A volta, assim como foi a "caçada", não teve recompensas. Muito pelo ao contrário, a mulher ficou revoltada ao saber que seu marido havia lhe trocado por uma espécime rara e híbrido de silvano fêmea. E que o marido até roubava suas jóias para poder presenteá-la por conta de seus talentos em lhes fazer mais... Satisfeitos.
Pensaram que o bruxo estivesse inventando história para humilhá-la ao invés de declarar a moça como uma viúva, vítima de um monstro que havia lhe separado de seu amor.
Mas no fim, após uma bela troca de palavras não tão belas assim vindas da sogra da moça, que também não acreditava que seu filho pudesse ter feito uma coisa dessas, tanto Geralt como Jaskier foram parar ao relento, sem eira e nem beira.
O que restou para ambos terem que acampar na caverna em que morava Anomalya.
— Queria ter visto como ela era. Devia ser muita linda. — comentou o ômega, agora como Jaskier, já que tinha voltado ao normal assim que acordara do nada sendo expulso e tendo suas coisas jogadas no chão de terra em frente a casa das duas mulheres.
Coitado. Para si ele estava dormindo e estivera assim o tempo todo, mal sabia ele que, por ter sentindo intensamente o estranho desejo de posse sobre o bruxo, havia despertado seu outro lado, e atacara a moça "viúva" no meio da noite, tentando fazê-la em picadinhos e também vagado pelo vilarejo até parar na região onde habitava a cria de Torque.
— De fato. Era uma raridade. Exótica, mas muito bonita. — concordou Geralt, caminhando ao lado dele.
— Hm. — murmurou se sentindo incomodado pelo comentário do bruxo — Pelo menos você descobriu alguma pista de onde podemos conseguir nossa liberdade?
Agora foi a vez do bruxo sentir-se incomodado, ter que falar sobre aquilo... Bem, não podia também deixar de responder, já que o bardo era o mais interessado e não ia lhe deixar em paz se ele não respondesse.
— Algo com pessoas vestindo negro, e ir pro sul e coroas com pedras obsidianas. — respondeu consiso, sem querer se prolongar mais.
— Hm... Isso é curioso. Para o sul há Nilfgaardianos.
— Pensei nisso também. O que significa que teremos problemas. — comentou o bruxo.
— Ou não. É só não entramos no seu caminho. Mas... Há tantos lugares no sul. A silvana devia dar mais detalhes... Tipo, em que cidade ou província. Temos um norte, mas o problema está em que este norte é bem vago. Vamos demorar mais do que sete meses. E não tenho mais que isso de tempo.
— Seguindo os rastros certos, vamos achar até menos da metade do prazo. — respondeu o bruxo, fazendo o moreno arquear uma sobrancelha para o mesmo.
Geralt estava estranhamente com um pouco de humor bom naquele momento, e tudo por conta de que agora ele tinha uma direção, mesmo que vaga, mas isso lhe trazia um certo alívio. Mas também tinha o fato sobre a filha do Torque, e por saber que até ele, um silvano, tinha conseguido de certa forma construir uma família. O bruxo ficou imaginando como seria a criança no ventre do bardo. E como seria um paraíso ter o moreno lhe mirando apaixonado ou lhe desejando como ele lhe desejava. Como estavam ligados pela marca da mordida, é claro que Jaskier sabia sobre como ele se sentia, então sabia que só bastasse um sim dele, e o bruxo lhe levaria até o fim do mundo para viverem juntos e em paz longe de tudo e de todos.
— Jaskier? — chamou-o preocupado, vendo o mesmo cambalear um pouco.
— Estou bem... Não se preocupe. É só que... De repente senti uma grande moleza no corpo...
— Suba em Plotka então. — disse o bruxo, sua boca falando mais rápido que sua mente. E percebendo o olhar confuso do outro sobre si tratou logo de se corrigir — Ou então continue a pé. — disse, fanzedo seu grosseiro tom costumeiro.
— Eu aceito a oferta. Essa andança toda está fazendo minhas pernas amolecerem de tão cansadas.
"Você não sabe o verdadeiro significado de ficar com as pernas moles...". Pensou o bruxo, dando um pequeno sorriso de lado e sem olhar para o seu ômega.
— Qual é a graça? — perguntou o mesmo vendo o bruxo com um olhar longe.
