Abril passou, e agora é maio. Neste meio-tempo, Mandetta e Teich não se encontraram mais, visto que o novo ministro alertou o antigo de que podiam estar sendo vigiados, mas continuavam a manter contato por Whats App, sempre que possível.
Os sentimentos entre ambos se fortaleceram. O que poderia ser apenas uma admiração mútua passa a ser algo mais. Um dia, Henrique pega seu celular e vê que Nelson lhe manda uma foto, trajando um terno preto e uma gravata azul, perguntando:
Teich: você acha que esse conjunto fica bom? Fico bonito?
Para Henrique, isso foi bem inesperado. Fica se perguntando se isso foi apenas uma pergunta inocente... ou não? Decide por arriscar.
Mandetta: pra mim, você é bonito de todo jeito, Nelson. ;)
Teich: mesmo? rs
Mandetta: aham! Bonito, inteligente, sensível... Pacote completo! ;)
Teich: assim você vai me deixar sem graça! Rsrs
Mandetta: queria mesmo era te deixar sem roupa! :p
Teich: meu Deus?? Hahaha
Mandetta: é só piada, calma! Kkkkkk
Teich: ah tá. rsrs
"Caralho, essa foi por pouco!" Luiz pensa consigo, envergonhado. "Que que eu tava pensando em falar uma coisa dessas agora?! Pensa com a cabeça de cima, Mandetta!!"
No ministério, Nelson se ri todo, sozinho no seu gabinete. Com o rosto todo vermelho e o coração acelerado, ele lê e relê as mensagens mais algumas vezes. "Ele realmente quis dizer isso? Ou estava só brincando mesmo?", pensa, afrouxando a gravata pra aliviar um pouco o calorão subindo pelo corpo. Guarda o celular rapidamente ao ouvir o barulho de porta se abrindo.
Pazzuello: ei chefe, tá aqui os papéis que o senhor... Tá tudo bem, ministro?
Teich: hm? Claro, por que a pergunta?
Pazzuello: o senhor tá todo vermelho, parecendo um pimentão! Ih, carai! É febre?? Tá com coronga?? (Dá dois passos grandes pra trás tapando nariz e boca)
Teich: pára de bobagem, Eduardo. Não estou com coronavírus. É só um pouco de calor. Bom, obrigado pelos papéis. Agora vamos voltar ao trabalho.
Chega outro dia, 11 de maio de 2020. Outro dia em que Nelson mal conseguiu dormir diante das más notícias sobre a pandemia e de Bolsonaro, seu chefe, fazendo de tudo pra desestimular o cumprimento ao lockdown e as medidas de proteção sanitária. Ainda assim, o ministro faz o que pode pra se manter minimamente acordado, como tomar muitas xícaras de café. No fim daquela tarde, daria uma coletiva de imprensa para falar sobre as ações tomadas pelo ministério pro combate à pandemia. Tudo ia normalmente, dentro das circunstâncias, até que um repórter pergunta ao ministro:
Repórter 1: ministro, o presidente Bolsonaro baixou um decreto hoje liberando barbearias, academias e salões de beleza como atividades essenciais. Queria saber se isso teve o aval do ministério da saúde, se o ministério concordou com isso.
Ao ouvir isso, Nelson se cala. Está tão cansado que se sente como se estivesse tendo alucinações auditivas. "Barbearia? Salão de beleza? Atividades essenciais? É isso mesmo que eu ouvi? Não, o presidente não faria essa estupidez, com a pandemia em ascenção... Faria?"
Teich: isso foi uma decisão do presidente... Que ele... Decidiu isso, isso, saiu hoje isso??
Repórter 1: ele acabou de falar no Alvorada.
Repórter 2: falou agora!
Teich: falou agora...
Ele olha pro lado, onde Pazzuello está sentado, como que perguntando se o auxiliar já sabia disso. Pazzuello balança a cabeça negativamente, rindo. Apesar da negativa, Teich não acredita nele e sente seu sangue ferver e começa a perder seu raciocínio lógico.
Repórter 1: essa decisão passou pelo ministério?
Teich: decisão de?? Quem é que sai, é, pééé, manicure... Academia...
Repórter 1: academias, salões de beleza e...
Repórter 2: barbearias!
Repórter 1: barbearias!
Teich: ... Barbearia...
