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História (Maldito Seja) O Crush da Minha Irmã - Vespas, Abelhas, Borboletas e suas Flores.


Escrita por: woyifane

Notas do Autor


Oláááá~<3

O CAPÍTULO ESTÁ ENORME, EU SEI - queria manter um padrão, mas como a maioria dos comentários do capítulo passado se resumia em "n sto entendendo nada" eu resolvi esclarecer tudo em um só.
Confesso que ri muito porque bastou citar o nome da Taeyeon e todo mundo ficou locão. Bom, Tae não está numa relação amorosa com o Baek nesta fanfic, ok? Levantem os forninhos para caírem quando REALMENTE for preciso.

estou morta feat. super preocupada com o abs do menino Baekhyun, se vou superar? Não sei, é muito pouco provável.

P.S. Há várias analogias neste capítulo, sorry aaysgaygs

Capítulo 14 - Vespas, Abelhas, Borboletas e suas Flores.


Fanfic / Fanfiction (Maldito Seja) O Crush da Minha Irmã - Vespas, Abelhas, Borboletas e suas Flores.

Confesso que sinto falta de quando parecíamos grandes amigos. Talvez eu tenha feito uma merda muito grande pra ele agir assim...

 

 

 

– Chanon! Que bom que já chegou! – o pai de Baekhyun apertou minha coluna quase me quebrando ao meio num abraço de urso. – Agora rápido, sentem-se, chegou bem na hora do ápice.

– Ápice? – perguntei para o vento, já que Baek havia tomando a dianteira e ido se sentar no seu cantinho, ao lado de um Kyungsoo que, pra variar (ou não) estava completamente e absolutamente vestido de preto, e, por sorte, tinha uma cadeira vazia sobrando ao lado do Byun. Foi lá que eu sentei. Porque sim!

– Muito bem, pessoal, eu agradeço muito a presença de todos aqui, principalmente a do vovô Kim que veio de Jeonju de bicicleta e chegou nessa madrugada...

– Cale a boca Byun Heechul, continue com isso, eu preciso ir ao torneio de cartas de baralho – o velho Kim resmungou, pelo tom de voz dele, acho que era sua voz que eu ouvi quando cheguei, me limitei a dar uma risadinha porque o pai do Baek mostrou a língua meio discretamente. Tão discretamente que todos riram.

Ele estava posicionado na frente de todo mundo, ao lado de um altar simples e bonito, com vários porta-retratos com fotos de uma mesma mulher muito bonita e sorridente.

– Muito bem, pessoal – ele pigarreou. – Como muitos aqui sabem, e outros não, Taeyeon gostava muito de poemas, poesias e frases que tivesse um significado profundo dependendo de cada situação, ela escrevia tudo em um caderno pequeno com uma capa de couro que, por muito tempo ficou perdido, mas, graças a vovó Byun – ele apontou para a mãe que se levantou gloriosa (a mesma senhora doce que me deu banho... essa vai ser difícil esquecer) – que há dois anos encontrou o caderno, podemos ter o conhecimento de cada ensinamento que Taeyeonie queria deixar.

A voz dele ficou falha por um momento, e logo ele sorriu e pegou o caderno em questão.

– Como no ano passado ainda estávamos decidindo se leríamos ou não essas palavras tão bonitas, ninguém aqui teve o conhecimento delas, mas, eu sei que, onde quer que Taeyeonie esteja, ela queria que suas palavras ajudassem a ver o mundo de uma maneira mais bonita... foi assim que me senti após ler alguns de suas poesias e textos.

Eu olhei em volta e todo mundo parecia ter algum parentesco ou conhecimento da mulher, eu era um intruso. Mas Baekhyun não tinha me expulsado e o seu pai sabia que eu estava vindo – pela sua recepção, digo que ele gostou da minha presença – então aquilo me fez divagar a mente por uns instantes e me lembrar do que Seulgi tinha deixado no ar e dos conselhos que minha mãe me deu.

– Eu não poderei ler todos, pois alguns são bem pessoais, já que Tae-boo usava como diário, mas há alguns que eu posso mostrar livremente, para que saibam que minha esposa é maravilhosa – ele riu. – Claro que já sabem disso, mas é mais uma qualidade a acrescentar na lista.

Um burburinho de risadas acolhedoras ecoou.

Menos Baek.

E Kyungsoo.

Eu apenas olhava as fotos com atenção, a mãe do Baek se chamava Taeyeon e era muito bonita. O que não era surpresa já que tanto Baekhyun quanto Joohyun são bonitos pra caralho, mas a mãe deles tinha algo que me era familiar há um tempo.

O sorriso quadrado.

O sorriso que Baekhyun me lançou quando me viu ser maquiado pela irmã mais nova. O sorriso que ele me lançou quando teve que limpar toda a cagada que a mesma irmã fez na minha cara.

O sorriso que tentava esconder a todo custo quando que via bêbado pela cafeína lhe pedindo em casamento.

Sorriso este que não vejo no rosto dele faz tempo.

Instintivamente eu me virei para observá-lo e ele mantinha a expressão séria, quase nula, e eu já havia percebido que ele era desses que ficava sem expressão alguma quando quer esconder emoções.

Principalmente se essas emoções querem o fazer chorar.

– Baek, você está bem...? – falei e ele pareceu ficar assustado, mas só pressionou os lábios e suspirou.

– Cale a boca e ouça, Chanyeol – Kyungsoo o cortou quando finalmente iria falar alguma coisa e eu quase o matei. Ele realmente me detestava, e eu ainda estava confuso com tudo.

Mas não contestei, apenas pigarreei meio pra baixo e meio puto da vida e decidi prestar atenção no pai do Baek que iniciava a leitura com um ar de poeta.

– “Há uma roseira na estrada por onde você passa

Ela é muito bonita

Você é tentado por ela, e a quer tocar

Ao fazer isso, porém, é ferido

Sua beleza o feriu

Você, agora, terá medo e nunca se aproximará dela da mesma forma”

 

Não entendi de imediato, porém, olhando para o garoto ao meu lado eu comecei a devanear sobre. Baekhyun era a roseira, eu fiquei encantado por ele e agora me fodo.

Ou talvez poderia ser o contrário...

Heechul não se importou com meu conflito interno (até porque ele nem sabia que eu estava tendo um) e continuou sua leitura.

“Existem abelhas e vespas

As abelhas só ferem ao serem provocadas

E morrem ao perderem o ferrão

Já as vespas ferroam muitas vezes

Sem perder parte alguma de seu corpo

Há pessoas como as abelhas

Há pessoas como as vespas”

 

– Então, Chanyeol, você é uma abelha ou uma vespa? – eu estava tão coberto em pensamentos que quase nem ouvi quando Baekhyun sussurrou perto do meu ouvido.

Gelei.

– Quê? – sussurrei para ganhar tempo. Que tipo de pergunta era aquela? Ok, estava no contexto de tudo, mas... de certa forma parecia    que ele sabia a resposta. Como um professor de cabelos compridos negros e oleosos faria ao perguntar coisas ao seu pobre aluno burro.

– E o que você acha que eu sou? Uma abelha? Uma vespa? – ele arqueou a sobrancelha e quase riu da minha cara.

– Eu... não...

– Esqueça – ele riu com deboche. Parecia gostar de me ver confuso e atordoado. Porque era exatamente assim que eu estava.

Tentei me manter firme, mas não estava nada fácil de lidar com aquilo tudo.

Me ajuda sem or!

Com uma cara de wtf no rosto, Heechul levantou o olhar.

“Não odeie quem te fez mal

Odeie quem nunca te fez nada”

 

– Isso foi meio cruel – falei baixinho pra mim mesmo, ouvindo uma risada soprada baixinha claramente carregada com deboche.

– Cruel? Você nem sabe o que é isso, Park.

Fiquei meio com cara de merda até o pai do Baek se sentar e ser a vez da avó falar. Ela não disse muita coisa, pois chorava como um bebê com um sorriso estampado na face enrugada, falando que Taeyeon tinha sido como uma filha para ela durante muitos anos e, assim, eu estava ouvindo palavras felizes ditas por uma senhora de idade que sorria chorando. Foi um custo pra impedir minhas lágrimas, mas como sou muito cagão, acabei chorando também.

