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História Manjusaka - Epílogo


Escrita por: Cyber_Bard

Notas do Autor


É, agora acabou mesmo.
Só preciso agradecer mesmo a todo mundo que acompanhou, esperou, se juntou no meio do caminho. Todos vocês foram muito importantes pra mim e eu só não desisti de escrever porque me lembrava de que tinha gente aqui que queria e que _merecia_ ver o final. Essa fic foi MUITO, mas MUITO difícil de escrever. Morte é um tema que mexe muito comigo por motivos e eu tentei tratar tudo da maneira mais respeitosa e madura que eu, com toda a minha ignorância, possuo.
De alguma forma, acho que consegui.
Espero que o coração de vocês fique quentinho que nem o meu com esse epílogo.

PS: Escutem "Blu" do Jon Bellion (gosto mais da versão acústica, mas ambas são de tirar o fôlego), não consigo ouvir Blu e não lembrar dessa fanfic. Fica aí a sugestão de hino ~

Capítulo 7 - Epílogo


Remanso, outubro de 1959

 

– Ai! Espera aí. – Jungwoo resmungou, sentando-se no banco que Lucas havia colocado para ele em sua colina preferida.

– Espera aí você! – Lucas reclamou de volta, ajudando o mais velho a se acomodar - Acha que têm quantos anos? Olha aí seu tornozelo. 

Jungwoo deixou a bengala descansar ao seu lado, no banco, e olhou para o chinês. Estavam ambos bem idosos, os cabelos quase totalmente brancos, mas a idade tinha sido gentil com os dois, dentro dos limites possíveis de gentileza dela, é claro.

– Cadê meu afilhado? – Perguntou

– Deve ter acabado de chegar, acho que ouvi um barulho de carro quando estávamos subindo a colina – Lucas respondeu com aquele sorriso que ainda não havia o abandonado – Não quer mesmo o seu café? 

– Não, não. Vai logo buscar o Lele, anda  – Disse o velho barão, enxotando o compadre dali – Diga a ele que eu o amo.

– A mim que é bom, nada né? 

– Você eu amo também, mas não posso falar muito ou você fica convencido; e não tem nada pior que um velho metido – Respondeu de forma brincalhona – Vai, vai. Diga a ele que eu o espero aqui.

Lucas apenas balançou a cabeça negativamente e riu de leve, descendo cuidadosamente a colina que agora tinha uma escadinha. Estavam velhos demais para descer qualquer coisa, e mesmo que a escadinha fosse deveras simpática em termos de acessibilidade, ainda era melhor se precaver.

Ao ficar em silêncio e sozinho, Jungwoo olhou ao redor. Pouca coisa havia mudado; o lago espelhado continuava calmo, com suas águas frias e indiferentes. Do outro lado, o mar ressoava mais agitado do que o normal, com ondas fortes que iam e vinham, azuis e profundas, chocando-se contra as pedras e lambendo-as com espuma branca.

A única coisa que mudara mesmo foi Remanso. O casarão estava maior. Lucas havia se casado com Sae e tido um garotinho chamado Chenle. Jungwoo era seu padrinho, mas amava o menino como se fosse seu próprio filho - e não era à toa que havia o nomeado como seu herdeiro e sucessor. 

Ajudou a criar Chenle com todo o carinho do mundo, educando-o como o pequeno lorde bagunceiro que ele era, mas talvez tivesse feito o trabalho bem demais porque, há alguns anos, Chenle havia se casado com Renjun, o filho mais novo de Sicheng. Hoje em dia pouco os via, mas, apesar de já serem homens feitos, ainda se lembrava dos dois como os garotinhos que andavam correndo pela casa, gritando e rindo, quase colocando aquelas paredes seculares no chão.

O vento trouxe algumas gotinhas salgadas para o rosto de Jungwoo, que sorriu para si mesmo:

– Bons tempos…  – Uma lufada mais forte de vento fez o barão sentir um arrepio na espinha, encolhendo-se dentro do casaco pesado e acabando por deixar o pequeno buquê de lírios de aranha cair no chão.

Um cheiro suave de alfazema se fez presente. 

Alfazema e mar. Cheiro de casa.

Foi como um piscar de olhos um pouco mais longo. E, de repente, sentiu-se estranhamente livre, como em um cochilo gostoso após o almoço. Olhou para o lado, deparando-se com um rapaz alto de cabelos negros, cuja fisionomia era simplesmente inconfundível. Estava sonhando mesmo ou tinha ficado senil de uma hora para a outra? Só sabia que vê-lo ali, tão nitidamente, era um sinal de que algo não estava certo consigo.

– Estava esperando um garoto irrequieto, alguma chance de tê-lo visto, senhor? 

Aquela pergunta acompanhada pelo sorriso que tanto amava foi o bastante para causar um déjà vu no ruivo, que deu um pulo do banco, largando a bengala de lado e fazendo o moreno rir divertidamente. 

– Estou sonhando? – Perguntou, incrédulo.

– Talvez. Depende da sua percepção. 

Era Doyoung ali, finalmente ali e aquilo era surreal demais para ser verdade. 

