História Mas há jogos muito piores do que esse - Chapter 2

Peeta. Não esperava ver ele aqui, não agora.

Continuo caminhando olhando para o chão,mas sei que ele está me olhando,pois sinto seu olhar queimando em minha direção. Quando chego mais perto olho-o e ele logo diz:

- Katniss, que bom te ver aqui - ele diz sorrindo 

- Também é bom te ver Peeta - digo

- Está tudo bem com você? Faz um tempo que não te vejo... 

- Estou indo... - falo lembrando de como tenho passado meus dias desde que cheguei aqui no 12 - e você? Está aparentando estar bem melhor... - digo o examinando

- Estou melhor sim, o Dr. Aurelius me receitou uns remédios que estão me fazendo bem, eu acho... - Peeta diz fazendo uma careta engraçada - estou conseguindo separar melhor as coisas, as vezes Haymitch me ajuda também, quando as coisas estão muito confusas em minha mente com aquele jogo do verdadeiro ou falso.

- Fico feliz então que você esteja se recuperando - ele que antes estava olhando para as mãos volta a me encarar e diz.

- Katniss eu estava pensando por esses dias e queria te pedir desculpas por... - eu o corto antes que termine a frase 

- Não precisa se desculpar Peeta, não foi sua culpa. Sei que não seria capaz de fazer aquilo. Eu que  peço perdão por tudo o que te fiz passar, desde a primeira arena - digo e agora percebo que a errada aqui sou eu desde sempre... Acho que desde que comecei a ter contato com Peeta,fiz mais coisas que machucaram ou machucaria ele depois do que coisas que o agradaram.

O meu surto quando soube que ele me amava, tudo o que e fiz passar na primeira e na segunda arena, não ter tido a coragem de trocar uma palavra sequer com ele nos meses antes da nossa Turnê começar. Por ter me distanciado dele e não abandonado aquela aliança maluca. Por ter deixado que ele fosse pego pela Capital e por ela ter feito o que fez com ele e tudo por culpa minha. Eu prometi que manteria ele vivo. Peeta sairia vivo da arena e não eu, mas nem isso fui capaz de fazer. Ele não merecia passar por tudo aquilo, logo ele que sempre fez tudo para me proteger, logo ele que ao contrário de mim, era adorado por todos.

- Você não tem o por que pedir desculpas Katniss. Tudo o que fez foi para salvar a todos,você não teve culpa . Se não fosse você acho que agora novas crianças estariam sendo escolhidas para um novo Jogo. - fala Peeta. Eu quase havia me esquecido de sua presença - O importante é que acabou e podemos seguir em frente. Podemos viver não apenas sobreviver.

Não digo nada, apenas fico o encarando. Depois de um tempo eu me pronuncio 

- É... Peeta eu já vou indo. Até mais - digo, mas não queria. Percebo o quanto tenho sentido sua falta. Da sua companhia. Dos seus braços em volta dos meus, sabendo que estarei segura neles. Lembro- me das noites do trem, em que dormia em seus braços e mesmo que tivesse pesadelos eles estavam lá me protegendo.

- Tudo bem.  Até mais - ele diz com um misto de rancor ou talvez até mesmo tristeza, não sei, mas prefiro não ligar muito para o fato.

Continuo andando com meus pensamentos longe, até que avisto a Campina. Apesar que eu esteja debaixo de um cemitério a grama já cresceu e tem até flores espalhadas. Vou até uma que me chama atenção e a colho. Um dente-de leão. imediatamente lembro do dia em que estava esperando Prim sair da escola e Peeta estava me olhando, quando fui e peguei o dente-de-leão.

Desperto de meus pensamentos quando escuto um tordo cantado. Decido ir até a floresta e caçar um pouco.

Sigo o caminho e paro na pedra onde costumava me encontrar com Gale. Fico buscando algo, algum sentimento, mas tudo o que encontro são apenas lembranças de todos nossos momentos juntos. Gale apesar de tudo foi um bom amigo. Ele me disse uma vez que me amava, mas deixou que seu sentimento fosse tomado pela raiva da Capital. Ele se corrompeu. Peeta por sua vez, depois de tudo o que passou voltou. Enfrentou  seus pesadelos. Lembranças de sua família morta e seu pior e maior pesadelo. Eu. 

Por mais que ele esteja se recuperando,nas condições que ele se encontrava, não faria o mínimo sentido ele voltar. Afinal ele não tem mais sua família aqui, a padaria,da última vez que me falaram, está em destroços e tudo o que sobrou aqui são apenas lembranças terríveis para ele próprio. A menos que ele voltasse por mim. E o por que ele faria isso? Será que Peeta ainda me ama?

