizando. — Veio aqui só para atrapalhar a minha sessão “olha Catherine como eu sou gostoso nadando”? — brincou entre um sorriso pretensioso, fazendo as aspas com os dedos de uma das mãos.

— Bom dia. — Jongin murmurou. — Eu preciso falar com vocês. — Acomodou-se na borda da piscina, não se incomodando quando a água que transbordava um pouco molhou seu short. — É sobre o Daniel... — Ele cruzou as pernas à frente do corpo e agarrou-as.

Joshua tirou os óculos de natação, colocando-os sobre a touca que usava. Jongin estava sério como quase nunca ficava e isso bastou para que o nadador entendesse que não era o momento certo para brincadeiras. 

Catherine, ao ouvir o pedido do amigo, arrumou a saia do uniforme e sentou-se no bloco de partida ali ao lado, dizendo:  

— Pode falar, Kai. — Ela olhou-o preocupada com o que viria a seguir, ainda que achasse já saber o que tinha acontecido (notícias ruins voam, afinal). — O que foi?

— É… sobre o Daniel... — Jongin repetiu e Joshua meneou a cabeça, indicando que ele prosseguisse. — Eu não sei se vocês fazem ideia do que… eu sinto por ele — olhou para o lado, refletindo qual seria a melhor forma de contar aquilo — que, na verdade, é algo muito recente, então… — O Kim parou de falar e apertou os dedos das mãos.

Os outros dois se entreolharam e, silenciosamente, entraram em um acordo para ajudar o pivô a desembuchar.

— Com “o que eu sinto por ele” você quer dizer... — Catherine coçou a nuca, um tiquinho receosa de soar invasiva. — A raiva fajuta ou…?

— O fato de você gostar dele? — Quando Joshua complementou a pergunta da garota, rápido, o Kim se sentiu completamente desmascarado, sua cara quase moldando um perfeito ponto de interrogação. — Se for isso, não é algo muito recente, não. Você gosta dele desde que a gente era moleque — argumentou, com as sobrancelhas levantadas e um bico convencido nos lábios. — Sabe, eu adoro como você age como se a gente não tivesse crescido juntos — comentou o nadador, ao ver o quão Kai ficou surpreso.

— Olha, é verdade — murmurou Cath, com uma expressão pensativa no rosto, a boca franzida e as bochechas um pouco infladas. — É meio óbvio, sabe? Sempre foi.

Jongin engoliu seco. Não fazia muito tempo que tinha assumido para si o sentimento que nutria por Daniel, mas seus amigos sabiam dele há anos? Uau, realmente não esperava por isso...

— É, que seja… — Tirou alguns fios de cabelo da frente dos olhos e prosseguiu. — Bem, acontece que eu descobri que ele gosta de mim também.

Mentira! — O queixo de Catherine caiu, um “oh” quase mudo saindo de sua boca. Kyungsoo não tinha dito nada sobre isso a ninguém do Clube dos 5 1, caso contrário ela teria ficado sabendo. — Vocês…

— Nós conversamos... — Kai interrompeu-a e começou a explicar, agora gesticulando com as mãos para descontar o nervosismo. Ainda que não tivesse motivos para estar envergonhado na frente de Joshua e Cath, era um pouco constrangedor falar sobre esse assunto. — Ele… se declarou pra mim e eu… me declarei para ele. — Os olhos da garota cresceram tanto que quase pularam na piscina e ela, de imediato, buscou o olhar de Joshua, que também estava chocado. — A gente até ficou — soltou ar pela boca —, antes de ontem.

Oh! — Joshua tirou as mãos da borda da piscina para bater palma e acabou afundando um pouco. — Eu tô tão feliz, caralho! — exclamou ao emergir, engolindo um pouco de água. Seu surto fez alguns respingos molharem os outros dois e, só depois das reclamações, ele voltou a se aquietar. — Eu esperei tanto por esse momento, eu… quero ser padrinho do casamento de vocês, ser o tio mais babão dos seus três filhos!

— Filhos?! — Catherine indagou, rindo soprado. Joshua já tinha projetado o futuro a esse ponto?

— Três?! — Foi seguida por Jongin, que questionou, com as sobrancelhas bem arqueadas. A reação de Joshua o deixou momentaneamente muito feliz. Ainda assim, achava três filhos um pouco demais (para ele, esse foi o único absurdo da fala do seu amigo).

O pivô riu do próprio pensamento e balançou a cabeça para afastar a divagação. Precisava focar.

— Ok, tudo bem. — Catherine, aos poucos, diminuiu seu sorriso largo. — Isso é ótimo! Eu não acredito que finalmente vocês perceberam que se gostam!

— Vocês sabiam que ele gostava de mim também? — O Kim seguia pasmo. Que complô era aquele?

— Nós somos amigos de vocês dois, ué — pontuou a garota. — E não é como se vocês algum dia já tivessem se esforçado para esconder. — Ela deu de ombros. — Sabe quantos livros com temática Friends to Enemies to Lovers eu já li? Até brigados, vocês davam na cara que se importavam um com o outro.

Friends to Enemies to Lovers? — Joshua riu alto com a denominação. — Só se protótipos muito ruins de inimigos contam, viu?!

Catherine e Joshua gargalharam, muito contentes com o que Jongin contou; talvez fossem os espectadores mais fiéis da história de Daniel e Kai, então se acharam no direito de comemorar o rumo que aquilo estava tomando. Porém, ao perceberem que o humor do Kim não condizia com o deles — e lembrarem que ele tinha aparecido com uma carranca —, foram se calando aos poucos.

— Ok… — murmurou Joshua. Ele se apoiou nos braços e saiu da piscina, sentando-se ao lado do pivô. — Até agora tudo o que você disse é feliz demais pra ser o motivo de você querer nosso precioso conselho. O que aconteceu? — Levou uma mão até as costas do Kim e alisou-o. 

— Bem… é… — Jongin pigarreou e abaixou o olhar para as próprias mãos. — Estava tudo bem, tudo muito bem, mas… — Soltou ar pela boca; externar aquilo só fazia tudo parecer mais real e era doloroso. — O Kyungsoo… — Ao ouvirem o nome alheio, seus amigos ficaram tensos. Catherine cruzou as pernas e inclinou o corpo para a frente, perfeitamente atenta. E Joshua parou o carinho que fazia, como se ficar imóvel fosse ajudar seus ouvidos a escutar melhor. — Eu vi ele beijando o Pietro.

— O quê?! — Joshua quase gritou, tremendo foi o absurdo. 

— O que o Kyungsoo fez?! — Catherine indagou, os olhos pequenos e a testa franzida, balançando a cabeça negativamente. — Tem certeza absoluta de que foi isso que você viu? 

— É… não. — Quando Jongin se corrigiu, Joshua sentiu que podia respirar novamente. Não que tivesse algo contra Daniel ficar com Pietro, longe disso, só queria que seus amigos fossem felizes, todos eles. — Eu só vi eles dois quase se beijando, quase mesmo, tipo, bem pertinho, e não aguentei ficar pra ver o resto — concluiu e encarou Catherine, que lhe tomou a fala.

— Você viu tudo errado, Kai. — A líder de torcida afirmou expressivamente, deixando o pivô mais confuso ainda. Jongin franziu o cenho, sem saber o que a garota quis dizer, e sua expressão piorou quando ela continuou a falar: — Eles não se beijaram — Cath gesticulava impacientemente com as mãos —, apesar do Pietro ter tentado beijar o Daniel… — Ao completar, diminuiu a voz.

— Como?! — O Kim endireitou as costas e abaixou as pernas, voltando-se para Catherine.

— É, hm… — Agora que tinha iniciado, ela sabia que precisava dizer tudo que sabia, apesar de se sentir um pouco mal por fofocar sobre seus amigos. — O que aconteceu ontem foi o seguinte: o Pietro se declarou pro Daniel e… — limpou a garganta — tentou beijar ele. Mas o Daniel não retribuiu! — exclamou com toda certeza do mundo.

— Como você sabe disso? — Foi Joshua quem perguntou, pessoalmente sentindo-se traído por só ter ficado sabendo daquilo naquele momento.

— O Pietro ligou pra Charlie ontem… depois que levou um fora. — Catherine crispou os lábios, seu coração apertado ao lembrar da voz chorosa do italiano ao telefone. Se soubesse que esse era o motivo da chateação de Jongin, teria elucidado as coisas logo. — E ela me ligou contando… — Pausou a fala para refletir no que estava fazendo. Ela não queria mesmo dar uma de agente dupla. Isso lhe causava um sentimento ruim, não era edificante. Mas logo sua consciência disse que estava tudo bem, porque era em prol de uma causa maior e ela só estava repassando fatos! — O ponto é que o Daniel nem respondeu o Pietro, porque ficou muito surpreso... só que o Pietro interpretou o silêncio errado e foi daí que surgiu o quase beijo. Você deve ter ido embora antes de ver que o Daniel se afastou, Kai.

— Ufa — murmurou Joshua, com um ar pensativo —, agora essa história faz sentido. — O nadador até ficou mais leve com a explicação da líder de torcida. — Você viu tudo errado, babacão — repetiu a frase de Catherine e deu um tapinha na nuca do pivô. 

O Kim permaneceu imóvel por alguns segundos, absorvendo as informações. O que Catherine revelou causou em si um ânimo instantâneo, como se tivessem injetado um shake de serotonina e adrenalina em suas veias. Porém, tão rápida como veio, a onda de alegria foi embora, deixando para trás apenas culpa por não ter confiado em Kyungsoo. Como seria digno de ser o futuro namorado de Daniel assim? 

— Oh, merda, eu fodi tudo! — Jongin praguejou, novamente passando as mãos pelos cabelos.

— Por quê? — Catherine perguntou. — O que rolou depois que você viu o “beijo”?

— Eu e ele… a gente tinha ficado de ir embora juntos, mas, quando eu vi a cena — o pivô bufou fraco —, acabei indo pra casa sozinho. Daí ele me mandou mensagem, me ligou, mandou mais mensagens… — Conforme ia dizendo, o Kim diminuía o tom da voz, com vergonha de descrever o que fez. — Eu só fui responder ele hoje de manhã…

— Que merda, hein, Kai — lamentou Joshua. — Você não pode estragar meu sonho de ser o tio tão rápido assim — afirmou, sério. Catherine lançou-lhe um olhar repressor e ele se calou por um instante.

— Olha, você com certeza deve um pedido de desculpas pro Dan — ultimou a garota. — É melhor você conversar direitinho com ele sobre o que aconteceu, sobre o motivo de você ter ido embora e, sei lá, mostra que se arrepende pelo jeito que agiu.   

— E já se prepara, porque eu acho que ele não vai gostar nadinha de saber que você achou que ele ia beijar alguém logo depois de se declarar para você — alertou Joshua. —  Bem, essa atitude seria muito estranha e nada do feitio dele.

— Droga! — Jongin escondeu a cabeça entre as pernas, que abraçou com mais força. — Eu fodi tudo, de verdade. — O pivô, preso em possibilidades negativas sobre o que aconteceria dali em diante, tentava mentalmente montar uma explicação para dar a Kyungsoo, mas nenhuma parecia boa o suficiente. — Será que ele vai ficar com raiva de mim?

— Isso é fato, ele vai ficar com raiva. — Joshua sabia que confirmar isso magoaria o pivô, mas achou que precisava ser sincero. — Se já não estiver...

— O que aconteceu, aconteceu, Kai — concluiu Catherine, enquanto martelava alguma coisa que pudesse dizer para tranquilizar seu amigo. — Agora você precisa levantar daí e partir pra ação! — exclamou, cutucando o braço do Kim. — Vai tomar um banho antes que o sinal toque! E vê se aproveita a ducha gelada pra criar coragem.

— Uhum… — Jongin disse em um fio de voz, com um bico nos lábios. Ele segurou os joelhos e se levantou, respirando fundo. — Eu espero não ter botado tudo a perder. 

— Drama não vai resolver nada, cara — falou Joshua, ficando em pé ao seu lado e dando-lhe um (molhado) abraço lateral. — É só você conversar direitinho com o Dan. Comece a pensar num jeito de ser o namoradinho mais fofo do mundo, beleza? — O pivô assentiu.

— Vai dar tudo certo, babaca. — A líder de torcida ficou à frente do Kim.