Todos já tinham falado, eu estava secando minhas lágrimas meio na minha, envergonhado por nem conhecer a mulher e já ir chorando minhas dores no memorial, e pude ver Heechul se despedindo dos familiares – principalmente do vovô Kim que deu um tapão na nuca do coitado que ele quase caiu. Baekhyun tinha sumido fazia algum tempo, juntamente de Kyungsoo.

– Veja, Tae, como nosso genro é bonito – o ouvi sussurrar para os quadros com as fotos da mulher sorridente. Olhei para os lados.

Ele falava de mim?

Isso é algum tipo de jogo doentio, senhor?

– Não fiquei envergonhado, Chanon, estou apenas fazendo uma brincadeira – suspirei. Uma brincadeira bem doentia com meus sentimentos, se o senhor que saber. – Aliás, você não sabe onde o Baekhyun está? Ele saiu pouco depois da avó dele começar a falar, aquele mal educado.

Sentindo um choque de realidade, eu mal notei quando Byun saiu de perto de mim.

– Eu não sei, desculpe, senhor – falei acanhado. Tinha que usar minha simpatia pra conquistar o sogro, coisa que já tinha acontecido, mas... Bom, eu tinha quase certeza que Baekhyun estava com Kyungsoo... em algum lugar.

– É bem difícil pra ele, sabe – pegou uma das fotos em que a mãe do Baek estava com longos cabelos pretos, segurando um bebê de bochechas grandes.

Era claramente ele.

Os olhos dos dois brilhavam, Taeyeon parecia muito jovem e segurava Baek com cuidado demais, dava pra ver que a foto irradiava felicidade, o sorriso dela fazia o mundo querer sorrir. E o bebê Baekhyun estava sorrindo também.

– Ele se culpa por ela ter partido, não importa o que falem, ele sempre retorna com essa ideia na cabeça – suspirou.

– Mas isso é ridículo, ele era uma criança – não evitei ficar bravo.

– É verdade, mas ele nunca acreditou nisso, isso se tornou algo sério, Chanon – ficamos olhando as fotos até que ele murmurou –  Como diz aquele poesia da Tae... “Os fantasmas da alma sugam sua felicidade, Não acumule, Sempre que estiver se sentindo cheio, Deixe suas emoções possuírem seu corpo, Assim você pode começar do zero” – respirou fundo – Baek nunca fez isso... ele nunca demonstrou seus sentimentos da maneira correta.

Com aquela poesia eu pude pensar que minha mãe estivesse realmente certa.

“Algumas pessoas tem problemas pessoais que as afligem tanto que as impedem de amar. De abrir as portas para a felicidade. As vezes espantam oportunidades.”

Talvez seja isso que faça com que Baekhyun seja desse jeito.

O medo.

Ele perdeu uma pessoa importante pra ele e se acha culpado por isso.

Eu não sou especialista, mas acho que, como minha mãe falou, eu posso ajudar o tal “Kwon MiGo” (que era eu...) fazendo o que eu faço de melhor.

Então você pergunta, “Mas o que você faz de melhor, Chanyeol? Se faz de trouxa?”

Exatamente!

Eu já havia percebido que a minha função no mundo era fazer palhaçada pra todo mundo rir, mesmo na maioria das vezes sendo sem querer, e eu podia usar isso a meu favor pra poder alegrar pessoas que estou com uma sombra no coração.

Depois dessa eu posso seguir carreira de poeta. Ou palhaço.

Palhaço não, é meio complicado, mas tenho aversão a circos...

Não é medo, imagine, eu com medo! Nunca...

Enfim, de volta ao plano, eu preciso fazer Baekhyun explodir com seus sentimentos para que possa se sentir renovado e então começar a viver intensamente, como se estivesse partido do começo.

Agora é só pensar em como posso fazer isso.

– Appa – uma voz fina ecoou no silêncio que havia se estabelecido e eu, como o bom cagão que sou, quase caí com o susto. Era Joohyun.

– Oi, minha princesa – ele a pegou no colo com um certo esforço, a menina rapidamente sussurrou algo para o pai e escondeu o rosto. Já estava para sair correndo dali para tentar encontrar Baekhyun e por meu plano, ainda não definido, para deixar claro, em prática. Algo me dizia que eu tinha pouco tempo antes de uma merda maior ainda acontecer.

Só que, de repente, Joohyun, que tinha saído dos braços do pai – este que agora estava em frente ao altar de Taeyeon me olhando com um sorriso terno e assustador – e agora estava puxando a ponta do meu dedo mindinho.

Claro que eu não entendi bagaça nenhuma, mas ela começou a puxar mais forte, então presumi que, assim como os cachorros que chamam sua atenção e não param até que você o siga, as crianças puxam seu dedo mindinho até quase arrancá-lo fora e só param quando você finalmente para de ser retardado e a segue.

Eu não deixei de ser retardado, mas andei seguindo a pequena Byun até a base da escada.

– Oppa – ela disse baixinho e eu me surpreendi. O que aconteceu com o “tio”? aquela era mesmo Joohyun ou era apenas um clone meio que afetado mentalmente? – O oppa está no quarto dele – corrigiu e então eu entendi. Ela nunca me chamaria de oppa, mas eu estou cagando quanto a isso. – Eu não vou com a sua cara, tio, muito menos com essas suas orelhas.

Ah, crianças.

Crianças, crianças, sempre tão sinceras.

A sinceridade vai ao ponto de doer na sua mente e no coração, eu lembro que já fiz minha irmã chorar quando ela estava entrando na adolescência e eu estava nos meus doze anos ainda sem sinais de puberdade.

Também lembro que já fiz vários colegas chorarem no fundamental, mas criança é criança, né non?

– E o que quer com a minha pessoa, jovem dama? – falei e quase senti meu veneno imaginário escorrer pelos cantos da minha boca.

Se eu tivesse algum apelido atualmente – não que eu não tenha, mas isso a gente aprende a lidar com a vida – seria Park Falsiyeol.

Porque me sinto bem falsiano.

Mas, bem, estamos falando com Joohyun e ela apenas soltou um risinho solto – que pode ter sido aprendido por influência do irmão ou do amigo do irmão, já que Heechul não parecia ser do tipo que distribuía risinhos sarcásticos para pessoas legais como eu.

– Mesmo que eu não vá com a sua cara, eu não sei guardar segredo, por isso, e só por isso, vou te contar uma coisa – então ela levantou os braços pra mim.

Aquilo era algum ritual de macumba?

Bom, não, Joohyun só estava me pedindo colo e eu tive que me segurar muito pra não revirar os olhos. A garota tinha dez anos e mesmo que aparentasse ter menos, não havia muitas desculpas para justificar que ela era absurdamente leve. Parecia uma boneca de pano, se eu a jogasse pra cima acho que sairia voando e nunca mais voltaria.

Devo testar algum dia?

– Me conte, seja lá o que for – tentei manter o interesse, se fosse algo sobre pôneis rosa ou unicórnios coloridos eu nem sei o que faria.

Provavelmente me animaria com a conversa porque, quem, no mundo, não gosta de unicórnios brilhantes e pôneis coloridos?

Mas se fosse qualquer outro tipo de brincadeira sem sentido nível Byun quebradores de corações eu acho que explodiria – apesar do plano ser fazer o Baek explodir figuradamente – e nunca mais seria legal, gente boa, atencioso e tolerante com crianças. Não que eu seja assim agora, mas eu provavelmente viraria uma espécie de senhor Epaminondas sem casa monstra amaldiçoada. E sem esposa. Assim como o senhor Epaminondas. Haha.

Então eu senti aqueles dedinhos pequenos e meio assustadores puxando minha orelha direita – que era bem mais sensível do que a esquerda então eu quase a derrubei no chão e caí junto – e cochichou como se fosse o maior segredo.

– O oppa gosta de você.

