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História Mar e Morte - Capítulo único


Escrita por: Aeter

Notas do Autor


Oi gente!
Escrevi essa história pensando na falta de uma conversa entre Percy e Nico depois de Sangue do Olimpo. Então ela se encaixa entre Heróis do Olimpo e Provações de Apolo. Alguns spoilers do final de HdO, então cuidado!!
É isso... boa leitura e espero que gostem :)

Capítulo 1 - Capítulo único


O mar estava tranquilo naquela noite. As ondas quebravam com suavidade na areia, fofa e esbranquiçada, da praia do Acampamento Meio-Sangue. A lua brilhava com intensidade no céu encrustado de estrelas. Ártemis deve estar de bom humor hoje. Pensou Percy, lançando o olhar para a constelação da caçadora. O arco da garota estrelada parecia estar pronto para atirar uma flecha e, aos olhos de Percy, Zöe Doce-Amarga parecia se preparar para uma longa corrida. Uma corrida pela eternidade, acompanhando a carruagem de sua senhora.

Uma brisa refrescante bateu em seu rosto. Estava bastante reflexivo naquela noite. Por um momento lembrou de Bob e Damásen. Olhando para as estrelas, lembrou da promessa que fizera na última vez que vira o grande titã do oeste. Ou Bob, como preferia chamá-lo. Então lembrou-se do bom gigante. E da conversa que escutara enquanto dormia em sua cabana, no Tártaro. Bob lhe perguntara se ele lembrava do sol. E Damásen havia confirmado. “Lembro. É amarelo e brilhante”. Era o que Percy achava que ele dissera. Agora, tudo parecia ter sido um longo pesadelo. Mas as cicatrizes e traumas ainda estavam lá, para marcá-lo tanto na pele quanto na mente tudo o que ele e Annabeth haviam passado.

Uma lágrima escorreu pelo rosto do filho de Poseidon. No fim, haviam conseguido derrotar Gaia. E mesmo assim, sentia que havia falhado. Leo se fora. Mais uma morte na sua conta. E Morfeu fazia questão de lhe lembrar disso. Fazia dias que sonhava com o filho de Hefesto atravessando o oceano em um dragão de bronze. Não entendia o que aquilo significava, talvez apenas uma brincadeira de mau gosto do deus dos sonhos, fazendo-lhe lembrar da fragilidade e mortalidade a que estava suscetível.

Mais algumas lágrimas rolaram. Talvez estivesse sendo um pouco patético, mas não ligava para isso. Só queria chorar até que viesse uma dor de cabeça e desaparecesse com todos os seus fracassos.

Percy continuou a chorar por alguns minutos, até que sentisse que não havia mais nada para escapar por seus olhos. Sua cabeça latejava, mas ainda estava repleta de angústia. Tateou a areia atrás de si, até achar uma latinha de coca cola, furtada pelos irmãos Stoll, ainda estava fria. O som do gás escapando quando rompeu o lacre lhe trouxe mais uma enxurrada de lembranças. Dessa vez, algumas muito reconfortantes. Como uma de quando convidara Annabeth para sair num encontro, antes de ser raptado por Hera. Haviam ido juntos a um piquenique no Central Park. Um sorriso se formou em seu rosto. Quando abriu a primeira latinha de coca naquele dia, o refrigerante espirrou por todo seu corpo. Annabeth rira e o beijara. Usava algo com sabor de cereja naquele dia, e foi um dos melhores beijos que já haviam trocado.

As ondas continuavam a quebrar suavemente na areia, a alguns metros de onde estava. Fechou os olhos e sentiu o cheiro do mar. Ouviu o som do oceano. E, por um momento, sentiu uma mão forte acariciar seu cabelo, reconfortando-o. Uma mão familiar, acompanhada pelo cheiro intenso de maresia. Mas quando abriu os olhos, ele não estava lá. Claro. Poseidon era muito ocupado para lhe encontrar pessoalmente e aconselhá-lo. Mas tinha certeza de que havia sentido a presença do pai. E aquilo o deixou feliz.

Permitiu-se fechar os olhos mais uma vez. Mas dessa vez escutou algo. Um som que definitivamente não vinha do mar. Eram passos. Percy amaldiçoou-se, não poderia estar ali, não tão tarde da noite. Se Argos o encontrasse não seria nada legal, mas se fosse o cara do vinho seria ainda pior.