— Awn, vem cá, abraço coletivo! — Joshua a chamou, mas ela se afastou.

— Não vou abraçar vocês, um molhado de suor e um cheirando a cloro — decretou, com os braços abertos para manter distância dos garotos. — Os dois — bateu duas palminhas —, já pro banho!

— Sim, senhora. — Joshua bateu continência e obedeceu-a. — Vamos, senhor estou sofrendo por amor. — Abaixou-se na altura das coxas do pivô e o pegou nos braços como se fosse uma mercadoria qualquer.

Jongin se rebateu nos braços de Joshua, porém, não conseguiu se livrar. Era como se um urso estivesse o carregando, prendendo suas pernas e, por mais que deferisse alguns socos nas costas alheias, nada parecia surtir efeito.

Catherine, rindo alto, catou os pertences dos três na beira da piscina e seguiu os garotos, com as mãos e braços lotados de coisas.  

— Solta ele. — A garota pediu quando chegaram na porta do vestiário masculino do anexo da piscina. Quando o Joshua o fez, ela entregou as coisas deles e, antes de seguir seu próprio rumo, esticou-se para dar um beijo na bochecha do nadador, que retribuiu também com um beijo estalado, mas um na boca dela. Jongin olhou para o outro lado, meio tímido por presenciar a cena.

— Qual é, garotão — debochou Joshua —, eu tenho certeza que você fez mais do que isso com o Daniel. — Ao escutar isso, o pivô revirou os olhos. — Te encontro na sala, minha rainha. — Joshua fez carinho na cintura da garota e a soltou em seguida.    

Catherine não deu mais que três passos antes de se virar e falar:

— Por falar em rainha… — A líder de torcida coçou a ponta do queixo. — E se você convidar o Daniel pro baile, Kai? — Ela brincou, quebrando o clima de expectativa que só durou milisegundos. Jongin murchou, decepcionado. O que ele estava esperando? Que Cath de repente surgisse com uma ideia capaz de salvar sua pele? — Falando sério agora: você deveria pensar num gesto romântico, uma coisinha pra agradar o Daniel, sabe? 

— Como o quê? — Jongin queria a solução de mão beijada.

— Seja criativo, poxa. — Catherine deu de ombros. — Pode ser qualquer coisa. — Ela riu sozinha ao concluir que suas frases poderiam fazer brotar na mente do pivô algo bem Art Attack, mas resolveu não limitar a criatividade alheia.

— Menos uma declaração em público, por favor — completou Joshua e a garota concordou. Essa ressalva era muito importante, ninguém ali queria ver Kyungsoo virando pó de tanta vergonha.

— Já vou — ela anunciou —, vocês têm quinze minutos para tomar banho. Vão logo!

Então, praticamente arrastado por Joshua, que passou um braço por cima de seus ombros, Jongin entrou no vestiário, não demorando para tirar a roupa e ir enfrentar a água gelada — que encarou como castigo merecido depois do vacilo que deu com o Do.  

Jongin refletiu sobre a conversa que teve com os amigos, ao som de Joshua cantarolando a música número um das paradas enquanto se lavava. Depois de tudo que eles disseram, Catherine cheia de paciência e o nadador sendo bem direto, duas principais coisas ficaram em sua mente. Coisas essas que foram cruciais para que bolasse um plano, que resolveu chamar de Namoradinho Mais Fofo do Mundo Faz Gesto Romântico.

O Kim esperava, do fundo do coração, que seu plano fosse o suficiente para demonstrar a Kyungsoo o quanto se sentia arrependido por ter agido daquela forma.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 ⟳                                                                           

 

Kyungsoo avistou Charlie e Pietro sentados em uma das mesas de cimento do jardim de NewFort, como se implorassem para que o tempo frio lhes dessem de presente um belo resfriado. Arrumou o casaco que usava, pondo as mãos nos bolsos, arrependido de ter deixado seu par de luvas em casa, e foi até eles, sendo avistado primeiro pela garota, que deu um sorriso quadrado e começou a guardar suas coisas na mochila, e depois pelo italiano, que não esboçou nenhuma reação — talvez porque já esperava que Daniel o procurasse.  

— Oi, Dan. — Charlie murmurou, já se levantando. — Bem, eu vou indo… tenho que passar na biblioteca antes da aula. Até mais, meus bebês. — Ela deu um aceno rápido com a mão direita e saiu, tão rápido que foi como se ela nunca estivesse estado ali.

Nos poucos instantes em que viu Charlie, o Do reconheceu as expressões preocupadas no rosto da garota. Logo, soube que ela já deveria saber de tudo que aconteceu na noite passada. Para ela, como melhor amiga deles dois, não era nada legal ficar no meio daquela situação, Kyungsoo concluiu. Charlie, sem dúvida, tentaria agir da maneira mais imparcial possível.

“Será que todo mundo do Clube dos 5 1 já sabe?”, pensou Daniel. Porém, resolveu se concentrar no que foi fazer ali.

— Oi. — Pietro encarou o Do e cumprimentou-o primeiro, como se quisesse demonstrar que não se incomodava com a presença alheia. A sua voz soou um pouco menos animada que o normal, mas muito mais vívida do que na noite anterior.

Kyungsoo, que passou a madrugada se preparando para esse momento, tinha imaginado que Pietro o receberia de outra forma. Por isso, sentiu-se aliviado que a tensão entre eles dois era tão pouca que mal podia percebê-la.

— Oi — respondeu no mesmo tom, sentando-se de frente ao amigo e jogando a mochila em cima da mesa. — Será que nós podemos conversar agora? — Kyungsoo perguntou, porque gostaria de receber um passe livre para tocar naquele assunto. Estava receoso de que tudo ainda fosse recente demais e, assim, o outro ainda não estivesse pronto para falar daquilo; o que era completamente direito dele. E o Do jamais o forçaria.

A reação de Pietro novamente o surpreendeu. O italiano apenas assentiu com a cabeça e lhe deu um sorriso fino. Era óbvio que havia chateação e vergonha em seu olhar, mas ele não parecia tão afetado com isso (ou escondia muito bem).

— Desculpa mesmo por ontem. — Foi o próprio Pietro quem começou. — Eu fui um idiota, não é?

— Não, não foi… de jeito nenhum! — Daniel acreditava ter uma parcela de culpa em tudo aquilo também. Culpa, culpa, culpa. Por que essa palavra não parece a certa para descrever? — Eu já falei que não precisa se desculpar, mas, se vai fazer você se sentir melhor: eu aceito suas desculpas.

— Obrigado, Daniel — agradeceu e deu um sorriso maior. — E, olha, se você não quiser dizer nada, não é necessário, de verdade. Eu já sei que não… que nós não daríamos certo. Acho que, internamente, eu já sabia disso há muito, mas só fui entender ontem… — Pietro soltou um riso tão envergonhado que fez as bochechas de Kyungsoo corarem. — Então, não se preocupe, não precisa se explicar.

— Posso fazer isso mesmo assim? — Daniel não sabia se estava sendo egoísta ou não, mas cedeu ao seu cérebro e questionou. Tinha coisas entaladas na garganta, coisas que gostaria de dizer, mesmo não tendo muita certeza de como o italiano reagiria. Pietro meneou a cabeça e franziu o queixo, indicando que o menor prosseguisse. — É, Pietro… — Quando ouviu seu nome, o italiano passou a mão cuidadosamente em seu topete, apenas para descontar seu nervosismo. — Eu gosto muito de você, e você sabe disso, não é? — Kyungsoo olhou para as próprias mãos, já sem graça com o que diria em seguida. — Mas gosto de você como amigo. Como um dos meus melhores amigos. Eu sei que… isso é algo ruim para escutar de alguém que a gente gosta além da amizade, mas… — O Do engoliu seco, não continuando essa frase. — Eu entendo o que você está sentindo, ou acho que entendo… passei por algo um tanto parecido durante quase toda minha vida, de gostar de uma pessoa muito próxima de mim, de um amigo, e nutrir secretamente um sentimento por essa pessoa. É por isso que eu quero pedir desculpas se minhas ações te confundiram em algum momento, pedir desculpas pelas vezes que te magoei sem saber e pedir desculpas, inclusive, por estar falando essas coisas assim…

— Está tudo bem. — Pietro falou, mais sério. Ele ouvia atentamente e, por mais que Kyungsoo agora prestasse atenção no rosto alheio, não conseguia lê-lo de forma alguma.

— Eu tenho medo de dizer alguma coisa que só vai piorar tudo, talvez se eu fosse um pouco menos… — O Do também não conseguiu terminar essa frase. — Nunca foi a minha intenção te dar falsas esperanças ou ser ambíguo… eu só não fazia ideia... — Soltou ar pela boca, resolvendo, então, dizer a última coisa que lembrava. — É meio egoísta e cuzão da minha parte falar que eu só quero que você fique bem? — indagou, mas não esperou uma resposta. — Mesmo se for, essa é a verdade. Então… eu vou entender se você quiser se afastar de mim. Eu vou entender completamente se você quiser um tempo pra...

— Eu vou ficar bem — assegurou Pietro, rindo soprado. Não fez isso de forma irônica, Daniel soube. Ele só viu certa graça naquilo tudo, principalmente em como Kyungsoo estava deixando nítido que tentava ao máximo não dizer nada “errado”, que fosse magoá-lo. Essa preocupação com os amigos era, inclusive, um dos motivos pelos quais o italiano se apaixonou por ele. — E não pense demais nisso. Para falar a verdade — ajeitou-se no banco de madeira, inclinando-se um pouquinho mais para frente —, nem eu sei como vai ser daqui em diante, mas, se eu me sentir desconfortável em algum momento, pode ter certeza que eu vou fazer o que for melhor pra mim… — Kyungsoo permaneceu calado, tentando

decifrar o que isso significava ao certo. — Não faz essa cara — pediu Pietro, apoiando o rosto na mão esquerda. Que conversa mais constrangedora... — É, eu preciso ir agora. — Ele se colocou de pé. — Tenho que achar a Charlie antes do sinal tocar.

— É, ok… — Kyungsoo espalmou as duas mãos na mesa de cimento e apoiou-se nelas para levantar, logo puxando a mochila pela alça e colocando-a sobre os ombros. — Eu também já vou indo — deu um sorriso quadrado —, até depois.

Quando Daniel virou-se para ir em direção aos anexos, Pietro perguntou, alto o suficiente para que ele ouvisse:

— Não vai pra aula? — Havia uma ruga entre as sobrancelhas cheias e expressivas do italiano.

— Ah, não — murmurou em resposta —, eu preciso resolver umas coisas do comitê. Tô indo pra quadra.

— Entendi… — Pietro balançou a cabeça afirmativamente. — Amanhã é o grande dia! — exclamou e deu um sorriso ansioso. — Está nervoso?

— Um pouco. — “Um pouco demais”, corrigiu-se Kyungsoo. Só de pensar em tudo que aconteceria naquela noite de sábado, céus… dava vontade de sair correndo até um lugar onde ninguém o acharia.

— Vai dar tudo certo. — Pietro disse, convicto. — Bem, até mais, então! — Deu um aceno rápido, sendo retribuído na mesma medida, e seguiu para o prédio principal de NewFort.

Kyungsoo assistiu o amigo se afastar por alguns segundos, logo voltando a seguir o próprio caminho.

Assim que chegou na escola de manhã cedo, o Do, motivado pela mensagem que recebeu do pivô, um seco “a gente conversa depois”, encaminhou-se até a sala da senhora Theodore e implorou para ser liberado das aulas da tarde, com a desculpa de precisar ajudar a equipe de sexta — assim como Jongin fez no dia anterior. Por sorte, foi liberado, e era por isso que agora ia em direção à quadra.

Queria ver Jongin, ficar um pouco ao lado dele, quem sabe assim achasse nas feições alheias alguma pista sobre o que tinha acontecido para ter sido deixado sozinho na noite anterior.

— Gazeando aula, Soo? — Não precisou nem procurar o pivô, porque foi encontrado primeiro. Ao passar pela entrada do anexo, cumprimentando o zelador sonolento, que parecia não aguentar mais ficar fazendo papel de porteiro, viu o maior à sua frente.

Jongin abriu um sorriso largo e puxou Daniel para um cantinho, logo atrás de uma estrutura de madeira da decoração do baile, que os impedia de serem vistos por quem passasse.