Ok, quando eu lido com Byun Baekhyun me sinto sendo puxado para dentro de um buraco negro e por mais que eu queira me livrar de tudo e seguir minha vida ignorando essa crush de leve que eu tenho nele e dar chances pra ser feliz amando minhas séries, livros e filmes eu não consigo porque, duh, é um buraco negro e, se você está dentro de um, amigos, o que resta é aceitar, porque você não está em posição de querer nada nessa situação.

Então, imagine assim, eu estou dentro do buraco negro chamando Byun Baekhyun, que é misterioso pra todo mundo, você não vê nada e se sente tão confuser que quer dar uns tapas em alguém. É ruim não entender o que está acontecendo, é tipo a primeira vez que você vê o filme Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban sem ter lido o livro e passa sua vida pensando que Sirius Black era “do mal” até finalmente ver o filme com calma e entender que o filho da puta era Peter Pettigrew. – Isso aconteceu comigo, mas foi pura falta de atenção.

Voltando a analogia, pronto, Baekhyun é um buraco negro e estou preso nele, sem saída como um pobre coitado, mas aí vem mil pessoas me falando a frase que me mata “ele gosta de você” “ele pode estar gostando de você”, ok, eu não sou uma pessoa tão feia ou desagradável o suficiente para ser uma surpresa ter alguém a fim de mim – pelo menos, na minha opinião eu sou bem simpático e jeitosinho – mas que raios de pessoa é essa que ignora e faz a “pessoa que gosta” se sentir um cu?

O buraco negro chamado Baekhyun.

E quando penso que, talvez – um talvez bem certo e com certeza – que ele faça tudo isso por ter medo de magoar as pessoas (o que não está funcionando muito bem se for essa a intenção, tá amigo), ou medo de se magoar (bem mais provável, seu egoísta sem escrúpulos) isso tudo explode na minha cabeça, e no que o buraco negro de transforma?

Num buraco de minhoca me levando pra outra dimensão onde Byun Baekhyun não me odeia nem me trata mal e sim, me ama e eu quem sou o vilão que “fez algo” que o fez me ignorar e levar de volta para o buraco negro e escuro onde eu tenho que descobrir sozinho a merda que fiz para poder me redimir.

Todo mundo está afim de falar que é minha culpa, que eu fiz alguma merda.

Mas ninguém está afim de saber o que eu penso, se eu estou com vontade de pedir desculpa ou não.

A verdade é que eu só queria entender porquê. Apenas isso. Se Baekhyun não me quiser perto dele, eu posso até desistir da crush e tentar levar um vidinha normal, mas eu preciso saber porque ele me odeia afinal de contas. Se ele não me quer, não quer meu corpo nu dançando pra ele, não quer casar comigo na praia e não quer adotar filhos para que eles tenham netos para que possamos contar sobre a bala com gosto terrível de sabão que ele pescou na minha boca, então ele tem que me dar motivos.

E com todo mundo falando que “ele gosta do Chanyeol” eu não aceitar aquela negação fingida de “eu não gosto de você, te acho um chato fora de moda!” porque ele não me beijaria, nem me convidaria pro memorial se não me quisesse.

Ou...

– Você já pode me por no chão, tio, se não fizer isso eu vou gritar – ouvi a voz ácida de Byun mais nova e a coloquei no chão ainda em conflito interno.

– Como... – tentei verbalizar, mas nada saiu além de uma baforada e ar, minha garganta fechou e eu tossi.

– Você está passando mal? Francamente, meu oppa tem um péssimo gosto – ela fez uma careta desgostosa. Eu não estava com paciência pra lidar com crianças, estava engasgado.

Literalmente e figuradamente. Tudo junto.

Resumindo, eu tava só o cu.

– Como você sabe disso? – perguntei bem desconfiado. Porque, depois de tanto blábláblá sobre Baekhyun e depois de tanto pensar nas minhas analogias sem sentido, assim como as da minha mãe eu pensei que, talvez, só talvez, todo mundo estivesse brincando com a minha cara e me fazendo acreditar numa coisa que nunca foi real.

É quase como shippar um otp em algum grupo musical.

– Soo oppa acabou de ralhar com ele por esse motivo – ela falou simples. – Disse que meu oppa era um idiota, o que eu não concordo e disse também que você é um ridículo. E nisso ele tem razão.

– Só pode ser brincs – falei e ela voltou a puxar meu mindinho, subindo as escadas até o corredor do primeiro andar.

– Eu não entendo sua língua alienígena, tio, mas pode ir perguntar ao Soo oppa, se quiser – ela apontou para a porta que eu reconhecia muito bem ser o quarto de Baekhyun. – Eles ainda estão lá.

Dito isso ela apenas pulou como toda criança e correu para o próprio quarto, como se tivesse furtado alguma coisa de uma lojinha ou como se fugisse de levar um bifa.

E eu fiquei lá, com cara de cu no meio do corredor.

 

 

---*---

 

Depois de mais um conflito interno onde eu comparava Baekhyun à hipernovas que viram buracos negros pouco tempo após a explosão, eu tive coragem para andar até a frente da porta do quarto.

Foi horrível, quase me borrei tento que andar até lá, imagine o sofrimento da pessoa para levantar o braço e bater na porta. Meu coração estava saltitando tanto que quase o confundi com Joohyun.

Então eu notei uma pequena discussão vinda de dentro, a voz de Kyungsoo estava mais alta, o que era raro, ele sempre falava baixo dando aquele ar de merda misterioso que você tem vontade de nunca chegar perto com medo de morrer.

Mas então, ele meio que dava um sermão em Baekhyun. E sermões fazer mais efeito se dados com a voz firme.

Ou voz de capeta, que era como eu intitulei a voz daquele ser chamado Do.

– Primeiro você vem com o plano, eu te dou todo apoio e agora você quer desistir? – ele dizia como se falasse com algum presidente corrupto (mas-nem-tanto) que havia desistido de desviar o dinheiro. – Eu não acredito que depois de tudo você acabou desse jeito!

– Eu tive culpa? – a voz murmurada de Baekhyun estava meio lenta.

Teve! Teve sim, a culpa é tão sua quanto dele, arrisco dizer que é mais sua! – Kyungsoo ralhou, eu na situação de Baekhyun já estava pedindo perdão e chorando rios. Eu nem estava vendo e estava com medo. – Pff, sentimentos... Você tá fodido, Baek. Estragou tudo e me arrastou junto à toa. Pense nas pessoas que estavam junto nessa, elas vão ficar decepcionadas.

– Elas vão ficar felizes porque nenhuma delas tem prazer em ver o sofrimento dos outros, como você – sessão Baek sincero. Quase pude ver a porta derreter com o olhar flamejante que Kyungsoo provavelmente lançou.

– Ah, é assim? Tudo bem, mas quando você fizer alguma merda...

– Eu não vou fazer nada, quero parar por aqui – a voz estava abafada, mas eu senti a embriaguês na sua voz, a tristeza também. – Não é um bom dia pra isso.

– Sim, eu sei... me desculpe – três pontos, reticências ou qualquer outra coisa que sirva pra mostrar minha descrença. Do Kyungsoo pedindo desculpas?

Essa foi forte até pra mim, tive que colocar a mão na frente da boca pra não sair gritando “puta que pariu, ele pediu desculpa”. Eu me senti assistindo uma radionovela e aquilo era incrivelmente intrigante.

Apenas mais coisas acumulando no buraco negro.

– E eu peço pra você não fazer nada também – Baekhyun disse em seguida e pude ouvir D.O bufar alto, como se o tivessem proibido de comer sua comida favorita por um mês.

– Mas, se ele fizer alguma merda outra vez eu vou fazer algo a respeito – disse determinado. – Eu nem estou pedindo sua permissão, já que está todo apaixonado.

Quando ouvi a palavra “apaixonado” eu quase caí. Não estou exagerando. Kyungsoo disse a palavra com um nojo quase palpável e eu demorei pra entender o significado.

Baekhyun. Estava. Apaixonado.

E por quem?

– Não estou apaixonado, deixa de ser ridículo, Soo – a voz embargada e o tom de descaso cortaram minhas asas tão rápido quanto foram construídas.

– Ah, não? Então por que o protege? Eu daria um jeito nele rapidamente.

