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História Mascarado - KakaIru - Dedos entrelaçados


Escrita por: Kach

Capítulo 5 - Dedos entrelaçados


Não retornou a ver Iruka no restante da semana e de certa forma ficou um pouco chateado por isso. Asuma ficava sempre ao lado de seu novo aprendiz, então acabava por não ter tanto tempo de o encher o saco, era um ponto favorável tanto para Gai como, principalmente, Kakashi. Gai, por sua vez, desistiu por momentos descobrir o motivo do bom humor do melhor amigo naquele dia e também o ar meio afastado nos dias que se seguiram. 

Naturalmente já era um homem silencioso, mas no restante da semana conseguiu ser um pouco mais. Se o perguntassem diria que estava apenas pensativo, não diria o motivo, mas estava curioso sobre Iruka. Admitia que o professor era atraente e tinha alguns desejos de o ter, porém era estranho, como se não quisesse fazer qualquer coisa e perder aquele sentimento que estava surgindo. Temia que se fizesse qualquer coisa o afastaria. Então, ficava sentado em sua cadeira com as pernas apoiadas sobre a mesa, um de seus livros abertos e mesmo que seu olho estivesse focado na página ela ficava sem ser virada ou sequer lida por horas a fio.

Shikamaru até franziu sua testa olhando interrogativo para Asuma, que também tinha notado as páginas não serem viradas, mas este apenas deu de ombros em um sinal silencioso de que não sabia, mas poderiam tentar descobrir.

Os encontros de Asuma com Kurenai foram aumentando gradativamente após a saída do bar, evoluiu para uma saída até um restaurante em uma noite. Após o jantar foram até o apartamento de Asuma e passaram o restante da noite juntos. Obviamente no dia seguinte o tópico principal das conversas com Iruka foi aquela noite não escondendo um sorrisinho cada vez mais envolvida com o policial. Ambos tinham se conhecido há tão pouco tempo, mas as sensações que sentiam quando estavam juntos era como se já tivessem vívido muito tempo ao lado do outro.

Os hematomas do corpo de Kakashi já estavam curados deixando pequenas marcas ainda na pele e sabia que logo retornaria a ser chamado para novas missões. De certa forma, agradecia os dias de folga que recebia da Organização quando se machucava.

Sempre que retornava de alguma missão aqueles pesadelos eram mais nítidos e a necessidade de limpar seu corpo aumentava, e isso aos poucos iam degradando ainda mais seu psicológico que já era abalado há anos. Entretanto, ainda não era um motivo válido para simplesmente abandonar a Organização.

Naquela noite em especial estava deitado em sua cama com ambos os braços atrás do pescoço apenas com uma bermuda de tecido macio no corpo observando através da janela o luar. Poderia ficar boas horas até o amanhecer olhando aquela paisagem, sentia-se "bem", na medida do possível quando estava sozinho no silêncio observando a natureza. Lembrava-se do tempo que era apenas um garoto e ficava deitado na grama ao lado de seu pai observando as estrelas, sentia saudades daquele homem, mesmo que escondesse bem seus sentimentos.

As memórias sempre começavam bem, depois de alguns minutos misturavam-se com aquelas que não o agradava muito. Lembrou-se do sorriso carinhoso e paterno do homem de cabelos igualmente cinzentos que parecia tanto consigo agora adulto, do calor dos dedos dele quando o bagunçava os fios de cabelo em carinho e a forma como sempre, apesar de ocupado, tentava ter um tempo útil ao seu lado. Porém, logo lembrou-se do corpo gélido caído na área interna de sua casa, de como ficou imóvel o olhando por bons minutos até uma pessoa encontrá-lo daquela forma próximo ao corpo já sem vida do pai.

Afastou as lembranças de sua mente ao sentir o celular vibrar, até poderia ignorar pensando que era Gai ou Asuma o convidando para alguma coisa sem sentido, porém lembrava-se que Gai estaria em casa naquela noite e o policial barbado estava animado com o churrasco que iria levar Shikamaru para discutirem sobre o plano de uma missão que estavam iniciando lado a lado. Então, descartou a hipótese de ser um deles, o que o levava a crer que era outra pessoa ou seu chefe da Anbu.

Para sua infelicidade era a segunda opção, levantou-se da cama espreguiçando-se e lendo a mensagem que recebeu, não muito detalhada como sempre, apenas: O endereço e o que deveria fazer.

Suspirou deixando o celular novamente na cama e foi em direção a um armário que guardava seu uniforme, máscara e armas. Vestiu uma camisa negra que ficava colada em seu corpo e alongava-se até metade de seu rosto deixando os braços livres. Colocou sobre ela o colete cinzento firmando em seu corpo. Retirou sua bermuda para colocar a calça igualmente preta, enfaixou a coxa direita e acoplou um suporte para deixar alguns de seus armamentos preferidos. Pegou o revólver de sempre observando que ainda todas as balas estavam sem serem usadas, deixou-a em sua cintura. 

Levou a mão até o suporte onde deixava sua espada, a retirou vendo aquela lâmina com certo brilho. Passou o indicador no metal sentindo a frieza em sua pele. Deu um pequeno sorriso ao lembrar-se de seu pai o entregando como presente de aniversário, era estranho uma criança receber uma lâmina afiada, mas agora era a única coisa que tinha do homem e a usava sempre como forma de senti-lo ao seu lado. A encaixou nas costas em um movimento automático da mesma forma que repetiu por bons anos desde que a ganhou.

Sentou-se na cama e colocou o calçado em ambos os pés um tanto entediado pelo procedimento padrão imaginando o que encontraria daquela vez. 

Não demorou muito para descobrir, pois após chegar no local que havia recebido foi surpreendido por diversas pessoas indo em sua direção com a intenção de matá-lo. Desviou com certa dificuldade tentando não matá-los, nem sabia por quem procurava, mas normalmente era sempre os chefões. Diante disso, não estaria na linha de frente com os outros. 

Perguntava-se o motivo de Danzo sempre o mandar sozinho nesse tipo de missões, pois se tivesse pelo menos uma pessoa para formar dupla seu trabalho seria muito mais fácil e não se machucaria com tanta facilidade. Quando o questionou lhe disse que apenas Kakashi já era suficiente.  Porém, em situação como aquela sentia falta de alguém para proteger um de seus lados.

Recebeu um soco diretamente em seu rosto coberto com a máscara de animal, metade dela quebrou imediatamente deixando parte de seu olho e bochecha livres, ainda restava a de pano, mas não se importava com a sua identidade. Devolveu o soco com o triplo de força no homem que o atingiu fazendo com que mais um corpo caísse no chão.

Chutou com certa raiva um que tentava levantar-se com dificuldade. Estava começando a ficar puto e isso não era um bom sinal para seus inimigos. Caminhou entre eles com os olhos em completa atenção ao terreno, observou pelo canto algumas árvores e sem movimentar-se muito levou a mão até a coxa direita retirando pequenas lâminas perfeitas para arremessar. Diante disso, em um movimento ainda mais suave as direcionou com força para os galhos das árvores ouvindo alguns gritos de dor e em seguida dois corpos caindo desajeitadamente no chão.

- As coisas não poderiam ser mais fáceis? — Murmurou em reclamação para si mesmo levando sua mão até o cabo da espada atrás de suas costas ignorando novamente o revólver em sua cintura. Apesar de ser policial e treinado com aquele armamento não se sentia minimamente confortável em utilizar aquilo. — Sei lá, se eles sabem que estou vindo poderiam esperar-me sozinhos, mas não, sempre deixam idiotas na defesa e me fazer lutar...

Abriu a porta do depósito com a mão livre e entrou naquela escuridão. Procurou o interruptor tateando a parede e quando encontrou apertou para que as luzes se acendessem. Olhou calmamente o estado um pouco empoeirado, não criticaria a limpeza, mas poderia dizer que poderiam passar um paninho de vez em quando e manter certa dignidade. Havia diversas caixas empilhadas, então aproximou-se e cortou uma com sua lâmina para verificar o que era, feito isso viu saquinhos com uma substância branca.

- Não é porque trabalham com pó que devem deixar o local repleto dele.... — Murmurou em desagrado sentindo a poeira nos objetos e até sobre as caixas de droga que não tinham sido movimentadas do local por um bom tempo e por um motivo que Kakashi ainda não estava entendendo.

Subiu a escada um tanto entediado como se não estivesse fazendo nada demais ou sequer invadindo uma propriedade privada. Suspirou satisfeito que a parte superior do local estava limpo, o ar era menos empoeirado e até enganava em parecer um ambiente comum. Abriu a primeira porta que encontrou e olhou para dentro, encontrou um quarto qualquer com alguns móveis não dando indícios de que alguém havia dormido ali recentemente. Continuou seu caminho e todas as portas que abria ou apenas via caixas iguais as do andar de baixo ou nada. 

Perguntou-se se Danzou o tinha dado o endereço certo e se estava no errado iria ter que dar seu melhor sorriso de desculpas pelos feridos caídos no terreno da residência. Não entendia como um simples traficante poderia ser merecedor de morte, mas não questionaria as decisões de seu superior. 

Chegou ao fim do corredor estranhando o silêncio e retornou sua espada até suas costas pensativo sobre onde procuraria. Poderia ficar mais alguns minutos daquela maneira, mas o arrependimento de ter deixado sua lâmina fora de seu alcance chegou mais rápido, pois sentiu um tecido ser posto em seus lábios e nariz com um cheiro insuportável. Inspirou-o e acabou sentindo seus músculos fraquejarem, só teve tempo de pegar seu revólver e quase sem força disparar o gatilho na pessoa que estava atrás de si, ouvir um som doloroso em seus ouvidos e cair no chão desacordado.

