QUINTO ANO DOS MAROTOS
SIRIUS
-Cavalheiros, está na hora – disse James, fazendo pompa. - Quer ser o primeiro, Peter?
Os quadris sacolejando, Peter se concentrou por um segundo e tornou-se um ratinho cinza, que correu para a barra de minha calça. Muito bem, dissemos-lhe. Voltou à forma humana, orgulhoso de sua proeza. James foi o próximo, mudando-se em um altivo cervo de grande galhada. Sua vez, Sirius, disse-me. No livro em que encontramos a fórmula da animagia, dizia que, para concretizar a transformação, era preciso se concentrar no animal escolhido com toda força. Eu escolhera um grande cão preto. Imaginei minhas unhas e cabelos se esticando e meu corpo encurtando.
Normalmente, James e eu tínhamos a mesma altura, mas olhando-o na forma canina, eu me sentia tão pequeno quanto Peter humano.
-Boa cara – disse Peter, quando voltei ao normal. - Estamos prontos. A lua cheia começa amanhã. Com sua Capa, James, chegamos lá sem que ele nos note e lhe mostramos a surpresa.
-Grande plano, Peter – elogiei. - Escutem: mesmo que ele não saiba, fazemos parte de seu segredo, e temos de cuidar disso com nossas vidas.
Eles assentiram e voltamos ao dormitório. Ele estava em sua cama, com o mesmo aspecto franzino e doente, tão característico da lua cheia. Como não percebemos antes? Uma vez por mês, ele “vai para casa” com a desculpa de ver a mãe doente, que teve uma recaída. Que eu saiba, apenas uma doença causa recaídas mensais.
Fingi que dormia, só para esperar James e Peter adormecerem. Me esgueirei até a cama dele e sacudi seu braço. Oi. Está acordado?
-Estou – rolou de lado para ver-me. Esticou a mão cheia de marcas e cicatrizes e afagou meus cabelos. A voz arrastada e sonolenta. - Onde estiveram o dia todo?
-Estudando Transfiguração – não era mentira.
-Por que não me chamaram?
-Não queríamos incomodá-lo. Amanhã você vai ver sua mãe, deixamos que arrumasse suas coisas em paz.
-Vocês não me incomodam – ele sorriu. - Pode dormir comigo hoje?
Disse que sim. Deu-me espaço na cama, e quando me deitei, passou seus braços em minha cintura. Ajeitei sua cabeça em meu braço. Seus dedos passeavam por meu peito, mas, de repente, ele parou, escondeu o rosto em meu ombro e senti suas lágrimas umedecerem-me a pele.
-Por que choras? - afaguei seu rosto.
-Jura não me deixar se eu contar?
-Pela minha vida – falei, solene.
-Eu… eu… não vou ver minha mãe. Eu vou me esconder porque dentro de mim, vive uma coisa, um monstro muito perigoso. Um animal. Um lobisomem.
-Oh, meu lobinho, não precisa temer. Eu não vou deixar você – beijei sua testa.
-Guarda o meu segredo?
-Com certeza. Se você guardar o meu – ele se aproximou para ouvir. - Eu estou perdidamente apaixonado por um lobisomem. E vou cuidar dele, porque é a pessoa mais preciosa que já encontrei. Não conte isso ao James – rimos -, não quero deixá-lo com ciúmes. Canta até eu dormir? - pedi, sorrindo. Remus tinha uma voz maravilhosa.
Lyin' here with you so close to me
It's hard to fight these feelings
When it feels so hard to breathe
I'm caught up in this moment
Caught up in your smile
I've never opened up to anyone
So hard to hold back when I'm holding you in my arms
We don't need to rush this
Let's just take it slow
Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch in the fire burning so bright
And I don't want to mess this thing up
I don't want to push too far
Just a shot in the dark that you just might
Be the one I've been waiting for my whole life
So baby I'm alright, with just a kiss goodnight
***
-Bom dia rapazes! - gritou James, me assustando. Bati a cabeça na cabeceira de Remus. - Vocês dormiram sem camisa? E juntos?
-Tenha dó, James. Você sabe que namoramos desde o terceiro ano. Me espera na sala comunal, ok? Preciso falar sobre o probleminha peludo – meu amigo arregalou os olhos. - Calma, ele ainda está dormindo. Vai indo que eu dou um jeito nele.