Nico emergiu das sombras da floresta. Não parecia estar muito atento ao que acontecia ao seu redor, não até que Percy o chamasse pelo nome e ele desse um pulo, assustado. A cabeça de um esqueleto brotou da areia por um momento, mas Percy com certeza não tinha a mínima vontade de saber por que ela estaria lá.

­— Ah, Percy. — O rosto pálido de Nico enrubesceu. — Não tinha te visto.

Percy sorriu. Geralmente era Nico o responsável por assustar os outros. Mas naquele momento ele parecia disperso e desatento. Preocupado... talvez?

A verdade é que Percy ainda não sabia direito como agir na frente do primo. Desde que Nico confessara que havia tido sentimentos por ele no passado, sentia que o filho de Hades evitava ao máximo se encontrar com ele. Até as conversas eram rápidas e pouco produtivas. Mesmo assim, Percy tentou iniciar um diálogo.

— Não devia estar aqui. — Imediatamente o rosto de Nico endureceu.

— Digo o mesmo para você. — Respondeu afiado.

Percy riu.

— Bom... é, você tem razão. — Percy bateu na areia ao seu lado. Um convite mudo para que o mais novo se sentasse. Nico estreitou os olhos, mas acabou dando de ombros e se sentando ao lado dele. — Quer uma coca?

— Quebrando mais uma regra? — Nico ergueu uma sobrancelha, mas acabou aceitando a bebida. — Não sei por que ainda fico surpreso. Sempre admirei isso em você. Quero dizer, o mar... bem, ele não obedece a ninguém.

— Hum... obrigado? Eu acho. — A verdade é que Percy não sabia o que responder. Nunca havia pensado que Nico admirasse alguma coisa nele. Nem mesmo depois de sua confissão.

O silêncio mais uma vez tomou conta do lugar. Percy queria conversar, mas não sabia como. Tinha medo de falar alguma idiotice que deixasse Nico com raiva, mas ele nem mesmo precisou fazer isso. Depois de alguns minutos mais alguns ossos emergiram da areia e tomaram forma, filhotes de tartaruga marinha, talvez. Nico mexia os dedos freneticamente, como se controlasse marionetes. Os esqueletos tiveram uma luta épica, até que um deles desmoronou numa pilha de pó. Nico bufou, parecia irritado.

— Então... talvez você queira, não sei... — Percy não conseguia encontrar as palavras.

— Desembucha, Jackson.

— Por que você está com raiva? — Decidiu ser direto.

O rosto de Nico enrubesceu mais uma vez, o que Percy considerou um recorde pessoal. Ele havia ficado envergonhado duas vezes em menos de uma hora, mas geralmente sua cara de “não me enche” durava dias.

— Não é da sua conta.

— Nico, eu... — As palavras relutaram em sair. Percy sabia que o primo não era a pessoa mais fácil de se lidar e preferia erguer mil barreiras, antes de falar de sua vida pessoal, mas insistiu mesmo assim. — Eu me preocupo com você.

— Pois não deveria. Eu não pedi a sua preocup...

— Deuses! Como você é teimoso. Eu só queria ajudar. — Percy não queria ser grosso, mas não estava num bom dia.

— Aí está. — Nico soltou uma risada forçada, mas seus olhos pareciam tristes. — Você não gosta de mim. Fale a verdade, você sequer liga para mim. Não teria tentado conversar comigo se eu não tivesse aparecido aqui essa noite. No fim, você só se sente culpado pela morte de Bianca, mas adivinhe? Eu cresci, Percy. Não preciso disso.

Percy demorou um pouco para responder. Tentou assimilar tudo o que o garoto havia dito, mas em sua mente nada daquilo fazia sentido. Era assim que Nico o via? O filho de Hades fez menção de que iria se levantar, mas Percy agarrou seu pulso.

— Não gosto que toque em mim. — Nico advertiu.

— Escute bem. Você está completamente errado. É claro que gosto de você. — A surpresa foi tão grande que Nico desabou novamente na areia. Tentou até falar alguma coisa, mas Percy já havia pegado o embalo. — Você é como um irmão mais novo para mim. Um irmão birrento e, algumas vezes, um pouco chato, mas ainda assim um irmão. Fiquei morto de preocupação quando você foi capturado pelas forças de Gaia. Você é importante para mim e isso não tem relação alguma com a Bianca.

Nico bateu os punhos na areia. Percy sentiu a temperatura do lugar cair alguns graus e um arrepio subir pela sua espinha.