Ao acordar sentia seu pescoço grudento com uma substância estranha, assim como a parte traseira de sua cabeça. Lembrou-se do disparo que fez antes de apagar, como não sentia dor nenhuma admitiu que não tinha atingido a si mesmo e sim, com sucesso, a pessoa que o colocou o tecido para desmaiar. Deixaria para pensar depois na vida que tirou, não tinha chance de ficar pensando naquilo na situação que estava. Sua cabeça doía e um dos ouvidos estava extremamente sensível pelo estrondo direto que recebeu.

Estava amarrado em uma cadeira, seu revólver não estava em seu campo de visão, mas sua espada presa nas costas continuava ali, talvez não conseguiram a ver como uma ameaça, Kakashi não sabia. Forçou seus braços, mas independente da força que fizesse não se soltaria tão facilmente. Vagou o olhar pela grande sala vazia que se encontrava tentando bolar aluma estratégia, mas simplesmente não passava nada em sua mente.

- Você é bom. — Ouviu uma voz feminina o falar, tinha um tom interessado e curioso, mas ainda invisível para Kakashi. — Mataste hoje o meu funcionário preferido, vais se arrepender disso.

Ela deu alguns passos a frente entrando no campo de visão de Kakashi. Não era muito mais velha que ele próprio, cabelos lisos  castanhos divididos no meio. Pele pálida e olhos negros o olhando diretamente nos seus, sem ser muito efetivo nas ameaças, afinal, o policial não era um dos mais fáceis de se assustar com qualquer ameaça. Poderia até a considerar bonita, se não fosse extremamente perigosa e estivesse ameaçando sua integridade física.

- Admito que fiquei surpresa contigo, estive te observando lá fora.  — Continuou a falar descartando qualquer apresentação. Cruzou seus braços ainda mantendo o contato visual com o intruso, gostava daquele tipo de olhar que ele estava a direcionando, admitia que era alguém interessante. — E surpreendi-me que saiu com poucos ferimentos, pensei que meu funcionário conseguiria drogá-lo sem dificuldades, uma pena que morreu... — Moveu negativamente a cabeça sentindo aquela perda, mas Kakashi não acreditou tanto nos sentimentos daquela mulher. — Fiquei ainda mais surpresa ao ver que mesmo apagando conseguiu acertar o tiro, de fato gostei do que vi.

- Quem é você? — Perguntou entre os dentes ainda forçando as mãos contra as cordas sentindo aos poucos a pele se cortar, não se importava com o estado que ficaria, desde que se soltasse.

- Realmente importa? — Respondeu desinteressada olhando para outro canto do grande salão, caminhou para ficar ainda mais perto do homem e levou uma das mãos até o rosto dele, a parte que a máscara não a cobria. Iria passar o polegar naquela cicatriz de seu olho, mas recebeu um olhar raivoso e um movimento rápido para que se afastasse e não o tocasse. Levantou ambas as mãos em defensiva não escondendo um sorriso divertido. — Sabe, eu realmente não quero matar-te.... Serias muito útil se trabalhasse para mim... Poderíamos nos dar muito bem juntos. 

- Ótima proposta, mas dispenso, já recebi outras melhores e tive que negar. Contigo não será diferente.

Deu um sorriso largo deixando seus dentes alinhados a mostra, não era direcionado a ela e sim pelo fato da corda estar quase soltando-se de seus pulsos. Enrolaria mais alguns minutos e estaria livre. A cabeça ainda doía um pouco pela distância que sentiu o tiro atingir o homem atrás de seu corpo, mas não achava que seria um problema. Não estava tão armado, sentia-se mais leve do que normalmente, então provavelmente as diversas lâminas tinham sido recolhidas ao ser amarrado. Entretanto, somente sua espada já era mais do que suficiente.

- Gosto do seu olhar. — Admitiu olhando os dois olhos, um escuro como a noite e o outro vermelho igual sangue. — És da Anbu, não é?

- Sei que já esperava alguém, não se faça de desentendida perguntando-me essas coisas óbvias.

Deixou uma gargalhada fina preencher o local e afirmou com a cabeça sentindo pena de não o ter ao seu lado como funcionário. Já esperava a negação, mas tinha saído com perdas demais naquele dia para simplesmente não tentar. Se tivesse alguém naquele nível de habilidade seria imbatível em muitos negócios perigosos que deveria ir pessoalmente, o traria consigo como guarda pessoal.

- De fato. — Concordou não afetada com as palavras brutas. — Tenho muitos contatos por aí... Um deles me contou diversas coisas, inclusive sobre ti, quando soube que era provável que você viria deixei alguns dos meus melhores homens a espera, estava desde ontem esperando na realidade. Estás um pouquinho atrasado.

Deu de ombros e deixou um sorriso de canto surgir em seus lábios pelo que ouviu. Aquela frase era uma das que mais ouviu durante boa parte de sua vida, então não era uma surpresa a ouvir mais uma vez.

- Não sou o melhor em seguir horários. 

- Queria testá-lo, principalmente suas habilidades, então depois do testes lá fora o drogaria e tentaria ter essa conversa contigo sem precisar agredir-te. Na minha cabeça tu virias trabalhar para mim, mas como ainda negas, terei que matá-lo.

Fez mais alguns movimentos com as mãos e sentiu finalmente ser liberto. A pele ardia, mas não se importava. As manteve atrás de seu corpo pensando em uma estratégia rápida. Sabia que seu alvo estava ali a sua frente, mas não poderia ser descuidado a ponto de fazer qualquer coisa sem pensar bem antes. Não a conhecia, não sabia se tinha algum armamento, se estavam sozinhos e sequer sabia as habilidades de luta dela.

Recebeu um sorriso da mulher a sua frente e em um movimento ágil retirou sua lâmina atrás das costas, rápido o suficiente para impedir que ela o atacasse com uma bem menor. Não imaginou que ela tivesse o visto soltar as cordas, mas teria que tomar cuidado com ela, pois era mais perigosa do que deixava transparecer.

Abriu um pouco suas pernas ficando em posição de duelo, observava atentamente cada movimento da mulher a sua frente. Sabia que tinha certa vantagem pelo tamanho de sua lâmina ser superior que a dela, mas mesmo assim teria que ter atenção. A viu retirar outra do mesmo tamanho atrás de suas costas, apesar de pequenas com duas ela facilmente conseguiria segurar um ataque direto seu.

- Como disse, estava o esperando. — Disse mantendo aquele sorriso para o homem a sua frente sem mostrar qualquer hesitação em atacar. — És bom com lâminas, soube disso, mas também tive uma criação envolvendo-as. Ouvi algumas coisas sobre você, então sabia que a melhor oponente para você seria eu mesma.

Kakashi cerrou seus olhos sem se mover, não a responderia, mas por dentro já havia admitido essa hipótese, afinal, o modo que as empunhava era certo demais para uma pessoa qualquer. Contrariando todas as vezes que lutou foi ele que iniciou os movimentos, como esperado a viu segurar sua espada com ambas as lâminas em um cruzamento de suas facas. Pode ver que colocou bastante força para o gesto, então era algo que realizava com certa dificuldade. Talvez se Kakashi a atacasse diversas vezes em algum momento ela não teria agilidade o suficiente para desviar.

Manteve a lâmina presa nas duas dela e levou sua perna em um chute para a desestabilizar, porém apenas a viu desfazer a defesa e dar dois passos para trás impedindo que seu golpe a atingisse. 

Moveu seus olhos em busca de outra alternativa para atacá-la, pois se continuasse daquela forma apenas se cansariam e não levaria a nada. No instante que permitiu-se tirar um pouco de sua atenção sentiu uma queimação na lateral de seu abdômen, olhou e viu aquela mesma lâmina pequena dela cravada em seu colete e, obviamente, em sua carne embaixo do tecido. 

Agora entendia o motivo de ter duas, não era apenas para defesa e sim porque eram facas de lançamento, fazia sentido demais e odiava-se por ter sido tão desatento. A deixou ali, sabia que se a retirasse de imediato poderia perder sangue demais e acabar pior por culpa de uma hemorragia qualquer. Ver o sorriso sarcástico dela não o ajudava em ficar menos puto por sua desatenção.

Direcionou seu ódio a ela movimentando-se agilmente ignorando a presença de uma lâmina em seu corpo. Deixaria para sentir dor ou incômodo por aquele líquido quente estar escorrendo em sua barriga para outro momento. Tinha que sair com vida dali, não se perdoaria deixar-se morrer tão facilmente, não sem falar coisas a pessoas que mereciam, não sem receber um último sorriso de seus amigos, não sem receber um abraço quente e confortável.

Moveu a espada com força na direção dela que com dificuldade a rebateu, Kakashi levou a mão livre até seu colete cinzento que aos poucos adotava o tom avermelhado. Fez uma feição de dor ao ver seus dedos ficarem molhados e seus sentidos cada vez ficando mais lentos. Sentia-se estranhamente sonolento como nunca antes, forçou ambos os olhos para que ficassem abertos, sabia que se perdesse a atenção mais uma vez a outra lâmina cravaria-se em seu peito.

"Vai parar de tratar sua vida como algo insignificante..." 

Lembrou-se de Gai o dizendo aquelas palavras, o que deu forças para continuar acordado e mostrá-lo que não a tratava daquela maneira. Deu mais um golpe e com a outra mão ensaguentada deu um soco no rosto da mulher fazendo com que sua bochecha adotasse aquele mesmo tom. Virou a espada e com o cabo bateu em uma de suas costelas sentindo algo quebrar-se, sabia indiretamente que pelo menos uma das costelas dela haviam sido quebradas. 