— Suba logo Jaskier, e pare de perguntas. — disse, ajeitando o arreio para ficar um pouco mais frouxo para que a caminhada fosse mais lenta e calma.
E foi nesse ritmo que conseguiram depois de três longos dias entre paradas nas florestas e estradas, chegar em Assengard. Era uma antiga e famosa cidade élfica que já não existia, a não ser suas ruínas e alguns animais que volta e outra fazem do lugar um ponto de cruza ou berçário para seus novos filhotes.
— É um lugar bonito... Os elfos sabiam mesmo fazer habitações... — comentou Jaskier, descendo da égua e indo em direção a um pequeno lago cristalino para beber água, mas o bruxo não lhe deixou seguir em frente, puxou seu braço. O bardo olhou confuso com a ação.
— É uma armadilha. — avisou.
— Armadilha? Mas não há nada na água.
— Não esse tipo de armadilha. Está enfeitiçado. — disse. E para provar que estava estava mesmo, Geralt jogou um de seus elixires, o de Andorinha, e logo a água ficou negra, assustando o moreno.
— Vamos embora daqui. — disse o bruxo, indicando para o bardo subir em Plotka novamente. Aquela armadilha representava que havia alguém por ali, e quanto menos confusão e danos fossem se deparar, ele ia trabalhar evitar o quanto pudesse.
Mas isso não foi possível naquele momento.
Logo uma flecha passou bem ao lado de sua cabeça e fincou no batente do portal de pedra onde ambos estavam parados.
— Mais um passo, e verá o seu ômega empalado por um de nós. — ameaçou uma voz feminina.
Geralt se virou lentamente.
— Elfos... Pensei que estivessem todos no norte. — Jaskier comentou baixo, já temeroso, pois não havia somente uma elfa ali, e sim um grupo inteiro deles, que aos poucos apareciam e os cercavam — Não queremos problemas! Só estávamos de passagem! — disse alto à todos.
— É o que todos dizem. — disse um outro elfo, atirando a flecha bem no meio do vão entre seus pés, fazendo Jaskier recuar e ir para trás do bruxo.
— Já chega, como ele disse, não queremos problemas. Já vamos embora daqui. — disse o bruxo, olhando fixamente para a elfa que atirou a flecha primeiro.
— Vocês passaram pelos nossos limites. Devem ser punidos. Já avisamos a todos vocês que não passassem, mas parece que o recado não entra em suas cabeças.
— Seja o que for, não somos daqui. Nem sabiamos que existiam por aqui! Deve ter alguma regra para estrangeiros, certo? — questionou Jaskier. O bruxo lhe deu sinal para que se parasse antes que dissesse alguma besteira.
— Não roubamos nada. Não fizemos nada. A única coisa que queríamos era um lugar para descansar. Mas se isso já tem dono, já vamos cair fora. — disse o bruxo, se virando de costas.
— É para sua cria? — perguntou um elfo vindo dentre os outros.
Jaskier franziu o cenho. E Geralt retesou-se inteiro.
— Cria? Não! Claro que não. Eu não estou... E não somos nada. Eu e esse bruxo nós somos somente...
— Bruxo?! — interrompeu o elfo, ficando ainda mais cauteloso — Então agora eles estão contratando sua escória para nos caçar? — um mar de murmúrios se iniciou.
— Não estou caçando ninguém. Posso ir agora? — perguntou Geralt, muito inquieto por ver tantas flechas e lanças.
— Um bruxo aparecer aqui... Nenhum da raça de vocês aparece em algum lugar por nenhum motivo. — o elfo, que parecia ser o chefe dali, endireitou seu arco mirando no alfa — Diga, a que veio. Não perguntarei duas vezes. — ameaçou.
Jaskier e Geralt se entreolharam.
Não havia como passar por ali sem algo em troca, disso tanto o bardo quanto o bruxo tinham entendido.
— Esse é meu ômega. Estamos aqui porque decidimos por livre e espontânea vontade retirar minha marcação que fiz nele. E estamos buscando alguém ou algo que retire isso. — explicou Geralt.
O elfo olhou curioso, pensativo.
— Agora mesmo este "seu" ômega nos disse que não são nada. — refutou. Geralt olhou bravo para o bardo, que deu de ombros.
— Sim, não somos nada além de amantes de uma noite de foda que resultou no que estamos buscando: uma chance de liberdade. — argumentou Geralt novamente.
