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História Maniac. - It's time to grow up


Escrita por: Eustakiah

Capítulo 9 - It's time to grow up



Era quase hora do nascer do sol, os primeiros raios da alvorada já espreitavam o horizonte. O quarto, antes negro pela noite, era opticamente monocromático em cinza. Estava frio e parecia vazio, mesmo com mobília. Tudo que havia no cômodo era o calado ecoar dos suprimidos soluços do garota, e uma culpa que passou a guiar as decisões de Tomioka.

O jovem não queria mais ficar calado. Não queria mais manter distância emocional. Não queria que mais um encontro com aquela moça acabasse em memórias deprimentes e reprimidas. Já não aguentava mais não saber o que se passava com ela. Foi nesse pensamento e naquele quarto pequeno do apartamento que, o Tomioka, pela primeira vez em eras, tomou uma atitude:

— Kochō, você está bem?

A moça, assim que ouve a voz dele, prende a respiração, tentando retrair o choro. Permanece quieta, imaginando que o rapaz assumiria que estivesse dormindo. Porém, Tomioka não era tolo assim. 

— Kochō? — Encosta a mão sobre as costas dela, fazendo-a se arrepiar.

Esforçando-se para não desabar, a garota apertava com força as pálpebras e amassava seus lábios um no outro visando engolir as lágrimas. Seus pulmões, entretanto, não aguentariam mais tanta pressão. Acabou liberando o ar tremulamente, antes de puxar fôlego outra vez para permitir que haja voz. Tomioka tenta tocá-la novamente, mas Shinobu se distanciou, e com aflição lhe preenchendo o peito, abriu a boca para falar:

— Eu… — Ela corta aquele silêncio do ambiente com sua voz fraca, pouco rouca do choro — Eu minto. Eu minto para mim todos os dias quando penso em você. — Shinobu encolhe o corpo abraçando a si mesma, ainda de costas para o rapaz. Uma lágrima escorre do seus olhos avermelhados, descendo pela redonda bochecha em direção ao colchão — Eu digo a mim mesma que você não presta, que só me faz mal, que se aproveitou de mim. Eu me manípulo dizendo que eu só acabo voltando pois você conhece meu corpo, porque eu gosto quando você me toca e mais nada. Mas eu sei, Tomioka, lá no fundo… sei que é mentira. E isso me machuca. Porque eu odeio ter que continuar mentindo todo santo dia, já que não consigo parar de te querer. Mesmo depois de tudo.

— Kocho… — Tomioka tenta se aproximar da garota, porém antes que tivesse chance, ela continua o monólogo.

— Você já percebeu, Tomioka? — Shinobu fala, sentando-se do seu lado da cama, massageando as próprias mãos de cabeça baixa — Eu nunca mais te chamei pelo nome, desde aquele dia. Nunca que aquelas palavras saíram da minha cabeça. "Não me chame pelo meu nome", você disse — A lembrança vem a Tomioka como se tivesse acabado de acontecer. O rapaz sente a culpa em suas costas, entretanto, permanece inerte, apenas de ouvidos atentos àquelas duras palavras — Não acho que vá entender, nem sei porquê decidi te contar isso. Eu só… Não aguento mais guardar pra mim — Shinobu volta a chorar, levando o rosto às palmas, engasgando-se ao respirar num lamento doloroso e agonizante.

Giyuu observa a cena sem saber o que dizer. Cada segundo que se passava, sua consciência pesava mais e mais, assim como seu coração que sentia morrer aos poucos. Queria dizer alguma coisa, qualquer coisa. A garganta coçava de palavras que sempre quiseram, entretanto nunca puderam sair. Sente seus olhos molharem, era culpa sua, não era? Nenhuma novidade, babaca. Além disso, não vai fazer nada de novo? Medroso como de costume, incapaz de sair da zona de conforto. O rapaz senta na beirada da cama, cabisbaixo, sentindo-se entalado. Cogitou em sair do local e deixar a garota ali.

Espere.