— Eu te traí, Jackson! Traí sua confiança e te enganei junto com meu pai. Você não pode gostar de mim, você não pode se preocupar comigo, você não pode.

— É verdade. Mas você também foi enganado, não era nem sua intenção fazer isso. — Percy sorriu. Uma brisa salgada rodeou os dois, expulsando do lugar a presença fria da morte. — Você também me ajudou muitas vezes. Foi você quem convenceu Hades a sair do seu palácio e lutar pelos deuses na guerra. Você liderou seu próprio exército de mortos contra Cronos. Ajudou a trazer a Atena Partenos de volta. Nico, você atravessou o Tártaro sozinho! Não faz ideia do quanto de admiração e respeito tenho por você.

Nico tremia. Os punhos cerrados com tanta força que os nós dos dedos pareciam estar ainda mais brancos que o resto de seu corpo. Ele mordeu os lábios inquieto, então abriu e fechou a boca várias vezes, como se decidisse se falaria ou não.

— Quando... Quando você caiu no Tártaro... – As palavras saiam de sua boca como se ela estivesse cheia de areia. — Deuses, Percy! Quando você caiu eu fiquei tão preocupado que tive vontade de me lançar no abismo de novo.

— Nico...

— Você é um idiota, mas... é o idiota que eu me preocupava. Por Hades! Eu ainda me preocupo. — Ele cobriu o rosto com as mãos, como se aquilo o desse coragem. — Não romanticamente... não mais! Mas mesmo assim... se preocupar tanto com alguém que não posso nem mesmo chamar de amigo...

— Ei! Nós somos amigos.

Nico voltou seus olhos escuros para Percy. Eles brilhavam sob a luz prateada da lua e um sorriso triste brotou em seu rosto.

— Você não confia em mim, Percy. Não importa o quanto diga que sou um bom herói, mas eu sei que não confia. — Ele voltou a encarar a areia da praia, como se fosse a coisa mais interessante do mundo. — Quando você me enviou de volta ao mundo inferior... no fundo não foi para convencer Hades a lutar. Sei que não. Você não confiava em mim para lutar ao seu lado como um igual.

Percy ficou calado. Aquilo era verdade.

— Está tudo bem. — Nico continuou. — Se eu estivesse no seu lugar, nem mesmo falaria comigo.

— Nico... — Percy amaldiçoou-se em grego antigo. Ele era um idiota. — Na batalha de Manhattan eu... eu realmente não confiava em você. Eu me sentia enganado, frustrado e também com medo. Por Hera. Tinha tanto medo de que eu fosse o responsável pelo fim da civilização ocidental.

Ele respirou fundo por um momento. Lembrar daqueles dias não era fácil. Tantas perdas, tantas vidas. Havia perdido Charles e Silena logo em seguida. E Michael. Deuses... que todos eles tivessem alcançado o exílio.

— Não precisa se explicar. — Disse Nico.

— Mas eu quero. — Rebateu Percy. — Eu quero que você entenda. Deixei meus medos e minhas inseguranças falarem mais alto naquela época. Mas quando você apareceu em meio à batalha, trazendo o próprio Hades para lutar, eu fiquei tão feliz que acho que não consigo nem por isso em palavras. Minha desconfiança em relação a você virou admiração naquele instante. E eu nunca vou esquecer isso.

— Não faça isso, por favor... não me deixe acreditar que... — A voz de Nico falhou. E Percy percebeu, espantado, que ele se controlava para não chorar.

Percy se aproximou, receoso. Sempre imaginara que o filho de Hades fosse a pessoa mais fria que já conhecera. Mas ali estava ele, na sua frente, tremendo e com os olhos cheios de lágrimas.

Quando Percy envolveu os ombros de Nico com um dos braços, sentiu os músculos do garoto retesarem. Sua respiração ficou mais ofegante, mas ele não disse nada.

— Quando nos encontramos no Acampamento Júpiter, eu não sabia quem você era. Mas eu sabia que te conhecia. — Percy envolveu Nico com o outro braço. Um abraço de verdade dessa vez. Nico soluçou e enterrou a cabeça no peito do primo, deixando que as lágrimas viessem e molhassem sua camisa. Percy não se importou. — Eu sabia que você era poderoso, mas também sabia que não era uma ameaça. Naquele momento eu senti o mesmo sentimento de quando você marchou em frente ao Empire State, representando a casa de Hades. Você é especial para mim, Nico. Como um amigo, como um irmão. E eu confiaria minha vida a você. Eu juro... juro pelo Rio Estige.