Repórter 1: barbearias, salões de beleza e academias. Isso passou pelo ministério?
Teich: não, isso daí não é... Acho que... Não! Não passou! Isso não é uma decisão nossa, isso é uma decisão do presidente!
O resto da coletiva segue sem que o ministro consiga se concentrar em responder as outras perguntas. Seus lábios cerrados e a mão segurando firme no pulso da outra demonstram o esforço que faz pra não sair dali correndo e fazer alguma besteira. Nunca na sua vida achou que passaria por tanta vergonha como a que sente neste momento e ser tratado com tanto desrespeito por alguém a quem julgou ser de confiança. "Como que o presidente toma uma decisão dessas sem falar comigo, pelo menos?! Sou eu o ministro da saúde ou não?! Não é o momento!! Não é!!" pensa, trincando os dentes de raiva. Quando a coletiva termina, Teich se levanta rapidamente e segue de volta pro ministério, onde se tranca no gabinete. Sequer teve a coragem de olhar na cara de seus auxiliares e funcionários públicos, sabendo que eles devem ter assistido àquela cena patética. Enfim sozinho, Nelson se senta no canto da sala, junto à parede. Sente sua saúde mental, já fragilizada de outros tempos*, se deteriorar em questão de poucos minutos. Não deseja ver ninguém... Até que escuta batidas na porta.
Mandetta: Nelson? Nelson! Sou eu, abre aí por favor!
Enxugando as duas lágrimas que saíam dos seus olhos, Teich se levanta e abre a porta.
Mandetta: ok, antes que você comece a brigar comigo dizendo que eu não deveria ter vi-
Antes que o ex-ministro pudesse concluir, Nelson o abraça fortemente e apoia a cabeça no ombro do outro, com um suspiro triste. Mandetta o abraça de volta e lhe dá todo o tempo do mundo até decidir falar. Nunca saberia explicar o motivo e nem como isso aconteceu tão rápido, o fato é que Nelson se tornou alguém importante demais pra ele.
Teich: você viu na TV, né?
Mandetta: ... É, vi sim.
Teich: hm... Então com certeza isso já está na internet também. Ou seja, minha humilhação agora é eterna.
Mandetta: foi Bolsonaro quem fez isso, Nelson. Você não precisa continuar se sujeitando a isso!
Teich: e pedir pra sair em menos de um mês? Se a vergonha de hoje não fosse o suficiente, ainda vou sair daqui como um completo derrotado?
Luiz resolve não dizer mais nada, compreende bem a posição do outro médico.
Mandetta: ok... Mas saiba, Nelson, independente do que você decidir fazer, você tem meu completo apoio.
Pelo menos isso serviu pra aquecer um pouco o coração de Teich, que consegue abrir um sorriso pequeno ao ouvir isso. Sabia que Henrique o faria se sentir melhor, a simples presença do homem já fazia esse efeito nele.
Se afastam um pouco do abraço, mas agora seus rostos estão muito próximos, apenas alguns centímetros os separando. Entendem que já não podem mais fingir que não há nada acontecendo entre eles. Mandetta é quem toma a iniciativa, se aproximando lentamente pra dar um beijo nos lábios de Teich. O oncologista retribui o gesto, dessa vez com um beijo um pouco mais longo, os dois médicos apreciando a sensação de seus lábios se tocando. Depois, permanecem em silêncio, curtindo estarem abraçados e não pensar em mais nada senão no quanto se amam e querem levar isso adiante.
Mandetta: então... Quer que eu te leve pra casa?
Teich: se não for problema pra você...
Mandetta: claro que não!
Ao chegarem no apartamento funcional de Teich, o ministro vai direto se deitar. Está cansado e abatido demais depois desse dia. Mandetta se senta ao seu lado na cama pra lhe dar mais um beijo, e quando faz menção de se levantar e ir embora, Nelson segura sua mão.
Teich: você não quer ficar?
Mandetta: bem... Se você quiser que eu fique...
Teich: sim. Quero muito.
Mandetta: tá bom, eu fico.
O ortopedista tira os sapatos, o casaco e o cinto, e se deita ao lado do ministro, o abraçando. Nelson se aconchega e se encolhe nos braços do seu novo amor, que sorri antes de fechar os olhos. Mesmo de roupa, os dois adormecem juntos.
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