A visão que a mulher estava tendo não era minimamente boa e sim assustadora. Aquele olhar de duas cores frios e com uma sede estranha de sangue, o maxilar bem marcado atrás daquela máscara de tecido e ainda metade da de algum material que não reconheceu. Seu pescoço e cabelo com a cor do sangue de seu funcionário morto, aquela cicatriz em um dos olhos. Tudo isso aliado aos golpes de ódio que recebia estava a deixando com uma sensação estranha e amarga.

Tentava-se defender, mas não era muito eficaz, pois mesmo ferido parecia que tinha sido preenchido por algum sentimento que o fez continuar. Poderia estar no limite, mas daria o seu melhor até o fim.

- Talvez sejamos nós dois mortos hoje. — Murmurou com diversão abaixando-se o mais rápido que pode de mais um golpe, porém em seguida recebeu um chute em sua testa fazendo com que caísse de costas no chão.

- Não, apenas você. — Kakashi respondeu com um tom frio não demonstrando qualquer emoção.

Abaixou-se até aquele corpo caído e segurou a espada com as duas mãos no cabo abaixando-a vagarosamente até a barriga da mulher, longe de um ponto vital. Por alguma razão o agradara momentaneamente a ver sofrer. Sorriu ao vê-la tentar segurar a lâmina com ambas as mãos e com certo receio de o ver daquela maneira. Mas não impediu que a espada continuasse seu trajeto lento, apenas cortando ligeiramente a pele de seus dedos enquanto tentava a parar.

"É Iruka, talvez eu não seja um cara tão legal assim". — Pensou amargamente e fincou a lâmina naquela carne sem nem pensar.

Ao lembrar-se do nome dele o rosto moreno um choque percorreu seu corpo como se voltasse ao normal observando o que havia feito. Com a respiração pesada observou a mulher abaixo de seu corpo controlando com maestria uma expressão de dor pelo golpe que havia recebido. A pequena lâmina ainda presente em uma de suas mãos. Kakashi levantou-se puxando sua espada, olhou-a e com força fez mais um movimento para acabar logo com aquele sofrimento.

Foi impedido de chegar à mulher pela pequena lâmina, aparentemente mais grossa que aquela que estava presa em seu próprio corpo. Entendeu imediatamente que apenas uma delas era para combate de longa distância e aquela que mantinha-se na defesa era feita de um material bem mais resistente. Ouviu um ruído fino e não conseguiu esconder sua surpresa ao ver sua espada sendo quebrada e um pedaço do metal cair no chão, a mesma que tinha durado praticamente sua vida inteira estava o abandonando naquele momento.

Novamente a lembrança de seu pai retornou à cabeça enquanto segurava aquele cabo de couro e um pequeno pedaço de metal restante fixo. Ela era de um tamanho muito menor que as espadas normais, mas esse era o seu diferencial. A perder era como se perdesse algo de seu próprio corpo, pois ela era quase como uma extensão sua. Ajoelhou-se segurando o corpo da mulher com o seu próprio, segurou o restante de sua lâmina próximo ao pescoço dela e jogou para longe a pequena arma que ela mantinha em sua mão.

Recebeu um sorriso ensaguentado sem qualquer movimentação ou resistência.

- Deveria investigar um pouco mais as causas pelas quais você luta... — Murmurou tentando controlar aquela dor extrema que sentia enquanto não desviava minimamente os olhos daqueles bicolores. Era seu fim, poderia ter lutado o quanto pode, mas não aguentaria mais. Sabia admitir perdas, e naquele momento admitia a sua própria. — Um dia a Anbu já foi algo perante a lei e fazia absolutamente tudo a panos limpos para o governo. — Continuou a dizer tentando se manter firme, mas nem sentia mais o peso de Kakashi sobre seu corpo, a língua estava difícil de manusear com um gosto estranho de ferro e os olhos teimando em fechar para um descanso. — Hoje em dia é uma instituição suja! Danzou muitas vezes… Utiliza vocês e seus colegas para… Trabalharem para coisas pessoais dele e seus interesses… Não acho que deva te usar porque ele sabe que és inteligente e não vai o seguir e fazer qualquer coisa, mas acredite, rapaz, ele é um ser humano… horrível.

Levou uma de suas mãos até o ferimento de sua barriga tentando controlar o sangramento não se importando com o peso do homem praticamente em cima de seu corpo. Agradecia que pelo menos não morreria observando aquele olhar assassino, pois agora ele mantinha um bem mais agradável de se ver. 

- Sei que tentei matar-te, mas se queres um conselho... — Murmurou sentindo a voz cada vez mais fraca prestes a desmaiar. — Não confie no Danzo, tenhas cuidado...

Não precisou nem cortar aquela garganta como havia ponderado, pois a perda de sangue e fadiga acabaram por serem os responsáveis pela vida da mulher se esvair em baixo de si. Levou seus dedos até os olhos dela e os fechou com certo carinho e ligeiramente abalado pelo que ouviu, não sabia se acreditava ou qualquer outra coisa. Sempre confiou plenamente em seus superiores, então Danzo tinha sua confiança. Entretanto, agora com aquelas palavras antes de sua vítima no chão sem vida não sabia como reagir com a informação.

Poderia estar com o corpo extremamente ferido, mas sua mente não parou de trabalhar naquelas palavras quase as memorizando por completo. 

- Danzou me deve explicações...  — Murmurou a si mesmo com certa dor e fadiga de seus músculos.

Depois de tanto tempo sendo sozinho e resolvendo seus próprios problemas, ali naquele momento admitiu a si mesmo que precisava de ajuda. Não conseguiria sair bem sem um amigo ao seu lado para lhe dar apoio e o remendar.

 

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Iruka após ficar horas conversando com Kurenai acabou por negar a insistência de que dormisse lá por estar muito tarde. Disse-a que tomaria cuidado e a avisaria ao chegar, mas precisava mesmo ficar em casa e não incomodá-la. Admitia que era um tanto estranho caminhar por aquelas ruas praticamente silenciosas escuras e suspeitas, mas tinha que se manter sério e continuar cada passo que dava. Disse a si mesmo após ser salvo por Kakashi daquele carro que pararia de ser um problema para os outros, não precisaria mais que o salvassem. Então, diante disso, andava com todos seus sentidos aguçados como se a qualquer segundo de distração alguém iria surgir em sua frente.

Assustou-se ao notar uma presença escorada com certa dificuldade em uma parede. Poderia sair correndo e ignorar, afinal já tivera traumas o suficiente para lidar quando foi assaltado, não queria contar com sua sorte de encontrar o mascarado para ajudá-lo dessa vez. Porém, contrariando seus pensamentos, suas pernas foram caminhando na direção da sombra, não diria que não sentia certo tremor nelas, assim como em sua boca que mesmo cerrada tremia com receio, mas iria tentar entender a situação antes de temer por sua própria vida.

Desde criança sempre tentou ajudar a todos, e naquele instante não seria diferente. Contava com a sorte de ser alguém bom e sairia daquele beco escuro o mais rápido possível. Ao se aproximar mais não conseguiu impedir que um ruído de surpresa saísse de seus lábios.

A claridade era mínima, mas o suficiente para ver aquela máscara branca em formato de lobo não escondendo o rosto daquela pessoa, não estava completa, afinal conseguia ver bem a rachadura e ela quebrada, o que a tornava inútil em esconder a identidade da pessoa que a usava. Aquela mesma tatuagem no braço pálido, não lhe restava dúvidas de quem era. Os mesmos cabelos cinzentos, e mesmo que tivesse apenas visão de uma parte do rosto do homem que não era coberta por aquele tecido negro, o reconheceria.

Desesperou-se ao ver que segurava seu abdômen com dor. Os dedos ensanguentados e breves pingos daquele líquido vermelho sujando ainda mais o chão. O olhar cabisbaixo e bem dolorido de alguém que havia parado naquele local tentando descansar.

Sem nem pensar duas vezes Iruka colocou um dos braços atrás das costas do mascarado e o apoiou com um pouco de dificuldade em seu próprio corpo. Ele era pesado, mas reuniria todas as suas forças para o manter em pé.

- Acredito que agora nada que eu fale vai ser eficaz em dizer que não sou quem está pensando, não é? — Disse com aquela habitual voz grossa que sempre esbravejou dureza e autonomia, mas agora para os ouvidos de Iruka ela só passava dor e uma urgência de ajuda.

Agora era o seu momento de retribuir a ajuda de tempos atrás.

Se restava qualquer dúvida sobre sua aparência, elas foram eliminadas ao ouvir aquela voz. Era inconfundível, não haviam erros, finalmente descobriu quem era o mascarado misterioso que o ajudou naquela noite. Aquele homem era Kakashi.

Não era exatamente uma surpresa, afinal desde que o viu no bar teve suas dúvidas, mas era estranho finalmente saber que era ele esse tempo todo.

- Cale a boca, quando eu queria que falasse era calado, agora te peço para ficar quieto, então não insista em continuar a falar como se não tivesse acontecido nada contigo! — Falou um pouco mais raivoso do que queria, mas estava nervoso demais para controlar suas emoções. O mascarado apenas deixou uma risada dolorida como resposta não se ofendendo com o que ouviu. — Não importe-se em explicar agora, temos coisas mais urgentes para o momento. — Ouvir um gemido de dor pelo movimento brusco lhe dizia que deveria correr contra o tempo e não ficar de papo furado. — Depois se quiser se explicares estarei a ouvidos, mas agora… Não faço a mínima ideia do que fazer. — Tentava manter sua calma, mas ver aquele homem naquela situação o desnorteava tanto que nem conseguia pensar. — Devo levar-te para o hospital? Ligar para o Gai? 

