Quando Lily desceu para o café da manhã, ainda com aquela conversa na cabeça, ela encontrou Harry fazendo ovos com bacon na cozinha.
— Bom dia — disse ele com naturalidade, ignorando educadamente o jeito com que ela o olhou. Lily não respondeu, mas se sentou no balcão para observar enquanto ele cozinhava. Dado momento, perguntou:
— Onde Gina está?
Harry parou por um segundo, visivelmente surpreso pela pergunta e respondeu:
— Ela foi para A Toca — e continuou quando o rosto de Lily expressou sua confusão — a casa dos Weasley. Foi ficar com a família... George não está bem.
— George é... — Lily tentou se lembrar.
— Sem orelha — Harry falou baixinho, gesticulando em direção à própria orelha.
— Como ele perdeu? — perguntou a ruiva com suavidade.
— Em uma batalha, a alguns meses — disse Harry, evasivo — um Comensal da Morte que estava, na verdade, do nosso lado, tentou salvar Remus, mas acabou acertando George.
— Você parece muito ligado aos Weasley — disse Lily com o tom de voz indecifrável. Harry sorriu suavemente.
— Eles foram a única família que eu conheci — disse o garoto — pode não ser o que eu queria, mas eles são o mais importante para mim em todo esse mundo.
— Quando você os conheceu? — Lily perguntou rapidamente, sem dar tempo para que seu coração reclamasse do que Harry dissera.
— Na estação King's Cross no meu primeiro ano — respondeu ele sem olhar para ela — a senhora Weasley me mostrou como chegar até a plataforma, os gêmeos me ajudaram a guardar meu malão e Rony sentou no meu vagão.
— Gêmeos? — perguntou a mãe de Harry, que parou o que estava fazendo assim que ouviu a pergunta e olhou para ela de relance.
— Fred e George — respondeu com a voz tensa como um fio esticado — Fred não sobreviveu à última batalha.
— Eu... — Lily se refreou antes que pudesse continuar. Ela sabia por experiência própria que aquelas palavras não ajudavam em nada.
— Alem de todos os Weasley, eu e Hermione sentimos a perda de Fred como sentiríamos a perda de alguém da família — disse Harry com dificuldade para falar — mas para George... Fred era parte da alma dele. Você nunca via um sem o outro, nunca estiveram separados, nem mesmo Molly os imaginava separados, mesmo na morte... Agora George vai ter que viver com uma parte dele faltando.
Lily ficou em silêncio por um longo tempo depois que Harry disse aquilo, processando a informação e sentindo que ela sentia exatamente o mesmo.
— Como ele vai conseguir? — perguntou a ruiva, sabendo que a resposta era apenas para ela mesma. Harry avaliou seu semblante com um olhar cansado, antes de responder:
— Eu não sei, suponho que cada um de nós encontre um jeito e um motivo para continuar a vida.
Lily não tinha um.
— Qual é o seu — ela perguntou antes que pudesse se conter e então corou intensamente — desculpe, não precisa responder, eu fui muito insensível.
— Eu não me importo de responder, não é mistério para ninguém — Harry a interrompeu com gentileza — minha razão para viver é... Família. Eu gostaria que meus pais estivessem comigo, e Sirius, e Remus, mas há coisas piores que a morte e eu ainda tenho muitas pessoas pelas quais lutar. Vou reencontrá-los um dia, porque a morte é apenas um até logo, mas tenho bastante tempo até lá.
— A morte é um até logo até mesmo para Voldemort? — Lily perguntou, mordaz e Harry sorriu com calma.
— Eu receio que sim, Lily — disse em resposta com o máximo de gentileza que pôde — apesar de eu não ter certeza sobre isso, uma vez que Voldemort danificou tanto a própria alma, mas a morte é apenas uma próxima aventura.
— Dumbledore disse isso para você — observou Lily e Harry sorriu de canto — ele costumava falar isso quase todas as reuniões da Ordem.
— Ele estava certo — disse o garoto — eu posso esperar para rever quem eu amo, contanto que eu possa viver amando também. O amor dá sentido à vida.
— Você parece muito a vontade com a ideia de perder alguém — ela disse entre dentes cerrados, o que fez Harry adquirir uma expressão extremamente seria e sombria.
— É claro que não — disse o garoto — mas pense, Lily. Quando alguém morre, nós somos deixados para trás. Quando nós morremos, deixamos aqueles que amamos para trás. A vida e a morte são cheios de perdas. Eu, por exemplo, se eu morresse agora, veria meus pais, Sirius, Remus, Fred e tantos outros que morreram e de quem eu sinto tanta saudade que chega a sufocar, mas deixaria Gina, os Weasley, Hermione, meus amigos... E a saudade ainda me sufocaria. A morte é apenas uma pequena separação. A perda é inevitável. Precisamos aprender a lidar com ela.
A ruiva ficou em silencio, totalmente chocada com o que o garoto dissera, com a sabedoria de suas palavras e a simplicidade de seu argumento. Eles continuaram em um silêncio incômodo até que Lily perguntou, mudando totalmente de assunto:
— Você e Gina...
— Estamos juntos desde o meu sexto ano — disse ele, entendendo o que ela queria dizer.
— Por que você se apaixonou por ela?
— Bom, ela começou a fazer parte do meu cotidiano n'A Toca quando eu estive lá nas férias do começo do ano — contou Harry — e eu comecei a notar o jeito irreverente dela, o humor cheio de ironia, o temperamento difícil e a determinação de aço.
— E começaram a namorar?
— Merlin, não — disse Harry com um riso fraco — ela é a filha caçula de uma família com seis irmãos mais velhos que estavam prontos para acabar comigo quando soubessem. Isso sem falar que um deles era meu melhor amigo e a aprovação de Rony sempre foi muito importante para mim.
— Então como vocês ficaram juntos? — Lily estava curiosa.
— Eu me acostumei à presença dela nas férias e quando ela se juntou aos próprios amigos em Hogwarts, parecia haver um buraco no lugar em que ela ocupava n'A Toca. E isso me incomodava. Eu comecei a percebê-la como a mulher que ela era durante a viagem de trem para a escola, em que ela chamou a atenção do novo professor de Poções por azarar com maestria um garoto que a estava irritando para ficar com ele.
"Eu acho que isso chamou a minha atenção... A força que ela tinha, resolvendo tudo sozinha sem recorrer a ninguém a não ser que realmente precisasse me deixou de queixo caído e totalmente apaixonado por ela. Eu tinha uma detenção com Snape no dia em que a Grifinória iria jogar e Gina jogou no meu lugar, como a maravilhosa jogadora que é. Ela veio me abraçar para comemorar a vitória depois que eu cheguei na torre... Eu simplesmente não aguentei mais e a beijei.
— No meio de toda a Grifinória? — Lily arregalou os olhos e Harry corou, mas assentiu.
— Começamos a namorar depois disso — ele falou — eu terminei com ela no fim do sexto ano por razões que vocês vão ficar sabendo depois e agora nós reatamos.
Lily não teve tempo de comentar, pois uma coruja entrou pela janela cozinha trazendo uma carta escrita de um jeito tão... Trouxa para os padrões bruxos. Harry pegou a carta e ergueu os olhos para Lily.
— É de tia Petúnia.
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