– Volte a brincar com suas cartas de Yu-Gi-Oh – retrucou com um tom debochado.

Eles riram, eu ri. E o silêncio perdurou por exatos sete segundos.

 – Eu realmente não acredito, Baekhyun – Kyungsoo parecia sentir dor. – Eu já tinha planejado tudo.

– Chega, Kyung – ele disse, cortando o amigo. – Não quero mais falar sobre isso, vamos falar dos seus filmes preferidos? O que assistiu ontem? A Forca? O Grito ou A Casa de Cera

– Nem me fale desse último, foi horrível – murmurou.

Então era sobre isso que eles falavam quando não tinha ninguém por perto? Filmes de terror? E, espere. Kyungsoo achando “A Casa de Cera” um filme horrível? Parece que ele não é tão durão quanto parece, não é mesmo?

– Detestou tanto assim? – Baekhyun riu, mais animado do que deveria e eu achei esquisito.

– Sim, tem uma proposta interessante, mas eles foderam com a computação gráfica. Foderam mais com a história de amor fraternal, quase vomitei com aquilo... não tem pé nem cabeça – bufou algo fazendo Baekhyun soluçar. – Mas a maioria das mortes foi realmente interessante. Eu acrescentei uma delas na lista antes de você me falar que fodeu tudo.

– Mas eu não fodi tudo, cara – soluçou. Ah, eu posso estar errado, mas parece que tem algo muito errado.

– Me dê isso, Baek, já é suficiente – a voz autoritária do Do ressoou. – Puta que pariu, Baekhyun!

– Faça silêncio, seu merda – e aí estamos o “seu merda” pra provar que eles são realmente próximos.

Pelas minhas teorias, Kyungsoo estava ralhando com Baekhyun e agora Baekhyun estava bêbado... Eu sou curioso, tanto que acho que se passou meia hora comigo estando plantado apenas ouvindo a conversa, então eu finalmente decidi bater na porta.

– Você bebeu tudo, fique aí, eu já volto e – Kyungsoo abriu a porta segundo antes de eu tomar coragem para bater. Ele apenas me encarou e fechou-a em menos de um segundo.

Pude ouvir a vozinha do Baek perguntando um “o quê” meio mole e rindo depois.

– Não é nada, Baek – Kyungsoo falou na cara de pau.

– Baek... – falei, batendo a porta. – Baek, abra a porta, sim? – bati novamente.

Bati mais vezes e estava quase transformando aquela porta em um tambor.

– Vá embora, Chanyeol – a voz áspera do doce Do ecoou outra vez, agora mais alto e nem tão abafada, aquele som estridente quase fez meus ouvidos sangrarem. – Ninguém te quer aqui.

Se aquilo doeu? Não, não doeu. Mas foi muito mal educado da parte dele, vou fingir que doeu só pra poder fingir que não ligo. Quando na verdade eu não ligo mesmo.

– Eu preciso falar com o Baekhyun, não com você – rebati na maior audácia que consegui reunir e quase o chamei de capeta, mas tive noção que não era a coisa mais sensata a fazer.

– Qual a parte do “ninguém te quer aqui” você não entendeu? – ele abriu a porta e seu rosto exibia raiva e um ódio que só demônio entenderia. Se bem que ele era o próprio. – Pra quê servem esses radares que você chama de orelhas? Pra enfeite sei que não é.

– Desculpa, eu não consegui te entender, minha orelhas não traduzem o najês, obrigado – falei, passando por cima daquele tampinha (quase) literalmente, foi aquele esbarro de ombro que se vê nos filmes e, se alguém visse, nem diria que segundos antes estávamos discutindo como suas patricinhas.

O Do fechou a cara (e a porta) no momento em que eu passei, quase me prendendo no meio dela e arrebentando certas coisas, e foi exatamente por isso que esbarrei no ombro dele com força. Nem foi proposital, mas eu agi como se fosse.

Foi por pouco.

E foi surpreendente quando vi Byun Baekhyun sentado tranquilamente no carpete do seu quarto segurando uma garrafa de soju vazia, olhando o rótulo como se fosse a coisa mais interessante já vista no universo.

– Ele bebeu uma garrafa de soju inteira? Sozinho?! – perguntei abismado, aquilo não se tomava puro, cara eu estava certo, havia muita merda acontecendo.

– Não, ele tomou banho com ela – ele revirou os olhos e eu fiz o mesmo, Baekhyun se limitava a nos ignorar e tentar capturas as últimas gotas de soju de dentro da garrafa, quando estava óbvio que a garrafa já estava completamente vazia. Se sugasse mais alguma coisa lá era capaz da garrafa de vidro virar do avesso.

– Não tem mais nada aí, vai acabar engolindo essa garrafa! – o Do pegou a dita cuja com violência, deixando um Baekhyun visivelmente irritado.

– Se reclama tanto vá lá e me traga outra!

– Eu não vou buscar bebida pra você, Baekhyun! – falou calmamente como alguém que fala como uma criança.

Baekhyun apenas respirou fundo, passando a língua nos lábios. Deu umas tremedeiras legais aqui no corpo desse ser humano chamado Chanyeol (ou falsiyeol, mas isso depende da intimidade) e eu finalmente lembrei do porquê estava ali. Por que Chanyeol se afundou ainda mais no buraco negro? Porque ele gosta de sofrer.

– Baek – falei, tentando parecer normalmente estabilizado, ignorando o curto circuito dentro do meu core toda vez que aquele maldito punha a língua para fora da boca.

Custa alguma coisa colaborar comigo? Custa alguma coisa manter essa língua guardada? Se não for pra colocar sua língua dentro da minha boca, então melhor nem colocar pra fora.

– Chanyeol, vá para casa – ele falava firmemente. Ah, pra me expulsar a bebida não faz efeito, mas pra fazer de filme de terror fica rindo igual uma hiena, né? Isso seria cômico se eu não quisesse muito chorar minhas dores.

– Eu queria falar com você – falei ignorando minhas dores e ignorando o dono do quarto também.

– Fale com ele Baekhyun, fale e lembre do que acabamos de conversar – Kyungsoo desafiou, cruzando os braços.

Baekhyun o imitou com a mão, fazendo umas caretas típicas de noiado mental e eu quase me vi naquele dia em que havia bebido café.

Eu estava naquela situação? Por favor, Deus, negue.

– Eu já te falei que não vou fazer nada, que merda – ele levantou meio tonto, bagunçando os cabelos e se jogando na cama. Ver aquilo não me fez bem. – Mas eu vou falar com ele sim, eu não tenho nada pra fazer e você tem que ir embora.

Baek expulsando D.O? Na minha frente? Ah, meu sorriso vitorioso pode ser visto pelos sete mares afora porque eu estava quase dançando macarena.

– É, eu já estou indo mesmo... – ele olhou a garrafa de soju colocando-a em cima da cômoda de madeira. – Não beba mais, isso foi o suficiente.

– Pfff – ele bufou demoradamente. – Pare de agir como uma mãezona, você não é assim. Até parece.

Kyungsoo revirou os olhos, virando-se pra mim e meio que implorando piedade por ter visto algo muito horrível.

– Você vai ficar bem, sozinho com esse poste com antenas? – ele falou como se eu não estivesse ali ouvindo tudo. Ou falando alto mesmo para que eu escutasse. Kyungsoo é cheio de audácia, quero ver quando ele tropeçar na rua na frente do crush, vamos ver quem vai ser o trouxa da vez.

Se bem que acho que ele é incapaz de amar alguém.

– Claro que vou – Baekhyun me lançou aquele olhar perigoso como quem está analisando uma fruta podre e logo voltou a olhar pro amigo.

– Pela milésima vez, não beba mais, ok – ele afagou os cabelos do Byun e eu me surpreendi por nunca ter visto D.O agir de maneira carinhosa. Normalmente Baekhyun recebia mais tapas do Kyungsoo do que eu da vida (acredite se quiser). E então, Kyungsoo notou que ele estava sendo carinhoso demais e se afastou meio incomodado. – Acaba com ele, ou eu mesmo faço isso.