- Relaxe, apenas leve-me para minha casa, o resto dou o meu jeito. Claro que precisarei de tua ajuda em algumas coisas, mas iremos conseguir sem problemas. 

Tinha falado com tanta confiança que por míseros segundos Iruka acreditou que era capaz de cuidar daqueles ferimentos sozinho. Sua consciência lhe gritava para levá-lo para o hospital, mesmo que reclamasse, entretanto iria chegar no local e dizer o quê? "Encontrei esse cara ferido por aí, o cuidem, valeu". Inviável.

Então, contra tudo que pensou que faria, o apoiou melhor contra seu corpo juntando toda sua força para não deixá-lo cair ou coisa parecida, e seguiu lentamente para o endereço que o homem murmurou.

Ao chegar na residência com certa dificuldade sentia seus músculos arderem pelo esforço que estava tendo ao ajudar Kakashi se locomover. Uma parte de si dizia que o homem estava se aproveitando de sua boa vontade e deixando aquela atividade mais difícil, porém qualquer dúvida sobre isso sumiu quando o colocou sentado no sofá. Agora com a claridade conseguia ver a real gravidade da situação.

A máscara quebrada já havia sido descartada logo na entrada da casa, a de tecido ainda escondia seu rosto, ambos os olhos estavam livres, mesmo que aquele avermelhado estivesse fechado. As roupas estavam sujas, principalmente de sangue e Iruka suspeitava que boa parte daquele não era do homem sentado ali. E o viu deixando acomodada em um móvel próximo um suporte com um cabo, o que claramente era uma espada para os olhos atentos de Iruka.

O professor não poderia perder tempo pensando nessas coisas, precisava estancar alguns sangramentos e limpar os ferimentos piores para depois dar atenção para o estado geral dele. A cabeça estava latejando, não parando um segundo, um tremor em sua mão era evidente com o medo de fazer qualquer coisa errada ao ajudá-lo. Ouviu algumas ordens para buscar determinadas coisas e as seguiu com maestria sem pestanejar.

Quando retornou à sala o outro estava sem camisa, consequentemente seu rosto tinha sido libertado daquela máscara de pano que o escondia. Entretanto, o que o chamava atenção verdadeiramente era o estado que aquela pele estava. Grandes hematomas percorriam dando colorações roxas, algumas cicatrizes de combates antigos estavam presentes também, o que lhe trazia uma preocupação extrema era algo que até então não havia reparado. Um detalhe mínimo que anos depois poderia até ser uma piada entre os dois, mas Iruka não havia reparado que Kakashi tinha uma faca cravada em sua barriga. Claramente algo que poderia ser ignorado até pela pessoa que a portava.

- Foda-se, vou levar-te ao médico agora! — Disse com os olhos arregalados intercalando o olhar para aquela lâmina e a face de Kakashi que era tão plena que o assustava. — Puta merda, cara… — Levou ambas as mãos em sua cabeça tentando raciocinar, mas aquilo era tão absurdo que nem fazia sentido. — Só me diga que não és envolvido com algo ilegal, pelo amor de Deus.

Aqueles cabelos claros na região na nuca estranhamente estavam avermelhados e Iruka ao ver que não haviam ferimentos admitiu que de fato aquele sangue que sujou os fios e uma parte de sua nuca não era seu. Todo aquele sangue misturado com o estado físico de Kakashi estava o deixando nervoso.

- Nada ilegal, relaxa. 

A voz era relaxante e serena, mas não fazia efeito e Iruka que estava prestes a ter um surto de nervos por toda aquela informação. Queria gritar para que Kakashi parasse de o dizer para relaxar, pois se tinha algo que não poderia fazer no momento era ficar menos nervoso.

- Sério, trabalho na polícia, lembra? — Continuou a falar tentando acalmar o outro, se não a ajuda dele seria inútil. Claro que poderia tentar fazer aquilo, assim como outras vezes que teve problemas semelhantes, mas já não era tão jovem para brincar com sua saúde dessa maneira. — Posso explicar-te com pormenores depois, mas poderia retirar isso de mim?

- Retirar, retirar, retirar! — Repetiu chocado ainda ponderando chamar um médico de imediato para aquele lugar para que realizasse uma cirurgia, afinal era a coisa mais óbvia a se fazer e não confiar em suas próprias mãos que só sabiam manusear um giz. — Sou a merda de um professor, não tive aulas na faculdade sobre como retirar uma lâmina de um cara estúpido!

Kakashi fez uma feição de dor que assustou o moreno.

- Caralho, suas palavras doeram mais que a facada… 

Descobriu em segundos que humor em situações como essa deixavam Iruka mais nervoso ainda, pois o olhar que recebeu lhe dizia silenciosamente para parar com aquilo antes que tivesse mais uma faca cravada na carne, mas dessa vez uma agressão vinda do próprio Iruka.

- Certo, vou explicar-te como fará isso, beleza? — Disse seriamente atraindo a atenção completa do outro homem. — Entendo que não é sua obrigação e nem nada, mas de fato não há necessidade de médico nesse caso. Acredite, se precisasse eu iria sem reclamar. — Iruka arqueou uma de suas sobrancelhas desacreditado, mas preferiu se manter em silêncio quanto a isso. — Pela profundidade e local não acertou em nenhum órgão, artéria, etc… Se tivesse eu nem estaria bem o suficiente para dizer essas palavras a ti. — Olhou para tudo que o homem trouxe do quarto. Analisou com cuidado para ver se não havia faltado nada. — Vai ser uma experiência horrível para ti, admito que não queria que me visse assim, mas… — Deu um sorriso sem muita opção. — Sabes costurar? — Iruka queria gritar um grande "não", mas não era como se realmente houvesse alguma opção de escolha. — Se não sabes, acho bom aprender rápido.

Dito isso não esperou resposta, pegou um tecido negro que estava próximo de si e o colocou em sua boca mordendo com seus dentes sob o olhar atento de Iruka que não entendeu de imediato o que aquele gesto significava. Levou a mão até o cabo daquela lâmina e ouviu um berro dizendo "Hey, o que diabos você está pensando em fazer?!" e em um movimento rápido a retirou. O som de dor foi abafado pela mordida que deu naquele tecido, ambos os olhos abertos e avermelhados em dor, uma veia bem aparente e dilatada em seu pescoço denunciavam que tudo aquilo estava doendo muito mais do que deixava transparecer.

Uma nova linha de sangue começou a escorrer daquele ferimento e Iruka sabia que naquele momento teria sua primeira aula de costura em sua vida. Nunca imaginou que algo assim um dia seria ensinado para ele em uma pele e não em panos como era o habitual.

A pele ainda mais pálida e manchada de sangue o deixava nervoso sobre suas próximas ações mais do que um dia ponderou poder ficar. 

Os cabelos longos tinham sido fortemente amarrados quando foi buscar as coisas que o platinado havia o pedido. Assim como as mãos e antebraços bem lavados antes de voltar para o lugar, então admitiu que estava limpo o suficiente para aquela situação.

Seguiu todas as ordens e dicas sobre como deveria realizar a sutura. Kakashi parecia tão acostumado com aquilo que se mantinha imóvel dando as instruções com tamanha normalidade que até assustava Iruka. Tentou não tremer ou se desesperar mais, principalmente no meio do processo que ouviu um murmurio "Humm, acho que vou desmaiar, não surte". Óbvio que se desesperou vendo-o imóvel e agradeceu em voz alta quando recobrou a consciência com a típica frase irônica: "Aconteceu algo Iruka? Está com uma cara horrível". Iruka poderia socá-lo ao ouvir aquilo, mas adiaria aquilo dado o estado de saúde daquele homem. Suspeitava que receber um soco não o faria muito bem, mesmo que ele estivesse merecendo um.

Afastou-se um pouco para ver seu trabalho naquela pele, não daria uma nota dez para seu primeiro trabalho, mas pelo menos não era uma lâmina presa à carne ou um ferimento aberto.

O restante dos cuidados Kakashi insistiu que ele próprio faria, que estava bem o suficiente para fazer, mas perdeu aquela batalha fácil ou sequer lutou para vencer, pois se divertia e até gostava em ver todo aquele cuidado consigo. Então, diante disso, apenas se acomodou de maneira mais confortável enquanto observava o de cabelos castanhos limpando seus cortes e passando uma pomada relaxante nos hematomas. 

Prestou atenção até demais no modo que o rosto de Iruka ficava ao estar concentrado, os olhos focados sem desviar do que estava fazendo, alguns fios de cabelo caindo delicadamente em seu rosto, as bochechas com um tom rosado e uma fina gota de suor escorrendo ao lado pelo esforço e tamanho cuidado que estava tendo. Vez ou outra acaba querendo rir ao vê-lo morder os lábios ainda mais concentrado, mas iria o atrapalhar, então ficou em silêncio.

Se Iruka visse aquele olhar tão focado em si provavelmente teria perdido os sentidos e teria feito um trabalho horrível, então agradeceu só tê-lo percebido quando já estava no final. Engoliu a saliva tentando não ficar nervoso ou sem jeito por estar tão perto daquele corpo e vendo aqueles olhos tão intensos o olhando. Obviamente era nesses momentos que memórias recentes retornavam ao seu cérebro, como o dia que foi salvo pelo desconhecido, aquele que conheceu Kakashi no bar e o que fez com sua mão durante a madrugada. Além disso, quando foi puxado para perto do corpo do policial para ser salvo de ser atropelado, lembrava-se exatamente do olho de Kakashi focar-se por segundos nos lábios com uma clara intenção.

