15 de maio de 2020, no Palácio do Planalto. Após várias humilhações, desfeitas, quebra de acordos e pressões, Teich finalmente junta coragem pra pedir a sua demissão. Está tendo uma conversa particular com seu chefe, Bolsonaro, expondo suas razões da maneira mais educada que consegue, apesar das coisas entaladas na sua garganta que gostaria de dizer.
Do lado de fora, Mandetta o espera no carro, jogando paciência no celular. Cerca de 15 minutos depois, vê o seu magrelo retornando.
Mandetta: e aí?
Teich: bem... É oficial. Não sou mais ministro.
Mandetta: impressão minha ou até o seu semblante tá outro? (Risos) o olho tá até mais aberto!
Teich: (risos) não vou negar, meu bem... Tá sendo bom demais tirar esse peso dos meus ombros. Vou dar uma entrevista coletiva mais tarde, anunciando à imprensa a minha saída.
Mandetta: querendo uma ajudinha pra escrever o discurso, tamos aí! Deixar um recadinho desaforado pro Bozo, que tal? (Risos)
Teich: não, Henrique, nem pensar. Não quero mais criar polêmica com ninguém. Quero apenas sair de cena e ir com você pra bem longe daqui!
Mandetta: ok, compreensível... Bom, que que a gente faz agora então? Enquanto a hora da sua coletiva não chega?
Teich: bom, preciso passar no ministério e juntar minhas coisas do gabinete.
Mandetta: verdade. Falando nisso, o presidente chegou a te dizer quem vai te substituir?
Teich: não, ele não me falou nada. Mas tenho quase certeza que o Eduardo vai ficar um bom tempo como interino, até o presidente encontrar alguém que faça tudo o que a ciência não recomenda.
Mandetta: (risos) como se fosse difícil! O Osmar Terra Plana, a japonesa da cloroquina, o doctor Rey!
Teich: meu Deus do céu...
Mais à tarde, após terem arrumado as malas, comprado as passagens para Campo Grande e Henrique ter largado Nelson no prédio do ministério da saúde, Teich e alguns de seus auxiliares se juntam no espaço reservado para as coletivas de imprensa para o ministro anunciar, oficialmente, a sua saída. Mandetta ficou numa lanchonete perto dali, acompanhando pela TV, sorrindo de orgulho pelo namorado ter tomado a decisão certa. O discurso de Teich foi curto e objetivo, como sempre foi do seu estilo, e sem ataques ou indiretas a Bolsonaro, sabendo que poderia ser colocado na mira do Gabinete do Ódio. Não queria ter incomodação alguma com essa gente. Quando está tudo terminado, Mandetta vai mais uma vez buscá-lo de carro e os dois ex-ministros seguem juntos para o aeroporto. Em público, não ficam tão próximos e nem se dão as mãos. Mas já em seus lugares, dentro do avião, ficam de mãos dadas discretamente e conversam baixinho, planejando os próximos passos. Henrique planeja voltar a atender pelo SUS e ter reuniões políticas paralelamente, planejando uma candidatura à presidência da república, enquanto Nelson decide tirar uns dias de descanso, voltar a administrar seus negócios e nunca mais se meter com política.
Após muitas horas de vôo e viagem de carro, finalmente chegam na fazenda de Mandetta, no interior do Mato Grosso do Sul.
Mandetta: bem-vindo ao meu humilde refúgio dos problemas do mundo! (Risos) me dá aqui tua mala que eu levo lá pro quarto.
Teich: obrigado, querido.
Enquanto Henrique deixa as malas no quarto principal, Nelson fica a olhar pra todos os cantos, começando a se sentir confortável com o ambiente simples, o silêncio, apenas quebrado pelo canto dos pássaros, e o cheiro particular de verde e madeira. Tudo parece tão tranquilo, depois de semanas seguidas de correria e estresse em Brasília. Tudo fica ainda melhor quando sente os braços de Henrique o abraçarem por trás, os beijos do amante em seu pescoço e sua voz sedutora cochichar em seu ouvido:
Mandetta: enfim, sós.
É o que basta pro oncologista se derreter nos braços do ortopedista, permitindo seus avanços. Henrique o carrega em seus braços pro quarto sem problemas, visto que o homem é tão leve quanto uma boneca de pano.
Mais tarde, à noite, os dois pombinhos estão no lado de fora, deitados na grama e olhando pras estrelas. E nos dias seguintes, se preocupam apenas em passar o tempo para descansar, passear a cavalo, tomarem banho de rio, cozinharem juntos... Coisas como um casal de verdade. Nem imaginam que, um ano mais tarde, teriam que trazer de volta as memórias desse período difícil em que foram ministros da saúde como os dois primeiros depoentes da CPI da Covid no Senado, criada para apurar a omissão e os crimes de Bolsonaro durante a pandemia.
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