Nisso, o Byun me encarou por dois segundos com cara de cu e voltou a olhar para o Do com convicção e... sono?

– Tá.

Ai caralho.

Baekhyun começou a rir feito louco e Kyungsoo o acompanhou, aquilo parecia um ritual satanista e quase tive o impulso de rezar uma Ave Maria com todas as minhas forças pro diabo não me perseguir com um saco de jujubas sabor sabão. Os dois riam como se o amanhã virasse um show de comédia stand up, estava realmente ficando com medo, afinal a ideia do ritual satânico não era nada comparada a sessões de riso por dois anões endiabrados.

Afinal, devia ter uma série de autoajuda que deixe claro  como lidar com isso, como “Meu anão endiabrado”. Seria muito útil apesar de nenhum dos dois ser necessariamente “meu”.

Grazadeus.

Logo que Kyungsoo fechou a porta, saindo do quarto ainda rindo pra caralho, o Byun parou de rir de imediato e se limitou a ficar quieto, apenas olhando seus dedos.

Eu fiquei encarando na maior cara de pau, quase nem piscava e só o fazia quando os olhos ardiam – pela beleza absurda dele – pela friagem vinda do condicionador de ar. Parei de olhar quando percebi que seu rosto de contraía numa risada meio morta. Risada de bêbado pra deixar mais claro. Ou também pode ser considerado como risada de possuído por espíritos. É igual.

Então, no meio do riso sem motivo ele começou a tossir. Claro que eu ri, ri pra cacete porque foi fofo até o momento em que ele parou de ficar fofo e começou a ficar vermelho. Logo imaginei ele sem ar, todo roxo na cama, quase morto e eu gritando por ter enviuvado antes de casar.

Gelou tudo.

Quase me prontifiquei para socorrê-lo caso ele estivesse engasgando ou algo parecido, mas assim que me aproximei ele levantou a palma da mão na minha cara, dando a entender que, se eu me aproximasse, me fodia terrivelmente. E que ele ia acabar com a minha raça.

Não, não foi isso. Foi apenas um stay away ou um keep distance básico que a gente sempre recebe quando a ajuda não é bem vinda.

Ele parou de tossir e deu um dou dois risinhos debochados pra si mesmo. Louco? Nah, Baekhyun já passou dessa fase, o caso é muito pior.

– Você... Você está bem? – falei meio com medo dele me dar um cascudo por ter me aproximado mesmo assim.

– Melhor impossível – os risinhos pararam, mas a voz estava seca. Seca e... meio arrastada, mas ainda seca.

– Olha, Baek, eu não sei por que você está indiferente, ou meio bravo... ou até triste – resolvi falar e ele bufou. – Bom, se foi por minha causa eu...

– Triste? Eu nem estou triste! – ele disse com aquela cara que bêbado sempre fala como desculpa pra beber mais “eu não estou bêbado, só estou feliz!".

– Só digo que, se foi por minha culpa, eu peço que...

– Se? – ele riu baixinho, com a voz meio tremida se deitando na cama e olhando pro teto. – O que você acha que eu sou, Chan?

Quase morri com o “Chan”, quis pular, quis fazer cena, mas aguentei firme. Afinal, o que ele queria dizer? Era uma afronta? Do tipo “você, poracaso, acha que eu sou tuas negas?”.

Mas, bom, ele estava rindo de novo, provavelmente por conta das minhas caretas, ou por conta do álcool mesmo.

– Tem certeza que só bebeu uma garrafa de soju? – perguntei, ignorando sem querer a pergunta e pegando a garrafinha de cima da cômoda. – Baek, isso é 35% álcool! – falei meio exagerado.

– É, e é muito bom – ele falou, rindo da minha cara. Até eu riria na situação dele, mas soju não foi feito para beber puro. Se vai beber, que pelo menos coma alguma coisa junto.

– Você comeu alguma coisa? – falei, eu estava parecendo uma tia preocupada, mas ele estava tão fofinho em cima da cama, rindo como um bebê bêbado que não pude deixar de sorrir apesar do peito estar doendo consideravelmente.

– Não... – ele falou com um aegyo vindo do álcool e logo depois soluçou. Riu do próprio soluço e sentou, encostando-se na parede. – Então, eu sou uma abelha... ou uma vespa? – soluçou e riu.

Então era isso.

Eu sentia que ele nem estava totalmente bêbado, seus olhos estavam com um brilho alegre e desnorteado, ele parecia estar sonhando de olhos abertos.

Pensei no que seria uma pessoa-abelha, talvez alguém que fosse bondosa e meiga com todos, apenas fazendo o seu dever e deixando todos ao seu redor sentirem o doce saber de mel nas suas atitudes, mas quando é provocada, mostra o seu lado forte, aquele I don’t need you básico que sempre cala a boca de qualquer um. Mostra seu veneno quando precisa.

Baekhyun parecia ser uma pessoa-abelha. Mas eu não conseguia encaixá-lo naquele termo.

Quanto as pessoas-vespas, ah, Baekhyun parecia muito um tempo atrás. Quando ele me olhava querendo minha morte e eu sem saber (assim como agora) o porquê de tudo isso. Distribuindo um ódio gratuito, que agora eu sei que nem é tão gratuito assim, pra mim e pra muitas outras pessoas.

Mas não era bem assim.

Baekhyun era uma pessoa ferida. E não uma pessoa que fere. Ele tinha o coração machucado e por isso age como se estivesse se protegendo o tempo inteiro.

Eu não conseguia encaixá-lo em nenhum dos termos.

– Uma borboleta – falei, quase me matando por demorar tanto pra respondeu.

– Quê? – foi interrompido por um soluço, mas logo se recompôs e me olhou incrédulo, quase como se tivesse sido insultado.

– Borboletas... elas não machucam ninguém – ah, ótimo, Chanyeol, acabou de chamar o garoto de fracote. Ahazando sempre, amigo. –  Bem, elas não machucam... – ganhei tempo e resolvi me sentar ao lado dele, como quem não quer nada. E ele deixou. – Mas... as vezes, alguém as vê e arrancam suas asas. Sem motivo algum.

O cheiro de álcool estava um pouco forte, eu estava ao lado dele agora, então dava pra sentir bem o cheiro da bebida destilada, fiquei encarando o armário, na minha como se não tivesse feito nada demais, mas Baekhyun estava incrivelmente calado.

Virei a cabeça para o lado e ele estava em choque.

Quase pensei que estava começando uma convulsão, mas ele começou a piscar rapidamente e a tentar verbalizar alguma coisa que eu não consegui ouvir inicialmente.

– Onde... onde você ouviu isso? – ele disse apenas. – Sobre as borboletas...

Ele perguntou de repente e, até então, eu não tinha pensado muito. Minha memória não é muito boa, mas eu tinha ouvido algo do tipo quando estava no ensino fundamental. Talvez tenha sido algum trabalho, em algum livro, minha mãe também... ela gosta muito de analogias sem sentido. Ou talvez eu só tivesse criado.

– Não lembro... em algum livro... talvez, da minha cabeça mesmo – fui sincero. Não ia bancar o fodão, se não me lembrava direito a origem da tal frase, não havia porque dizer que sim.

Voltei a olhar pra frente e então o silêncio perdurou por segundo que pareciam minutos que pareciam horas que pareciam milênios. Me peguei imaginando o quanto estava nervoso por estar sozinho com Baekhyun no quarto dele de novo, mas percebi que ele podia, de alguma forma, ler minha mente, mudei o jogo e me limitei a pensar no quanto aquele guarda-roupa era bonito e chique.

Logo ouvi alguns suspiros longos e quase pensei que Baekhyun tinha dormido, até sentir algo se apoiando no meu ombro. A cabeça de Byun Baekhyun está apoiada no meu ombro. Porra, eu não estou acreditando que meu coração deu uns pulos por causa disso!

– Então... quem arrancou as minhas asas? – fungou, a voz embargada parecendo mole e sonolenta misturada ao cheiro do soju me fez cogitar em abraçá-lo pelo ombro e afagar aqueles cabelos macios. Mas fiquei na minha. Como é que diz o ditado? Encobrir, não sentir, não deixar saber.