Um trovão ribombou no céu, selando o juramento. 

O choro de Nico se intensificou e Percy achou que tivesse dito algo idiota, mas um segundo depois sentiu as mãos geladas do garoto agarrarem com força a sua cintura.

— Idiota! — Ele resmungou entre soluços. — Me perdoe, Percy! Por todas as vezes que eu falhei, por todas as vezes que eu te culpei e também...

— Nico... — Percy se forçou a engolir um soluço, enquanto uma lágrima teimosa despencou pela ponta de seu queixo. Ele apertou o primo um pouco mais forte. — Desculpe por todas as vezes que eu te machuquei. Desculpe por ter sido um babaca.

O filho de Hades não precisou responder. Ele já havia perdoado o primo antes mesmo de ele pedir, isso se um dia o houvesse realmente culpado por alguma coisa. Alguns minutos depois ele se afastou, envergonhado. O rubor em seu rosto disfarçado pela escuridão da noite. Um silêncio confortável pairava sobre eles.

— Sabe... — Começou Percy. — Sei que ainda tem alguma coisa te incomodando. Digo, desde que você chegou aqui. Pode falar, se você quiser, é claro.

Nico voltou os olhos para as estrelas. Demorou alguns minutos, até que falasse baixo.

— O Solace me chamou para sair...

Percy se surpreendeu. Mas por algum motivo, aquilo lhe deixou feliz.

— Calma, Will Solace? — Nico assentiu. — Nico, isso é incrível! Quero dizer... o que você acha?

Nico apertou os dedos. Não era fácil falar sobre isso, justamente com o garoto pelo qual fora apaixonado por anos. Mas decidiu que podia ser bom partilhar seus problemas com alguém, Jason dissera algo parecido, certa vez.

— Ah, ele é legal. Bonitinho... — Ele corou, novamente. — Mas, bem... você sabe. Eu sou o filho de Hades e tudo mais. Com um filho de Apolo? Qual a chance de isso dar certo?

Percy sorriu.

— Você está mesmo perguntando isso para o filho de Poseidon que namora uma filha de Atena?

— Touché. — Nico abriu um sorriso.

— Tome as rédeas do seu destino. — Percy comentou. Quando Nico o encarou naquele momento, percebeu o quando estava diferente daquele garoto que o resgatara anos atrás. Mais maduro, esperto e, de certa forma, bonito. — Você não é seu pai, Will muito menos é o dele. Se você acha que deve dar uma chance eu vou te apoiar.

Nico deitou a cabeça no ombro de Percy, que acabou levando a mão até seu cabelo negro bagunçado. Um carinho que fez Nico lembrar de como Bianca o tratava. Surpreendentemente ele não ficou triste, um sentimento de aconchego preenchia todo o seu peito.

Naquele momento, nenhum dos dois se deu conta da luz alaranjada que os envolveu como um cobertor. Ou se perceberam, decidiram não dar importância. Também não souberam explicar como acordaram em seus chalés na manhã seguinte, ainda vivos e sem nenhum membro devorado pelas harpias da limpeza. Mas quando se encontraram novamente, de alguma forma, sabiam que o que acontecera tinha sido real, não havia sido um simples sonho.

Ainda naquela semana, quando se encontraram numa aula de grego antigo, fizeram a leitura de um texto peculiar. Ele narrava que, há muito tempo, existiu uma divindade menor que personificava a amizade, o carinho e o afeto. Sempre retratada com uma coroa de flores laranjas em volta de sua cabeça. Seu nome era Filotes. O texto antigo ainda narrava que ocasionalmente essa divindade abençoava mortais que possuíssem um laço de amizade único e especial, um sinal máximo de seu respeito para com a humanidade.

Alguns dias depois disso, Nico aceitou sair com Will. E, mais algumas semanas depois Percy lhe falou de seus planos sobre estudar em Nova Roma. Will e Annabeth também formaram uma amizade estranhamente atípica. E mais algumas semanas depois, durante uma noite na fogueira, o acampamento quase foi abaixo com uma revelação de que, enfim, Nico e Will estavam namorando.


Notas Finais


E então, gostaram? Detestaram?
Qualquer coisa podem comentar :)
Se não for pedir muito, também podem dar uma olhada na minha outra história, é minha primeira original!!
Abraçoo!!


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