Jaskier sentiu suas bochechas esquentarem, quis reclamar sobre essa descrição tão vulgar do bruxo sobre eles dois. Mas... Não era isso mesmo o que eles eram?
— Se são mesmo amantes, e esse ômega é seu... Então prove. — exigiu o elfo.
Os dois viajantes olharam-se de novo, pensando de que maneira poderiam provar isso.
— Não me diga que é isso o que estou pensando? — murmurou o bardo, dando um passo para trás.
— Se é para nós dois sairmos vivos, que façamos logo isso. — rebateu o bruxo, não muito feliz com aquilo.
— Bem... Se é para um bem maior... Então vamos logo fazer "isso". Bom... Nunca fiz em público, mas sempre há uma primeira vez, não é? — disse, já tirando sua vestimenta superior.
Geralt olhou confuso.
— Que merda você está fazendo?
— O que você acha? Estou tirando minhas roupas.
O bruxo bufou fechando os olhos e passando uma mão no rosto.
— Coloque de volta essa camisa, agora. — ordenou, sentindo uma raiva interior por pensar que havia um grupo inteiro de olhos grudados no corpo do bardo.
— Eu realmente não estou entendendo o que você quer fazer. Mas eu quero muito sair vivo daqui! Então, se for para fazer esse sacrifício eu faço sem problema nenhum, a não ser que você não... — seu discurso foi interrompido, pois seus lábios foram bruscamente capturados por outros lábios sedentos por sua boca.
O que era para ser somente uma demostração, se tornou algo intenso.
Geralt tinha posto isso em sua cabeça "é só um beijo", mas seu peito lhe dizia "eu quero você pra mim, e quero matar quem estiver olhando para você e lhe desejando nesse momento".
Já para Jaskier, encontrar aqueles lábios novamente depois de muito tempo era como trazer de novo a sensação de estar completo. Mas ele sabia que isso era por causa da ligação e dos feromônios que o alfa soltava agora sem se importar. E aquilo revirava seu interior. Revirava seu peito, fazendo com que seu coração batesse mais rápido. Era tão bom que o pensamento de estar beijando o bruxo no meio de uma multidão já havia a tempos saído de sua mente, tinha sido capturado pelos pensamentos que se tornavam mais intensos sobre como ele poderia arrastá-lo para alguma caverna e pedir para que o bruxo lhe possuisse como se não existisse o amanhã.
— Certo, já basta. — disse o elfo, fazendo o bruxo acordar daquele curto momento de plena felicidade.
Quando Jaskier teve sua boca separada do bruxo, ele ainda se encontrava em um estado de transe, sua boca entreaberta e com seu olhar perdido para o bruxo, ao mesmo tempo em que um pequeno sorriso de canto aparecia de forma espontânea.
Geralt sentiu seu coração palpitar ao ver aquele olhar, e quase deixou se levar, mas sua força de vontade e seu foco na situação ali foram mais fortes.
— Pronto. Agora podemos passar? — perguntou o bruxo, tentando ser consiso.
O elfo abaixou o arco, e sorriu enigmático.
— Peguem eles dois. — ordenou aos elfos, que logo vieram para cima dos dois.
Geralt não fez nada não porque não poderia, ele sabia que poderia dar conta daquele grupo de quantidade mediana, mas sua mente sempre pensava na cria que havia no bardo.
— O que?! Espera! Mas porquê?! — questionou Jaskier, despertando somente quando os elfos lhe empurraram para frente para que pudesse andar. Aassustou-se, tentando resistir, mas Geralt lhe deu sinal para que obedecesse, e confiando na confiança do bruxo, o moreno parou de resistir e foi para seu lado, sentindo-se estranho, pois ao mesmo tempo em que seu corpo vibrava, seu coração estava apertado, como se ele tivesse que proteger a todo custo algo mas não sabia o que era.
Logo pensou que pudesse ser um instinto de auto preservação, afinal, nunca esteve numa enrrascada em que envolvia um grupo de elfos lhe mirando com ares assassinos.
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Trancados numa espécie de masmorra, só que feita de terra, pedras e pedaços de madeira, Geralt e Jaskier se mantinham em silêncio naquela penumbra, já que também só havia uma vela no chão os iluminando naquele local.
Mas o bardo o tempo todo andava para lá e pra cá, tentando ver o máximo que podia lá pra fora, tentando ver algum movimento ou ouvir alguma conversa.