James saiu e eu dei um beijo calmo e demorado na bochecha de Remus. Bom dia amor.
-Huh… bom dia – ele devolveu o beijo. - Estamos muito atrasados? Eu estava pensando em matar aula hoje.
-Quem é você e o que fez com Remus Lupin? - questionei rindo.
-É sério. A gente podia ficar aqui o dia todo.
-Remus, não. Você tem que “visitar a sua mãe”, lembra-se? - me vesti. - Agora, se me dá licença, eu tenho que ir.
-Promete que não vai atrás de mim? Não quero te machucar.
Assenti e deixei-o se arrumar para as aulas. Fui para a sala comunal, onde Peter e James estavam sentados mais distante possível dos demais.
-Remus me contou o segredo ontem à noite – confidenciei.
-Então, na cabeça dele, você sabe, mas nós não – concluiu James.
-Não vou quebrar essa promessa. Desculpem, caras.
-Nós precisamos de você, Sirius! - insistiu James. - E seu namorado também.
-Você não entende. Sabe por que ele não contou antes? Porque ele tinha medo. Medo de eu o deixar, medo de nos ferir… se ele pediu para não aparecermos, pelo menos eu vou respeitar a vontade dele.
-Mas…
-Não tem jeito, James. Eu não vou!
-Tem jeito sim – opinou Peter. - Sirius pode ficar, se Almofadinhas for conosco.
-Quê? Quem é Almofadinhas? - ergui a sobrancelha.
-Você, em sua forma animaga. Escolhi codinomes para nós, assim podemos falar do probleminha peludo na frente de qualquer um. Você será Almofadinhas, porque achei suas patas umas almofadas fofinhas. James será Pontas, por causa das pontas de sua galhada. Eu serei Rabicho, por causa do meu rabinho de minhoca. Podemos até chamar Remus de Aluado, pelo ciclo da lua e tudo.
-Ótimas ideias, Peter – falei. - Vamos, estou morrendo de fome.
Remus juntou-se a nós e seguimos para o salão principal. Depois do café, partimos para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Ranhoso nos encarou ao cruzar nosso caminho, seus olhos queimavam da minha direção – acho que ele não se atrevia a olhar Remus conosco ao lado dele -, e o tom era de puro nojo. Rosnei, e Remus segurou meu braço, puxando-me. Tomamos nossos lugares ao fundo da sala, e a profa. Merrythought começou a falar sobre lobisomens.
Remus ficou aterrorizado com a descrição que a professora deu sobre “cães sanguinários que matariam seu melhor amigo se o encontrasse por aí” e apertou meu pulso, em pânico. Calma, escrevi no topo da folha de seu caderno. Ela não sabe do que está falando.
De mim, escreveu logo abaixo. Da fera hedionda em que me torno a cada lua cheia.
Pode parar? Aquilo não é você. Aluado é um parasita que vive em você e toma o controle uma vez por mês. É mais fácil pensar nele como outra pessoa, não é?
Aluado? Que tipo de nome é esse?
O tipo de nome que se dá a um lobisomem, ora.
Sabe, eu estava pensando se… você não quer visitar Aluado hoje?
Decida-se. Quer que eu vá ou não?
Quero. Eu preciso que você esteja lá.
Eu estarei.
E poderia levar os outros com você? Acho que preciso de bastante companhia.
-Então sr. Lupin? - Merrythought chamou nossa atenção.
-Desculpe professora?
-Cite três formas de reconhecer um lobisomem.
Remus hesitou, e notei olhares estarrecidos pela classe. Tive vontade de perguntar qual era o problema, mas então percebi. Remus Lupin – o brilhante grifinório Remus Lupin – não soube responder uma pergunta. Discretamente, Lily passou um papelzinho para ele e James sussurrou: Agora você aprova cola, Evans?, mas ela o ignorou.
-Olhos amarelados, focinhos compridos e patas grandes – ofegou.
A resposta convenceu Merrythought, e fomos dispensados. Remus caminhava a meu lado, bem colado em meu braço, segurando minha mão sob nossas capas. Vamos começar o dia do Aluado mais cedo, ok?, falei-lhe. Vá na frente. Eu preciso falar com James. Ele assentiu e fui atrás de Peter. Pedi um pergaminho e pena para escrever um bilhete. Pontas, o plano continua o mesmo. No fim do dia, pegue Rabicho, a Capa e vá. Aluado e eu vamos matar aula.
