História Marcas da Solidão - ShinoKiba - Pausa no paraíso

O percurso foi marcado por momentos inesquecíveis. Desde sair dos territórios de Konoha a percorrer vastas áreas sem o menor sinal de vida racional, apenas natureza exuberante e bela, refletida nas florestas quase selvagens que delimitavam a fronteira. Uma ou outra vez encontraram com caravanas que iam em sentido contrário.

Alguns grupos de desconhecidos mostravam-se hospitaleiros e vinham negociar. Era uma experiência fascinante, que rendia boas trocas. Conseguiram tâmaras e figos em conserva, iguarias exóticas que agradaram o paladar de Kiba. Assim como roupas mais adequadas para a parte final da viagem. Seguir pelo deserto com kimonos era perigoso. Mortal. O sol atingia a pele diretamente e o risco de contrair insolação e queimaduras era grande.

Outros grupos, menos abertos a desconhecidos, seguiam ao largo sem se comunicar. Para esses, Kiba inventava histórias mirabolantes que justificavam o comportamento desconfiado. Histórias tão absurdas e impossíveis, que divertiam Shino e Ino (e até os condutores das carroças e os ninjas a paisana, Shino sentiu isso claramente).

E então a escassez.

A vegetação rareava gradativamente até que o cenário mudou por completo. O calor veio manso, sem aviso. E então areia e o sol inclemente eram viajantes que partilhavam da mesma jornada.

— Daqui pra frente são três dias de viagem — Ino informou — Sem hospedarias. Noite passada foi a última sob um teto.

Kiba ouviu a explicação sem grande pesar. Dormir era necessidade, não dependia de luxos. Estava mais empolgado em conhecer lugares novos, na distância que se encurtava rumo ao destino final. Mas não queria pensar muito no que encontraria ao chegar em Suna.

— Veja, se apressarmos o passo podemos alcançar essa área ainda hoje — Ino mostrou algo no mapa para Shino — É o lugar ideal para acamparmos.

A expressão do Alpha permaneceu neutra.

— Pode ser um ponto visado. Mas confio na sua experiência.

Ino piscou marota.

— Mandei dois batedores a frente. Eles estão verificando o caminho, nos darão um sinal caso haja algum risco. Ouso dizer que não teremos problemas. Não percebi nenhum sinal de fumaça a horas, o que indicaria uma pausa. Se alguém tivesse pretensão de fazer o mesmo que a gente eu saberia.

Shino suspirou. Nem devia ter esperado algo diferente de sua Beta de confiança.

— Então está decidido.

Kiba não entendeu nada. Apenas acompanhou quando a pequena comitiva retomou a caminhada, vencendo mais um trecho do percurso, na intenção de chegar onde Ino desejava.

— O que aconteceu? — o garoto tentou pescar informações.

— Você vai descobrir. Ainda caminharemos por um trecho grande. Guarde o fôlego, porque não vamos parar até chegar num bom lugar para passar a noite.

E no fim das contas, tudo valeu a pena!

O sol baixava no horizonte, levando consigo o calor inclemente. Isso aliviava um tanto o uso dos pesados trajes típicos, já que a temperatura caia a níveis bem baixos. A exceção de Aburame Shino, que usava a roupa cotidiana, boa para tais situações.

Cansado, Kiba estreitou os olhos. Por um instante achou que estava enlouquecendo, vendo coisas que não existiam. Observou Shino ao seu lado, cavalgando tranquilo.

— Ne...? — o Ômega chamou, conquistando a atenção do outro shifter — Eu to vendo o que eu acho que to vendo?

— E o que você está vendo? — Shino perguntou divertido.

Kiba voltou os olhos para frente, analisando a paisagem que ondulava graças ao vapor que desprendia do solo quente. O horizonte parecia em movimento, uma ilusão d’ótica perigosa que podia custar a vida de aventureiros inexperientes.

Areia. Areia. Areia.

Kiba via uma imensidão de areia até onde a vista alcançava. No meio disso tudo...

— O paraíso! — o Ômega riu.

— Então está vendo certo.

O lugar assinalado no mapa era uma espécie de oásis.

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Alcançar o oásis foi a melhor parte da viagem até o momento. E Kiba entendeu a conversa de antes, entre os dois shifters. Shino temia que a área exuberante atraísse toda e qualquer caravana que estivesse indo de Konoha para Sunagakure e vice-versa. Além disso, bandidos do deserto costumavam se esconder em oásis para emboscar pessoas, roubando-as e matando-as impiedosamente.

Ino sabia bem desse fato. Por isso tomou a providência de escolher dois ninjas experientes dos que viajavam nas sombras e enviá-los na frente. Confirmando assim, que era um lugar seguro. Ou, na pior das hipóteses, tornando-o seguro...

— Incrível — Kiba exclamou. Parecia um sonho, uma miragem! Como um bolsão de água podia surgir no meio de milhas de pura areia, cercado de vegetação rasteira verdinha e grandes árvores?

— Eu te disse mais de uma vez: a natureza é sábia — Shino apeou do alazão branco e permitiu que Ino o levasse pela rédea.