— O que será que farão conosco?
— Fique calmo. O que eles estiverem pensando, não vou deixar acontecer. — disse o bruxo, sentado ali recostado contra uma parede de pedra.
— Está muito tranquilo. Isso quer dizer que você tem um plano?
— Hm. Tenho. — respondeu, sem querer dar mais detalhes.
E claro, Jaskier não iria ficar satisfeito só com aquela resposta.
— E esse plano, tem algo a ver com você conhecer alguém poderoso entre eles? É a única coisa que me vem a mente.
Geralt não respondeu dessa vez.
Ah, se o bardo soubesse que o plano seria ele, quer dizer, que ele seria o ingrediente principal para o que o bruxo planejava, com certeza já estaria pondo milhares de impedimentos ou reclamações.
O plano consistia em o bruxo provocar o bardo até um certo ponto em que o seu outro lado, o Julian, aparecesse.
Geralt já tinha entendido que o moreno em sua outra personalidade era uma criatura ímpar, que agia pelos instintos. Mas também entendeu que era domável até certo ponto. Um tanto difícil, mas possível de se trabalhar. E ia agora usar isso ao seu favor, já que estava sem suas armas e seus elixires. Tudo havia sido pego pelos elfos.
Poderia usar seus Sinais, mas isso seria o último recurso, como um plano "B", e além disso, tinha sido envenenado pelos elfos para que isso fosse bloqueado. Era temporário, o que lhe acalmava um pouco. E essa chance ele ia deixar tudo para ser usado caso Jaskier estivesse em uma condição crítica de perigo insolucionável.
— Vamos dizer que eu conheço sim uma pessoa poderosa.
— Bom, isso é bom. Então, quando vamos começar a agir?
— A hora que você quiser. — disse, se levantando e caminhando lentamente em direção ao bardo, que estava recostado ao lado da pequena janelinha, com a abertura de não mais que um palmo, e que deixava passar um pouco de ar para dentro da cela.
— Então que seja agora! O quanto antes melhor! Faço qualquer coisa para sair daqui.
— Você quem pediu.
No segundo seguinte, Jaskier foi empurrado contra a parede e tido seus lábios capturados pelo bruxo que não economizou na abordagem, tomando aquela boca com voracidade e um desejo contido querendo sair com tudo, mesmo que a mente do bruxo lhe dissesse que só era um plano.
Sim, só era um plano. Um tanto perigoso, e altamente irresistível.
De início Jaskier tentou resistir, tentou afastar de si aquela parede de músculos que lhe mantinha sem nenhum problema contra a parede. Mas quando seu coração começou a palpitar, assim como suas partes começaram a ganhar uma quentura e pulsação mais prazerosa, seu corpo se entregou.
Esquecendo-se completamente daquelas regras ou daquele juramento do bruxo em nunca mais lhe tocar...
Tudo o que ele queriagora era se agarrar ao outro, querendo do mais daquela boca, mais daquelas mãos tocando seu corpo, e mais de todo aquele bruxo...
E a queda naquela armadilha foi totalmente um sucesso quando Geralt começou a soltar seus feromônios, fazendo o bardo ficar tonto e com a boca seca depois que o beijo parou.
— Geralt... — sussurrou, respirando rápidamente — O que você...?
O bruxo lhe mirou, e quando viu que ainda não era o seu outro lado, voltou com os beijos e todos aqueles toques ardentes pelo corpo do bardo, apertando duas nádegas, aproximando seu corpo para si. E vendo o resultado de suas provocações, sentiu o membro do menor já vivo dentro de suas calças sendo roçado contra o seu.
— Cadê você ein? — perguntou o bruxo, sempre parando para ver se o "Julian" vinha. E quando via que não, partia mais uma vez para o ataque à aquela boca.
— Estou aqui Geralt... Estou aqui... Droga... — disse Jaskier, pondo seus braços ao redor do pescoço do bruxo, dando sinal para que o maior lhe suspendesse do chão e fosse prensá-lo mais na parede.
— Não... Você não... — disse Geralt entre os beijos, afundando suas mãos naqueles cabelos castanhos e macios.
Jaskier sentiu arrepiar-se todo quando aquela mão desceu para sua nuca, acariciando e puxando-o para ficar mais colado naqueles lábios.
