História Married and marked - Capítulo 20 - Surpresas e viagens

— Sabe, Jungkook, eu vi seu marido conversando com os empregados e ele não tem pulso firme! Ele não deve tratá-los com tanta amizade, afinal, estão sendo pagos para servi-los. — Chaewon disse, enquanto ela e Jungkook tomavam chá na varanda.

— Titia, eu não vejo nenhum mal em Jimin fazer isso, até porque eu mesmo faço também. — Jungkook disse sério, sem se deixar abalar, pois já estava acostumado com aquelas conversas da tia. — A senhora não gosta dele e fica arranjando motivos para criticá-lo.

— Ah, meu sobrinho. Ele não é para você! Assim que coloquei meus olhos nele, soube que não é um ômega à sua altura! — A mulher disse, bebericando seu chá.

— Eu não vejo a senhora falando o mesmo sobre o marido de Hoseok. Ele e Jimin são irmãos. — Jungkook falou, olhando ao longe Jimin, Yoongi, Hoseok e Hyeri caminhando pelo jardim, conversando e trocando sorrisos.

— Ah, mas Yoongi me parece um bom ômega. São completamente diferentes, Jimin não tem o que é preciso para ser seu marido, é o que penso. Muito petulante, arrogante, e desrespeitoso para comigo. — Lady Chaewon disse em um tom indignado.

— Eu gosto do jeito dele, titia. — Jungkook admitiu. — Pode ser que eu não gostasse no início, mas agora eu vejo que isso o torna mais belo aos meus olhos.

— Alfas! — A mulher bufou. — Como entender vocês? Hyeri seria uma ótima esposa, até hoje não posso entender essa sua recusa, Jungkook.

— Não tenho nada contra Hyeri, pelo contrário, gosto muito dela. — Jungkook tirou os olhos dos cabelos loiros ao longe, para voltar o olhar até a tia. — Mesmo que nos casássemos sem amor, assim como me casei com Jimin, não acho que poderia me apaixonar por ela. Somos muito parecidos, eu e ela. Reservados, quietos e um tanto frios. Jimin é o contrário de mim, ele desperta outros lados meus que eu nem me lembrava ou sabia ter. Eu acho que se não fosse ele, não seria ninguém.

A tia do jovem se surpreendeu com aquelas palavras, pois nunca havia sequer ouvido o sobrinho falar assim sobre sentimentos, aquilo era uma novidade para si. Podia também ver o brilho presente no olhar de Jungkook, este que estava sempre direcionado para o ômega de cabelos loiros. Apenas suspirou, pois ainda não simpatizava nem um pouco com o marido do sobrinho.

— Eu realmente não posso entender. — A ômega disse, arrancando um sorriso do alfa.

~*~

Apesar de estarem dividindo o mesmo quarto, Jimin e Jungkook não dormiram mais abraçados. O ômega morria de vergonha toda vez que se deitava na cama e fazia questão de ficar o mais longe possível do alfa.

Isso deixava Jungkook chateado, pois o que queria realmente era ter o loiro em seus braços durante a noite, mas não podia simplesmente o obrigar a isso. Aparentemente, era só a falta que o ômega de Jimin tinha sentido do alfa que os fez ter aquele momento há alguns dias atrás, pois desde aquele dia, Jimin voltara a ignorá-lo sempre que podia. Jungkook se entristecia com isso, mas gostava do olhar raivoso que o ômega direcionava a si quando conversava com Hyeri.

O dia do aniversário de Jungkook havia chegado e Jimin já havia começado o dia de mau humor, pois a tia do alfa ficava o irritando sempre que podia. Todos já tinham parabenizado o alfa, menos Jimin, pois estava muito envergonhado para fazer isso ainda. Mas tentaria criar coragem até o final do dia.

— Eu mandei fazer um prato especial para o jantar, Jungkook! — Chaewon disse, atraindo a atenção de todos, durante o almoço. — Pato! Eu sei que você adora!

Tinham combinado de fazer um jantar especial em comemoração ao aniversário, e Hoseok e Yoongi seriam os convidados, além das duas mulheres. Chaewon havia dito que ela seria a encarregada do jantar e deixou somente a sobremesa à escolha de Jimin.

— Sim, eu gosto muito mesmo, titia. — Jungkook sorriu em direção a tia, e se reprimiu rir da careta que Jimin fazia.

— Seu marido ficou de escolher a sobremesa, espero que forme um bom conjunto com o prato principal e que ele acerte nos seus gostos. — A ômega mais velha disse, olhando de soslaio para Jimin.