— Aprendi com você — rebateu Kyungsoo, pressionando os próprios lábios e inclinando a cabeça para a direita. — Aonde você se meteu ontem? Por que não respondeu às minhas mensagens? Por que não me atendeu? — Não fez rodeios para perguntar, cutucando a barriga alheia com os dois indicadores e, em seguida, parando para encará-lo.

Daniel passou as mãos nos braços e no peitoral de Kai, como se conferisse se ele estava inteiro. E Jongin, por sua vez, sentiu seu coração acelerar quando constatou isso. Sem dizer uma palavra, ele segurou o rosto do menor com as duas mãos e abaixou-se para selar os lábios alheios.

Kyungsoo não protestou. Pelo contrário, aproveitou a proximidade para, quando o Kim descolou os lábios dos seus, colá-los novamente, dessa vez fazendo o ato evoluir para um beijo mais aprofundado, que os fez apertar os olhos e esquecer de tudo ao redor.

— Pode responder às minhas perguntas agora? — Ao encerrarem o beijo, o Do questionou. Eles permaneciam com as testas grudadas.

— Ainda não, a gente vai falar disso direitinho depois, eu prometo. — Daniel revirou os olhos e se afastou um pouco, porém, acabou soltando um riso fraco quando o Kim o fez se aproximar novamente; estar nos braços do pivô talvez ligasse seu modo mais bobão. — Mas pode ficar tranquilo, não foi nada demais — afirmou, sem muita certeza dessa parte. Não tinha como saber exatamente como Daniel reagiria quando contasse tudo, então só podia torcer para que, sim, não fosse nada demais. — Eu estou bem. Nós estamos bem.

— Certo… — sibilou, estudando a expressão verdadeira do Kim. Ele parecia relaxado e leve, da mesma forma que estava da última vez em que o viu. Isso fez Kyungsoo acreditar ainda mais em sua palavra, ainda que permanecesse curioso para saber o que aconteceu. — Não faz mais isso, ok? Não suma! Eu fiquei muito preocupado com você — alegou e beliscou o antebraço de Jongin —, seu idiota!

— Ai! — gemeu de dor, alisando dramaticamente a região. — Você vai ter que dar um beijinho pra sarar agora… — O Kim estendeu o braço para o Do, fazendo um biquinho exagerado com os lábios carnudos.

Kyungsoo ergueu uma sobrancelha, avaliando a cena.

— Só se você prometer que não vai sumir assim de novo — negociou, com o olhar estreito.             

— Eu prometo — assegurou Jongin, pendendo seu corpo para cima de Daniel como se fosse um filhotinho de urso carente de atenção.

— Cenoso! — Kyungsoo acusou-o, mas cedeu aos seus encantos. Pegou o antebraço alheio e deu um selar rápido mais ou menos onde tinha beliscado (tinha usado tão pouca força que a região sequer estava vermelha). Aproveitando-se das circunstâncias, deu um novo beliscão no pivô, agora um na bochecha. — Ops… — sussurrou, brincalhão, e esgueirou-se para beijar o rosto alheio. Depois que o fez, repetiu o ato novamente, agora prensando o queixo dele entre os dedos.

— Se você quer me beijar, é só beijar. — Jongin falou baixinho, com um sorriso zombeteiro.

— Calado. — Kyungsoo pressionou o indicador à frente dos lábios dele. O pivô, então, soprou um riso, seu corpo desestabilizando um pouquinho quando o Do selou seu queixo. O próximo beliscão não veio. Ao invés disso, o menor tirou seu dedo do caminho e mordiscou apenas um pouquinho o lábio inferior do maior, que o assistiu com um olhar baixo e toda a atenção do mundo.

Nos últimos dias, Daniel tinha descoberto que gostava muito de ver Jongin de perto, de poder enxergar todos os detalhes do seu rosto, todas as pintinhas, os cílios e os outros pelinhos finos e, é claro, a cicatriz. Portanto, esticou-se para dar um beijo na parte inferior da cicatriz, no alto da bochecha esquerda do maior.    

— Você está tentando me seduzir? — O Kim questionou, a voz mais grave que o normal, quase um tanto rouca. Teria sorrido se conseguisse, mas se sentia hipnotizado pelas ações do menor. A cada novo toque alheio em sua pele, fazia parecer uma tortura eles se separarem um instante sequer.

— Não estou tentando — corrigiu-o, com um tom divertido —, estou conseguindo. — Finalmente, selou os lábios do pivô mais uma vez, sentindo os braços dele rodearem sua cintura e puxá-lo para mais perto.

— Ei, casal. — Eles se separaram abruptamente quando ouviram uma voz feminina os chamarem. — Temos muito trabalho pra fazer, não podem se pegar outra hora? — Era Yumi, que carregava uma expressão sorrateira na face. Ela tinha uma prancheta de madeira nas mãos, os cabelos presos e vestia uma calça jeans; foi uma das únicas vezes que Kyungsoo a viu dessa forma. — Vão ficar parados aí quanto tempo? Eu já perdi muito tempo te procurando, Kai.

— Nós já vamos. — Jongin falou e acenou para que ela fosse na frente. Ele não parecia afetado com a presença dela, enquanto Daniel parecia prestes a vomitar seu coração.     

— Merda — murmurou Kyungsoo, quando ela saiu. Ele levou as mãos para as próprias bochechas, tentando esconder a reação vergonhosa do seu corpo à situação.

— Você está corando? — O pivô só perguntou para zuar o menor. — Fofo! Você é fofo! — Foi até ele e passou um braço por cima dos seus ombros. — Muito fofo — sussurrou rente ao ouvido alheio, que não disse mais nenhuma palavra sequer.

Assim, eles foram cumprir as suas últimas responsabilidades com o baile de inverno. E, a cada minuto ao lado de Kyungsoo, Jongin tinha mais certeza da surpresa que faria. Sempre que via um novo sorriso nascer nos lábios dele, pensava em mais detalhes para acrescentar em seu plano. Tudo precisava acontecer perfeitamente, não importava o quanto iria correr contra o tempo para organizar tudo. 

           

 

 

 

— Daniel! — O garoto ouviu a voz ao longe, já desacreditado por ousarem interromper seu maravilhoso sono. — Já são dez horas! — A voz continuou insistindo, e ele ouviu uma série de batidas na porta do seu quarto. “Eu planejei dormir até meio-dia.” Quis dizer, mas só teve energia o suficiente para se espreguiçar entre os lençóis macios e cheirosos. — Vai, levanta logo, que saco! — Ele bufou e apertou os olhos mesmo antes de abri-los.

Era Charlie, só ela insistiria tanto assim, por isso a reconheceria até se não pudesse escutar sua voz estridente e mandona.

— Sinceramente, viu… — Ela reclamou assim que ele abriu a porta e foi entrando no cômodo de uma vez. Kyungsoo coçou os olhos e bocejou alto, observando-a abrir sua cortina e iluminar o quarto todo. — Esqueceu que temos trocentas coisas pra fazer hoje? São as últimas horas da campanha DanCath, precisamos aproveitar!   

— Não lembro de você ter me dito nada — argumentou, rumando para seu banheiro e fechando a porta quase sem força. Ainda estava no mundo dos sonhos (onde vivia uma aventura ao lado de Jongin, inclusive).

— Eu tive a ideia hoje cedo. — Charlie contou, quase gritando para se certificar que ele ouviria. — Vocês vão passar o dia juntinhos, tirando fotos e relaxando. — Ela não viu, mas tinha certeza que Daniel havia revirado os olhos ao ouvir. — Não demore, a Catherine está chegando. Nós só temos esse restinho da manhã, porque eu e ela vamos passar a tarde no salão.

Eu odeio você... — Kyungsoo entreabriu a porta do banheiro e, com a boca cheia de pasta de dente, murmurou para Charlie, que apenas riu da cena.

— Também te amo — murmurou ela, pulando de bruços na cama alheia e sacando o celular do bolso, para mexer enquanto ele se aprontava.

Por livre e espontânea pressão, Kyungsoo tomou um banho, vestiu uma roupa que não fosse um pijama e desceu para tomar café da manhã. Quando Catherine chegou, Charlie começou a tirar várias fotos. E, entre os stories que foi obrigado a postar no Instagram, o Do tirou um tempinho para mandar mensagens para o pivô.

 

“bom dia :)”

“já amanheci assim”

 

Digitou e mandou um vídeo curto das garotas sentadas à sua frente na mesa da cozinha.

 

“bom dia :)”

“boa sorte hehe”

“a yumi me liberou hoje”

“vai passar o dia num spa com minha mãe, acredita?”

 

O Do ficou um pouco pensativo ao ler isso. Será que a senhora Kim já considerava Yumi o projeto perfeito de nora? E como será que ela reagiria ao descobrir que, na verdade, estava muito mais perto de ter um genro do que uma nora? Um genro que, inclusive, era o garoto que ela queria mais distante possível do seu filho? Ah... muitas preocupações! Era muito cedo para começar a pensar nisso?            

Ele decidiu que, sim, era muito cedo. Precisava dar um tempo dos problemas e aproveitar as últimas soluções que tinha arranjado; pelo menos estava tudo bem entre ele e Jongin, o resto eles resolveriam depois. Juntos.

 

“quais seus planos para hoje?”

 

Daniel perguntou. Depois que Cath e Charlie fossem embora, ele ficaria sozinho a tarde inteira e o comecinho da noite, até que precisasse se arrumar para o baile. Dependendo da resposta de Jongin, considerou chamá-lo para, quem sabe, ler Bleach agarradinhos em sua cama.

 

“vou sair com os caras do time”

“para matar o tempo”

 

Kyungsoo murchou. Pelo visto, teria que bolar um jeito de sair do tédio — ou aceitá-lo e curti-lo ao lado de Dory, eles podiam dormir a tarde inteira no seu tapete felpudo. Ele quis perguntar para onde Jongin iria com os amigos, só para saber, mas teve medo de soar muito intrometido. Então, apenas escreveu:

 

“cuidado, viu?”

“se divirta bem muito enquanto eu morro de tédio”

 

E Jongin respondeu:

 

“se você ousar morrer hoje”

“é capaz da charlie juntar as sete esferas do dragão pra te ressuscitar"

“você não pode morrer antes de pegar sua coroa”

           

Daniel riu ao ler, fazendo as garotas pararem de conversar para olhá-lo encarar o celular com um sorriso bobo.

 

“quem vai ganhar é você”

 

Ele tinha certeza que Jongin era um concorrente a rei bem melhor do que ele, por isso havia mais chances do pivô ganhar.

 

 “isso não importa”

“eu vou votar em você”

 

Kyungsoo leu a frase várias vezes. Tinha ciência de que aquele “eu vou votar em você” não significava só isso. Não precisava ser um especialista em Kim Jongin para entender o que ele quis dizer (na verdade, talvez precisasse sim). Soava como um “eu gosto de você” ou o Do estava enlouquecendo? Bem, de um jeito ou de outro, ele enviou a única resposta que achou cabível.

 

“eu vou votar em você também”

 

 

 

— Dory Do! — Kyungsoo levantou a voz para a cadela. Com certa dificuldade, ela havia subido na cama alta e agora circulava seu smoking, arrumando o território para se deitar em cima dele. Antes disso, porém, foi repreendida. — Nem ouse. — Ele cerrou os olhar para a cadela. Dory grunhiu e, aparentemente fatigada, contentou-se em ficar entre as almofadas fofinhas, as orelhas murchas e as pálpebras gordinhas fechando e abrindo à medida que os olhos acompanhavam seu dono.

Daniel ia de um lado para o outro do quarto, entrando e saindo do closet mais vezes naquele começo de noite do que no último mês.

— Ainda está assim, meu filho? — A senhora Do entrou no cômodo sem se anunciar e, quando deu de cara com o garoto ainda usando apenas a calça social, balançou negativamente a cabeça. Ele precisava terminar de se arrumar em, no máximo, meia hora. — O que está procurando?

— As meias — disse, abrindo até as gavetas da sua mesinha de cabeceira para verificar —, não acho em lugar nenhum.

— Ah, sim. — A mulher murmurou, indo ao closet alheio e saindo de lá poucos segundos depois, já com o par de meias sociais pretas em mãos. — Aqui. — Ela entregou-o e Kyungsoo agiu como se tivesse acabado de presenciar um passe de mágica; jurava ter catado a peça em cada centímetro daquele quarto.