-Almofadinhas.
Mandei Peter levar o recado diretamente a James, sem parar para lanchinho ou ir ao banheiro. Encontrei Remus sentado perto do Salgueiro Lutador, tremendo sob sua grossa capa. Apertei o nó que imobilizava a árvore e o levei pela passagem até a Casa dos Gritos. Ainda era cedo demais para a transformação começar.
-Ainda está impressionado com o que Merrythought disse? - perguntei. - Aquela doida não sabe de nada.
-É, nem eu. Eu não conheço a mim mesmo durante a lua cheia. Dependendo do que eu for, posso machucar você, aquele que mais amo, ou a meus amigos, droga.
-Você é você. O garoto mais fofo, amável e inteligente que já conheci. Merrythought não define quem você é ou pode ser.
Ele encaixou o nariz no meu pescoço e inspirou, murmurando que eu tinha cheiro de chocolate. Saquei uma barra da Dedosdemel e ofereci-lhe. Remus aceitou, com um risinho triste. Eu estou com você, Remy. Ficarei até o fim. Permanecemos em silêncio por um tempo, até Peter trazer nosso almoço em um cesto, dizendo que às três, ele e James se juntariam a nós. Deixei Remus comer o quanto pudesse antes de me servir – graças a Merlim, Peter fez um bom estoque.
-Por que não vai comer? - indagou-me.
-Vou, mas você precisa de mais. Só deixe um sanduíche para mim e eu me viro.
Isso bastou para ele empurrar a cesta de lado e me olhar satisfeito. Estava mais corado, depois de comer o suficiente para Aluado. Peguei meia dúzia de sanduíches de peito de dragão. Era o bastante para mim. O relógio bateu duas e dez, e eu decidi que era hora de Remus ganhar um presente. Já venho, falei, desaparecendo pela passagem.
REMUS
Sirius saiu, e um cachorro preto voltou em seu lugar. Você é um animago. Desde quando? Ele não respondeu, óbvio. Fiz carinho em sua cabeça e ele a repousou em meu colo. De repente, tudo fez sentido. Há algum tempo, Sirius, James e Peter estudavam muita Transfiguração, até mais do que eu e Lily, e não me pediam ajuda – e costumavam pedir minha ajuda em todas as matérias – e me olhavam com expressões suspeitas sempre que eu mencionava as “visitas à minha mãe”, como se soubessem a verdade. E sabiam, provavelmente. Abracei o pescoço de meu cãozinho, sorrindo. Lágrimas brotaram em meus olhos, e Sirius achou que era uma boa ideia secá-las. Com a língua.
Estrela!, protestei. Pare de me lamber, obrigado. Ele me encarou, os olhos azuis elétricos confusos – cachorros podem ter olhos azuis? -, e eu respondi: Resolvi chamá-lo de Estrela, porque Sirius é uma estrela, como você sabe. Já tinha escolhido um nome? Ele assentiu, mas latiu feliz. Tudo bem. Quando adotarmos um cachorro, o nome será Estrela. Grunhiu em aceitação.
-Isso foi meloso – disse James, tirando a Capa da Invisibilidade de cima dele e de Peter -, muito meloso.
-Cale a boca – mandou Sirius, transformando-se em humano. - Se fossem você e Lily, seriam piores, até.
-Vocês também são animagos – apontei para James e Peter. - Fizeram isso por mim?
-Que tipo de amigos seríamos se não estivéssemos com você quando mais precisasse de nós, Aluado?
-Rabicho tem razão – argumentou James. - Já planejamos tudo. Cuidaremos de você enquanto se transforma, e quando estiver pronto, vamos à Dedosdemel pegar doces.
-Lobisomens não representam riscos para animais – concluí. - Peraí. Dedosdemel? Como vamos entrar se não poderão mudar de forma sem que eu os mate?
-Vai entender na hora – disse Peter.
Minutos depois, o primeiro osso do pé se partiu, e eu me encolhi de dor. Logo depois, o tornozelo, fêmur, bacia… já não conseguia manter-me sentado, e pedi que me colocassem na cama. Já chorava de agonia enquanto minhas pernas se quebravam em todas as partes possíveis e se tornavam moles como geleia.