Geralt estava ficando também muito tentado a ceder de uma vez a seus desejos, querendo se esquecer de seu plano e tomar aquele bardo metido para si, fazê-lo entender que é seu, e que nenhum princípe iria tocar no que era dele.
— Pensei que tivesse prometido não me tocar... — lembrou, gemendo quando o bruxo abaixou sua boca para seu pescoço, lhe dando um chupão forte, seguido de uma leve mordida.
— Sim, eu prometi. — ouvir aquilo tinha feito o bruxo acordar um pouco daquele turpor de desejo, e antes que fosse tomado por aqueles sentimentos, se afastou do bardo — Merda. — xingou, se afastando.
— Geralt, tudo bem, podemos esquecer isso e...
— Não. — disse o bruxo, de maneira mais firme, e evitando olhar para o moreno, ou então sucumbiria.
— Não? Porquê não? — perguntou o bardo, ficando intrigado.
— Não é você quem eu quero. — respondeu secamente, olhando-o o mais friamente que podia.
Mesmo que aquilo lhe doesse o peito...
Ouvir o bruxo dizendo aquilo pra ele e de maneira tão rude, fez seu coração se apertar. E pior, sua mente começou a trabalhar, entendendo qual era o tal plano do alfa.
— Seu... seu... Seu grande canalha! — esbravejou, indo até o mesmo e lhe empurrando, querendo estapeá-lo e socá-lo, mas o bruxo logo pegou seus pulsos, contendo-o fácilmente.
— Você disse que faria qualquer coisa! — lembrou o bruxo.
— Mas não pensei que fosse ser isso! Você... Você estava só me usando! Como eu pude...
— Como eu "pude" o quê? Você e eu sabemos que não existe nada entre nós dois!
— Ha ha, você deve ter se esquecido que estamos ligados! Eu sei o que você sente!
— Sim! E é por eu também saber sobre o que você sente, o que quer dizer que é nada, que tentei fazer esse plano! Porra! Você sabe Jaskier. Sabe o que sinto. Mas sabe de uma coisa? Tô pouco me linchando se eu não sou correspondido! — o menor lhe encarou confuso — E ficarei muito feliz no momento em que acharmos essa maldita quebra de nossas marcas. Pois assim estarei livre de você! Livre para ter quem eu quiser! Um beta, um ômega, uma alfa, a merda que for!
Um arrepio frio e doloroso passou pela espinha do moreno...
— Nã-ão... — Jaskier gaguejou um murmúrio, sentindo-se sufocar. De repente, sentiu uma dor no peito, e caiu ajoelhado no chão.
— Jaskier?! — o bruxo logo foi até o mesmo, temendo ter passado dos limites em seu desabafo. Se xingava mentalmente por ter esquecido que aquele ômega não podia passar estresses desse tipo por ele estar na condição que estava — Jaskier, fale comigo?!
Quando suas mãos pousaram nos ombros do bardo, recebeu em si duas mãos com garras afiadas indo direto em seu toráx.
Caindo no chão, e tendo o moreno agora montado em seu quadril, Geralt levantou cautelosamente o rosto do bardo.
E lá estava quem ele queria.
Com os olhos brilhando vívidos em um tom de lilás e com um olhar feroz em si, rosnando e respirando pesado, o bruxo tentou se levantar, mais foi impedido quando aquelas garras afundaram mais ainda em seus músculos.
— Julian.
— Geralt... Meu!!!! — gritou a plenos pulmões, totalmente furioso.
— Saia de cima de mim, agora Julian! — disse, bastante firme.
— Não querer! Não... deixar. Você, meu!
Por mais doido que fosse, Geralt teve a estranha vontade de sorrir.
— Sim Julian, sou seu...
Aquelas palavras fizeram o ômega suavizar sua expressão, e no lugar do rosnado, um choramingo que parecia a de um cão perdido fez com que o bruxo sentisse seu coração aquecer.
— Todo... Meu. Ninguém mais.
— Sim, Julian. Se depender de mim eu serei só seu. — o bruxo pôs uma mão em seu rosto, e logo o moreno deitou de leve sua cabeça ali na palma, fechando os olhos.
Havia algumas lágrimas se formando nos olhos do ômega, que se abaixou, unindo sua testa com a do bruxo.
— Não querer ir... Querer ficar. Eu e você. Juntar... Juntos. Por... favor.
— Você realmente está melhorando e aumentando seu vocabulário... — comentou o bruxo percebendo esse detalhe, dando um selar de leve nos lábios do moreno — E quanto ao seu pedido... Não sou eu quem decide.