Jungwoo aproximou-se devagar, a curiosidade e a saudade falando mais alto. Guiou os dedos trêmulos até o rosto do primo, hesitando uma fração de instante antes de acabar com os milímetros que separavam aquele toque. 

E o tocou. 

Não era um sonho. Ele estava ali. De verdade. 

A pele macia e quentinha como sempre. E bastou aquilo para que todas as suas lembranças, mesmo as mais empalidecidas pelo tempo, viessem à tona. 

Correu para os braços do moreno, que parecia não ter envelhecido um dia sequer desde a última vez que o vira, e o abraçou com toda a força que tinha. Da forma como queria o ter abraçado quando se despediram pela última vez nos jardins de York. 

– É você. É você mesmo. – Balbuciou baixinho, segurando o rosto bonito com ambas as mãos, mergulhando naqueles olhos escuros.

Doyoung sorriu e o beijou em resposta. Na verdade, beijaram-se diversas vezes, como se fosse a primeira ou a última vez. Não importa. O fato é que quase não se desgrudaram mais, afinal tinham 60 anos de saudades acumuladas para matar.

Jungwoo olhou para si mesmo e então para o seu corpo, sentado no banco com uma feição serena, encolhidinho em seu casaco de lã. Era estranho se ver assim, de fora. 

Foi então que entendeu de uma vez por todas, e não teve mais perguntas a fazer:

Estava morto. E isso era surpreendentemente leve.

– Meu Deus...  – Jungwoo sussurrou, ligeiramente letárgico – Não precisava esperar por mim.

– Você também não e mesmo assim esperou. Ainda que inconscientemente. – Doyoung retrucou num tom suave, acariciando os cabelos agora grisalhos e beijando a testa do amado, da mesma forma como fazia quando eram ambos jovens e vivos.

Os dois se olharam novamente, como se estivessem frente a frente com a maior obra de arte já criada. E estavam. Frente a frente com o amor, a maior fonte de inspiração da humanidade. 

Arte.

Por cima dos ombros de Doyoung, Jungwoo viu Chenle subindo as escadas, pulando de dois em dois degraus, correndo para abraçar o corpo do padrinho, que permaneceu imóvel. 

Jungwoo mordeu o lábio inferior. Ele não conseguia ouvir, mas via nitidamente a preocupação no rosto de Chenle se transformar em desespero a medida que sacudia o idoso, tentando animá-lo em vão.

– E quanto a eles, Doyo? – Perguntou baixinho.

– Conforte-o e siga em frente, todos nós passamos por isso um dia – Respondeu Doyoung delicadamente – A dor da perda faz parte da vida.

O idoso se aproximou do afilhado, afastando seus cabelos castanhos do rosto para deixar um beijinho suave nas têmporas dele. 

Não o sentia mais, era como se um véu os separasse, mas, de alguma forma, aquilo pareceu surtir efeito em Chenle, pois o acalmou. Aos poucos, ele parou de chorar e então se sentou no chão, deitando a cabeça nos joelhos do corpo físico do padrinho, como gostava de fazer quando era criança.

– Eles vão ficar bem, não? – Jungwoo perguntou, respondendo a si mesmo logo em seguida ao ver o garoto secar as próprias lágrimas com o punho da camisa, ainda com a cabeça descansando ali – …É, vão sim. 

Doyoung sorriu novamente e estendeu a mão para o ruivo.

– Sem tristeza, amor meu. Não é aqui que acaba. – Ele fez uma pequena pausa, ainda com a mão esticada e acrescentou – Tomei a liberdade de ir adiantando algumas coisas. Vamos, tenho muita coisa para te contar… Você vai adorar as novidades. 

Com um aceno de cabeça, Jungwoo aceitou a mão de Doyoung, que se deteve por um instante para acrescentar:

- A propósito, tem uma coisa que eu quero muito fazer com você.

O ruivo o olhou de forma curiosa e então Doyoung completou, com seu melhor sorriso ladino:

- Só posso adiantar que é muito melhor do que sexo. 

E riram juntos como as duas almas de garotos que eram. Deram-se as mãos, seguindo por um caminho de manjusakas, até então invisível, e subiram juntos. E a cada passo, um novo céu se descortinava, as cores ficavam mais vivas, os cheiros mais límpidos e não havia frio, calor, dor, ou cansaço. Nem títulos, ou julgamentos. Não havia medo. 

Passaram pelas nuvens, atravessaram a imensidão das estrelas, cruzando o universo inteiro. Sempre juntos. 

E enquanto subiam cada vez mais e mais rápido, agigantavam-se, deixando para trás os nomes e a aparência. Não havia mais os olhos negros de Doyoung, ou os cabelos brancos levemente acobreados de Jungwoo. 

Subiram até não haver mais Doyoung e nem Jungwoo. Nem Lees ou Kims. Até tornarem-se apenas dois espíritos livres, completos, infinitos e irmãos. Incandescentes em toda a sua plenitude. 

Juntos.

Eternos.

Como todo amor verdadeiro o é.


Notas Finais


#GetWellSoonJungwoo 🐶 #DoWooForever ❤️


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