Não, Giyuu, não desista — só precisa de um esforcinho, mesmo que desabe depois da explosão, mesmo que nada que sua língua gesticule faça sentido. Abra a boca, force sua goela, liberte-se. Estava cansado de fugir, precisava haver confronto. Enxugando o rosto, inspira profundamente.

— Kocho… eu… — Ele trava. Estava hesitando, numa hora dessas? Vamos, fale, Giyuu. Está na hora. Não haverá outra chance, sabe disso. O rapaz dá uma última inspirada — Eu… Eu tenho me odiado. Eu me odeio profundamente pois sou um covarde. Não consigo encarar a verdade, eu tenho medo. Medo de lidar com a culpa. Medo de  reconhecer que, depois das merdas que fiz, depois das terríveis decisões que tomei, eu ainda tenha ousadia de te amar — Shinobu choca-se ao ouvi-lo falar, parando o choro — Medo de admitir que você estar assim é tudo por minha causa. Eu tentei meu máximo negar isso, mas já não posso, pois quanto mais tento superar, quanto mais tento me manter distante, parece que tudo afunda. E eu só… te puxo pra baixo comigo.

— Isso… não é verdade… — Shinobu sussurra.

— Porra, qual o meu problema?! — Tomioka bate na própria cabeça em raiva.  — Eu consegui estragar o relacionamento com uma das pessoas mais importantes da minha vida! 

— NÃO É SÓ CULPA SUA. — A garota se exalta, virando para o rapaz. Seu rosto estava inchado, olhos e bochechas molhadas e os lábios rachados. Era perceptível, quase tangível sua dor — Tudo começou a dar errado quando eu me confessei. Fui eu que deixei tudo estranho entre a gente.

— É aí que está, Kochō. Antes de você confessar, antes de sequer gostar de mim, eu já tinha estragado. Eu me deixei seduzir pela fantasia de uma paixão adolescente com você. Mas acabou que não era por você de verdade que eu estava apaixonado. Era por uma Shinobu criada nos meus sonhos. E eu não fui maturo o suficiente pra lidar com a realidade. 

— Você não precisa ficar tentando justificar sua rejeição, ninguém é obrigado a ficar com alguém — Shinobu soou ofendida.

— Não, Kocho. Eu poderia ter feito aquilo de tantas outras maneiras e eu escolhi ser escroto. Tudo o que você tá sentindo agora é culpa minha. Fui eu quem te rejeitou daquela forma, foi eu que transei com você quando tudo o que você queria era um amigo. Foi eu que nunca teve coragem de admitir nosso relacionamento. Sou eu quem diz que é sempre você a maluca que quer voltar, quando na realidade eu também quero mais que tudo. Ainda sim, eu tive a ousadia de te chamar de tóxica. Eu… Eu sinto muito por te fazer passar por isso.

Denso era o ar, tensa era a aura que os rodeava. A inquietante porém estática calada da madrugada penetra o quarto e se estende por entre o casal. Sentiam-se estranhos, como se estivessem na presença de um completo desconhecido. Era a primeira vez que botavam tudo pra fora desse jeito, sem truques, sem omissões, sem garras ou alfinetadas. Então, de repente, uma calmaria, foram confortados pelo silêncio. Chegava a ser um alívio, já que por mais que a verdade fosse pesada, não sobrepunha a leveza que suas almas sentiam ao serem sinceros. 

— Você não estava errado ao me chamar de pessoa horrível — Shinobu fala firmemente — Eu… eu gostava, okay? Eu gostava de quando você sofria por mim. Eu te provocava de propósito porque eu gostava de sua atenção. Quando você me rejeitou, eu fiquei puta de verdade, eu jurava que teria você pra mim, e acabou não acontecendo. Mas o que mais me machucava, Tomioka, era não conseguir te odiar. Sim, eu estava puta, sim, eu estava machucada, mas eu não parava de pensar em você. E aí o Douma apareceu, eu estava carente. Acabei fazendo uma das coisas que menos me orgulho nessa vida… pensando em você.

— O quê? — A lerdeza de Giyuu atingia os nervos de Shinobu, que suspira ao perceber que ele iria fazê-la falar aquilo em voz alta.