- Agradeço imensamente. — Acabou por dizer após o trabalho ter se finalizado retirando Iruka daquelas vergonhas internas que lembrava-se.

O uniforme teria que ser descartado, afinal não haveria costura boa o suficiente para eliminar aqueles rasgos. A tristeza maior era pela perda de sua espada, tinha certo carinho por ela, afinal tinha sido de seu pai e era a uma das únicas lembranças que tinha do homem. Uma lâmina quebrada não tinha muita utilidade, a guardaria apenas pela carga emocional que tinha, pois voltar a usar em combates já não era uma questão que pudesse sequer ponderar.

Inclinou-se na tentativa de se levantar, mas de imediato recebeu uma palma de mão quente em seu peito o impedindo.

-  És idiota?! — Falou sério abismado com o que estava vendo, mantinha seus dedos naquela pele gélida nem lembrando que era estranho tocá-lo diretamente sem nenhum tecido o cobrindo. Não era momento para sentir qualquer tipo de vergonha, então deixaria para mais tarde suas bochechas avermelharem. — O que diabos pensa que está fazendo? — Ver um sorriso infantil naqueles lábios não o ajudava em ficar menos bravo, poderia achar bonito aqueles sorrisos, mas não naquele momento. — Acabei de te costurar, merda! Quer que abra?!

- Eu ia apenas vestir uma camisa. 

"Argumento válido". — Pensou Iruka mantendo-se ainda imóvel o impedindo que se movesse. — "Por mim poderia se manter assim… Cala a boca Iruka."

- Bastava pedir a mim, seu imbecil. — Não era o mais adepto a xingamentos e palavras grossas, mas naquela noite tinha chego ao seu limite com aquele homem a ponto de deixar que sua falta de educação ganhasse vez. — Eu busco para ti.

Recebeu apenas um dar de ombros como resposta.  Aceitou aquilo como resposta prontamente, sabia que Kakashi não era de muitas palavras quando queria. Saiu de seu lugar indo até o quarto dele e encontrar onde guardava suas roupas não era assim tão difícil. Procurou algo fácil de ser vestido e retirado, afinal admitia que ele não poderia fazer muitos movimentos bruscos tão cedo. Surpreendeu-se ao encontrar em um canto do armário uma camisa conhecida, a sua camisa. Estava limpa e perfeitamente dobrada, gostaria de perguntá-lo o motivo de ter guardado, mas da mesma forma tinha feito com aquela que vestiu quando esteve naquela casa da última vez. Claramente não tinha qualquer moral para questioná-lo sobre o motivo, afinal, nem o próprio Iruka entendia o motivo de ter guardado a de Kakashi.

Balançou a cabeça para tirar aqueles pensamentos e retornou com uma que julgou adequada.

Ajudou-o a vestir o tecido independente de qualquer possível reclamação que poderia receber por isso, a qual nem foi ponderada a ser feita por Kakashi, dado o estado de cansaço de seu corpo e também por Iruka estar com um olhar estreito deixando claro que não ouviria reclamações. O professor limpou o local o deixando organizado como se não tivesse sido realizado um procedimento daquele minutos antes. Suspeitava que aquela casa já tinha sido local de muitos desses, mas não perguntaria.

Sentou-se ao lado do homem um pouco inquieto sobre o que se seguiria.

- Suponho que esteja cheio de perguntas. — Justamente o menos falante tomou a iniciativa de começar aquele diálogo e Iruka até agradecia aquilo. Assim como das outras vezes de contato, Kakashi que iniciava aquela troca de palavras. — Entendo que pode até estar com medo de mim, mas…

Iruka imediatamente o olhou nos olhos negando com a cabeça interrompendo de continuar a falar.

- Estou assustado, admito, seria idiota e hipócrita negar algo óbvio. — Esclareceu apertando o tecido da calça com suas duas mãos que mesmo limpas ainda lhe lembrava que há poucos minutos estavam cheias de sangue. Demoraria um tempo até retirar aquelas imagens de sua cabeça. — Assustado pelo seu estado de saúde, não necessariamente assustado por estar contigo. Estou curioso, é claro, mas entendo caso não queira falar, respeito seu espaço. Se no momento que me ajudou não quis dizer-me quem eras, não há problemas. Se quando nos conhecemos naquele bar novamente ou no café não sentiu-se a vontade de dizer qualquer coisa, entendo seu lado…

- Caralho, você sempre é assim? — Kakashi perguntou realmente surpreso pelo que ouviu.

Ninguém nunca tinha conseguido o surpreender assim ou sequer um dia conheceu alguém tão compreensivo como aquele ali estava sendo consigo.

- Assim como? — Iruka o olhou confuso não entendendo o que aquilo significava. 

- Discursos legais com palavras bonitas e tal… — Explicou com um sorriso mínimo não esperando uma reação tão boa de alguém que já o tinha xingado de diversas palavras naqueles últimos minutos.

"Falas de mim, mas quem fez discursos com palavras bonitas enquanto bebíamos café foste tu..." — Pensou guardando aquelas palavras para si mesmo.

- Enfim, acho que já escondi coisas demais de ti, não é? Qualquer coisa sempre resta a opção de  matar-te, eliminar provas, certo?

O tom descontraído não chegou aos ouvidos de Iruka, pois este arregalou os olhos completamente assustado com a possibilidade. Foi nesse momento que Kakashi percebeu que de fato alguma de suas piadas eram ruins.

- Piada. — Frisou seriamente na direção do moreno ao seu lado que deixou o ar sair pesadamente de seus lábios um pouco aliviado. — Piada de mal gosto, desculpe-me. Não me leve tão a sério, no estado que estou se consigo matar uma barata já é um grande feito. E não te faria mal, não poderia fazer isso.

Iruka o olhou novamente e mesmo com grande parte daquela pele escondida pela camisa lembrava-se bem de cada ponto machucado, cada cicatriz que tinha, então acabou por concordar com uma risada silenciosa. Poderia até ser alguém perigoso, mas no estado que estava não faria mal a ninguém, nem se quisesse.

- Sei que és curioso sobre algumas coisas e sinto que posso confiar em ti, me ajudou, então tens minha confiança. — Continuou a falar adotando um tom sério deixando aquelas brincadeiras de lado. — Como sabes sou policial, entretanto, estou nessa vida desde criança. — Recebeu o óbvio arquear de sobrancelhas do tipo: "Como crianças policiais? Não faz sentido", então Kakashi precisava explicar corretamente antes que Iruka associasse em sua mente diversas crianças fardadas e armadas indo atrás de quem roubou seus doces. — Uma loucura imaginar crianças sendo criadas desde sempre para o combate, mas é basicamente a história da minha vida. Meu pai era soldado também, mas era do Exército, o perdi cedo e fui levado para um colégio militar que ele também já havia estudado quando criança e o Diretor era um conhecido dele. Então aceitou-me de imediato, desde criança fui considerado como um prodígio, devido a isso me formei com pouca idade e logo garanti uma vaga nessa Organização do governo. — Apontou para a camisa negra e o colete cinzento que estavam posicionados em uma cadeira. E também se referia a máscara de animal quebrada, a qual não estava no campo de visão de ambos, mas Iruka sabia bem sobre o vestuário. — Desde então participo disso, é uma Organização secreta de combatentes de elite…  Chama-se Anbu e bem… Confidencial...

Ouvir aquelas palavras e não se surpreender era impossível, pelo menos para o professor que estava chocado, curioso e tantos outros sentimentos conflituosos que nem sabia nomear. Apenas o ouvia sem conseguir dizer uma única palavra. 

- Como já havia me formado não restou-me tantas opções, então por contatos internos acabei entrando facilmente para a Polícia. E desde então sigo realizando ambos os trabalhos para a população... 

Estalou os dedos de sua mão sentindo aos poucos que seu corpo de fato estava esgotado e precisava de um descanso. Entretanto, não poderia dormir antes de pelo menos esclarecer algumas coisas a Iruka, ele merecia aquilo.

- Então aquele dia que me ajudou você estava realizando alguns desses serviços? — Arriscou perguntar não o olhando, pois seus olhos ainda estavam bem focados em um ponto aleatório a sua frente tentando absorver tudo aquilo que ouviu.

- Exato. Estava voltando para minha casa após… hum… — Ajeitou-se com certa dor da posição que estava fechando momentaneamente seus olhos e cerrando o maxilar. — Minha missão e ouvi as conversas, ao ver a situação não consegui deixar-te lá sem fazer nada, ajudei-te e faria novamente sem nem pensar.

Iruka moveu a cabeça em sinal positivo ainda pensativo. Eram tantas dúvidas e não queria o enchê-lo tanto, mas sentia necessidade de acabar com elas o quanto antes.

- Que tipos de serviços vocês realizam? 

- Depende. — Deu de ombros e logo se arrependeu não conseguindo disfarçar mais uma expressão de dor, estava cada vez mais difícil fingir que estava bem. Engoliu a saliva bravo consigo mesmo por ter sido atacado daquela forma, era inadmissível que justo ele tivesse sido ferido. — Normalmente serviços que a polícia ou exército não poderiam realizar, por realmente não poderem fazer esse tipo de coisa, se é que me entende. Espionagem, queima de arquivo… 

Manteve seu olhar cabisbaixo ao dizer as palavras. Era acostumado a não ter muitas pessoas em seu círculo de amigos, ao longo de sua vida teve alguns, perdeu outros até se fechar por completo. Gai entrou após muita insistência, com o tempo Asuma também chegou. E agora que tinha algo do tipo com Iruka não queria perdê-lo apenas por ser quem era. 