Ele se sentou na beirada da cama e calçou as meias rapidamente. Quando levantou, pegou a blusa social branca, antes bem estendida, para que o trabalho de sua mão ao engomá-la não fosse estragado, e vestiu-a. Daniel abotoou a maioria dos botões e logo sua mãe aproximou-se para ajudá-lo. Com o auxílio dela, arrumou a blusa por dentro da calça e deu um jeito nas mangas, cujo final ficou ajustado perfeitamente em seus pulsos. E, sem demora, colocou o colete por cima da blusa e ficou paradinho esperando a mulher passar a gravata borboleta em volta do seu pescoço. 

O smoking slim azul marinho delineou perfeitamente seu corpo e, apesar de ter relutado antes de comprá-lo, por preferir um preto qualquer, agora achava até que a cor tinha lhe caído bem. De alguma forma estranha, o tecido combinava até com o seu penteado, o topete lateralizado não muito alto, fixado com um pouco do spray para cabelo de sua mãe.     — Meu homenzinho está lindo. — Sua mãe fungou e deu um sorriso emocionado. Ela não mentiu. Daniel sequer tinha terminado de se arrumar e já parecia como um famoso em um tapete vermelho, sua beleza simples sendo de encher os olhos (de lágrimas, no caso da senhora Do).

Mãe… — Kyungsoo não queria ficar constrangido. Ser chamado de “homenzinho” era um pouco demais.

— Tá bom, eu não vou chorar. — Quando ela afirmou, as mãos erguidas em rendição, ele riu fraco. — Faltam só uns detalhes, vamos lá…!

Embora Daniel não visse necessidade, foi induzido a usar um par de abotoaduras prateadas, que com certeza a mulher tinha tirado da coleção do senhor Do, e um relógio também prateado que pesava mais do que seu celular. Também foi convencido a usar um pouquinho de maquiagem. Ele nem tinha percebido que sua mãe carregava uma bolsinha consigo, de onde foi tirando os itens que ele mentalmente chamou de apetrechos.

Sentado na cadeira da sua escrivaninha, olhando para cima como ela mandou, recebeu umas batidinhas de corretivo abaixo dos olhos para disfarçar suas olheiras, pinceladas de sombra marrom rente aos cílios e abaixo da linha d’água e uma gotinha de lip tint para dar cor aos seus lábios. A mulher o liberou tão brevemente que ele não soube como aquilo surtiria algum efeito. Porém, ao voltar a olhar seu reflexo no espelho, ficou pasmo. Parecia mais um truque de mágica.

— Acho que eu posso ser modelo, mãe — brincou, pousando feito os caras de propaganda de perfume. — E a senhora pode ser minha maquiadora. O que acha?

Ambos riram. Kyungsoo estava tão leve e satisfeito que “bom-humor” não parecia o suficiente para descrevê-lo nesse momento. Era como se não houvesse nenhum problema na sua vida, ou como se nada além das próximas horas lhe importasse. Além disso, precisava assumir que era gostoso dividir um tempo com sua mãe, livre de qualquer assunto chato — isso, é claro, caso resolvesse se esquecer do fato de estar concorrendo a rei apenas para atender um desejo dela.  

— É… eu e seu pai fizemos um bom trabalho. — Ela vangloriou-se, dando tapinhas na própria face.

— Acabou? — Ele perguntou feito um garotinho.

— Perfume!

E, depois que ela borrifou nele todo a fragrância mais cara que encontrou nas coisas do marido, finalmente o considerou pronto. Quase sincronizado ao fim daquilo, ouviram a campainha tocar. Então, Kyungsoo guardou o celular no bolso e pegou Wall II pela alça da capa de courino, segurando-o de forma que não amassasse seu smoking.           

O garoto e a mulher desceram as escadas apressados, ela trazendo Dory dorminhoca nos braços. Enquanto a senhora Do soltou a cadela no chão e foi abrir a porta, Daniel apoiou-se no sofá para encaixar os sapatos sociais nos pés.

— Joshua, querido, você está me esmagando. — Kyungsoo endireitou-se e olhou para a entrada da sua casa, onde Joshua tinha puxado sua mãe para um abraço. A diferença de altura entre eles chegava a ser engraçada. — Olha, cuide do Daniel, ouviu? Nada de beber, fumar ou…

— Mãe! — exclamou Kyungsoo, aproximando-se dos dois. — Já vou. — Inclinou-se para dar um beijo da testa da mulher, que gritou pelo senhor Do.

— Vocês vão sair sem tirar nenhuma foto? — O patriarca veio sabe-se lá de qual cômodo da casa, carregando uma câmera de última geração nas mãos. — Ainda não aprendi a usar esse troço direito, mas digam “x”.

O Do ia protestar, dizendo que não seria legal tirar fotos com apenas eles dois, mas Joshua puxou-o para perto e ofereceu um sorriso largo à câmera. Depois do flash os cegá-los quase cinco vezes — o total de tentativas necessárias até que o senhor Do tirasse uma imagem decente —, Kyungsoo despediu-se dos seus pais e rumou em direção ao carro de seu amigo.

Havia ficado muito feliz por nenhum membro do Clube dos 5 1 insistir em alugar uma limusine, até porque achava que seria um pouquinho pagação de mico; Daniel era complexado com umas coisas nada a ver. Ao invés de um carro de luxo, então, ele e seus amigos resolveram usar os veículos dos motoristas que nunca os deixaram na mão, Joshua e Elizabeth.

— Joshua, cuide dele! — A senhora Do insistiu, aumentando a voz para que ele pudesse ouvi-la.

— Pode deixar, tia! — Ele garantiu, já acomodando-se no banco do motorista. — Olha, eu preciso dizer uma coisa. — Voltou-se para o menor, que botou o violão no banco de trás e colocou o cinto de segurança. Kyungsoo murmurou simplista, permitindo que ele prosseguisse. — Você está um gatão! Miau! — Joshua elogiou-o e deu partida no veículo. — É sério, o Kai vai passar mal quando te ver assim.

A menção ao nome alheio fez o estômago de Daniel revirar em ansiedade. Queria ver como o Kim estaria naquela noite, mesmo que não soubesse se aguentaria o baque.

— Bestão. — O Do fez pouco das palavras alheias, apenas para disfarçar sua vergonha. — Você também está… — pausou para buscar um adjetivo — bonito. — Achou que essa palavra resumia a aparência de Joshua agora.

Por baixo do paletó preto, ele trajava uma blusa social cinza cintilante, quase prateada, que havia escolhido propositalmente para combinar com o vestido de Catherine. Os três primeiros botões da blusa estavam abertos, mostrando o colar que ele sustentava no pescoço, uma corrente bonita com uma pedraria bem trabalhada como pingente — pedraria essa que combinada com a pulseira e os anéis que ornavam seu pulso e dedos. Seus cabelos cheios haviam sido cortados em um undercut mais cedo naquele dia, e alguns fios foram penteados para que caíssem na sua testa da forma mais natural possível. Joshua, então, assemelhava-se àqueles caras que saem em revistas de fofoca sobre o título “Os Dez CEOs mais jovens do mundo” e, assim que concluiu isso, Kyungsoo riu um pouco.   

— Bonito? — O maior indagou, com uma sobrancelha levantada. Ele riu soprado e, atento à pista, afirmou: — Eu estou lindo! Potencialmente o cara mais lindo de NewFort! — Bateu a mão no volante, sem força, para enfatizar sua convicção sobre isso.

— Que seja. — Kyungsoo riu e concordou. 

Eles ficaram em silêncio até chegarem na casa de Catherine, o que não demorou mais que cinco minutos. Joshua parou o veículo e tirou uma caixinha preta do porta-luvas antes dos dois descerem do carro.

— Você primeiro. — O menor anunciou, gesticulando com as mãos para que o nadador passasse na sua frente. Não queria atrapalhar aquele momento do casal. 

E Joshua, sem um pingo de vergonha, caminhou até a porta e tocou a campainha duas vezes. Ele quase deu um grito quando a líder de torcida surgiu diante de si, ela estava estonteante.

— Uau! — Joshua exclamou, um pouco traumatizado. Tinha se preparado para não fazer um escândalo quando a visse, mas todo o autocontrole que reuniu se esvaziou quando Catherine abriu um sorriso tímido. — Acho que meu coração saiu do lugar. — Ele murmurou, desesperado, colocando a mão no lado esquerdo do peito e forçando uma careta de dor. — Você está… uau! — Joshua meneou a cabeça, os olhos pestanejando mais a cada vez que a encarava, esquecendo todos os elogios do seu vocabulário.

— Eu quem deveria dizer uau… — Cath subiu e desceu o olhar para o namorado algumas vezes, e seu sorriso bobo foi se alargando conforme prestava atenção em mais um novo detalhe. — Você é o peixinho mais lindo do mundo, sabia? — Ela fez um biquinho e uma vozinha esganiçada. Voz essa que fez Joshua encolher os ombros, a autoestima amaciada e beirando a porta do céu. — A irmã mais velha de Catherine, que estava logo atrás da garota, contentou-se em admirar a cena com uma expressão orgulhosa no rosto. — E, olha só, meu rei também está um espetáculo! — A líder de torcida deu um passo para o lado para poder ver Kyungsoo, antes que ele se entediasse. — O que achou da sua rainha, Dan? — Ela deu uma rodadinha para que ele pudesse vê-la melhor.

Catherine usava um vestido ombro a ombro prateado, um estilo sereia que delineava  bem todas as curvas do seu corpo. Seus cabelos loiros estavam presos em um chique coque baixo e lateralizado, o que permitia que os brincos e o colar que usava fossem vistos de longe.

— Você está linda, Cathezinha! — Kyungsoo se aproximou, cumprimentando silenciosamente a irmã dela. O Do logo pegou a caixa preta e enfeitada das mãos de Joshua, que ainda parecia petrificado, e tirou de dentro um corsage prata. Com cuidado, prendeu o corsage no braço direito da garota, que estendeu o membro para poder olhar o acessório em todos os ângulos. — Vamos? — Quando Daniel propôs, Joshua saiu do transe e ajeitou-se para que Catherine pudesse se apoiar em seu antebraço.

— Tenham juízo! — Antes de saírem, ouviram a irmã de Catherine pedir. Joshua sorriu para ela em resposta. 

Eles andaram de volta até o carro, agora a garota ocupando o banco da frente e Kyungsoo fazendo companhia a Wall II no banco de trás. A líder de torcida ligou o rádio do carro e começou a cantarolar um dos sucessos das paradas, acompanhada pelo nadador nada afinado. Kyungsoo, expectando-os como se fosse um mero intruso pelo tempo que se seguiu até estacionarem em NewFort, sentiu certo nervosismo tomar conta de seu corpo, uma sensação quase agoniante de “a noite está só começando” com “será que já é hora de ir para casa?”.

Havia muito o que acontecer naquele baile. Daniel estava preocupado com uma série de coisas. Queria saber se tudo do evento que ele, Kai e os demais membros do comitê organizaram por tanto tempo sairia dentro dos conformes. Além disso, o fato dele estar prestes a se apresentar para um público considerável o impossibilitava de relaxar completamente e curtir a noite. Porém, àquela altura, não tinha nada que pudesse fazer a respeito dessas coisas; precisava deixar as coisas rolarem — pedindo aos seres superiores para que soubesse lidar com qualquer imprevisto que aparecesse.

 

 

O tema mais votado pelo comitê do baile havia sido “No Fundo do Mar”, o que, muito provavelmente, já dava aos membros daquele ano um lugar privilegiado no Top3 de piores temas para baile. Kyungsoo confessava que preferia reciclar os famosos de papelão usados em “Hollywood”, tema do ano anterior, ao invés de se imaginar pendurando pedaços de papel crepom verde para simular algas. Contudo, quando pôs os pés na quadra, esqueceu todas as dúvidas que tinha em relação a como ficaria o espaço pronto, com todos os elementos nos quais gastaram uma fortuna.

A entrada era um curto túnel delimitado com tecido azul escuro e alguns balões brilhosos com caldas transparentes, em formato de águas-vivas, e uma série de outros elementos que remetiam ao fundo do mar, inclusive algumas referências a navios naufragados, como uma velha âncora e sua corrente, que se enroscava no letreiro onde havia escrito o tema do baile, e réplicas de madeira de embarcações.

