1. Spirit Fanfics >
  2. Marcados Pelo Sangue >
  3. Luz

História Marcados Pelo Sangue - Luz


Escrita por: WilkensOficial

Notas do Autor


Leiam a história onde tudo começou: LAÇOS DE SANGUE E PECADO está disponível no Kindle e no Spirit!

Link nas notas finais.

Capítulo 18 - Luz


Fanfic / Fanfiction Marcados Pelo Sangue - Luz

Segundo os médicos, seria um dia agitado, primeiro porque teria que refazer boa parte dos exames antes da medicação começar a ser levemente reduzida, depois porque com certeza haveria mais visitas. Muitas pessoas passariam por ali. E terceiro, porque seria inundado de sentimentos, tanto pelos médicos como pelas pessoas que me veriam pela primeira vez acordado depois do acidente, isto é, se tudo desse certo no decorrer dos exames.

– Caio, já tem visitas cedo, hein? – disse a enfermeira terna e carinhosa.

Os passos pesados sugeriam um homem na sala. Ele caminhou calmamente até minha cama, como se quisesse evitar chegar perto ou como se tivesse receio de me ver. Quando ele falou, realmente parecia ter alguma distância de minha cama:

– Caio. Nunca imaginei que te veria nessa situação… – disse meio enrolado, com um sotaque forçado – eu sei, sou a última pessoa que deveria vir te ver. Bom, acho que você tinha razão. Sou o pior falso italiano do mundo, mas…bom, existem coisas nessa vida que não devemos explicar. Eu só espero que você saia dessa.

Bom, a única certeza das pessoas que tinham me visitado até agora, era a dele.

Francesco estava ali, mas afinal, por que e para quê?

Desde quando ele falava a nossa língua tão bem? Isso era confuso para mim.

— Eu queria ter evitado tudo, mas acabou acontecendo… me desculpe mesmo por isso. Eu… eu só espero que quando você acordar, você não faça as escolhas erradas. – quando ele disse isso, senti vontade de me levantar, sacudi—lo e esclarecer tudo o que eu precisava saber. Mas… como? – fique sabendo que nunca tive nada contra você. Adeus Caio.

Senti passos se distanciando, então senti o vazio. O silêncio.

Depois vozes falaram:

– Podemos ir agora. – disse Francesco fungando.

– Vamos, vou te dar uma água para se sentir melhor.

Pronto. Mais uma coisa para me preocupar.

Acho que os mistérios à minha volta estão se tornando uma constância em minha vida. Por que será que sempre acontecia assim?

Enfim… teria que descobrir o que estava acontecendo.

 

A enfermeira terna voltou depois de ter acompanhado o Francesco para fora do hospital.

– Seus exames estão marcados para depois da duas da tarde. – fez uma pausa, mas logo prosseguiu – Me parece que você terá um dia cheio. Até onde eu vi, tem muita gente querendo te ver hoje por aqui.

Depois de alguns, a enfermeira voltou com mais alguém para falar comigo:

– Mais uma visita, Caio.

– Oi de novo Caio. – disse Bruna. Sim, ela estava novamente ali. – Fiquei sabendo que vai fazer mais alguns exames para sair dessa. Espero que tudo dê certo. Eu não estava imaginando que isso aconteceria. Olha Caio, queria me desculpar por ser insensível contigo. Imagino o que passou. Fiquei pensando depois que eu saí daqui. Pensei sobre o dia que você pediu um tempo para mim. Imagino o que foi se sentir sozinho com tudo isso. Agora entendo por que passava tanto mau. Você guardava tudo isso para você.

As palavras dela eram profundas. Eu estaria chorando se não estivesse sedado fortemente por remédios. Ela continuou:

– Tem mais gente querendo falar contigo antes do exame. Tem muita gente aí que gosta de ti querendo falar contigo. – Ela fez uma pausa. Senti sua mão encostarem na minha e meio com dificuldades, se despediu – Olha Caio, todos vamos sair dessa. Depois do que aconteceu na sala, todo mundo tá abalado e você virou nosso símbolo de maior resistência. Hoje acho que metade da sala faltou. Conte comigo sempre. Juntos somos indestrutíveis!

Então ela saiu. Parecia que chorava demais.

Alguns minutos depois, a enfermeira anunciou que entraria mais alguém para me ver. Essa pessoa caminhou como todas as outras, em silêncio. Chegando ao pé da cama, repetiu as passadas de dedos pelo meu braço esquerdo. Ele estava fungando demais. Provavelmente chorando:

– Eu deveria ter te protegido. – sua voz distorcida do choro me fez ficar pensando em quem era. Continuou – deveria ter feito algo, ter te ajudado. Poxa…

Começou a chorar. Não reconhecia quem era. Eu estava confuso porque ele não se segurava no choro. A única coisa que eu sabia era que era um homem. Nada além disso.

– Depois desses dias e depois que eu estive aqui é que percebi o quanto estava errado. Que se tivesse te defendido, nada disso teria acontecido… me perdoa.

Chorou ainda mais. Sentia várias gotas do choro dele caindo sobre meu braço. Então tentou terminar:

– Tenho que te dizer o quanto te amo cara. Não some. Não morre pelo amor de Deus. Tô me remoendo por dentro por ter sido covarde.