Este ficou apenas calado, coisa que impressionou os presentes, pois geralmente Jimin respondia à altura e não deixava aquela mulher o provocar. Mas ele estava um tanto nervoso, pois realmente tinha medo de Jungkook não aprovar a sobremesa que ele tinha escolhido.

A tarde passou e Jungkook havia saído com a prima e Hoseok para cavalgarem. Yoongi só viria mais tarde e Lady Chaewon foi repousar em seu quarto. Mesmo Jimin sentindo uma agonia em saber que Jungkook estava com Hyeri, e uma ardência anormal em sua marca, ficou feliz com aquela saída do alfa, pois assim podia completar o que planejara.

Na hora do jantar, engoliu aquela droga de pato com muito esforço, pois não daria o gostinho para Lady Chaewon de saber que ele odiava um dos pratos preferidos de Jungkook. Sentiu-se muito enjoado com aquilo, o que acontecia geralmente quando comia alimentos que odiava. Quando finalmente foram servidas as sobremesas, Jimin se sentiu ainda mais nauseado, pois estava ansioso. A mesa tinha vários doces, como pudins, tortinhas e alguns cremes, mas a atração principal seria o bolo de nozes com calda de amora que tinha ficado muito bonito no centro das sobremesas. Jimin não evitou o sorriso que surgiu em seus lábios quando Jungkook falou que havia gostado bastante do bolo, comendo alguns pedaços a mais do que comeria normalmente.

Yoongi, que tinha quase gargalhado do irmão, pela cara que ele fazia em comer o pato no jantar, agora o olhava com muita ternura. Pois via a felicidade de Jimin estampada em seu rosto enquanto Jungkook experimentava o bolo. Queria chamar a atenção do alfa e contar um segredinho para ele, mas deixaria aquilo para Jimin, tinha certeza que ele não resistiria em contar mais tarde.

Quando subiu para se preparar para dormir, Jimin aproveitou que estava sozinho para vomitar todo o jantar. O gosto do pato em sua boca estava o deixando cada vez mais enjoado, e não conseguiu segurar nem um minuto a mais aquela coisa horrível em seu estômago. Quando finalmente tinha posto para fora tudo que o que conseguiu, se sentiu bem mais aliviado e sabia que nunca mais comeria aquela carne novamente. Saiu então do toalete, já vestido para dormir, e encontrou Jungkook entrando no quarto.

O alfa reparou que o ômega estava um tanto pálido, e não conseguiu não perguntar se estava tudo bem.

— Está. Somente odeio pato, argh! — Jimin disse, se sentando na cama e respirando fundo, evitando ficar enjoado novamente só de falar sobre o alimento.

— Você não precisava comer. Só precisava ter falado a verdade. — Jungkook disse, enquanto retirava suas roupas no lavabo, e trocava por outras mais confortáveis.

— Ah, não! E dar mais motivos para ser um péssimo marido pra você?! — Jimin se irritou, pois aquilo obviamente seria algo usado contra ele. — Mas, você gostou das sobremesas? — Perguntou, mudando de assunto e já um tanto nervoso.

— Sim, apreciei muito. — O alfa respondeu, voltando ao quarto e indo até sua escrivaninha, pegando algumas cartas de negócios que havia escrito e deixando empilhadas para enviá-las na manhã seguinte. — Aliás, aquele bolo estava maravilhoso. Como sabia que era uma das minhas sobremesas preferidas?

— Ahn, Hoseok me disse. — O ômega falou, olhando para baixo e já corando um pouco.

— Oh, sim! Estava muito bom. Um pouco diferente dos que já fizeram aqui em casa, mas eu até gostei ainda mais. — Jungkook disse sincero, se encaminhando até a cama para se deitar.

— E-eu que fiz. — Jimin disse baixinho, brincando com os dedos das mãos, sinal de que estava bastante nervoso.

Jungkook, que apagava algumas velas ao lado da cama, se sentou no colchão e olhou surpreso para o ômega.

— Você que fez? — Perguntou, interessado.

— Aham. Quer dizer, me ajudaram bastante, não fiz completamente sozinho, porque foram me dizendo o que fazer. Mas eu, ahn, bati a massa e fiz o recheio, e a cobertura, coloquei pra assar e essas coisas. — Jimin já estava parecendo um tomate tamanha vermelhidão que havia se espalhado por seu rosto. — Considere como um presente de aniversário.

O alfa não sabia se sorria ou ficava vermelho, e no momento fazia os dois. A alegria que tomou conta de si por aquelas palavras e aquele ato, fizeram Jungkook sentir seu coração saltar dentro do peito.

— V-você não precisava, Jimin. Ahn, ob-brigado. — Gaguejou vergonhosamente, se amaldiçoando por dentro, mas sem conseguir tirar o sorriso do rosto. — Eu não devia ter deixado Hoseok comer os últimos pedaços, devia ter guardado um para comer amanhã.