Quando avançaram, chegando em frente ao painel principal, foi como se tivessem se teletransportado para um salão de festas chiquérrimo. Tudo estava tão impecável que Catherine soltou o braço de Joshua e de Daniel para dar uma rodadinha e ter uma visão mais completa do lugar — e eles nem tinham visto tudo ainda.

Todo o espaço havia sido delimitado com tecidos e painéis de madeira, de um jeito que era impossível ver as arquibancadas. A iluminação era em tons de azul e roxo, devido às faixas de tecido acetinado penduradas por todo o local, em diversos tons dessas cores, que continham alguns cordões de pisca-piscas enroscados, dando um efeito bonito para se admirar ao longe.

— Hora da foto! — Collin se aproximou dos recém-chegados com uma câmera profissional nas mãos. Kyungsoo tinha ouvido Charlie contar que ele era membro do Clube de Fotografia, então não ficou surpreso de ele ter ficado responsável por tirar as fotos dos alunos.

— Oi, Collin. — O Do cumprimentou-o. — Gravata legal — comentou. O garoto usava uma gravata chamativa, vermelha com peixinhos amarelos espalhados, disposta em volta do seu pescoço sem um nó.

— Obrigado. — Collin agradeceu, fazendo um “L” com os dedos e crispando os lábios.

— Gostou? Eu ajudei a escolher. — Charlie surgiu por trás do fotógrafo, abraçando-o e dando um beijo na bochecha dele, que inclinou o rosto para receber melhor o carinho.

— Awn! — Kyungsoo não conseguiu segurar sua admiração com o casal. Nunca se pegou shippando alguém como fazia com eles dois (excluindo, é claro, ele próprio com o pivô, que era o casal protagonista de suas fantasias amorosas). — Te desejo forças pra aguentar o canto dessa sereia, Collin — falou apenas para implicar com a garota, que revirou os olhos e riu soprado.

Charlie tinha alguns cachos bem modelados nas pontas dos cabelos castanhos, que estavam completamente soltos. Usava um vestido dourado, cintilante e repleto de pedrarias, justo até a altura das coxas, quando abria-se em uma saia rodada.

— Fazer o que, né? Ela já me seduziu. — Collin aproveitou a situação para cantar a garota. Ela gostou do que ouviu e, então, deu um olhar divertido para o Do.

— Viu só? Só quem não enxerga meus encantos é você — afirmou ela, aproximando-se de Daniel e levando as mãos até sua gravata borboleta. — Deixa o violão ali no cantinho enquanto a gente tira as fotos.

Kyungsoo assentiu e se afastou para deixar Wall II apoiado em uma tridente de decoração, bem ao lado de uns balões águas-vivas.

— Todo mundo já chegou? — Joshua perguntou à Charlie. Como “todo mundo” ele quis dizer todos os membros do Clube do 5 1 que, óbvio, deveriam tirar fotos juntos.

— Quando eu cheguei, a Betty e o Pietro já estavam aqui — respondeu Charlie. — Vou pedir pra eles virem pra cá. — E tirou o celular da pequena bolsa que carregava, digitando rapidamente uma mensagem.

Assim que os outros dois apareceram, a sessão de fotos particular dos amigos começou. Eles testaram todas as combinações possíveis, praticamente. Kyungsoo e Catherine foram primeiro, depois Joshua e a líder de torcida. Na sequência, todos os seis, que foram mudando as poses conforme sentiam necessidade. Fizeram uns registros sérios e formais, outros mais descontraídos, com direito aos três meninos colarem as garotas no colo; Kyungsoo com Charlie, Joshua com Cath e Pietro com Betty.

— Já chega, né? — Elizabeth reclamou. Ela não estava acostumada a sorrir tanto para câmeras, preferia mil vezes não ser o centro das atenções. Então, posar na frente dos demais alunos, que os observavam como se fossem peixes em um aquário, era um pouco desconfortável.

— Só mais uma. — Pietro segurou a mão de Betty e pediu para que Collin tirasse uma foto só deles dois.  

O italiano havia optado por usar uma blusa de tecido fino e estampada, com um blazer de um tom bege quase branco, do mesmo tom da calça de linho que trajava, sobre os ombros. Para deixar seu visual ainda mais sofisticado — ele parecia ter saído de uma série adolescente, daquelas em que os atores têm vinte e poucos anos e só vestem grifes —, havia uma gargantilha dourada em seu pescoço. Enquanto isso, ao lado de Pietro, Elizabeth posava com um vestido que ela mesmo costurou, um modelo verde água, combinando perfeitamente com seus cabelos ruivos e cacheados, que estavam meio presos na frente. Seu vestido era colado até a cintura, quando um fina linha de pérolas dava início a uma saia pouco volumosa, com um bonito véu cheio de pequenas pedrarias. 

— Vai você, Collin. — Kyungsoo foi até o fotógrafo e tomou a liberdade de tirar a câmera das mãos dele, apontando com o queixo para que ele fosse tirar uma foto com Charlie.  

— Mais uma. — Charlie pediu após o flash cegá-la mais uma vez. — Outra. — Daniel atendeu seu pedido prontamente, manuseando a câmera intuitivamente. — A última. — A garota fez Collin passar os braços ao redor da sua cintura e os dois sorriram largo. 

— Agora é a nossa vez. — Kyungsoo congelou quando alguém falou ao pé do seu ouvido, ao mesmo tempo que duas mãos grandes o enlaçaram pela cintura, assim como estava o casal à sua frente. Sentindo seu coração bater no pescoço, o Do abaixou a câmera e virou um pouquinho o rosto, dando de cara com a pessoa que mais queria ver naquela noite. — Vamos? — Jongin perguntou, com um sorriso espontâneo desenhado nos lábios.

Daniel, nesse momento, acreditou estar morto, fazendo check-in no paraíso com um recepcionista bonitão. O Kim se afastou, ficando à sua frente, logo Kyungsoo pôde olhá-lo por completo, e sua situação só piorou. Foi como se todas as palavras sumissem da ponta da sua língua, de repente só sabia babar e babar mais.

Jongin trajava um terno preto, sem blusa social por dentro, não muito diferente daqueles tradicionais. Parte do seu torso estava exposta no corte em V do terno, possibilitando uma boa visão dos strass brilhantes, prateados e dourados, colados da lateral esquerda do seu rosto, onde adornavam a sua cicatriz, até seu peitoral. Seus cabelos longos estavam penteados para trás e com um aspecto molhado, provavelmente cheio de gel, e apenas dois fios mais curtos caíam na sua testa. Além da trilha de adesivos, havia um pouco de glitter prata espalhado na pele alheia, junto a um iluminador dourado.  

— Você está lindo, sabia? — O pivô perguntou retoricamente, com as mãos ainda na cintura de Kyungsoo enquanto os olhos curiosos dos alunos recém-chegados os engoliam vivo. O elogio dançou nos ouvidos do menor, que suspirou leve e sorriu fino, ainda sem conseguir externar nada. — Vamos?

Daniel confirmou com um menear de cabeça e eles foram para a frente do painel. Entre os flashes, o Do sentiu na pele seu momento de protagonismo. Eles tiraram mais de uma foto lado a lado, Kyungsoo sorrindo tímido na maioria delas. E, aos poucos, Jongin foi chegando mais perto do menor, até passar um braço por cima dos ombros alheios e, por fim, arrancá-lo um sorriso mais sincero. Porém, foi quando o pivô abraçou Daniel lateralmente que os alunos ficaram surpresos, incluindo alguns membros do Clube dos 5 1. Pietro, Elizabeth e Charlie ainda não sabiam os detalhes daquilo que rolava entre ele e o Kim. 

Enquanto Collin os registrava, o Do permitiu suas memórias voltarem à tona, toda a bagunça de sentimentos que o confundia antes; sentir raiva de Jongin e ser apaixonado por ele ao mesmo tempo era exaustivo. Ao mesmo tempo, foi toda essa bagunça que os trouxeram até aquele dia, onde podiam confortavelmente pousar um ao lado do outro e sorrir, com dezenas de testemunhas ao redor — testemunhas essas que estavam meio confusas com o que presenciavam, mas isso não importava.

— Você também está lindo. — Quando finalmente cansaram de ser fotografados e deram a vez aos próximos alunos, Kyungsoo afirmou para Jongin.

Sem demora, foram até a lateral da entrada, para perto de Joshua e Catherine, e o menor abaixou-se para pegar seu violão.

— Gostou mesmo? — Jongin inclinou o pescoço e, bem de pertinho, Daniel pôde ver que haviam algumas estrelas coladas junto aos strass. — Eu achei um pouco... ousado, mas a Yumi insistiu que ficaria legal.

— E ficou — confirmou o Do, levando o dedo indicador até uma das estrelas na têmpora esquerda do pivô. — Depois eu posso dar um beijinho em cada estrela dessas?

Jongin parou de respirar por uns segundos quando ouviu a pergunta, fogos de artifício estourando na boca de seu estômago.

— É claro que pode — o maior colou suas testas —, mais tarde — completou melodiosamente antes de se afastar. — Vou tirar foto com a Yumi agora, ok?

— Ok. — Daniel assentiu, dando um rápido aceno com a mão livre.

Somente então viu que a concorrente à rainha estava ali o tempo todo; as outras pessoas que o perdoassem, mas a visão de Jongin tinha tomado toda sua atenção durante os últimos minutos. Yumi estava combinando com o pivô da cabeça aos pés. Sua maquiagem era praticamente igual à maquiagem dele, com a parte direita do rosto e o início do colo decorados da mesma forma. Os cabelos longos e pretos também estavam no mesmo estilo, molhados com gel e penteados para trás, porém, nos fios dela havia um pouco glitter também. Além disso, ela usava um longo vestido branco com uma fenda que deixava boa parte da sua coxa à mostra. Devido às luzes, um efeito quase holográfico enfeitava os olhos de quem a visse se mover.

Kyungsoo quis esperar que Jongin voltasse para perto de si e eles seguissem juntos. Contudo, Steph apareceu lhe procurando, chamando-o para ajustar os instrumentos no palco, afinal o Clube de Música havia ficado responsável por tocar do início ao meio da festa. Portanto, Daniel foi com o adolescente barbudo e entrou no baile, antes parando diante da urna de votação para rei e rainha, preenchendo sua ficha de voto — marcando Jongin e Catherine, é claro — e colocando-a na urna, que era vigiada por dois alunos do comitê.  

No pequeno camarim improvisado atrás do palco de altura média que tinham alugado, o Do encontrou o professor de músicas e os demais membros do clube, alguns estavam muito animados por ter aquela oportunidade; isso fez Kyungsoo se sentir mal de só querer sumir ao invés de aproveitar seu tempo diante da escola toda. Sem demora, Daniel ajudou a organizar o necessário, inclusive a ordem das apresentações, ficando em terceiro, logo depois da banda de Trevor. Para se distrair um pouco, voltou para perto de seus amigos — apenas o Clube dos 5 1, porque Jongin e Yumi estavam ocupados perambulando de um lado para o outro —, que tinham pegado uma mesa bem no centro do local, e lá ficou até ser chamado para se preparar para seu curtíssimo show.

O momento X foi um pouco mais de um hora depois do início do baile. Trevor se despediu da plateia com uma empolgação sem igual, o que Kyungsoo considerou um pouco ruim para sua apresentação. “De punk rock a um carinha tocando violão sozinho, que maravilha…” lastimou mentalmente, já envergonhado e buscando outros motivos para justificar o que seria potencialmente a maior gafe da sua vida.

Assim que subiu no palco, Daniel deu um suspiro longo. Enquanto se acomodava no banco ali no centro, bem em frente à bateria e diante um pedestal com um microfone, diminuiu o olhar para buscar rostos conhecidos na plateia.           

— Boa noite — soprou no microfone, a voz grave seguida de um risinho ironicamente tímido. — Acho que todos vocês me conhecem, certo? — Quando disso, Kyungsoo ouviu um assobio. Foi Joshua, com certeza. — Vou me apresentar mesmo assim… sou Daniel Do, membro do Clube de Música, e é por isso que hoje vou cantar — pausou de repente —, ou tentar cantar, um pouco para vocês. Eu… — ele limpou a garganta — podia cantar qualquer coisa agora, né? E ter muitas possibilidades quase me enlouqueceu, mas… enfim. — Parou para deslizar os dedos nas cordas do violão, fazendo uma nota qualquer apenas para testar a afinação do instrumento. — Aqui vai Cool Kids, do Echosmith, uma das músicas que, com certeza, sempre vai me lembrar desses anos em NewFort.