Afasto esses pensamentos, não querendo pensar na possibilidade. Por que afinal do que adiantaria ele me amar? A rebelião nos feriu muito e não seriamos mesmo um casal alegre por ai, casados e com filhos. Ou seriamos? Não, eu nunca iria ter filhos, ainda mais nas situações atuais, além do mais não sei nem cuidar de mim direito. Prometi que ia cuidar de Prim, que a salvaria e onde ela está agora?

Não posso permitir que mais vidas entrem nesse mundo caótico e se estourasse outra guerra? Eu não aguentaria perder mais ninguém.

Decido pegar uns morangos silvestres que avisto mais à frente. Logo depois pego o arco no tronco oco que deixei na última vez que cacei e saio procurando algum animal. Pego um coelho, bem magrinho por sinal e um esquilo. Lembro- me que o Sr. Mellark gostava deles, à alguns anos atrás eu o levaria para ele em troca de algum pão, mas hoje infelizmente não posso fazer isso. O pai de Peeta ao contrário de sua mãe era uma ótima pessoa, seu caráter, sua vontade de ajudar aos outros. Acho que Peeta puxou isso dele.

Junto as coisas e vou para casa. Quando chego Greasy não está mais lá. Deixo minha caça na cozinha , vou para cima e tomo um banho, me olho no espelho e vejo as olheiras, as cicatrizes. Não gosto do que vejo Ainda não sei aonde Peeta se sentiu atraído por essa coisa aqui. Pego as roupas e jogo tudo em cima da cama,encontro umas roupas sujas que esqueci de colocar para lavar e jogo lá para baixo,quando descer eu ponho para lavar.  Me arrumo e fico pensando no que devo fazer. Decido ir a casa de Haymitch, afinal faz um tempo que não o vejo.

Bato na porta e ouço uma voz masculina falando para entrar. Entro e o vejo esparramado no sofá.

- Ora, ora a queridinha de Panem veio procurar seu antigo mentor - ele fala ironicamente.

- Também é bom te ver Haymitch! - digo no mesmo tom.

- Sabe, o Dr. Aurelius esses dias me ligou e pediu para te avisar que fica difícil continuar o tratamento se você nem ao menos atende as suas ligações.

- Já estou me sentindo melhor e ainda tem um pote cheio do remédio que ele me receitou - digo e fico conversando com ele e uns dez minutos depois ouço alguém abrir e fechar a porta. Olho e vejo Peeta que me vê e logo diz:

- Katniss - ele fala mexendo a cabeça como um aceno.

- Peeta - falo fazendo o mesmo que ele fez.

- Brr. Nossa é incrível como mesmo depois de tudo vocês se superam a cada dia mais - Haymitch diz com sua sutileza - Vocês passaram o que passaram e ainda continuam se tratando como estranhos? 

- Trouxe o pão Haymitch - Peeta diz colocando o pão na mesa e já fatiando-o.

- Você quer um pouco? - diz olhando para mim.

- Vou aceitar dessa vez - digo e ele sorri de lado. O pão estava delicioso.

Quando terminamos Haymitch diz:

- Você está sabendo Katniss? O Peeta vai reconstruir a Padaria.

- Não sabia, mas fico feliz que vai reconstruí-la. Bom saber que seus deliciosos pratos estarão à venda - digo olhando para Peeta.

- Katniss você sabe que se quiser comer alguma coisa é só me pedir, não precisa comprá-la. Eu cozinho para você - ele diz gentilmente.

- Não precisa,mas é bom saber disso também - nós sorrimos.

- E ai? O que vai querer?

- Eu não sei acho que vou escolher um bem difícil - falei brincando.

- Então já sei o que fazer.

Ficamos conversando até que eu falo:

- Bom eu já vou indo ...

- Se quiser eu te acompanho  -  fala Peeta.

- Não precisa, não.

- Eu não ia fazer seu jantar?

- Eu pensei que você estivesse brincando.

- Não, não estava... E ai?

- Tudo bem então - digo e sorri - Você também vem Haymitch?

- Não docinho. Vou ficar aqui hoje, não estou com muita fome - diz e quase não perbebo que ele pisca para Peeta.

- Então tá - digo saindo com Peeta.

- Você quer ir  ao açougue comigo comprar o carneiro?

- Você vai cozinhar cozido de carneiro?

- Vou tentar. Sei que você gosta - diz e nós sorrimos. E que sorriso lindo que Peeta  tem! Lembro que não arrumei as roupas que joguei pela escada e falo:

- Vou arrumando minha casa enquanto você compra pode ser? 

- Pode, com certeza - diz e vejo ele caminhando para o início da Aldeia dos Vitoriosos. Por mais que esteja insegura em relação a Peeta, de um jeito ou de outro, estou contente de estarmos conversando novamente.

Fico-o observando até que ele não alcança mais a vista do meus olhos.