Queria responder aquela pergunta da maneira mais “Chanyeol” que eu conseguisse, mas só me imaginava pelado em um super mercado com vários Baekhyuns rindo de mim.

Deu nervouser.

– Eu... não sei, Baek...

– Ah, sabe. Sabe sim – ele tirou a cabeça do meu ombro e ficou me olhando profundamente, com os olhinhos quase fechados. Eu o encarei por um bom tempo, com medo de desviar o olhar e ele demonstrar alguma outra reação que eu não identificasse. Então ele mostrou aquele sorrisinho audacioso como se dissesse que sabe mais que todo mundo.

– Sei...? – por um momento, pensei em perguntar se foi eu. Mas ele podia rir da minha cara e falar que eu não sou nada pra ele.

Lidar com Baekhyun faz você sentir esses coisos de insegurança.

– Sabe, Chan – ele ergueu o braço com aquelas mãos bonitas tocando minha bochecha, bem no lugar onde minha covinha aparecia e enfiando o dedo lá. – Eu estou olhando pra ela.

Choque.

Bem, eu já sabia? Sim. Mas é sempre um choque quando a verdade vem te dá um oi e dá um tapão na sua cara que acaba com todas as suas esperanças e expectativas.

– Eu te odeio tanto por isso, Park – fungou e riu em seguida. Se jogando em cima de mim e voltando a colocar a cabeça no meu ombro. – Você tinha razão e eu chorei tanto sabendo que era verdade. Quis te odiar. Te odiar muito. Até doer os ossos.

– Me odiar? – falei, sem me virar pra ele, porque a cada tentativa de me virar ele fazia força e me empurrava para frente, para a cabeça ficar confortável onde estava.

– Daí você não me respeita – levantou a cabeça e deu um soco no meu braço. Doeu pra caralho. – Nunca respeitou. Vem na cara de pau e fica fazendo isso! Isso! – apontou o dedo na minha fuça e voltou a perfurar minha bochecha. – Fazendo isso! E me fazendo parar de te odiar.

– Como assim, Baekhyun? – tudo aquilo parecia pegadinha, quase me levantei pra procurar as câmeras. O que ele queria dizer com aquilo tudo? O que eu fiz que o afetou tanto?

– Você, Park Chanyeol, arrancou minhas asas há muito tempo – soluçou e voltou a encostar a cabeça em mim, fiquei imóvel. – E agora... Pfff, agora está aqui. Me dando um par de asas novas. É engraçado. Engraçado e bem triste também.

Ele rodeou os braços pelo meu pescoço, ainda deitando a cabeça sobre meu ombro, eu tentava entender tudo aquilo, mas era muita informação para um Park Chanyeol só.

– Eu não estou entendendo, Baek – repeti. Eu queria muito saber qual o fundamento das palavras deles, ou ao menos uma dica pra poder ligar os pontos porque... bem, simplesmente não achei pontos pra ligar!

Então ele bufou pela milésima vez e começou a fazer sons estalando a língua. Olhou para os lados e parecia procurar alguma coisa.

– Quero mais soju – disse baixinho, a voz com certeza estava mais sonolenta que antes. Eu já nem sabia o horário, mas não sairia dali até conseguir entender pelo menos uma palavra daquele dicionário todo.

Baekhyun tentou se levantar provavelmente em busca da garrafa – ou de uma nova garrafa – mas eu o puxei devagar, ele mal conseguiu se por de pé.

– Não pode me explicar? – verbalizei bem mais baixo que o esperado.

O silêncio voltou. Só queria que algo acontecesse pra sairmos daquele negócio assustador. Um meteoro caindo no quarto ou, Inês Brasil entrando pela janela e gritando, ou até um duelo de divas acontecendo com bate cabelo e todas essas quebradas, mas nada disso aconteceu.

É aquele ditado, non?

– Hoje – ele começou baixinho com a voz molinha. Se remexeu na cama, mas não se aproximou nem me abraçou como antes. – Neste mesmo dia, há sete anos...

– Sua mãe...

– Sim... – ele fungou mais profundamente no que era para ser um suspiro.

– Você quer falar sobre isso? – perguntei, reunindo toda a coragem que eu tinha pra levantar a mão e afagar os seus cabelos. Foi difícil, mas eu consegui.

– Não – num pulo que me assustou, e que também assustaria qualquer um, eu não sou frouxo!, ele se encolheu todo e deitou a cabeça no meu colo. – Você vai dizer a mesma coisa que disse quando te falei sobre isso pela primeira vez!

– Hein? – falei e comecei a devanear. Quando Baekhyun pode ter me falado sobre sua mãe antes de tudo? No dia em que eu bebi café? No dia em que nos beijamos atrás no ginásio? Ou... quando percebi, Baekhyun tinha tirado a cabeça do meu colo e voltado a se sentar no chão, brincando com a garrafa de soju vazia e olhando pra ela como se, só com olhar, fosse fazê-la ficar cheia outra vez. Ele também respirava pesadamente, fungando e com os olhos vermelhos. – Baek, me explica isso, por favor.

Queria acrescentar que pensar naquilo estava me deixando louco. Doente! Eu já nem comia direito e se comia, comia pensando nele e em todas essas paranoias que eu comecei por culpa dele. Eu estava só o resto. Era um resto de gente. Um resto de Chanyeol!

Nem minhas piadas estavam mais tão engraçadas, isso machuca muito.

– É culpa minha, Chanyeol, tudo isso que acontece – ele murmurou, limpando o nariz com brutalidade. – Tudo o que meu pai passa pra sustentar eu e minha irmã, sozinho. O que meus avós passam. É culpa minha! Ela não teria ido se eu tivesse ficado quieto! A culpa é minha! Ela disse que compraria outro! Mas eu insisti! Mãe! Eu sinto tanto! Eu sinto tanto a falta dela que a dor chega a ser física! Mãe... se eu tivesse a chance de voltar eu teria deixado aquela porcaria! Eu sinto tanto sua falta! Eu te amo tanto, mãe!

Ele começou a surtar, abraçando a garrafa vazia junto ao peito, encolhendo as pernas para junto do corpo parecendo pequeno e vulnerável. Os olhos estavam cerrados com força, e eu finalmente percebi a gravidade daquele pesadelo sem fim que afetava a vida dele.

Me sentei rapidamente a sua frente, puxando a garrafa de suas mãos com dificuldade, já que ele agarrava aquela coisa como se estivesse agarrando seu potinho de almas, ele chorava muito, os ombros tremiam e as lágrimas molhavam todo seu rosto, seus olhos não abriram e parecia muito que ele estava preso em um sonho muito ruim. Apertei suas mãos com força, fazendo-o se aproximar mais de mim, tentando a todo custo fazer com que minha voz fosse mais audível que os pensamentos e o choro sofrido do meu Baek.

– Não, Baek, não foi sua culpa! Nunca foi, eu não se de onde você tirou isso, mas não é sua culpa! Se ele partiu foi porque alguém precisava dela em algum outro lugar – falei calmo, mas já sentia as lágrimas brotando nos olhos e a voz ficando trêmula. Nem isso foi o suficiente para fazê-lo parar de chorar, só estava piorando tudo porque eu iria começar a chorar em segundos se aquilo continuasse.

– Mas e eu? E eu?! O que eu faço sem ela? Sou eu quem precisou mais dela do que qualquer outro! – ele nem se importava em manter os olhos fechados, segurava minhas mãos e as apertada tanto que os nós dos dedos ficaram brancos. Nenhum de nós se atrevia a quebrar o contato visual banhado em lágrimas. – E quem saber? Eu ainda preciso! Por sete anos! Sete anos e ninguém nunca me abraçou como ela! Ninguém nunca me acalmou como ela fazia! O que eu queria, Chanyeol, era olhar nos olhos dela mais uma vez e dizer que a amo muito!

Eu já nem sabia mais o que falar, já soluçava tanto quanto ele, não conseguia vez mais nada por conta das lágrimas que me cegavam e o meu impulso foi de colar nossos corpos imediatamente. E foi o que eu fiz.