Houve silêncio enquanto ele se apresentava, não um silêncio ruim. Todos estavam prestando atenção em sua desenvoltura, que, embora deixasse perceptível que não era acostumado com esse tipo de situação, não deixava muito a desejar. Sua voz era bonita e a forma leve com que levou a melodia, mudando-a para cantar do jeito mais certinho possível, era envolvente. Ademais, tinha uma expressão hipnotizante ao soltar cada palavra; ao mesmo tempo que era neutra, suas sobrancelhas parecendo até dançar a música, transmitia o exato sentimento de “querer pertencer a algum lugar”, mensagem principal da letra.  

A música acabou muito rápido, na concepção de Kyungsoo. Os poucos minutos pareceram segundos, tempo no qual uma onda de adrenalina o fez se sentir anestesiado, como se sua vergonha tivesse tirado uma folga. Ele recebeu os aplausos e curvou minimamente a cabeça para agradecer o apoio.

— A próxima e última música que eu vou cantar... — Quando ele começou a dizer, ouviu murmúrios chateados, alguns exagerados e outros mais moderados. — É, galera, o que é bom dura pouco! — Sentiu-se confortável para brincar. — Bem, a próxima música eu escolhi para fazer vocês me ajudarem nisso aqui, como é a minha primeira. Como aposto que todo mundo conhece a letra, peço que não tenham medo de cantar junto. Ok? — Recebeu confirmações. Aqueles mais próximos do palco, seus colegas de classe e outras pessoas que ele conhecia de vista, balançaram a cabeça, assentindo. Daniel repousou a palheta entre os lábios pelos segundos que levou para ajeitar os cabelos com as mãos (apenas por mania, não tinha um fio sequer fora do lugar), depois voltou a segurá-la entre a ponta dos dedos e anunciou: — É Perfect, do Ed Sheeran. — E começou a tocar já ao som de reações animadas daqueles que o assistiam.

A bem da verdade, Kyungsoo não tinha ensaiado direito essa música, só a escolheu tocar porque esperava que a letra conhecida por todos lhe ajudasse a quebrar o gelo. Era uma das que apresentou algumas vezes nos encontros recorrentes do clube e, ao se ver pressionado para tocar no baile, com pouquíssimo tempo para se preparar, confiou em sua boa memória para ser o suficiente naquele momento.

Tudo estava indo perfeitamente bem durante o primeiro verso. Porém, quando seus olhos cruzaram os de Jongin, que o assistia com uma concentração sem igual, Daniel resolveu se arriscar mais ainda e fazer um improviso sagaz. A letra da música era bonita, falava de um sentimento que evoluiu durante o tempo, crescendo e se desenvolvendo junto ao casal apaixonado. Em uma conclusão simples, então, achou que esse significado fosse motivo para que ele trocasse algumas palavrinhas da letra, substituindo todas as referências no feminino para para o masculino, assim fazendo daquele momento uma declaração pública a Kim Jongin. 

Cantaria exclusivamente para ele.

 

“...Porque nós éramos apenas crianças quando nos apaixonamos

Não sabíamos o que era

Eu não vou desistir de você dessa vez

Mas, querido, apenas me beije devagar

Seu coração é tudo o que eu tenho

E em seus olhos você está segurando o meu...”

 

Nem todos perceberam a mudança, porque estavam entretidos cantando a versão original da música, mas Jongin percebeu. Estava nítido na forma em como seu sorriso cresceu. Ele havia percebido e gostado, e, ao notar isso, Kyungsoo cantou com mais intensidade, deixando-se levar pelo sentimento que enchia seu peito.

 

“...Nós ainda somos crianças, mas estamos tão apaixonados

Lutando contra todas as possibilidades

Eu sei que ficaremos bem desta vez

Querido, apenas segure minha mão

Seja meu garoto, eu serei seu homem

Eu vejo meu futuro em seus olhos…”

 

Passeou entre os versos com uma segurança sem igual, como se a própria língua dançasse sozinha aquelas palavras. Foi tão tomado pela sensação libertadora que era poder fazer juz ao que nutria por Jongin que mal viu o final da música se aproximar.

Quando terminou, prolongando as últimas notas da melodia, foi muito mais aplaudido do que antes. O alvoroço foi tanto que recuperou toda sua vergonha, ao ponto das suas bochechas se avermelharem. De repente, a timidez lembrou que ele existia e o arrebatou com força, fazendo-o dar uma reverência curta e praticamente sair correndo dali.

Depois que guardou Wall II em um lugar seguro e recebeu um cumprimento orgulhoso do professor de música, ele voltou para a mesa de seus amigos, sendo parado no caminho para receber alguns elogios de colegas que gostaram da sua apresentação.

— Pensei que o Kai fosse pular em cima do palco e te tacar um beijo — comentou Joshua, assim que Kyungsoo se sentou à mesa e soltou um suspiro aliviado por aquilo ter acabado. No mesmo instante, o Do procurou pelo Kim ao seu redor. — Ele tá ali com a Yumi. — O nadador apontou o queixo para o fundo do local, onde o pivô e a garota tiravam fotos com umas amigas dela. — Ela vai alugar ele a noite inteira.

“Errada não está”, respondeu Daniel, nos seus pensamentos. Embora quisesse grudar em Jongin e não soltá-lo por nada, entendia que Yumi era a verdadeira acompanhante dele.

— Vocês deviam dar umas voltinhas por aí também. — Charlie declarou, quase em uma ordem, apontando para Kyungsoo e Catherine. — A votação acaba daqui a pouco.

— Vamos, Cath? — O Do não protestou porque, comparado ao que havia acabado de fazer, sair sorrindo e acenando era fichinha. Seria até bom para descontrair um pouco.

A líder de torcida apertou a mão de Joshua, que estava sobre sua, e levantou-se, desamarrotando o vestido prateado. Então, eles foram passear entre os demais alunos, cumprimentando seus colegas e amigos, sendo simpáticos até com os professores que estavam emburrados pelos cantos — como se seus salários não pagassem para estarem gastando o sábado à noite dentro de roupas formais e em meio a um amontoado de adolescentes.

— Boa noite, moças e rapazes. — Ninguém tinha visto a senhora Theodore subir ao palco, por isso, quando a música pausou e a voz madura da mulher tomou os ouvidos de todos, os adolescentes ficaram meio surpresos. Imediatamente, os alunos voltaram-se para o palco.

Catherine e Kyungsoo retornaram para a mesa do Clube dos 5 1, agora um pouco tensos. Já sabiam o que estava por vir.

— Declaro encerrada a votação para rei e rainha do baile de inverno, um dos eventos mais tradicionais da nossa querida NewFort High School. — Ouviram-se aplausos educados. — Chegou a hora de anunciar os vencedores! — A mulher de meia-idade, trajada em um terninho azul escuro, ergueu a mão e sacudiu o envelope para todos verem. — Antes disso, eu gostaria de agradecer ao Comitê do Baile de Inverno deste ano, responsável pela organização deste evento impecável. Crianças — sua voz tornou-se um pouco mais emotiva —, vocês fizeram um ótimo trabalho! Uma salva de palmas para todos vocês! — exclamou, abrindo os braços e dando um largo sorriso.

Os aplausos foram mais sinceros e intensos, alguns membros do comitê até se entreolharam, orgulhosos do resultado de tanto empenho e estresse.

— Bem, vamos ao resultado! — A senhora Theodore pigarreou e sinalizou para o aluno posicionado atrás de si. Era o baterista da bandinha de Trevor, que rufou os tambores à medida que ela prosseguiu com a fala. — Foi uma disputa bastante acirrada, mas tenho em mãos a contagem final de votos. — Ela sacudiu mais o envelope. Kyungsoo teve o braço laçado por Catherine, que respirou fundo e soltou o ar dos pulmões lentamente. Charlie, ali ao lado, controlava-se para não roer as unhas recém-feitas. — Começando pela rainha… — A mulher fez suspense, o som dos tambores só piorando a ansiedade dos alunos. — A rainha do baile de inverno é… — A coordenadora finalmente abriu o envelope e leu o nome, em alto e bom tom: — Catherine Hill!

Daniel olhou para a garota, que saiu de órbita por alguns segundos, os olhos grandes arregalados feito duas bolinhas de gude. Charlie sussurrou um palavrão e deu uns pulinhos, partindo para perto de Catherine. A líder de torcida rapidamente ganhou um abraço coletivo — e educado, porque ninguém queria desarrumá-la — de seus amigos.

— Vai! — Charlie deu um empurrãozinho na garota, que foi andando lentamente em direção ao palco, segurando a barra do vestido longo.

Uma das membros do comitê recebeu Catherine, ajudando-a a subir os três degraus na lateral do palco. Todos a acompanharam parar diante da senhora Theodore e de mais dois membros do comitê, estes carregando a almofada com a coroa e um buquê de flores.

— Parabéns, Catherine! — A senhora Theodore exclamou e afastou-se do pedestal com o microfone para poder cumprimentar a aluna. 

A coroa era prateada, com algumas pedrarias vistosas. Não parecia de material barato feito aqueles usados nos outros anos e, quando Catherine recebeu-a no topo da cabeça, foi como se mais valor ainda fosse agregado ao objeto. A líder de torcida sorriu bonito de cima do palco, com o volumoso buquê de flores em suas mãos.

— É hora de saber quem será o rei da senhorita Hill! — A coordenadora estava bem empolgada com aquilo. Nesse momento, Kyungsoo ficou mais nervoso com a possibilidade de ganhar e ter que subir ao palco novamente do que qualquer outra coisa. Porém, tentou se tranquilizar um pouco; confiava na análise estatística rápida que fez, tinha quase certeza do que iria acontecer. — Repito: essa votação foi bastante acirrada. Com uma diferença minúscula do segundo lugar, o rei do baile de inverno é… — Novamente, os tambores rufaram. — Kim Kai!

Quando ouviu o nome do pivô, Kyungsoo vibrou como se tivesse ouvido o seu próprio. Jongin foi ovacionado por todos, principalmente pelos caras do time de basquete, como Brian e Nathan, que só faltaram o levar até o palco no colo. Quando o Kim passou por Daniel, lançou-lhe um sorriso singelo, um mudo “quero comemorar com você depois”.

Pouco tempo depois, Jongin e Catherine posaram juntos para uma série de fotos que Collin foi incumbido de tirar. Devido ao tema do baile, o pivô foi presenteado com um tridente que combinava com sua coroa, objeto esse que ele ergueu ao diversificar a pose das fotos. O casal de amigos, o rei e a rainha, estavam estonteantes juntos, tão bonitos que era de encher os olhos de qualquer um que os assistia felizes com o título.

— Acho que vou pedir ela em namoro hoje. — Kyungsoo assustou-se quando Joshua o puxou para um abraço e segredou. Ele olhava para Catherine com um sentimento quase palpável e falou sério. — O que acha?  É um bom dia?

— Acho que ela já está esperando por isso faz tempo. — O Do foi sincero. — E, quando a gente quer muito que uma coisa aconteça, o dia é só um detalhe.

Joshua arqueou as sobrancelhas, curioso com o que ouviu sair da boca de Daniel. Se ao menos ele soubesse…

— Está decidido! — Joshua decretou, passando as mãos na sua barba inexistente e puxando a barra do paletó.

Kyungsoo riu fraco, feliz pelos seus amigos. Feliz por todas as suas preocupações daquela noite terem se esfarelado e sumido. Feliz por seu coração estar leve. Queria que essa felicidade se prolongasse tanto quanto fosse possível, ou pelo menos que sempre se lembrasse dela.

 

 

Kyungsoo olhou ao redor e viu que todos do Clube dos 5 1 estavam acompanhados e se divertindo. Joshua e Catherine dançavam coladinhos, cochichando coisas um no ouvido do outro, rindo às vezes. Não muito diferente deles, estavam Charlie e Collin — esse que o Do já considerava um agregado de seu grupinho. Collin, o garoto ruivo, havia largado a câmera há poucos minutos e agora segurava nas mãos apenas a cintura de Charlie, e eles balançavam de um lado para outro de forma desengonçada, sem parecer se importarem muito em seguir o ritmo da música lenta que tocava. Para acabar de completar, Elizabeth e Pietro divertiam-se em um trio com Lucy, a garota do Clube de Teatro com quem ela estava tendo um rolo.