- Queima de arquivo não é realmente queimar alguns papéis, não é? 

Esperava receber aquela pergunta, então nem se surpreendeu ao ouvi-la, mas mesmo assim não se tornava menos complicada de se responder.

- Assassinato... 

Agora era o momento que Kakashi esperava que o professor gritasse, o xingasse e saísse correndo da residência desesperado, mas isso não chegou a acontecer e sequer ponderado por Iruka.

- Entendi.

Uma única palavra para tudo que ouviu. Ninguém poderia ser tão compreensível assim, pelo menos não para Kakashi que nunca lidou com alguém assim antes. Chegava até o assustar porque literalmente o tinha dito que era um assassino e ele compreendia? Absurdo.

- Como tu dissestes, és um da elite, certo? — Perguntou-o e Kakashi direcionou um olhar confuso para o moreno se perguntando se ele tinha ouvido bem as coisas que tinha dito, pois não era normal alguém agir tão normal assim.

A única pessoa que teve uma reação bem semelhante ao saber essas coisas sobre sua vida tivera sido Gai, mas aquele homem realmente não servia de base para nada e o tinha conhecido quando era uma criança, pouco depois de ter entrado no Colégio Militar. O adotou como rival e continuavam naquela amizade estranha até então. Desde o início soube sobre seu envolvimento na Anbu e apesar de ser contra esteve sempre ao seu lado, Gai o apoiava por prezar sua amizade, mas Iruka não tinha essa obrigação.

Após a confirmação de Kakashi, Iruka continuou:

- Então como alguém de elite deixou ser ferido dessa forma?

O tom acusador surpreendeu o grisalho a ponto de até sentir seu orgulho ser ferido pelo comentário. Uma parte de si ficava mais aliviada por Iruka estar levando aquelas informação de um modo até natural. 

- Hoje foi complicado... — Respondeu não levando tanto para o lado pessoal o que ouviu. Fechou seu rosto por alguns segundos lembrando-se com amargura da sensação de sangue escorrendo em sua cabeça ao atingir o homem que o drogou. Logo ele que odiava usar arma de fogo agora parecia que ainda podia ouvir o estrondo próximo de seus ouvidos. — Mais pessoas do que imaginei no início, fui pego de surpresa e...

Não esqueceria mesmo do rosto daquela mulher, a levaria para sempre consigo, assim como os outros tantos rostos que guardava em sua mente. Se a conhecesse em outras situações facilmente poderiam até terem uma relação próxima à amizade.

- Tomou uma bela surra. — Deu um sorriso bem mais calmo completando a frase do policial, a situação ainda não era boa, o rosto de Kakashi dizia que não estava bem, mesmo que suas palavras o acalmassem com o contrário. Aquelas olheiras fundas, a pele bem pálida e um suor frio que o tomava conta estampava em sua testa um: "EU PRECISO DE UM MÉDICO". Estava mais relaxado, mas não menos preocupado, relaxado por ouvir aquelas coisas, de certa forma já imaginava algo assim.

- Eu diria que foi até equilibrado. — Falou tentando manter sua dignidade e não deixar com que Iruka a destruísse assim, apesar de ouvi-lo agir daquela maneira descontraída e até mais tranquila o deixasse com um sentimento estranhamente bom. Iruka o olhou de cima a baixo com uma de suas sobrancelhas arqueadas, pois ao julgar o estado de saúde daquele homem não queria mesmo saber como os que o atacaram estavam naquele momento. — Você está certo, apanhei.

Não acreditou plenamente que aquele homem em sua frente tivesse apanhado tão facilmente, mas não queria que a hipótese de alguns mortos ou feridos passassem em sua cabeça e o deixasse mais nervoso do que já estava.

O rosto da mulher sem vida retornou a mente de Kakashi, queria afastar isso dele, mas era sempre assim. Depois de algum tempo os rostos, a sensação de sujeira e a mão trêmula sempre retornava. Ninguém nunca o tinha visto tendo alguma crise, e não queria que Iruka chegasse a ver, então com toda sua força psicológica afastou aqueles pensamentos para longe.

- Uma dúvida. — Mordeu os lábios esperando que a atenção retornasse para si e assim que a conseguiu continuou. — Gai e Asuma são desse negócio também?

- Sou o único da Anbu dentre eles. — Esclareceu e o viu franzir o cenho. Já imaginava quais dúvidas que estavam passando por aquela mente. — Gai sabe sobre meu envolvimento, até me ajudou algumas vezes em ferimentos e coisas do tipo, Asuma deve suspeitar algo, mas nunca de fato me interrogou ou coisa do tipo. Deves estar se perguntando quantas pessoas participam disso… — Viu uma confirmação quase imediata. — Não tenho números exatos, mas hoje em dia a quantidade e a qualidade são bem mais baixas do que no tempo que eu era apenas uma criança. Grande maioria destes eram da escola militar que te disse agora pouco…  

- Sem mais dúvidas por hoje. — Disse se levantando ao notar o horário já avançado. Naquele que já deveria estar dormindo após um bom banho, um jantar e o planejamento das aulas da semana já prontos. Nada do planejado foi feito. — Deverias descansar e eu voltar para a minha casa.

- Perigoso andar nas ruas tão tarde. — Falou adotando um tom inocente, estranhamente o queria por perto, não entendia o motivo exato, mas sentia-se bem menos sujo perto daquele professor falante.

Iruka poderia até concordar, mas não tinha muitas opções, precisava de um tempo para raciocinar. Tinha lá suas suspeitas que Kakashi poderia ser o mascarado, afinal poucas pessoas tinham aquele cabelo e o mesmo modo de se movimentar, mas ter aquela confirmação com seus próprios olhos era algo completamente diferente de apenas suspeitas. Seus sentimentos estavam conturbados e aquelas informações não ajudavam em nada. Muita coisa que ouviu nem havia digerido direito e queria um tempo sozinho.

- Preciso de um banho. — Levantou um de seus dedos pontuando os motivos para que fosse para sua própria casa. 

- Caso não saibas, eu tenho um chuveiro aqui. — Interrompeu aquela contagem ironicamente, mas foi ignorado. Levantou seu próprio dedo da mesma forma que Iruka estava fazendo. — De alguma forma preciso tomar meus próprios banhos também, não é?

- Preciso comer.

Outro dedo sendo levantado e Iruka já esperava o que viria a seguir para mudar sua ideia de ir para sua própria casa. Se estivesse em uma situação menos inquieta e embaraçosa poderia rir das falas de Kakashi que claramente o queria por perto.

- Posso até ser um cara estranho, mas não sei fazer fotossíntese. — Mais uma vez que o interrompeu e estava até se divertindo em fazer aquilo. Claro que se ele quisesse mesmo ir embora não o impediria, mas achava perigoso realmente que ele fosse caminhar aquele horário e uma parte bem interna de si estava gostando de o deixar naquela situação. — Eu me alimento igual uma pessoa normal. Vegetais, frutas, macarrão instantâneo, essas coisas, sabe? 

- Preciso escrever o planejamento semanal de aulas. 

Kakashi sorriu discretamente mantendo um de seus olhos ainda fechado. Coisa que era curiosa para Iruka, que não entendia o motivo de o escondê-lo sempre que podia, seja com algum tecido ou até o mantendo fechado daquela maneira. Afinal, se de fato não tivesse um olho entenderia esconder, porém, ele o tinha, então não fazia sentido. Sua vergonha aumentava com aquele gesto, pois parecia que estava piscando para ele. 

- Justo. Normalmente fujo das minhas papeladas e deixo para… — Tossiu vagarosamente e em seguida deixou mais um gemido de dor sair de seus lábios arrependido da tosse. — Outra pessoa… não posso ajudar-te com isso.

- Além disso, onde eu dormiria? Vestiria as mesmas roupas? — Disse em negação aquele absurdo cada vez mais tentado em avisar pelo menos um dos amigos do homem. Gai, o que sabia sobre a Anbu, era a opção mais recorrente. Com certeza ele saberia agir naquela situação. — Sem condições.

- Tenho cama.

- Dormir na mesma cama contigo?! — O perguntou não escondendo sua face chocada torcendo que suas bochechas não avermelhassem. — Nem pensar!

Tinha sido pego de surpresa e odiava-se por estar gerando divertimento para aquele homem a sua frente que estava claramente se divertindo às suas custas com aquelas propostas. Não conseguia decifrar Kakashi, se aqueles sorrisos e palavras tentando o convencer para ficar era um sinal de que queria algo ou apenas estava se divertindo. Era confuso demais para a mente de Iruka entender.

- Somos amigos, acredito eu, depois do que fizeste para mim não consigo não o considerar assim. — Respondeu o olhando com aquele único olho analisando com calma e decorando cada expressão, mínima que fosse, que Iruka realizava ao ouvir algo. — Não apresento riscos a ti, relaxa, não farei nada de mal a você. Não é como se eu fosse te morder durante a madrugada.

Mais uma piada, porém o que causou em Iruka não foi risadas e sim uma sensação de queimação em seu corpo todo que queria ficar vermelho em vergonha. Agora com mais calma e sem tanto nervosismo por ver aquela lâmina presa em Kakashi lembrou-se mais uma vez de cheirar aquela camisa com o perfume. Sentia vergonha de ter feito aquilo, principalmente estando cara a cara com o dono daquele perfume. Então, pensar em dividir uma cama o deixava envergonhado, e receber essas piadas pioravam seu estado.