O abracei forte enquanto sentia os soluços abafados, eu estava no mesmo estado, ele fungava tanto que inconscientemente me perguntei como ele ainda respirava, mas no momento em que ele apertou fortemente o meu tronco, tudo sumiu e eu afundei o rosto no seu ombro, assim como ele havia feito. Nós dois chorávamos como duas criancinhas.

Passado algum tempo naquele mar de choro sem fim como naquelas novelas mexicanas com muito drama e pouca história, os soluços foram diminuindo gradativamente, então Baekhyun se desvencilhou lentamente, coçando os olhos como uma criança que acabou de acordar cedo demais.

Ele me encarou com aquele ar sonolento e tonto que podia ser culpa do choro, sono ou do soju, me olhou confuso e, meio receoso levantou a mão e passou-a devagar pela minha bochecha, os dedos frios dele encostaram-se em meu rosto quente e eu tive vontade de gritar e sair por aí dando a louca.

– Por que está chorando? – ele falou, me olhando meio avoado. A mão passeava pelo meu rosto grudento pelas lágrimas e eu estava doerando muito tudo aquilo.

– Seus dedos estão frios – respondi. Ele riu soprado sem nenhum sinal de sarcasmo. Parecia que iria cair no sono a qualquer momento.

– Por que está chorando, Chanyeol?

– Porque estou vendo você chorar.

Ele me olhou com os olhos úmidos bem abertos e desviou o olhar por alguns segundos, fitando aquelas mãos bonitas com resquício das minhas lágrimas. E das dele também. Me segurei pra não fungar ou algo parecido naquela hora, se eu fungasse eu fizesse qualquer outra coisa, voava ranho por todo o quarto.

– Você não colabora comigo, né Park? – murmurou olhando os dedos.

– Eu? Quê?

– Eu acho que posso te perdoar – ele sorriu enigmático. – Mas daí você precisaria me perdoar também.

– Do que você está falando?

– Papo de bêbado – resmungou. – Já que você diz que eu sou a borboleta, o que é você? Abelha, vespa? Borboleta também?

Eu olhei nos olhos dele que já quase se fechavam de tão pequenos, ele parecia gostar de brincar com meu emocional a cada segundo que passava.

Nem precisei pensar muito pra dizer a primeira resposta que me veio à cabeça e me surpreendi por soar tão natural.

– Se você é a borboleta eu me contento em ser a sua flor – disse bem baixo, enquanto matutava se era aquilo mesmo que eu sentia. Pelos pulos do meu coração eu pude presumir que sim, eu estava bem fodido na vida mesmo.

– Assim fica difícil pra mim, Park – ele puxou minha orelha, lançando um sorrisinho. – Soo vai me encher de porrada.

O sorrisinho aumentou. Meio que eu me desanimei, até um bico escroto eu fiz pra demonstrar meu descontentamento.

– Você gosta do Kyungsoo? – não aguentei e afrontei mesmo.

Baekhyun riu do vento e apertou meu bico com os dedos. Deu um tapa na mão dele, porque doeu!

– Ele é meu irmãozinho – riu de si mesmo. – Ele me mataria se me ouvisse falando isso.

– Você gosta mesmo do Kyungsoo? – repeti, dando bastante ênfase.

– Você fica engraçadão com esse bico escroto, sabia?

– Só me fala, caralho!

– Por que tem implicância com meu Soo? – ele fez um bico e eu bufei.

“Meu Soo”. Vá à merda, Byun Baekhyun!

– Não tenho implicância com ele – resmunguei.

– Ah, tá – riu.

– Se você tem implicância com ele então... tem uma crush nele? – falou baixinho como se fosse segredo internacional.

– Não! Nunca! – nem me alterei, aquilo estava me dando raivinha. Mas Baekhyun estava mais dormindo que acordado. Tudo iria passar depois que ele dormisse.

– Esse negócio de crush me cansa – falou, levantando com dificuldade e sentando na cama.

Dei um sorrisinho de lado. Pensando em como poderia realizar o plano que eu havia planejado mais cedo. Mas, por enquanto, eu até podia me aproveitar um pouco da situação.

Não, não é nada disso que está pensando, Jesus.

– Ei, Baek – me sentei ao lado dele. – Qual seu tipo ideal?

– Eu não estou tão bêbado assim, Chanyeol – ele soltou aquele risinho sonolento.

Bufei, bem frustrado e revirei os olhos, sentindo o dedo dele furar minah bochecha de novo.

– Fecha os olhos, e então eu te falo – murmurou com aquela voz sonolenta que me fazia cair no chão e quicar de volta igual uma mola.

Eu, fui trouxa sim, fechei os olhos e esperei ele chegar no meu ouvido e falar que me amava e tals, afinal, era o óbvio.

Mas Baekhyun não era óbvio.

Ele é um buraco negro cheio de mistérios dolorosos, lembra?

Então, com os olhos fechados, eu pude ouvir aquela risadinha marota, senti a respiração dele se aproximando e, quando eu já podia ouvir a voz dele, suas mãos tocaram minhas bochechas e viraram meu rosto  de surpresa.

– Ei! – abri meus olhos, mas nem deu tempo de ver nada. A boca do crush já estava na minha e eu só via estrelas. Aish, Byun Baekhyun, qual é a sua?

Eu estou retirando a minha teoria de que Baekhyun é um buraco negro.

Neste momento ele é mais como uma supernova explodindo em mil cores.

Eu quase podia ver essas mil cores de olhos fechados.

– Olha aqui, se você contar pra alguém sobre isso, eu te mato e te enterro bem longe – ele falou sem olhar diretamente pra mim.

“Isso” o beijo ou “isso” o... surto?

Ele revirou os olhos e voltou a encostar a cabeça no meu ombro, me abraçando.

E em três minutos a supernova se transformou em buraco negro.

 

 

---*---

 

 

Eu fiquei vendo Baekhyun dormir o resto da tarde toda, e sinceramente não sabia que horas eram, ou se alguém tinha me ligado ou mandado alguma mensagem. Se meu celular tocou ou vibrou eu também não saberia dizer. Ficar observando o crush dormindo não era lá uma coisa muito normal – e nem saudável, mas a minha tendência é ser trouxa, e isso falava mais alto do que qualquer coisa – mas eu precisava daquilo. Tipo quando você come alguma comida apimentada deliciosa, sua língua arde, seus olhos lacrimejam, você fica suado, mas ainda sim continua comendo porque aquilo é simplesmente maravilhoso e tão delicioso que você nem se importa de comer até estourar!

Estar com Baekhyun fazia com que eu me sentisse bem, apesar dos batimentos cardíacos aumentarem e eu ficar tremendo as vezes como vara verde, mas era assim que eu me sentia bem né, vamos fazer o quê? Até minha respiração ficava melhor quando eu estava perto daquele demônio. E olha que estávamos num ambiente fechado e climatizado por condicionador de ar, algo que irrita muito meu nariz e eu costumo nunca me livrar do ranho por conta disso.

Depois de um tempão analisando o rosto dele, de analisar o cabelo dele e algumas coisas mais do meu crush que antes eu achava inalcançável por ele me odiar – e agora descobri que não me odeia e tal, mas ainda assim me parece confuso e absurdo demais pra ficar tranquilo e comer meu cereal em paz – e estava quase dormindo também quando ouvi batidas rápidas na porta.

– Papai está indo com a vovó para o centro e eu estou indo até a casa da Yuju – a voz de Joohyun soou autoritária e mais dura do que servia ser para uma criança de dez anos. – Hyunie? Você está aí? – ela falou, evitando o “oppa” como sempre o chamava quando estava perto de mim, girou a maçaneta devagarzinho e entrou.

Os olhos redondos varreram o quarto enquanto ela apertava uma bolsinha florida, provavelmente preocupada com o irmão ou algo parecido, mas quando seus olhos encontraram os meus, o rosto angelical e preocupado passou para rosto de cria de satanás em menos de um segundo.

– Ah, tio,você ainda está aqui – ele meio que bufou educadamente, olhando para Baekhyun que estava deitado de qualquer jeito na cama e pra mim, que estava sentado no carpete apoiando os braços no colchão, virando o pescoço o máximo que podia para olhar pra ela.