Então senti passos apressados como quem estivesse querendo sair correndo da sala. Quem era aquela pessoa? O choro e o jeito de falar disfarçaram a voz. Teria ele feito de propósito? Por que não consegui identificar?

Aquele incômodo de ter sentido aquela presença que eu não identifiquei foi comigo pelo resto do dia.

A impaciência de tentar saber quem era me deixou pensando por quase duas horas quando depois de um tempo, a enfermeira entrou novamente na sala:

– Infelizmente o médico já cortou suas visitas. Ele não quer que você fique agitado por ter pessoas demais circulando aqui.

 

Algum tempo se passou até que realmente eu fosse levado aos exames que estavam quase se tornando praxe.

– Bom tá na hora, todos já estão aqui? — disse alguém, provavelmente o mesmo médico com tom de voz superior.

 – Acho que sim, apenas o Felipe disse que não chegaria a tempo porque estava atendendo a uma emergência – disse a enfermeira em resposta.

 –Certo. – retrucou a seco o médico.

Minha cama começou a tremer e depois de ­– o que pareceram horas – realizar todos os exames, finalmente voltei ao quarto. Então a enfermeira me disse:

– Agora falta pouco Caio! – disse ela de forma carinhosa – você vai sair dessa.

Agora só mais duas horinhas até o exame sair.

A espera estava me deixando ansioso. Não sei como explicar como poderia ficar ansioso mesmo estando em coma induzido. É uma sensação que você só saberia dizer se passasse por ela. E o tempo passava mais devagar agora do que em todos os momentos que eu já havia vivido na minha vida.

– …pelo menos os resultados foram positivos. – a voz que aos poucos foi ficando mais forte conforme todos os passos, do que mais parecia ser uma manada de pessoas, era do médico que aparentava ser superior.

– Eu estava torcendo tanto por ele! – disse com uma voz supercontente, a enfermeira que até agora me tratava com carinho.

– Acho que todos torcemos. – disse o médico, sendo enfático. Logo continuou – Bom, agora o plano é o seguinte: vamos diminuir medicação aos poucos, não podemos cessar a medicação de uma hora pra outra senão ele entra em choque. Não queremos isso. Reduza gradativamente até finalmente cessar.

Enquanto o médico falava, os outros à sua volta ficavam falando “okay” a todo instante. Ele então continuou:

– Pode ser que quando ele acordar se sinta confuso e desorientado. Pode ser que reconheça algum de nós pelas vozes, mas acho difícil, é muito raro alguém em coma induzido se lembrar de algo, é como se apagasse tudo que escutou. Enfim, quando ele acordar tentem tranquilizá—lo. Ele deve perguntar pelo pai, esclareçam o que for necessário.

Algumas conversas mais baixas se seguiram, quando finalmente ouvi a enfermeira ao meu lado:

– Pronto. Agora faltam poucas horas, Caio. Acho que até à noite você acorda, meio alterado, mas acorda. Já vou reduzir o seu medicamento.

Eu estava me sentindo feliz. Pela primeira vez eu acordaria depois do acidente. O que achava mais engraçado era minha mente estar trabalhando sem parar. As pessoas que estavam estudando o meu caso ainda estavam por ali. Escutei algumas conversas baixas que aos poucos foram acabando. Agora, como disse a enfermeira, realmente faltava pouco.

Depois da terceira ou quarta reduzida de medicamentos, eu comecei a sentir uma latência, um formigamento no corpo. Eu estava sentindo o resto do meu corpo novamente. Algumas dores também surgiram. No começo bem leves, mas à medida em que as horas passavam, elas se intensificavam.

Comecei finalmente a sentir os meus dedos e demoraram horas pra que uma enfermeira notasse que eu os mexia. Baixinho, ela deixou escapar um “Meu Deus” e saiu correndo, pois consegui ouvir os passos.

Já estava quase amanhecendo quando o médico veio me examinar. Ele abriu uma de minhas pálpebras com muito cuidado e jogou um facho de luz do que parecia ser uma pequena lanterna.

– Sim, ele está respondendo! – disse fazendo uma pausa para anotar algo– Se estiver me ouvindo Caio, mova o indicador da mão esquerda.

Com muito esforço e alguma dor, movimentei rapidamente o dedo. O médico então disse, satisfeito:

– O medicamento estava forte e agora vai demorar mais umas horas para ele acordar. Ele já responde a estímulos externos. – Fez uma pausa e anotou algo, então deu a ordem à enfermeira – Quando ele acordar definitivamente, dê uma hora para ele descansar e então libere visitas, inicialmente, um visitante por hora para não estressar o paciente. E a visita não deve ultrapassar cinco minutos!

— E quanto àquele garoto insistente? Devo autorizá—lo entrar? – perguntou a enfermeira, me deixando curioso em saber quem era.

— A mãe do paciente não autorizou, mas se for mesmo um grande amigo, como ele afirma, faça o que tem que ser feito… mas em sigilo!

A enfermeira apenas concordou com um sonoro sim.

 

Após algum tempo, vi o primeiro facho de luz. Finalmente estava acordando!

– Doutor, doutor!

A enfermeira saiu da sala correndo mais uma vez.

Em minutos a minha visão estava embaçada. Eu apenas balbuciava as palavras:

— Pai, pai… – dizia eu de forma desencontrada.

 


Notas Finais




Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...