Embora todos interagissem com Daniel vez ou outra, ele não conseguiu evitar se sentir um pouco sozinho. E, procurando não aprofundar esse sentimento, buscou se entreter com suas idas até a mesa de aperitivos, onde aproveitou para provar cada tipo de salgadinhos e doces, também passando para dentro alguns copos de ponche de frutas.

De boca cheia novamente, Kyungsoo observou do cantinho a pequena e elétrica multidão. Não havendo mais atividades no palco, a música que tocava alto era da playlist de algum membro do comitê, que oscilava em um pop mais dançante à músicas mais lentas em questão de minutos, criando uma atmosfera bem interessante; ora estavam dançando grudadinhos, ora pulavam frenéticos, como se estivessem em uma espécie de rave para menores. Isso não excluía Yumi e Jongin, que ainda curtiam o baile como acompanhantes, agora perto de Cath e Joshua. Eles ocupavam o centro do local e das atenções, alguns até os parando para pedir uma foto com o rei e a rainha do baile.    

Daniel acompanhou isso orgulhoso de sua amiga e do seu… mais-que-amigo. Enquanto entornava mais ponche, seu corpo movendo minimamente no ritmo da música, Kyungsoo era alcançado pelos olhares furtivos de Kai com uma frequência intimidadora. 

— Acho que cansei. — O Do ficou na ponta dos pés para alcançar o ouvido de Joshua. Já era quase meia-noite e seus pés começavam a reclamar no sapato social. Aos poucos, o clima da festa mudava. Embora ainda tivesse uma quantidade considerável de alunos exalando energia, alguns estavam sentados, conversando com seus amigos e tirando mais fotos para registrar aquele evento. — Vou pra casa daqui um tempinho, certo? Mas não precisa se preocupar, eu posso chamar um táxi ou até pedir pro meu pai vir me buscar.           

— Você tem mesmo dezessete anos? — Joshua argumentou, batendo o dedo indicador no relógio alheio, como se fosse um crime ele querer ir embora tão relativamente cedo.

— Quase dezoito — rebateu Kyungsoo, dando um sorriso fino. — É sério, viu? — Resolveu confirmar porque sabia que existia a chance de Joshua insistir em lhe levar, mas não queria dar fim à festa de ninguém. 

— Ok, tudo bem — falou o nadador, alisando a parte superior das costas de Daniel. — Você deve estar cansado pra caralho, né? — Daniel sacudiu a cabeça, assentindo. — Eu acho que a Catherine não vai querer ficar muito tempo também. Avisa quando quiser ir embora, daí eu falo com ela e vemos se vamos todos juntos, beleza?  

— Beleza — concluiu o Do.

Ele mudou o copo de plástico azul cheio pela metade de ponche de mão e foi passar seus últimos minutos na festa ao lado de Elizabeth, Pietro e Lucy.

— E aí, gatinho — Betty puxou-o pelos ombros, fazendo-o dançar com mais coragem —, está solteiro? — Ela brincou e ambos riram. — Você está um pitelzinho com esse smoking! Se um dia eu fizer alguma coleção de roupas sociais, vou te chamar pra ser meu modelo! Você e o seu bonitão ali. — A estilista apontou discretamente para Jongin, que posava para uma selfie com Nathan e Brian. — Depois diga para ele que eu amei a roupa dele.

— Sim, Kai está um… — Lucy chegou mais perto dos dois, passando os braços pelos ombros de Kyungsoo e Betty. Ela pausou a fala para pensar em um elogio cabível e, por fim, soltou: — Um tritão! 

Kyungsoo gargalhou alto.

— Pode deixar, eu falo pra ele — assegurou, certo de que o Kim adoraria escutar os elogios.

— Que fofoca estou perdendo? — Pietro se aproximou com a pergunta ao ouvir a risada de Daniel.

Então, os quatro começaram a conversar, o assunto sendo as roupas que as pessoas ao redor usavam, sem comentários ácidos ou algo do tipo, só falavam se o que havia para sair de suas bocas fossem elogios. Esse momento descontraído serviu para que Daniel ficasse feliz por um novo motivo: Pietro não tinha se afastado. Apesar de ainda haver um clima estranho entre eles, afinal mal fazia dois dias do acontecido no estacionamento da escola, a postura do italiano não era evasiva. Talvez eles pudessem continuar a ser amigos próximos, pensou Kyungsoo, preocupado, com certeza, em como Pietro se sentia ao final de tudo.

— Já vou! — Quando exclamou alto, para que sua voz se sobressaísse à música, seus amigos fizeram uma rodinha ao seu redor, e Daniel foi se despedindo de um por um, junto à Catherine e Joshua, que anunciaram que também já iam embora.

— Tchau, meu amor. — Charlie o envolveu em um abraço apertado. Ela ficava estritamente emotiva em situações assim, Kyungsoo sabia, por isso retribui o gesto na mesma intensidade.

— Você e Collin são muito bonitinhos juntos, sabia? — Ele sussurrou para a garota, antes de soltá-la. Em resposta, recebeu um tapinha no ombro. Charlie era muito envergonhada com qualquer coisa relacionada ao garoto ruivo com o qual implicou à distância por tanto tempo.

Ao terminar de se despedir de todos, Kyungsoo buscou por Jongin, que antes estava ali perto, mas não o encontrou. Viu apenas Yumi com outras garotas e resolveu não se aproximar para perguntar do paradeiro do pivô. De qualquer jeito, o seu não querer dar fim ao baile de ninguém também servia para o Kim. Tinha medo que ele quisesse ir para casa também — apesar de, lá no fundo, ansiar pela companhia do maior.  

 

“já estou indo”

“a gente se encontra depois, ok? :)”

“quero um pouco do tempo da vossa majestade”

"<3"

 

Enviou as mensagens para o pivô e guardou o celular no bolso da calça social. Depois que pegou Wall II no camarim improvisado, conferindo se o instrumento estava intacto apenas por mania e trauma, não demorou a voltar a ocupar o banco de trás do carro de Joshua.

Kyungsoo se permitiu ficar um pouquinho melancólico. Sim, estava tudo bem, mas ele sentia que poderia ficar melhor se estivesse com Jongin, quem sabe de mãos dadas, assim como Joshua e Catherine, cujos dedos se entrelaçavam em cima da alavanca de câmbio do veículo. Ficou tão absorto nesse pensamento, que resolveu denominar de “saudade de ficar de chameguinho”, que não percebeu que Joshua havia alterado a rota — demorando para questionar porque já estavam a mais tempo que o normal em movimento.

— Ei, para onde estamos indo? — Sua voz saiu um pouco baixa. Ele quase cochilava completamente relaxado no banco do carro, com o violão balançando ao seu lado.

— Para a minha casa. — O nadador disse simplista, como se isso já fosse um fato conhecido de Daniel.

— Por quê? — indagou, confuso. Endireitou-se no banco para observar melhor o caminho pela janela.

— A gente num tinha combinado de ir para lá? — Foi Catherine quem respondeu, com uma pergunta que só serviu para que Daniel franzisse mais o cenho.

— E foi? — questionou, sem lembrar do que a líder de torcida alegou.

— Foi… — A loira afirmou, desta vez parecendo um pouco incerta. — A Cath, a Betty e o Pietro vêm mais tarde. Vamos madrugar na casa do Joshua.

— Quando decidimos isso? — Kyungsoo se incluiu na decisão porque, como nunca acompanhava direito as mensagens do grupo do Clube dos 5 1, seu voto era café com leite, a não ser quando ele se manifestava, o que acontecia com certa raridade.

— Semana passada — murmurou Joshua, já manobrando o carro e parando-o diante da entrada da garagem da sua casa.

— Tudo bem… — O Do não reclamou, ainda que já estivesse sonhando com tomar um bom banho, sair daquela roupa desconfortável e dormir até o almoço de domingo. Jamais estragaria o rolê dos seus amigos, principalmente em uma data tão significativa (não podia esquecer que estava no último ano do ensino médio, logo logo seria muito difícil eles se reunirem assim).

 Kyungsoo deixou Wall II deitado no banco de trás. Os três saíram do veículo, que ficou ao léu em frente à casa do nadador, e entraram pela porta da frente.

— Meus pais estão na casa dos meus avós. — Joshua sentiu a necessidade de explicar, como se isso desse um aval para que Daniel ficasse mais despreocupado e à vontade; isso porque Catherine já era praticamente de casa, visitava-o constantemente, ao ponto de conseguir abrir a geladeira e tirar o que quisesse de dentro.

— Eu vou ao banheiro — anunciou a líder de torcida, já livrando dos saltos e saindo descalça da sala de estar adentro.

— Vem, vamos para a garagem. — Joshua ficou atrás de Kyungsoo e apoiou os braços nas costas alheias, direcionando-o até a lateral da sua casa, certo mistério já expresso em sua voz.  

— Por que para a garagem? — Daniel seguiu o amigo, mas não deixou de perguntar.

— Você vai ver. — Quando Joshua finalmente disse, eles já estavam parados diante da porta de madeira tingida de bege claro.

Então, o nadador abriu a porta e gesticulou com as mãos para que o menor entrasse primeiro. Kyungsoo hesitou, porque o local estava completamente escuro, mas deu dois passos antes de se voltar para Joshua, que permaneceu parado diante da soleira e lhe deu um sorriso arteiro.

— Joshua? — O Do murmurou o nome alheio e diminuiu o olhar para encará-lo. — O que você tá aprontando? — Assim que externou sua desconfiança, Daniel viu o nadador lhe oferecer uma risadinha e, então, fechar a porta, deixando-o no breu. — Joshua? Joshua! — chamou pelo amigo e não obteve resposta alguma. Foi até a porta e tentou girar o trinco, sem sucesso, logo desferiu alguns tapas na madeira. — Eu não tô pra brincadeira, viu? — alertou, a mão tateando a parede em busca do interruptor, que não fazia a mínima ideia de onde ficava. Já estava ficando irritado e com medo; que Kyungsoo passava longe de ser um poço de coragem todo mundo sabia. — Ôh, Joshua! Por favor! — exclamou alto, com a voz quase chorosa. Não estava vendo (literalmente) graça nenhuma naquela palhaçada. 

— É melhor você parar de gritar antes que os vizinhos chamem a polícia. — Alguém murmurou ao lado de Kyungsoo e, assim que ele ouviu tais palavras, seu corpo congelou, um grito suprimido na garganta. Quase ficou à beira de um ataque cardíaco e, com seu aguçado instinto de defesa, não demorou a recordar das poucas orações que conhecia, já considerando começar a ditá-las em alto e bom som.

— Quem tá aí? — Daniel perguntou ao vento e esticou os braços à frente do corpo. A essa altura, considerava-se o personagem burro dos filmes de terror. O que estava pensando para fazer aquilo? Puxaria um fantasma para um abraço ou, pior, trombaria de cara com um assassino? — Joshua! — Voltou a dizer o nome do amigo, na esperança que ele lhe tirasse dali o mais rápido possível. Será que o nadador sabia que havia alguém/algo na sua garagem? Ele sabia que sua garagem ou era mal assombrada ou era abrigo de um parasita?

— O que você quer com o Joshua?

— Que ele me salve — choramingou. Daniel só segredou isso à voz misteriosa porque achou que fossem seus últimos minutos de vida.

Todo o desespero do seu coração chegou ao pico quando sentiu seus braços alcançarem um corpo. Kyungsoo engoliu seco, tentando se concentrar no que exatamente seus dedos tateavam, sentindo uma gola tomar forma e, pouco mais no centro, um peitoral desnudo. Ao aguçar seus outros sentidos, o Do fechou os olhos — mesmo que isso não fizesse o menor sentido diante daquela situação — e respirou fundo.

E foi quando o perfume da pessoa à sua frente alcançou suas narinas que ele sentiu sua boca secar. Não podia ser, podia? Se fosse ele, com certeza Daniel teria reconhecido sua voz, não é? Ou o medo havia confundido seus ouvidos.

— Jongin? — Kyungsoo resolveu arriscar o chute, soltando o nome alheio receoso como quem conta um segredo.