– Estou – murmurei e então a vi entrando no quarto e fechando a porta.

– Como o oppa está?

(Ela usou o “oppa”) Se aproximou sem a expressão de deboche costumeira. Olhei em seus olhos e percebi que ela parecia muito com a mãe.

Os dois Hyuns eram muito parecidos com Taeyeon, na verdade.

– Ele dormiu – disse, sonolento.

– Jura? Como eu iria notar isso? – ela revirou os olhos, eu estava com os olhos pesados, nem pude fazer o mesmo. Além disso, ela bufou e aquele jeito dela me lembrou muito Kyungsoo, que só quer tudo do jeito dele e nunca pensava nos outros. Ela deve ser de capricórnio.

O que me surpreendeu foi ela ter sentado na minha frente, com a expressão séria de determinação no rosto infantil, alternando os olhares entre mim e Baekhyun por vários segundos, até finalmente me olhar nos olhos, bem mais séria que eu que estava quase morrendo e dormindo no chão mesmo.

– Ele se culpa por ela ter ido – falou meio receosa de como começar. – Nós ouvimos o surto dele, todos os anos, Soo oppa o ajuda quando chega essa data. Ele é bem idiota, sabe, mas é bem sensível quando o assunto é a mamãe.

As palavras sérias da menina me deixaram bem triste. Será que ela não tinha sentimentos também? Ela era uma cria de Kyungsoo? Salvem a pobre Joohyun!

– E você não?

– Não, eu sei que ela está bem – piscou, séria. – Ela não me quer ver triste, não quer ver o Hyunie triste, não quer ver o Appa triste.

Dizem que crianças se comunicam com mortos, então quem sou eu para discordar dela.

– Nossa – pensando bem, aquilo tinha realmente sentido. A morte não é uma coisa ruim para quem morre, é apenas um novo ciclo. Quem vai não sofre, quem sobre é a pessoa que fica e tem que lidar com a perda.

Chanyeol poeta atacando novamente.

– Eu não a conhecia muito bem, mas sei que era uma boa pessoa, e era bonita também! – sorriu, vaidosa. Quase apertei aquelas bochechas, mas lembrei que estava mexendo com crias de tinhoso. – Oppa conviver mais tempo com ela, então... ele tem mais lembranças e isso dói mais nele.

– Mas você também senta a falta dela.

– Sinto, é óbvio, não seja burro – ela revirou os olhos. – Mas ela sempre está perto de mim, então eu fico tranquila.

– Ah, faz sentido. – murmurei.

– Eu tenho um caderno dela comigo, ele é cheio de coisas bonitas escritas então eu sinto que estou perto dela quando leio.

Ela pegou uma pequena agenda de dentro da bolsa florida que carregava – coisa que eu não havia notado até então – e me mostrou.

Eu peguei o caderno timidamente e folheei algumas páginas,eram cheios de poesias, frases e textos simbólicos. Até que achei algo familiar.

 

Há pessoas como as vespas

Ferem por ferir

Há pessoas como as abelhas

São feridas quando ferem

Há pessoas como as borboletas

São feridas

KIM Taeyeon

 

Senti a mão pequena de Joohyun interromper minha leitura, então levantei minha cabeça e a vi quase suplicando.

– Tio, conserte o que você fez, por favor – ela tocou minha mão e por um segundo, vi Taeyeon.

– Consertar?

Ela acenou com a cabeça freneticamente.

 

– Tio... tio? Acorde e me devolva isso! – ela puxou a agenda, fazendo aquela mesma cara de “sou superior” e então se pôs de pé. – Eu estou indo, quando meu irmão acordar avise que eu fui até a casa de Yuju, papai saiu para o centro com a vovó, então não sei que horas voltam, eu acho que volto as sete se a mãe da Yuju me der carona, se não, eu ligo pra cá.

Ela falava como se eu fosse seu empregado pessoal, eu estava com dor nos olhos e na cabeça, apenas concordava.

Ela saiu apressada, batendo a porta forte demais, eu quase senti as paredes tremerem, minha cabeça latejou e eu fiquei pensando – de novo – no que fazer para animar Baekhyun.

O que se faz para deixar uma pessoa feliz quando ela está triste. Palhaçadas não vão servir. Conselhos femininos estão fora de questão, já me fodi o bastante escutando garotas.

Eu acho que preciso cavar bem fundo nesse meu cérebro pra achar algo que realmente funcione.

– Chen! – sussurrei, sem querer acordar Baekhyun que dormia profundamente sem ligar pra nada (sinceramente, não sei como ele não acordou com o barulho que Joohyun fez quando fechou a porta).

“Chanyeol? Cara, você tinha que ligar agora?”

Ele devia estar com Minseok hyung.

– É, sim... eu preciso de um conselho e não queria perguntar pra nenhuma garota, não quero me foder ainda mais. Hm, o que você está fazendo?

“N-nada, Yeol” respirou fundo e eu o interrompi.

– Então, se o Minseok tivesse triste, bem pra baixo mesmo, o que você faria?

“Hein? Pra quê você quer saber disso, cara?”

– Só me fala, é um exemplo, me diz o que você faria!

“Não sei, talvez... levaria ele pra jantar, passear ou... beijaria ele...” terminou com um risinho bem safado.

Jongdae é um puto mesmo.

– Tá, tá, me poupe dos detalhes.

“Me diga por que quer conselhos sobre isso.”

– Bom...

“É o Baek?” nem precisei confirmar. “Se ele estiver mal, deixe ele bater na sua cara, ele ficaria bem feliz” e então ouvi a risada exagerada do meu amigo.

Tchau, Chen.

Se eu quisesse algo bem feito, eu teria que pensar sozinho. Já que estava lidando com analogias o dia todo, meu plano era simplesmente fazer com que a supernova chamada Baekhyun (pois é, eu não tenho criatividade) fosse eterna, e não durasse apenas alguns minutos. Ele com certeza espalharia mais cor e brilho e esses troços todos de viadagem que eu nem preciso citar.

Foi então que eu percebi que Baekhyun me olhava sentado na cama, com os olhos caídos de quem acaba de acordar de um bom sono, completamente inexpressivo.

Eu nem disse nada, só apertei o telefone nos dedos e fiquei olhando pra ele com maior cara de tapado do universo, Baekhyun que me perdoe, mas eu estava me segurando pra não deformar aquelas bochechas.

– Quê?

– Amanhã... – tremi igual um treco que eu não sei dizer agora, acho que esgotou-se o pacote de analogias do catálogo.

– Amanhã o quê?

– É domingo.

– Jura? Vai me dizer que depois de amanhã é segunda?

– É.

Impressionante.

Nós dois estávamos com cara de morte. Eu pelo sono desgraçado que eu não sabia de onde tinha surgido, e Baekhyun provavelmente ter acordado depois de três horas com a cara amassada, babada e marcada.

Ele levantou com aquela dificuldade básica que todo mundo tem chamada preguiça e já ia seguindo pro banheiro quando eu respirei fundo – quase me engasgando – e verbalizei tudo o que eu precisava pro meu plano Supernova dar certo.

– Amanhã nós vamos sair.

Ele parou no meio do caminho e me olhou de cima abaixo como se eu tivesse pirado. Como se meu cérebro estivesse no chão e minha cabeça, oca no momento, pegando fogo com vários pedacinhos de madeira carbonizados dentro dela ocupando espaço.

Mas ao contrário do que eu pensei, ele não riu sarcástico nem me mandou tomar no cu. Ele só piscou uma, duas vezes e levantou as duas sobrancelhas, meio surpreso, meio com sono.

Digamos que era 99% com sono e 1% surpreso, para ser justo.

Então ele olhou um ponto acima da minha cabeça, fazendo um bico pensativo e dando os ombros virando as costas em seguida e indo ao banheiro.

– Tá.

NÃO PODE SÊ!

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Tô indo, pra fugir dos tijolos <3 (cansadona por ter -tentado- revisar, mas a gente supera)
Bjão, até o próximo.


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