Vai passar, murmuravam-me. Trouxeram um balde, o primeiro jorro de sangue escapou de minha boca, e eu gemi. Quinze anos de prática não significariam nada, no fim das contas. Tossi mais um pouco, engasguei com o sangue. Meu rosto estava molhado de suor e lágrimas, e eu ofegava. Uma a uma, lá se iam minhas costelas. A coluna já devia estar partida em duas, se não em mais. Sirius segurava minha mão direita enquanto os ossos da esquerda eram moídos.
Está com febre, disse James. Peter, vá buscar um pano molhado. Rápido, antes que o crânio se parta. O lenço molhado em minha testa foi um alívio curto em meio a meu sangue e pele fervendo. Vamos, Aluado, desafiei-o. Tome o controle logo e pegue varinhas de alcaçuz para mim.
Com um último grito – o mais longo e mais alto de todo o processo – meu crânio explodiu e me senti lobo. Virei-me para meus amigos – àquela altura, um rato, um cão e um cervo – e uivei. Estávamos prontos.
JAMES
Estudamos a Casa por algum tempo, buscando uma saída grande o bastante para eu e Aluado passarmos, e achamos uma janela fácil de pular. Rabicho escalou a parede e correu pelo gramado. Eu o segui. Almofadinhas foi o próximo e Aluado o último. Carreguei Rabicho em minha galhada até Hogsmeade. A Dedosdemel, como esperado, estava fechada. Rabicho entrou por uma fresta e destrancou a porta. Almofadinhas abocanhou uma caixa dos chocolates favoritos de Remus e colocou em uma sacola. Peguei varinhas de alcaçuz e penas de açúcar para Lily e bolos de caldeirão para mim. Rabicho lutava para empurrar um pacote de chocobolas com menta da prateleira, e Aluado cobiçava uma caixa de sapos de chocolate. Peguei-a e joguei na sacola, com os outros doces.
Almofadinhas empurrou um galeão para o balcão e saímos. Ele queria passar na Zonko’s, mas Aluado estava muito cansado – era a primeira vez que ele saía da Casa dos Gritos – então voltamos. Escondi a sacola sob uma tábua solta do soalho, já que só poderíamos comer daqui uma semana, enquanto Aluado descansava na cama. Deitei-me aos pés do móvel, e Rabicho se aconchegou em minha galhada e pude ter certeza que Almofadinhas se jogara na cama.
Da mesma maneira que Sirius e Remus se amavam, Almofadinhas e Aluado se amavam também.
Eu não sabia o que esperar da manhã seguinte, se Remus estaria conosco ou se ainda seria Aluado, mas a aventura nos esgotara de tal forma que só acordamos às oito da noite seguinte. Ergui os olhos para cama, onde Almofadinhas e Aluado haviam se tornado um emaranhado de pelos – acho que eles tentaram dormir juntos, mas não deu certo. Observei Aluado por alguns instantes. Era um animal enorme, contrastando com o rapaz magro e pequenino que era Remus.
A semana que se passou foi a mais divertida de todas. Fazíamos compras de madrugada, sem filas e muvuca, e dormíamos durante o dia, quando nossos colegas estavam em aula. Até Remus ficou chateado com o fim do ciclo. Distribuímos os doces e nos vestimos de novo. Graças ao bom Merlim, era tarde livre, e Sirius e eu corremos para o treino de quadribol.
***
SIRIUS
-Cara, eu estou moído. E não estou falando do que fizemos na última semana.
-Concordo – James jogou sua vassoura sobre os ombros. - Minha cabeça vai explodir. Fazer chifres crescerem dói um bocado.
-Evans te fez de corno, Potter? - provocou Snape, rindo com maldade.
-Pelo menos eu tenho namorada, Ranhoso – James sorriu com todos os dentes.
Fizemos high five – e daí que Lily dispensava James desde o primeiro ano? O importante era afastar Ranhoso do que não era de sua conta – e voltamos para a torre da Grifinória. Remus lia e Peter se lambuzava com as chocobolas. Remus me agarrou e estalou um beijo em meus lábios, passando a língua neles. Entreabri meus lábios, brincando com a língua nos dentes dele.
-Eu amo você – sussurrou. - E adorei os chocolates.
Puxou-me para seu colo e jogou meu casaco do time de quadribol no chão.
-Nosso quarto está bem ali, meninos – disse Peter.