- Posso emprestar-te algumas peças de roupa. Igual o que fiz da última vez.

A última frase de fato foi uma alfinetada sobre o que havia visto pela janela do quarto de Iruka. Em hipótese nenhuma diria que o observou para verificar seu estado de saúde, não queria passar por alguém controlador daquela forma, mas se divertiria o deixando com vergonha. Mesmo que Iruka nem soubesse que tinha sido espionado, tudo isso não deixava de ser menos vergonhoso.

-  Estou brincando contigo, Iruka, pode ir embora se quiser, isso continua não sendo um sequestro. 

A voz fraca, aquela expressão lembrando um cachorro pidonho, a mão no ferimento demonstrando dor. Aqueles murmúrios e gemidos de reclamação de que estava cansado e destruído foram o suficiente para Iruka sentir-se mal em abandoná-lo naquela situação. Quando esteve naquela situação Kakashi o cuidou, então tinha uma obrigação moral em fazer o mesmo.

- Eu vou ficar.

Kakashi até se deu ao luxo de dar um sorrisinho vencedor, que durou cerca de três segundos até seu rosto ser tomado por mais uma onda de dor. Recebeu ajuda para ir até seu quarto e deitar na cama, estava mais silencioso, principalmente pelo fato de que se retornasse a abrir sua boca talvez ruídos e reclamações surgiriam. Não queria assustar Iruka com seu real estado de saúde.

- Por alguma razão que eu não entendi ainda, sinto-me muito confortável com a sua presença... — Murmurou em um tom baixo para Iruka que abriu os olhos surpreso tentando entender as palavras quase inaudíveis.

No instante que deitou-se e se cobriu seus olhos ficaram pesados, sua última visão foi o rosto preocupado de Iruka apagar-se aos poucos e a escuridão tomar conta. Estava cansado demais para lutar contra a vontade de ficar acordado. O professor limitou-se a ficar parado atordoado sem ação o vendo respirar tranquilamente, a pele ardia pela temperatura elevada e o suor cada vez tomava mais conta de seu corpo. Aquilo não estava nada normal, não poderia simplesmente dormir e deixá-lo daquela forma.

Então, desobedecendo qualquer ordem ou pedido do policial fez a coisa mais óbvia que poderia: Iria procurar desesperadamente o número de Gai no celular de Kakashi.

Pegou o dedo do policial e o colocou no celular para que reconhecesse a digital e logo teve acesso ao conteúdo do aparelho. Tinha suas curiosidades sobre o que um homem como aquele fazia, mas as preocupações eram maiores, então procurou os contatos até encontrar o do melhor amigo dele. Talvez o que tivesse feito fosse errado, mas deixaria sua culpa moral para outro momento.

Durante a busca e até a ligação não saiu do lado da cama de Kakashi, não conseguia tirar os olhos dele. Parecia que se parasse de olhá-lo por um segundo qualquer no outro seu estado de saúde estaria pior. Ajoelhou-se ao lado da cama levando uma de suas mãos até a lateral do rosto e fez um breve carinho com seus dedos enquanto apertava com a outra aquele aparelho celular. Após a breve conversa e imediata confirmação de que Gai estaria ali o mais rápido possível, disse em tom baixo em forma de pedido:

- Apenas fique bem… 

Ouviu alguns murmúrios estranhos e até pensou que ele o tinha respondido, mas era apenas vacilações e coisas sem sentido enquanto se contorcia na cama sem controle de seu corpo. Entrelaçou seus dedos nos dele e os apertou com força contra os seus pouco se importando de estar daquela forma por alguém que nem conhecia tão bem. Não era um gesto como aquele que o faria melhorar, mas para o momento era a única coisa que poderia fazer por ele, ou melhor, pelos dois.

Gai ao chegar não se importou em bater, entrou naquela residência pequena como um furacão verde indo direto para o quarto do melhor amigo. Não havia tempo para se surpreender ao notar a presença do homem que o tinha avisado sobre o estado de saúde de Kakashi, sabia que ele estaria lá, mas não o motivo e principalmente que estaria ambos de mãos entrelaçadas. Deixaria para criar hipóteses em outro momento, talvez um que tivesse certeza que o homem de cabelos cinzentos estivesse fora de perigo.

- Eu queria o levar para o hospital, mas és um teimoso idiota e… — Disse não conseguindo impedir que suas emoções viessem a tona, segurou-se o máximo durante aqueles minutos apertando aqueles dedos contra os seus, mas não conseguia mais ser tão forte. Despencou. — Ele… Ele vai ficar bem, não é?

O policial queria confortar e dizer que tudo ficaria certo como sempre, mas nem ele tinha palavras para descrever a situação. Já tinha visto o amigo quebrado, mas daquela maneira era demais até para ele. O estado de sujeira, os hematomas, a pele clara... Eram tantas coisas dizendo indiretamente que tudo estava muito mal que não conseguiria mentir para Iruka dizendo um simples "sim".

Engoliu o nó que se instalou em sua garganta e moveu sua cabeça positivamente.

- Vamos levá-lo ao hospital. 

De imediato Iruka levantou-se e por segundos pensou que aquele aperto que sentiu em seus dedos foi uma reação do outro para que ficasse perto, mas não havia passado de um estímulo qualquer do corpo machucado. Soltou aquele aperto e levantou-se esperando qualquer ordem sobre o que fariam, mas ver aquelas sobrancelhas juntas e a expressão dele não aliviavam em nada. Se até o melhor amigo que já o tinha visto em diversas situações parecidas estava daquele jeito, Iruka sentia-se triplamente pior sem saber como agir.

Observou Gai pegá-lo nos braços com tamanho cuidado como se com qualquer movimento brusco o quebrasse. Iruka em seu encalço, fechou imediatamente a porta e guardou a chave em um de seus bolsos. Seguiu em completo silêncio lançando olhares apreensivos para os dois enquanto caminhava até o carro.

Iruka sentou-se no banco traseiro acomodando a cabeça de Kakashi em seu próprio colo. Os olhos castanhos fixos naquele rosto pálido, uma das mãos sem nem pensar tinha começado um carinho nos fios do cabelo cinzento e a outra se apoiava no peito dele sentindo o movimento da respiração.  Pouco se importava que iria se sujar, só queria o deixar o máximo confortável possível e próximo de si.

O trajeto que não durou mais que quinze minutos dava uma sensação de que estavam há horas na estrada. Gai a cada segundo olhava pelo pequeno espelho para verificar se estava tudo bem e se estivesse em outras condições riria pela forma que logo Kakashi estava recebendo um carinho daquele jeito na frente de outras pessoas.

Quando chegaram foram preenchidos por uma sensação de alívio. Ainda havia preocupações, mas tinham certeza que agora tudo se resolveria, independente do tempo que levasse. 

Explicar aquela situação e os ferimentos do homem que era levado com urgência em uma maca por dois enfermeiros e uma médica gritando ordens para que saíssem da frente e dessem passagem, seria difícil, mas não quando um dos homens na recepção era um policial conhecido e com seu distintivo na mão.

Iruka não prestou atenção, porque seus olhos estavam fixos no homem sendo levado às pressas, mas ouviu coisas como: "Assunto da polícia, é meu colega. Espero que nada aconteça com ele e nem que perguntas sejam feitas. É um assunto confidencial." Não lembrava em nada aquele homem brincalhão que encontrou no bar, estava sério e passava uma confiança de que realmente sabia o que estava fazendo. 

Iruka estava totalmente inerte a tudo a sua volta, suas mãos tremiam como se pudessem sentir ainda o calor da cabeça de Kakashi em seus dedos e o corpo trêmulo em suas pernas. Gai colocou a mão no ombro dele o chamando a atenção em um claro sinal de que tudo ficaria bem, mas nem ele tinha aquela certeza, então não disse nada em voz alta. 

O disse apenas em um tom baixo para que aguardassem sentados em uma das cadeiras disponíveis, mas foi plenamente ignorado por alguém que passou aquelas boas horas parado em pé e vez ou outra caminhava de um lado para o outro sem rumo. 

- Hey. — Falou um pouco cansado de vê-lo daquela maneira. Queria entender um pouco a situação e principalmente o motivo de estar tão afetado. Não entendia a relação que ambos tinham, mas provavelmente era forte o suficiente para surtar com a possibilidade de Kakashi ficar pior do que já estava. Bateu delicadamente na cadeira ao seu lado chamando para que se sentasse ali e a contragosto foi isso que Iruka fez. — Está bem? Sente-se um pouco, teremos notícias em breve. Não podemos nos martirizar.

- Você não entende... — Murmurou em desagrado passando as mãos pelos cabelos que já estavam uma completa bagunça e se estivessem soltos provavelmente estariam completamente embaraçados. — É minha culpa.

Gai levantou ambas as sobrancelhas grossas no mesmo instante que ouviu aquilo.

- Você o esfaqueou?! — Disse em um tom baixo realmente surpreso sem saber como reagir a aquela notícia.

Lembrava dele ter direcionado um dardo em Kakashi, mas partir disso para uma facada era um caminho bem longo e drástico. 