— E-eu posso fazer outro, qualquer dia desses. — O ômega falou, tentando não demonstrar a euforia que estava sentindo internamente. — Jungkook?

— Sim? — O alfa olhou para o ômega quando foi chamado, o vendo um tanto encolhido e envergonhado.

— Feliz aniversário. — Disse rápido, se aproximando mais rápido ainda do alfa, e depositando um beijo em sua bochecha. Jimin então apagou a vela que tinha na mesinha de cabeceira ao lado da cama, se deitando em seguida e se cobrindo até as orelhas, encolhido de vergonha pelo ato que acabara de realizar.

Jungkook ficou sem ação por alguns segundos, realizando que Jimin tinha realmente lhe dado um beijo na bochecha. Mesmo rápido e superficial, havia sido uma sensação muito agradável. Nem parecia que já tinham feito coisas muito mais profundas do que um simples beijo no rosto, mas aquela ação valia mais do que qualquer outra, pois nenhum dos dois estava no cio para Jimin culpar a situação. Ele quis fazer aquilo e isso deixava Jungkook mais animado do que nunca. Deitou-se também, ainda com o coração acelerado, e sorrindo tanto que não sabia se sua boca poderia rasgar com aquilo.

Mesmo de costas um para o outro, e com um espaço bastante considerável no meio dos dois, a energia boa que emanava de ambos era o suficiente para se sentirem muito bem e dormirem logo, com sorrisos nos rostos.

~*~

— Eu não acredito que você vai mesmo! — Jimin gritou, andando de um lado para o outro no quarto.

— Jimin, eu preciso ir, é um acordo de terras que estou fazendo naquela região. — Jungkook explicou mais uma vez, já quase perdendo a paciência com aquele assunto.

— Mas para que ir com elas? — Jimin perguntou pela, talvez, décima vez. — Deixe para ir depois, sozinho! Ou melhor, não vá!

O fato era que já tinham se passado várias semanas da estadia de Lady Chaewon e Hyeri ali, e elas iriam voltar para casa no dia seguinte. Jungkook havia adiado alguns de seus negócios para não precisar se ausentar durante a estadia das visitas ali. Quando a tia anunciou a partida, ele aproveitaria para ir com elas até a cidade em que residiam, pois precisaria mesmo ir até lá para conversar com alguns sócios de seu pai.

O problema é que Jimin não havia gostado nenhum pouco daquela situação, dizendo com todas as letras que não queria que Jungkook fosse com as mulheres. Ele estava se sentindo muito inseguro ultimamente e não conseguia entender o porquê. Só de Jungkook ficar sozinho com Hyeri já era motivo para o ômega ter uma pequena crise de choro escondido em algum canto da casa. E ele realmente não queria que o alfa viajasse com somente a tia e a prima, pois assim Lady Chaewon iria colocar ainda mais coisas contra ele na cabeça de Jungkook. E se ela convencesse Jungkook a abandonar Jimin e fugir com Hyeri? E se Jungkook voltasse com Hyeri em seus braços e mandasse Jimin embora da casa? Eram tantas possibilidades, e só dele pensar nisso já queria se jogar na cama e chorar como uma criança. Sabia que estava sendo completamente irracional, mas seus sentimentos estavam confusos e intensos ultimamente.

— Para que adiar? Assim posso fazer companhia para elas na viagem, me sinto até mais tranquilo com isso. — O alfa disse, se deitando na cama e colocando o braço diante dos olhos.

— Ah, sim! Elas não podem ir sozinhas, mas eu posso ficar aqui sozinho, é isso? — O ômega perguntou, sentindo seus olhos arderem por, talvez, a vigésima vez no dia.

— Você não vai ficar sozinho! Tem todos os empregados, e Yoongi e Hoseok estão aqui do lado. — Jungkook disse, um tanto exasperado. — E você nunca se importou com isso. Por que todo esse drama agora?

— Drama? Drama? É isso que você acha que eu sou? Um dramático imbecil? — O ômega gritou, fechando as mãos em punho.

— Quem disse isso? Você! Porque eu não disse nada disso! — Jungkook se sentou novamente na cama. — Pare de ficar bravo por nada! Por Deus! Você está insuportável esses últimos dias! Eu só irei lá a trabalho e volto em dois dias, no máximo, não precisa todo esse escândalo. — O alfa acabou perdendo a paciência, pois há dias Jimin estava o irritando e tinha conseguido se segurar para não brigarem, mas acabou não aguentando por muito tempo.