-Corta clima dos infernos – xinguei, apanhando meu casaco e saindo de cima de Remus.
-Isso é porque ele não tem ninguém com quem dar uns amassos – disse James, jogando um beijo para Andressa Brown.
Bati na nuca dele. Evans está aqui, seu imbecil. E está furiosa.
-Potter! - Lily esbravejou, marchando em nossa direção.
-Aposto dez nuques na Evans – anunciou Remus.
-Fechado – concordei. - Mais dez que está com ciúme.
Lily meteu um tapa na bochecha no rosto de James e todos na sala se viraram para olhá-la. Seu cretino! Como pôde dizer a Severus que eu era sua namorada? E ainda que eu o traí? Você não presta!
-Lily, por favor – pediu ele, esfregando a bochecha em que ela batera. - Eu fiz uma brincadeira com Sirius e seu precioso Severus entendeu errado e ele mesmo disse que você me fez de corno. Então se quiser bater em alguém, que seja nele, ok?
-É verdade, Black? - ela ergueu a sobrancelha.
-Claro – assenti.
-Lily, depois da última Páscoa você ainda dá crédito a Severus? - questionou Remus, gentil.
A última Páscoa. Era como nos referíamos ao dia em que Ranhoso gritara que Lily era Sangue Ruim, para o mundo todo ouvir. E desde então, eles não se falavam, e ela ficara mais próxima de nós, embora ainda repudiasse James – mas deixava-o chamá-la de Lily.
-Tem razão. Desculpe, James.
-Desculpo se você sair comigo.
-Não force a barra, caro James, mas… - ela se aproximou para que só nós quatro ouvíssemos – sábado, madame Puddifoot. Não se atrase.
-Não atrasarei – garantiu ele.
Sorrindo, ela puxou seu rosto e beijou sua bochecha, saindo em seguida. Todos tínhamos os olhos arregalados. Você usou Felix Felices?, perguntei. Francamente, um beijo e um encontro no mesmo dia é muita sorte.
-Eu sei – ele admitiu. - Devo isso aos ouvidos sujos de cera do Ranhoso?
-Acredito que sim – disse Peter, engolindo a última chocobola. - Ela aceitou sair com você porque se sentiu culpada pelo tapa, mas não te beijou por isso. Então não desperdice essa chance.
-Vou aproveitar ao máximo, garanto. Vou pegar as matérias que perdemos com a McGonagall, e você – ele puxou Peter – vai comigo.
Depois do showzinho de Lily, a sala comunal se esvaziara. Dei um tapinha no ombro de Remus e falei: Vamos lá em cima aproveitar esse presentinho. Ele concordou e subimos para nosso quarto.
Fomos tomados por pura adrenalina, como se Aluado e Almofadinhas tomassem o controle de novo. Remus me empurrou em direção à cama e tirei seu colete. Ele começou a desafivelar meu cinto e eu lutei contra os botões de sua camisa. Quando os venci, contemplei seu peito nu. Era igual ao meu, cheio de desenhos. A diferença era que meus desenhos eram tatuagens trouxas e bruxas, e os dele eram marcas de suas transformações, quando Aluado se mordia, para ter o que fazer. Esquadrinhava sua pele, ele fazia o mesmo comigo. Havia uma palavra pequenina, mas nítida, feita de marcas de dentes. SIRIUS. Eu tatuara o nome dele no ombro, mas uma coisa era escrever com tinta própria para pele, outra era ele se concentrar o bastante para morder os lugares exatos, sem se importar com a corrente sanguínea.
-Aluado que fez – explicou-me. - Acho que… assim como eu te amo, ele também te ama. Apesar de que, eu estimo que em breve ele se deixará apaixonar por Almofadinhas.
-Pode mandar um recado a ele? - murmurei a seu ouvido. Ele assentiu. - Almofadinhas acha Aluado muito sexy.
-A recíproca é verdadeira – garantiu-me. - Faremos o que viemos aqui para fazer ou vamos conversar sobre nossas formas animais?
Ele se aproximou e me beijou, colocando a língua sobre a minha. Nem percebi quando ele baixou minha calça. Ele era bom com distração, muito bom. Hey, por que você ainda está de calça?, brinquei, tirando a dele. Remus olhou com malícia para meu membro ereto. Arrancou minha cueca e me empurrou para a ponta da cama, colocando-se de quatro. Hesitei, sem entender. Nunca faláramos sobre sexo antes, mas os hormônios acumulados na última semana nos diziam que era a hora, se ambos estivéssemos de acordo.