— Eu transei com um cara pensando em você, Tomioka, tá legal? Mais de uma vez, na verdade. Boa parte das vezes quando eu e o Douma fazíamos… — A garota corta detalhes, mudando a linha de pensamento — Enfim... Lembra daquela vez que me perguntou porquê eu tinha chorado? Naquele dia quando você me viu com o Douma na quadra.

— Sim… Você disse que não era da minha conta.

— Na verdade, era tudo sua conta sim — Ela solta um riso triste — Bem, eu tive uma epifania. Eu percebi o quão frágil eu estava naquele momento, percebi a merda que eu tava fazendo pra tentar te esquecer. E que no fim… Eu ainda estava pensando em você. Me senti uma fraude, sabe? Naquele dia eu decidi que não te deixaria mais me abalar assim. Mas aí teve a festa do Sanemi meses depois e… Novamente, eu fiquei frustrada com como você conseguiu mexer comigo. E, pra variar, eu fui atrás do Douma pra te esquecer. O resto, você já sabe — A garota ameniza o tom de sua voz — a gente faz decisões terríveis quando tá de coração partido. 

— Espera, então você acha que o caso que a gente teve…? 

— Foi uma decisão terrível? Sim, com certeza. Mesmo o Douma sendo um otário ele não merecia isso. E sabe qual a pior parte? Eu não me arrependo nem um pouco do nosso caso. Então sim, Tomioka, eu sou uma pessoa terrível — ela faz uma pausa — E desestabilizada emocionalmente. 

E numa hora tão séria como tal, Tomioka arranjou um jeito de estragar o clima: ele ri genuinamente, apenas com um sopro pelo nariz.

 — Nós dois somos doidos.

— Quê?  Sério isso? Eu abro meu coração pra te fazer se sentir melhor e de tanta coisa que você poderia dizer, você me di---

— Você não foi a única que… cê sabe, fez coisas pensando no outro.

— Oi? — Shinobu fica boquiaberta.

— Foi numa festa que eu fui recentemente. Ontem, pra ser sincero. Era uma garota legal, bonita e tal. Só que na hora, parecia que algo estava errado.

— E daí você decidiu pensar em mim pra não estranhar a situação? — Ela caçoa.

— ...Sim…

— E eu fui boa…?

— Que tipo de pergunta é essa?!

— Ué, você tava transando comigo não tava? — A moça se levanta, dando a volta na cama e sentando ao lado de Tomioka.

— Sim? Quer dizer, não! Eu… Como eu devo responder isso?

— É uma pergunta simples! Sim ou não? 

— É… Sim?

— Então ela foi melhor do que eu?

— SHINOBU! — o rosto de Tomioka fica vermelho.

— O que foi? Eu mereço saber, já que você tava pensando em mim. Vai que eu posso usar seu feedback mais tarde. — Ela ri debochando. Giyuu, mesmo envergonhado, fica feliz de vê-la sorrindo. — É, Tomioka. Você tem razão. Nós somos dois doidos. — Shinobu beija a bochecha do rapaz, se levanta e vai atrás de suas roupas.

Hipnotizado, Giyuu observa movimentos daquela mulher, tão naturais, tão ordinários, tão irregulares enquanto ela percorria o cômodo à procura de suas coisas. Shinobu ainda estava triste, porém, como se não tivesse desabado agora pouco, transparecia já em sua linguagem corporal certa tranquilidade, plenitude a qual Tomioka tanto admirava. Poderia assisti-la o dia todo, todos os dias, sendo ela mesma tentando se orientar em sua vida. Vida, isso mesmo, se gosta tanto dela, por que saiu de sua vida? "Não deu certo", responderia tentando poupar energias, mas sabia que era mais complicado.

"Daquela vez" ele pondera, lembrando da última briga que tiveram antes de se separar "Foi a gota d'água para nós dois." Por muito tempo, Tomioka tentou não pensar naquela briga, nos motivos, nos fins, nas consequências ou qualquer coisa relacionada — Enchia-se de ódio ao rever a cena em sua memória, sentia-se traído como se tivesse acabado de acontecer. Contudo, ao recordar daquilo agora, não sentia mais raiva, apenas um sentimento melancólico por ter terminado de tal maneira. Perguntava-se se isso significava alguma coisa — isso que se percebe, é perdão? Tomioka se levanta da cama vai em direção a moça, que checava de pé seu celular próxima da janela. Assim que chega nela, abraça-a por trás.