- O que?! — Voltou seus olhos castanhos bem vermelhos na direção do outro que esperava uma explicação. — Óbvio que não! — Saber isso aliviava Gai, afinal tinha se apegado a aquele rapaz, não queria ter que acidentalmente acabar com sua vida por ter feito qualquer mal ao seu melhor amigo, apesar de ter a certeza de que o estado machucado de saúde de Kakashi tinha ligação direta com a Anbu. Gai murmurou um: "Então não é sua culpa, pare com isso". — Eu o encontrei assim e invés de levá-lo para o hospital fiz o que pediu… Se eu o tivesse levado antes, insistido, talvez ele estivesse menos pior… Eu tive que ligar para ti para que resolvesse, eu sou um inútil…

Limpou algumas lágrimas rapidamente, mas Gai acabou por vê-las descendo em suas bochechas. Iruka claramente estava a ponto de ter algum surto de nervosismo e ele tinha a obrigação de tentar acalmá-lo. Queria entender como um não tão desconhecido no bar tornou-se a pessoa que chorava pelos ferimentos de Kakashi, mas deixaria para interrogar o amigo quando este estivesse em condições.

- Ei, ei, pare de se culpar. — Falou seriamente tentando o tirar daquela escuridão que havia entrado. Agradecia muito que seu nome tinha sido lembrado para ajudar naquela situação, não se importava em perder uma noite de sono e ficar ao lado do rapaz em uma cadeira péssima de hospital enquanto esperava notícias do estado de saúde do melhor amigo. Já não era a primeira vez que tinha feito isso, mas das outras estava completamente sozinho. — Fico feliz que tenha lembrado de mim, não esquecerei disso, não se culpe pela teimosia dele. É normal daquela cabeça dura pensar que é seu dever resolver tudo sozinho e não incomodar ninguém com seus problemas… É bom que alguém como tu tenha entrado na vida dele.

Responderia qualquer coisa, mas estava sem palavras pelo discurso que ouviu. De fato não estava enganado sobre o homem ser alguma espécie de coach, pois se fosse era mesmo um dos bons e se não era deveria mesmo investir na área.

Foram interrompidos de continuar a conversar ou se martirizarem, no caso de Iruka, pela mesma médica que levou Kakashi quando chegaram.

Cabelos loiros amarrados, olheiras bem leves abaixo de seus olhos castanhos demonstrando que o plantão vinha sendo cansativo. Um sorriso fácil em seus lábios e um olhar caloroso que dizia que tudo iria ficar bem. O pijama cirúrgico era um claro sinal de que havia feito uma cirurgia recentemente e isso não os deixava menos aflitos.

- Boa noite. — Disse e ambos em um sentimento mútuo queriam que aquela cordialidade fosse para a puta que pariu, pois queriam que falasse diretamente o que estava acontecendo. A médica notou o imediatismo, então sorriu e continuou a falar. — O paciente passou por exames de urgência e consequentemente uma cirurgia, pois apesar de um trabalho até bom na sutura... — Olhou acusadoramente para os dois procurando saber quem havia sido e logo reconheceu que era o de cabelos castanhos, pela expressão que fez ao ouvir aquelas palavras. — Os hematomas que tinha eram graves, o que gerou uma hemorragia interna que foi controlada... Perdeu muito sangue e...

- Ele está bem?! — Iruka a perguntou querendo sair correndo pelos corredores daquele hospital procurando em todos os quartos onde o homem estava.

A médica notou suas intenções imediatas, teria que ser rápida em esclarecer as coisas, pois independente de quem fosse aquele homem a sua frente ele tinha uma ligação bem forte com seu paciente.

- Em repouso, não irá acordar hoje após a medicação que recebeu. — Esclareceu da maneira mais calma que poderia no momento. Deveria sim dar mais detalhes e avisos sobre o policial, porém após uma análise breve dos dois em sua frente chegou a conclusão que aquele assunto poderia ser adiado por ora. — Pela situação que se encontra poderei deixar apenas uma pessoa passar a noite como acompanhante, desculpem-me.

Gai e Iruka se entreolharam e logo o choque percorreu o rosto do professor ao se dar conta de que teriam que decidir quem seria. O moreno sabia que a decisão mais certa era deixar o policial ficar, afinal eram melhores amigos, mas seu coração apertava com a ideia de ir embora.

Contrariando qualquer coisa ou hipótese sentiu aquela mão em seu ombro e um sorriso em sua direção.

- Vou buscar-te umas roupas e uns documentos dele. Acho que irá precisar, não está em um estado tão melhor de limpeza que o paciente. Precisas de um banho e roupas limpas para passar a noite com ele.

- Mas…

Queria completar com "Mas quem deveria ficar aqui era você e não eu!", porém simplesmente não conseguia emitir aquelas palavras. Apenas um agradecimento silencioso para o outro e o ato de entregar a chave da casa de Kakashi que tinha guardado em seu bolso. 

Se tivesse que voltar para sua própria casa não iria dormir e sequer descansaria, pois iria ficar andando de lado a lado freneticamente pensando em Kakashi e seu estado de saúde.

Gai voltou tão rápido para o carro que Iruka sentiu até os pelos de sua nuca se arrepiarem, esperou pelo homem naquele mesmo local. Queria lhe dizer que não tinha qualquer roupa na casa de Kakashi, mas independente do que trouxesse o caberia perfeitamente, afinal já tinha emprestado uma peça há não muito tempo. Por outro lado, o homem de sobrancelhas grossas já não apertava aquele volante com força como fez quando estava indo para o hospital, agora estava bem mais calmo. Jogou tudo que achou necessário em uma mochila e fechou tudo mais uma vez novamente com aquela dúvida em sua mente: "Quando Kakashi irá parar de machucar-se assim e continuar a trabalhar para essa Organização?".

Voltou para o hospital encontrando um Iruka impaciente batendo um pé no chão querendo ir imediatamente para o quarto de Kakashi. Direcionou um sorriso apertando a alça da mochila caminhando o mais rápido possível e desviando de algumas pessoas que vinham em sua direção. Retirou a mochila e a deu para Iruka. 

Iruka iria apenas dizer um agradecimento e virar as costas, mas o agradeceu e aceitou de bom grado o abraço apertado de Gai. O policial poderia estar visualmente mais tranquilo, entretanto sabia que também não estava tão bem. Afastou-se e sorriu em um sinal de o avisaria sobre qualquer coisa. Parecia uma criança apertando o celular no bolso e afirmando para o mais velho de que o ligaria se necessário. O melhor amigo de Kakashi merecia algumas mensagens sobre o estado de saúde, e Iruka iria fazer isso quando possível.

Entrou no quarto do homem o encontrando deitado dormindo tranquilamente, Iruka sabia que eram apenas os remédios agindo naquele corpo. Estava claramente mais limpo, provavelmente após os procedimentos que passou alguma pessoa da enfermaria tratou de o deixar menos ensaguentado, pois seus cabelos estavam na cor natural um pouco organizados e penteados. Andou calmamente tentando ser o mais silencioso o possível, retirou algumas peças de roupa que Gai tinha deixado na mochila e foi na direção do banheiro para tomar um banho e se tornar um pouco menos bagunçado.

Ao acabar o banho sentia-se mais limpo. As roupas de Kakashi ficaram um pouco largas, mas realmente não era um problema. Os cabelos foram desembaraçados pelos dedos, pois não havia qualquer escova. Não reclamaria com Gai por ter esquecido isso, afinal se estivesse na situação do policial também não se lembraria. 

Estava ali "sozinho" com apenas o cinzento compartilhando o quarto e aquelas máquinas insuportáveis que eram o único som presente, Iruka puxou a única cadeira que tinha para mais perto da cama. Sentou-se nela não deixando de fixar seus olhos naquele corpo pálido a sua frente, parecia calmo e sereno, mas ao mesmo tempo tão frágil que o assustava. 

Havia vários fios conectados em sua pele e alguns líquidos pingando demoradamente para dentro de suas veias. Vestia um pijama claro do hospital com uma abertura em seu peito e deixava bem claro alguns hematomas e também cicatrizes passadas. Iruka engoliu aquela saliva e levou aquela mesma mão de mais cedo até a de Kakashi que estava descansada de qualquer jeito ao lado de seu corpo. Não se importava que em qualquer momento algum enfermeiro ou a mesma médica aparecesse de surpresa e os visse daquele jeito, nem a ideia do próprio Kakashi acordar e ver aquilo o fazia não entrelaçar seus dedos nos dele.

Aquela era sua forma de demonstrar que estava tudo bem, que ele não estava sozinho. Uma das formas que encontrou para ele próprio conseguir descansar um pouco, afinal em qualquer movimento de Kakashi, acordaria também.

Sem pensar muito ergueu-se e deu um beijo carinhoso na testa do policial. Sorriu envergonhado pelo gesto perguntando-se em que momento aquilo se tornou algo "natural" a se fazer. Retornou até a cadeira sem soltar aqueles dedos frios em contato com os seus. Apoiou o outro braço naquela cama e acomodou sua cabeça da maneira mais confortável que conseguiria para o momento.

Por contrário de suas expectativas conseguiu dormir até bem naquele restante de noite, o suficiente para nem pensar que horas depois o homem da cama acordou dolorosamente e descobriu finalmente que estava em um hospital. Kakashi poderia reclamar e tentar fugir do local, porém sabia que não era a decisão mais sábia, principalmente por sentir aqueles dedos quentes contra os seus de alguém que não o abandonou e continuou ali esperando sua melhora. Passou o polegar deixando um breve carinho naquela pele bronzeada e retornou ao seu descanso sem quebrar aquele entrelaçar.

 


Notas Finais


Admito que não estou 100% feliz com esse capítulo, pois o tinha terminado anteriormente e infelizmente acabei por o perder por não ter salvo em um local de confiança (Vacilo meu)... Tive que reescrever boa parte, porém, espero que gostem!


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