-Você… - pedi, ansioso, e ele resmungou: Sim, eu sou, mas sim, estou pronto, e sim, quero que seja você – pode conjurar um lubrificante? Nunca fiz isso antes, e…
-Eu também não – ele passou o tubo para mim.
Passei uma porção generosa e ele se arrepiou com a loção fria. Vai logo, pediu-me. Quero você dentro de mim. Encaixei minha ereção em sua entrada e ele agarrou os lençóis com um grito mudo. Pusera minhas mãos em sua cintura, puxando-o para mim. Ele gemia a cada estocada. Depois de algum tempo, ele começou a gritar meu nome cada vez mais alto. S… S… Sirius, eu vou…
Um jato umedeceu os lençóis. Pensei que ele se deitaria, exausto, mas tudo o que ele fez foi continuar, dizendo que só pararia quando eu gozasse. Retirei o pênis do ânus dele depois que aconteceu, e nos deixamos cair sobre a cama. Distribui beijos por sua nuca, e ele brincava com meu pênis, masturbando-me. Foi ótimo, ofegou. Eu fui bom o bastante para você?
-Foi – respondi-lhe, acariciando suas costas. - Você gostou?
-Adorei – virou-se para me beijar. - Vamos tomar banho?
Enchemos a banheira e ele mergulhou, puxando-me para sentar em seu colo. Ele me abraçou, colocando as mãos em meu peito, beijando o ombro onde seu nome estava tatuado. Me conte a história disso…
-Ano passado, recesso de Natal. Você não quis ir à casa do James, porque era lua cheia, então fomos fazer tatuagens. Já namorávamos, então decidi escrever seu nome. No meu peito, é a parte de Orion onde Sirius está.
-Lindo, eu amei. Deixou-o ainda mais bonito. E meu.
Sorri. Remus e eu éramos dois ciumentos possessivos – com limites, é claro. Colocamos o pijama, e embalados pelo sono dos amantes, adormecemos.
***
A mão dele envolvera a minha. Beijei-a ao acordar. E se dormíssemos juntos todos os dias?, propôs, tirando o pijama e vestindo o uniforme.
-Eu adoraria, lobinho, agora vamos. A aula de Herbologia nos espera.
-Argh, Sprout. Temos mesmo?
-Matamos aula semana passada inteira. Você vai a esta aula, nem que eu tenha de carregá-lo.
Ele me olhou desafiadoramente, como se dissesse: quero ver você tentar. Me vesti, e puxei-o pela mão até a sala comunal. Peter estava debruçado sobre dever de casa e Lily e James conversavam a um canto.
-Chegaram os dorminhocos! - anunciou James. - Como foi a noite, rapazes? - Lily deu um tapa no braço dele. - Ai, Lily! Doeu!
-Bom mesmo – declarou ela, insatisfeita. - Aprenda a não perguntar da vida íntima dos outros.
Fomos para o salão principal. Peter atacou a refeição, assim como todos nós. A aula de Herbologia foi entediante – por Merlim, nem mesmo Remus aturava a aula -, mas a aula de História da Magia… essa sim foi interessante. Binns era parcialmente surdo e cego, então pudemos sentar no fundo da sala e dar uns amassos.
Uma bola de pergaminho atingiu minha nuca. Era um bilhete, escrito com a caligrafia caprichada de James. Não era dever de casa! Nosso Peter está trocando cartas com Dorcas Meadowes.
Meu Merlim! Peter e Dorcas? Que diabos? Mudando de assunto, quem vai levar ao baile de inverno?
Lily Evans, é claro. A convidei hoje cedo. Vamos comprar as roupas em Hogsmeade no sábado. Você e Remus vão?
Não sei. Não falamos sobre o baile ultimamente, com a lua cheia e o que fizemos noite passada, mas não somos o tipo de casal que pode sair e dançar sem problemas.
Não! Vocês vão se quiserem, não se permitirem. Não deixem esses nojentos preconceituosos definirem o que podem ou não fazer. Seja homem, caramba!
Quer um homem? Você o verá assim que deixarmos esta sala.
Fomos liberados e eu agarrei a mão de Remus, dizendo:
-Quer ir ao baile comigo?
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