[Nando]
“Dizem que a morte pode ser uma grande aliada em momentos difíceis, e que dependendo de como nos comportamos durante a vida, sentimos todas as dores que causamos às pessoas durante a passagem deste mundo para o outro […] Também dizem que a morte representa mais do que um fim, mas um recomeço, um refúgio.”
Minha relação com meus pais não era das melhores, não só por eles viverem brigando e descontando em mim, mas acho que se deve também pela minha orientação sexual, o que para eles, era como uma doença contagiosa, isso me doía muito.
Naquele dia frio, depois de uma discussão com meus pais pelos mesmos motivos, peguei a chave do carro e dirigi sem rumo pela cidade de Bragança, onde morávamos desde o incidente com Leandro há um ano, incidente esse que culminou na paralisia de suas pernas (ler Olhares na Escola: Desejo Mortal).
Enquanto eu dirigia, tentava imaginar como tudo poderia ter sido diferente se eu não tivesse sido tão covarde. Embora meses tivessem passado, eu não conseguia esquecer aquela noite sangrenta, talvez eu tivesse que conviver com aquela dor pelo resto de meus dias.
Enquanto dirigia, ouvia a rádio. O locutor falava a respeito de uma Praga… A Praga do Século, era assim que estavam chamando aquela doença mortal, outros, a chamavam simplesmente de MLC, ou, para os amantes da ciência, Morbus Levectus. Um vírus de origem desconhecida capaz de destruir as defesas do corpo e matar em semanas, e, em alguns casos, em dias, o tempo sempre varia de hospedeiro para hospedeiro. Era uma doença que estava dividindo o mundo e aflorando o que havia de pior nas pessoas, em breve todos estariam mergulhados em uma escuridão desesperadora e sem retorno.
Após algumas horas dirigindo sem rumo, freei numa cruzada quase ao mesmo tempo em que um carro capotou. Meu coração quase saiu pela boca e mesmo nervoso, saí do carro para ver se tinham sobreviventes, já que o carro estava despedaçado.
Me aproximei e vi um homem ao volante. Ele estava desacordado e sangrava muito, mas parecia estar meio consciente. O passageiro nem tanto. Seu corpo estava muito machucado por estar sem o cinto de segurança.
Não demorou para que uma multidão se formasse ao redor do carro.
– Alguém vivo aí? — perguntou um motoqueiro curioso que agora estava agachado ao meu lado.
– Não sei, estão sangrando demais. — falei me esforçando para reconhecer o rosto do garoto em estado mais grave.
Com o peito palpitando, vi uma mochila suja de sangue e o rosto do garoto em estado grave: Caio.
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