— O sol não se pôs ainda, mas falta pouco — a Beta comentou antes de ir pegar as rédeas do cavalo malhado que Kiba montava, aguardando que o Ômega descesse — Vamos ficar por aqui e sair mais cedo amanhã para compensar. Vou erguer acampamento para lá.

E deu uma piscadinha muito suspeita.

Kiba assistiu a mulher se afastar com os três cavalos, na intenção de prendê-los em algum lugar em que pudessem comer e descansar sob a sobra de alguma árvore. Ficou curioso pelo jeito cumplice dela, sem entender nada.

A resposta veio em um convite inusitado. Ou não de todo, se Kiba fosse um tiquinho mais ligado nas coisas.

— Quer tomar um banho? — Shino perguntou.

— Banho? — no mesmo instante olhou para a água convidativa do oásis, límpida. Sorriu — Claro!

Seria maravilhoso tomar banho depois de andar o dia todo debaixo do sol escaldante!

— Teremos privacidade para... — o Alpha foi explicando, temeroso que o garoto sentisse algum tipo de constrangimento.  Preocupação desnecessária. Kiba estava acostumado a dividir tudo com vários Ômegas. Certos aspectos da privacidade foi algo que só conheceu depois de fugir de Gin-Io. E ainda se adaptava ao conceito.

Por isso foi andando em direção à lagoa, já se livrando das roupas. Sem ver maldade alguma em um simples banho.

O queixo de Shino caiu um pouco. Assim que a longa túnica foi ao chão, seus olhos se perderam na visão daquelas costas de pele trigueira, cuja constituição ainda se definia. Os insetos, aprovando a imagem, agitaram-se sob sua pele e o tiraram da inércia.

Foi a vez dele sair do lugar e rumar para a água. Também se despindo no percurso. A piscadinha de Ino foi sinal evidente de que a Beta lhes daria espaço suficiente pra aproveitar o momento. Ouviu a risada cristalina e o som de algo caindo na água.

Enquanto avançava, viu peças de roupas jogadas no chão. Não conseguia ser assim tão descontraído, por isso colocou os próprios trajes em um único montinho. Estava completamente nu quando alcançou a lagoa. Manteve apenas o par de óculos escuros no rosto.

— Isso é maravilhoso! — Kiba exclamou, dando vigorosas braçadas. As marcas vermelhas no rosto, que já estavam afetadas pelo suor, desmancharam fácil na água — Anda logo, Shino! Você vai... caralho!!

A parte final veio acompanhada de uma sensação de divertimento tão grande e tão intensa, que o Alpha quase riu, contagiado por uma alegria que não era sua.

— O que foi? — questionou, imergindo na água até a cintura.

Kiba nadou para perto dele.

— Você queimou o rosto! Mas só o rosto!! — o Ômega explicou ficando em pé. Ia continuar gracejando, mas calou-se ao se dar conta de que o outro não parou o avançar. Ao contrário, seguiu até que invadisse seu espaço pessoal, obrigando-o a erguer o queixo de leve, para poder mirá-los nos olhos. Ou algo nesse sentido, já que havia a barreira dos óculos escuros. O coração disparou no peito e a boca secou um pouco. Algo na postura do Alpha mexeu com seus instintos, não entendia bem como — Caralho, Shino.

Duas palavrinhas que não descreviam a situação, mas que foram suficientes para que Shino compreendesse. O vínculo não guarda segredos. Captou a confusão, a insegurança, traços ínfimos perto do desejo que emanou daquele corpo menor e mais jovem. De forma inconsciente projetou sua presença, o lado Alpha se intensificando e trazendo segurança, conseguindo, de certa forma, acalmar os anseios do jovem Ômega.

— Eu sei — disse tão somente, a mão movendo-se sem que pudesse ou quisesse controlá-la. A ponta do dedo capturou uma gotinha atrevida, que desfilou pelo peito de Kiba, na linha do baixo-ventre, antes que ela fosse de encontro ao espelho d’água e desaparecesse. Traçou seu contorno em sentido contrário, suave. O dedo contornando gentil um caminho que tirou o resto do fôlego de Kiba. Então seu rosto esquentou. E não foi a única coisa no garoto que esquentou.

— S-Shino...

O nome foi pronunciado de um jeito tal, que soou como um pedido, uma súplica, uma ordem.

Uma sentença.

O Alpha abaixou o rosto e beijou seu companheiro. Pois o desejo não queimava em uma via de mão única. O desejo atingia aos dois por igual.

— Eu sei — Shino repetiu, ao separar os lábios, passando a dar pequenos beijos e mordidas no pescoço do garoto. O sussurro foi de encontrou ao ouvido de Kiba e o arrepiou todinho — Quero você, quero muito. Tenha apenas um pouco de paciência.

Que a primeira vez do casal não fosse no meio do deserto, com Ino e um grupo de Betas como testemunhas. Mereciam privacidade de verdade, sem precisar se preocupar com nada.

Kiba apenas balançou a cabeça muito rápido e submergiu depressa, nadando para longe. Uma tentativa pueril, ainda que louvável, de esconder a embaraçosa ereção. Não existiam segredos em um vínculo.