— Soo... — A voz ecoou nos ouvidos do menor outra vez e o Do teve certeza que era ele.

Jongin não viu, mas um sorriso bonito abriu-se nos lábios do menor, que o segurou pelo pescoço e o puxou para mais perto.

— O que você tá fazendo aqui? — Daniel perguntou baixinho, seu corpo ainda se recuperando do susto.

— Você ainda gosta de surpresas? — O Kim respondeu com outra pergunta, as mãos repousadas nos braços do outro.

— Depende. — Kyungsoo riu fraco e concluiu.

— Eu espero que você goste dessa. — Ao anunciar, Jongin afastou-se de Daniel, que ficou confuso e rolando os olhos ao redor, na relés tentativa de enxergar alguma coisa.

Para finalizar o suspense, o pivô acendeu as luzes da garagem e voltou para junto do menor, abraçando-o por trás.

Surpresa! — Jongin exclamou em um sussurro, rente ao ouvido alheio.

Kyungsoo deixou o queixo cair, pensando que seus olhos estavam mentindo para si. O ambiente inteiro estava iluminado por pisca-piscas coloridos e as paredes estavam decoradas com itens que, um a um, foi reconhecendo por fazerem parte da sua história com Jongin. Havia um pôster do Kovu pendurado e riscado, com a cicatriz tingida de canetinha verde neon, para ganhar certo destaque. Não muito longe desse, estavam pôsteres de Procurando Nemo e Toy Story, as animações preferidas dos dois.

E havia muito mais. Jongin foi girando com Kyungsoo, as mãos rodeando forte a cintura do menor como se esse fosse o lugar preferido delas, à medida que ele ia inclinando a cabeça para ver todos os detalhes. O Do reconheceu as referências bem óbvias à Bleach, algumas figure action estavam espalhadas pelos poucos móveis de madeira ali, e, quando desceu seu olhar para o chão, ele enxergou até os tênis azuis do pivô — que, em um dia que parecia ter acontecido fazer séculos atrás, foi motivo de uma das brigas mais feias que tiveram.

— E-Eu… — Daniel tentou abrir a boca para dizer alguma coisa, sentindo toda aquela emoção consumir seu ser de uma vez, a felicidade que fazia seu peito latejar de uma forma boa e que insistia em marejar seus olhos. Ele mordeu o próprio lábio inferior, engolindo o choro contente que quis tomar conta de si. — O que é isso? — questionou ao ver um minúsculo item pendurado na parede à sua frente. Ele colocou as mãos em cima das de Jongin, em um pedido silencioso para que andassem juntos para mais perto daquilo (porque se separar do Kim estava fora de cogitação) e, então, eles foram até lá. 

O pequeno item, que quase passou despercebido por causa dos posters grandes, era a polaroid deles dois quando crianças, sorridentes e abraçados com Nemo. A polaroid que Jongin guardava escondida em seu armário em NewFort. Somada à emoção que sentiu ao verificar isso, Kyungsoo brilhou os olhos ao se dar conta de que logo ali, bem no centro, havia um cartaz específico que fez o coração de Daniel palpitar.

Era um pódio com dois primeiros lugares.

— Esse baile é o meu baile ideal — falou Jongin, inclinado de forma que seu rosto ficasse lateralmente colado ao do menor —, e espero que possa ser o seu também. — Ao ouvir, o Do virou-se de frente para o pivô, mantendo a pouca distância ao colar suas testas. — E também é um pedido de desculpas.

— Por quê? — Uma ruguinha nasceu entre as sobrancelhas de Daniel e o Kim levou seu dedo indicador até ela, desfazendo-a.

— Eu… — Jongin respirou fundo, com medo de arruinar o momento com o que iria contar. — Na quinta à noite, quando eu sumi… o que aconteceu foi: eu vi você e o Pietro. — Kyungsoo soltou um “ah”, como se agora tudo fizesse sentido. — Eu interpretei o que vi errado e fiquei zangado… é que vocês estavam tão perto… eu pensei que… — O Kim o rosto, envergonhado das suas próprias ações.

— Foi por isso que você ignorou minhas mensagens? — Para a surpresa de Jongin, Kyungsoo não havia se afastado um milímetro sequer, e a pergunta que ele fez soou calma.

— Me desculpa, de verdade. — O maior abaixou a cabeça, voltando a encarar Daniel. — Eu não deveria ter pensado que você faria algo do tipo comigo. Eu fui um idiota…!

— É… você foi mesmo — confirmou o Do, crispando os lábios. — Mas acho que se eu visse algo parecido, com você e Yumi, por exemplo, acabaria pensando a mesma coisa. É por isso que a gente precisa conversar sobre as coisas… sobre tudo. Ignorar um ao outro quando algo acontecer… isso é muito ruim. — Kyungsoo dizia com uma suavidade sem igual, pensando rápido. — Não sei se você já sabe direitinho o que aconteceu entre eu e Pietro, mas… — Ele parou para limpar a garganta. — A pessoa que eu gosto é você, só você.

Jongin deu um sorriso genuíno, apertando mais o corpo do menor contra o seu. Estava aliviado com o desfecho dessa situação, extremamente feliz que eles haviam resolvido aquilo — ou que pacificamente resolveriam melhor depois, pelo menos.

— Quando você arrumou tudo isso? — Kyungsoo mudou de assunto, retornando a mapear cada um dos itens.

— Passei o dia aqui organizando tudo. Você gostou?

— Eu não gostei — virou a cabeça para fitar o pivô, que ficou sério por uns segundos —, eu amei! Espero que tudo aqui seja um presente pra mim, porque eu já consigo imaginar onde eu vou colocar cada coisinha no meu quarto.

— Então meu esforço valeu a pena! — Jongin exclamou e riu orgulhoso.

— Claro que valeu — assegurou Daniel. — E eu que pensei que você tinha saído com os caras do time…

— E eu saí mesmo. — Balançou a cabeça para frente devagar, confirmando. — Para comprar as coisas dessa surpresa. Precisei de reforços para carregar as sacolas. — Revelou e Kyungsoo novamente sentiu suas bochechas aquecerem, um grito desesperadamente empolgado nascendo e morrendo em sua garganta. — Depois vim arrumar aqui com Joshua e, bem, o resto você já sabe.

— Acho que eu estou tão feliz que posso explodir. — Kyungsoo nunca, em seus quase dezoito anos de vida, pensou que diria algo desse tipo. Mas era a mais pura verdade e queria que Jongin soubesse.

— A surpresa ainda não acabou. — Jongin, astuto, tinha deixado aquela que considerava a melhor parte para o final. E, apesar de extremamente nervoso e ansioso com o que faria a seguir, deu continuidade ao seu lado. Ele se afastou do menor e foi até uma das prateleiras da garagem, onde sua coroa vistosa repousava escondida entre outras coisas, de forma que Kyungsoo só deu fé dela quando o Kim segurou-a em suas mãos. — O nosso baile tem uma regra — afirmou, caminhando lentamente para a frente de Kyungsoo.     

— Qual? — O menor perguntou, curioso. Seus olhos ainda cintilavam feito as estrelas mais brilhantes do céu.

— No nosso baile — repetiu e pausou a fala para coroar Kyungsoo, que ficou bastante surpreso com o gesto —, podem haver dois reis. — Quando disse, Jongin passou a língua nos próprios lábios e selou a boca de Daniel, que sequer conseguiu se mover ou fechar os olhos diante do ato, de tão surpreso e tocado que ficou. E não parou por aí. — Rei Kyungsoo, eu tenho uma pergunta séria para lhe fazer.

— Pois não, Rei Jongin? — Daniel não custou a entrar na brincadeira romântica, as palavras saindo naturalmente, sem que precisasse refletir muito para aceitar aquela fantasia. Talvez aquele fosse seu momento protagonista de filme de romance (sim, ele teve tempo de raciocinar isso), então precisava fazer valer a pena. Surfaria nas ideias de Jongin tanto quanto o pivô quisesse.

— Rei Kyungsoo, Kyungsoo, Daniel, Soo… — O Kim oscilou entre as formas de chamar o menor como se quisesse atestar o nível de intimidade que tinham, como se quisesse evocar as lembranças de todos os momentos que compartilharam juntos, do passado ao presente, e até futuro que prospectava ao lado dele. Jongin segurou as mãos de Kyungsoo e as apertou um pouco. Estava na hora. — Você me daria a grande honra de ser seu namorado?

Kyungsoo arregalou os olhos e seus lábios desenharam um sorriso apaixonado sem que ele se desse conta que a resposta já transbordava de si mesmo que não tivesse dito uma palavra sequer desde que a pergunta ecoou em seus ouvidos. Não era cedo demais. Eles nutriam algo um pelo outro há anos, muitos anos. O fato de terem se declarado um para o outro uns três dias atrás era só a cereja do bolo.

— Nós vamos quebrar a promessa de ser melhores amigos para sempre? — Daniel foi astuto ao tocar nesse assunto.

Jongin riu um pouco e corrigiu-o:

— Não, nós só vamos dar um upgrade nessa promessa. — Aproximou-se dos lábios alheios outra vez e soprou: — O que acha?

— Eu acho uma boa ideia, Rei Jongin — afirmou, seguro de que queria o mesmo que o pivô. — É uma das melhores ideias que você já teve — comentou, a voz diminuindo à medida que dava fim à distância entre seus lábios, puxando o maior para um beijo entrecortado. — Eu vou ser seu namorado — disse entre selares, envolvendo seus braços ao redor do pescoço de Jongin.

Eles não tinham se beijado muitas vezes até o momento. Ainda assim, ambos tiveram certeza absoluta que aquele beijo entraria para a história deles dois como um dos momentos mais apaixonados que compartilharam, tamanho era o sentimento morno que exalava de seus corpos e os envolviam em puro conforto.

Eles foram preenchidos por uma sensação de poder, uma esperança tão grande e verdadeira que era como se pudessem dominar o mundo num piscar de olhos, como se pudesse realizar todos os seus sonhos e ser mais feliz do que triste por toda sua vida desde que estivessem juntos, apoiando-se. Enquanto Jongin mantinha o corpo perto do seu, Daniel sentiu como se não houvesse problema no mundo.

E a felicidade de ambos só se intensificou quando o Kim sacou o celular do bolso e colocou uma música para os dois para tocar baixinho, enquanto eles, os dois reis, dançavam devagarzinho, aproveitando o baile de inverno particular, cujo tema não faria sentido para mais ninguém.   

Aprender a dançar nunca fez parte dos planos de Kyungsoo, mas ali, desajeitado nos braços de Jongin, cogitou se inscrever o mais rápido possível em algumas aulas. Queria aprender toda a teoria, para onde deveriam ir suas pernas, qual parte do corpo alheio precisava segurar, para então convidar o Kim para ser, novamente, seu parceiro na prática.

Podia ser jogando videogame nas horas vagas, lendo mangás juntos, vendo as mesmas animações dezenas de vezes. Não importava como, só queria que envelhecessem um nos braços do outro. Primeiro, como melhores amigos para sempre, depois como dois bobões apaixonados.

Bobões esses que, ao som de Baby I’m Yours do Arctic Monkeys, declararam-se com uns versos da música em meio à dança meio desengonçada. 

 

“...Amor, eu sou seu

Até que as estrelas caiam do céu

Amor, eu sou seu

Até que os rios sequem

Amor, eu sou seu

Até que o Sol não brilhe mais

Amor, eu sou seu

Até que as rimas dos poetas se esgotem…”

 

 


Notas Finais


E FIM!!!

Eu não tenho palavras pra agradecer quem acompanhou a história desses dois até aqui, de verdade. Eu gostei muito de escrever todos os personagens de Mais que Amigos, Inimigos, e trazer essa fanfic aqui pro Spirit também me fez reviver uns bons momentos.
Obrigada a quem comentou, pelos favoritos e por quem leu nas entocas haha

Não esqueçam: ainda vou lançar um epílogo daqui um tempinho! Então, continuem atentos haha

Quem quiser continuar lendo minhas coisinhas, tem outra longfic KaiSoo sendo postada, o nome é Abre Aspas, e vocês encontram facinho no meu perfil.

P.S.: precisei postar esse capítulo pelo celular, mas espero que a diagramação tenha saído certinha. Perdão qualquer erro 🙏


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...