Jimin já sentia várias lágrimas descerem em seu rosto, e logo saiu do quarto sem nem olhar para trás. Correu até a biblioteca, e se deitou em seu sofá preferido. Ficaria com medo pelo ambiente estar escuro e não ter levado nenhuma vela consigo, mas somente conseguia se encolher e chorar, chorar, chorar. O choro era baixinho, mas muito sofrido, pois seu coraçãozinho doeu em ouvir aquelas palavras do alfa. Ele sabia que estava sendo um insuportável com Jungkook, mas ouvir aquilo não foi nada agradável. Só queria que Jungkook ficasse, por algum motivo egoísta e sentimental, queria que ele ficasse consigo e não fosse nessa maldita viagem. Algo dentro de si não queria o alfa longe no momento.

Quando percebeu, seus olhos foram se fechando automaticamente e o choro cessando por completo. O sono estava o atingindo com força total, pois ultimamente não podia nem encostar em algum lugar que já dormia. E foi o que fez, dormiu naquele sofá um tanto pequeno e desconfortável para passar uma noite inteira, mas nem pensou nisso antes de apagar.

Jungkook, que tinha saído para procurar o ômega depois de um tempo tentando se acalmar, o encontrou encolhido e em um sono profundo no estofado da biblioteca. Suspirou, deixando a vela em alguma mesinha por ali e apagando o fogo em seguida, para evitar algum acidente. Caminhou às cegas até Jimin e o pegou em seus braços com facilidade, logo tendo o ômega se aninhando em seu peito e segurando sua camisa.

Encaminhou-se devagar até o quarto, pois a maior parte do caminho já se encontrava escura, e logo estava acomodando o ômega na cama. O cobriu e logo se deitou ao lado deste, não resistindo em ficar o mais perto que pôde, podendo sentir o cheirinho dele diretamente na nuca do loiro.

Era incrível que mesmo um pouco irritado com Jimin, ainda queria abraçá-lo e beijá-lo até o fim dos tempos, pois o ômega tinha um efeito esquisito sobre ele, efeito esse que residia em às vezes odiá-lo, mas sem nunca deixar de amá-lo. E logo dormiu, levando inconscientemente o braço a enlaçar a cintura do ômega e puxá-lo para si, ficando os dois assim dormindo de conchinha.

Quando o sol nasceu, Jungkook já se aprontava para sair de viagem e Jimin despertava com os barulhos que o alfa fazia ao colocar algumas roupas na mala. Jimin não se mexeu, apenas ficou observando o outro andar para lá e para cá terminando de arrumar as suas coisas. Sua expressão mostrava claramente que estava infeliz com a decisão do alfa de ir mesmo sabendo que não concordava com aquilo.

Jungkook então pousou os olhos no ômega, só então o notando acordado e com os olhos em si. Suspirou antes de dizer:

— Vai se levantar para se despedir delas? — Perguntou, vendo Jimin não esboçar nenhuma reação.

— Já me despedi ontem, diga que estou indisposto. — Respondeu, e era verdade, há algum tempo já vinha se sentindo estranho.

— Tudo bem. — Jungkook chamou então alguém para levar suas coisas e parou em frente ao ômega. — Estou indo, não demoro a voltar.

— Tanto faz. Já que vai, fique lá por um mês, se assim quiser. — Jimin nem se mexia ao falar, não desviando os olhos dos de Jungkook por nada.

— Ah, Jimin. Eu não entendo você. — Jungkook suspirou, e se refreou antes que se aproximasse e roubasse um beijo dos lábios do ômega, se encaminhando então até a porta.

Antes de fechá-la, viu somente os fios loiros de Jimin escapando por entre as cobertas e quase desistiu da viagem, mas não queria ceder àquele capricho sem sentido do ômega, então fechou a porta e foi tomar o café da manhã com a tia e a prima, para poderem em seguida, partirem de viagem.

Jimin ouviu a porta bater e chorou. Chorou ainda mais quando finalmente se levantou para ir até a janela do quarto, vendo assim quando Jungkook e as outras duas mulheres entraram na carruagem. Sentado em um sofá que ficava bem embaixo à janela, via os cavalos levarem a carruagem para longe e aquilo foi o apertando o coração. Sua marca já começara a arder e aquilo só o fazia chorar mais. Devia ter dito a Jungkook. Devia ter dito que sua marca voltara a doer quando se afastavam. Devia ter falado que não estava passando bem nos últimos dias e que tudo o deixava enjoado, de mau humor, ou com vontade de chorar. Mas não disse, por vergonha, e talvez apenas para não preocupar o alfa. E agora era tarde e teria que ficar ali, sozinho e com aquela mordida ardendo e ardendo até o alfa voltar.