— Nossa, por que isso tão de repente? — Shinobu fala.

— Ei, Shinobu… — Ele encosta a cabeça no ombro dela, bem próximo ao seu ouvido. Seu tom de voz era cansado, grave. — Você acha que eu teria sido um bom pai?

— O quê?

— N-nada, esquece. Foi uma pergunta best--

— Não, sem dúvida não seria — Responde dura e sinceramente, sem nenhuma hesitação — Mas, em compensação, eu também não teria sido uma boa mãe. Não me leve a mal, mas éramos imaturos, quer dizer, ainda somos imaturos... Seria terrivelmente desastroso  — Shinobu se solta do abraço, virando-se de frente para o homem, segurando suas mãos — Tomioka, seja sincero comigo. Você acha que a gente poderia dar certo, depois de tudo?

— Eu… — Giyuu sente que sua resposta carrega uma responsabilidade a qual não sabe lidar, talvez até mudasse o destino daquele relacionamento. Estava perdido, não sabia o que dizer, e não podia falar qualquer coisa. Sente suas mãos começarem a suar, engole seco. Pra piorar, aquelas orbes lilases lhe fitavam intensas, preocupadas com a resposta que estava demorando a vir. Não trabalhava bem sobre pressão, mas não poderia deixar a moça esperando por mais tempo. Escolheu ser sincero, o mais sincero possível. — Eu queria muito, do fundo da minha alma, dizer que sim, Shinobu. Mas… Eu não sei. Honestamente, acho que a gente tem tendência de se machucar, ao mesmo tempo que não conseguimos nos afastar.

— Mas é assim que relacionamentos, são, não? A gente se fere, fere o outro. E então a gente sara e cresce junto. Às vezes não dá certo, outras tudo se resolve.

— Depois de tudo que a gente passou, você acha que nós somos do tipo que se resolve? Você iria com certeza e sem arrependimento tentar outra vez?

A moça não responde em palavras, mas o modo que seus olhos se tornaram tristes falaram tudo. Lentamente, Shinobu solta as mãos do rapaz, cruzando os braços e virando-se novamente para a janela. A essa hora, o sol já nascera e os tons amarelos da manhã já pintavam o horizonte. Certas aves matutinas voavam o céu  cantarolando suas cantigas rotineiras, enquanto algumas pessoas já podiam ser vistas na rua voltando ou indo trabalhar. O quarto previamente vazio e monocromático da madrugada, já continha uma atmosfera diferente, menos mórbida e mais quente, e era preenchido por certas incertezas. 

— O que a gente faz agora? — Shinobu pergunta, observando o mundo à fora, o modo que as coisas fluíam simultaneamente livres e dependentes uma das outras.

— Talvez seja o momento que a gente decide fazer o que deveria ter feito a muito tempo.

— O quê?




Amadurecer




E seguir com a vida.




Desapegados do passado.




Notas Finais


The drama.

Okay, antes de vocês vazarem eu queria dizer uma coisinha:


OBRIGADA
Tipo, obrigada de verdade
Acabamos de chegar em
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+50 comentários
Irraaa
🤧👏🥳🎉🎊🤧🥳🎊👏🤧🎊🤧🥳
E tudo isso é muito incrível pra mim
Mas essa experiência não seria a mesma sem você, caro leitor
Sim, você mesmo que comenta e favorita
Ou que só favorita
Ou que só comenta
Ou que só visualiza
Muito obrigada por me acompanharem nessa jornada!

Daqui a alguns dias sairá o último capítulo rs
Estou ansiosa pra finalmente acabar com toda essa loucura, ufa!
ps: e vamos ter epilogo!

Então, como sempre
Obrigada por terem lido até aqui
E até o próximo (e último) capítulo!


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