— Lutar... Lute. Não deixar... nós dois.
O tom daquela criatura era tão desesperada que nem parecia que segundos antes queria dilacerar o bruxo por puro ciúmes de ter ouvido e imaginado que o seu alfa com outra pessoa.
— Como eu disse, não está em minhas mãos.
Julian rosnou bravo.
— Geralt! Meu! Só meu! Sim, você lutar! Sim! — insistiu, abaixando até o bruxo, atacando sua boca.
Geralt não podia resistir, nem se quisesse. Os feromônios daquele ômega estavam muito fortes, e isso misturado a dor das garras fincadas em seu toráx deixava tudo mais intenso.
— Não faça isso... — grunhiu o bruxo, quando sentiu o ômega fazer seu quadril ir para frente e para trás, friccionando seu membro contra o dele. E o impedimento dos tecidos fazia tudo ficar mais irresistível e com uma crescente lúxuria por quererem se livrar daquele limites.
— Eu querer... — disse, deslocando suas unhas do tórax e já pondo todas garras de fora para tentar rasgar as roupas do bruxo, que tentava inútilmente impedir.
Geralt estava ficando muito tentado a ceder...
Mas foi salvo no segundo seguinte quando alguém abriu a cela, já ordenando para que os dois ali no chão se ajoelhassem.
Mas quem disse que isso foi obedecido?
Em fúria por ter sido interrompido, Julian parou tudo o que estava fazendo com o bruxo e se virou ameaçadoramente para os três elfos, que assim que viram os olhos lilás do moreno, paralisaram.
— Deuses... Esse é um... Um...
— Um Ômega Lúpus! — gritou outro, dando um passo para trás.
— Temos que avisar ao nosso líder! — disse o terceiro, já correndo para a saída.
Mas foi tarde demais.
Antes que até o bruxo ordenasse para que Julian não fizesse seu ataque, o moreno já tinha partido pra cima do elfo e o estraçalhara no chão.
Horrorizados com o estripamento do elfo, os dois outros correram em disparada.
— Julian! Pare! Agora! — ordenou o bruxo, e para sua surpresa, o ômega lhe obedeceu, virando-se para ele com um sorriso sangrento de modo predador.
— Ninguém mais... atrapalhar... Ninguém. — os lábios já estavam cheios de sangue de elfo, e parece que o mesmo não se importava com isso, pois seu olhar para o bruxo transmitia até uma certa inocência, o que deixava sua aparência mais sombria, pois contrastava com suas ações assassinas.
— Agora não Julian. Temos que sair daqui primeiro. Está me entendendo? — questionou, recebendo do menor um balançar positivo de cabeça.
— Mas... Depois... Poder... poder nós dois?
Geralt teve uma vontade de sorrir por achar meigo aquele jeito do ômega.
— Veremos. — respondeu.
— Prometer?
— Não posso prometer enquanto estivermos aqui em perigo. — Geralt realmente não podia mentir para aquela personalidade, e também não podia prometer em falso. Não conhecia muito bem até que ponto o ômega entendia o que era ou não verdadeiro, mas em caso de dúvida, o bruxo preferiria ser honesto.
— Sim. Sair do perigo. Eu e você. E depois... Você meu. Todo meu. — sorriu, abraçando fortemente o bruxo pelo seu torço.
E claro, o bruxo retribuiu sem pestanejar dessa vez.
— Sim, serei seu o quanto quiser e o que for possível. — disse.
Era uma afirmação verdadeira, e Geralt desejava do fundo de seu coração que Jaskier também o aceitasse, assim como Julian o fazia.
Saindo das masmorras, ambos encontraram pela frente um caminho cheio de corredores e becos sem saída, e quanto mais pareciam que estavam perto da sair, mas se perdiam.
E para o bruxo, estava sendo estranho isso, pois quando os levaram para prendê-los naquela cela, o percurso tinha sido curto.
Julian rosnou, seu olhos varrendo por todos os lados enquanto farejava.
— Coisa... Ruim. — disse.
— Sim, estou sentindo isso também. Aconteça o que acontecer, não saía de perto de mim... — mal falou e logo teve seu corpo abraçado — Não dessa maneira Julian. Agora me larga, ou então não poderei lhe proteger direito.
O ômega lhe soltou, ficando com cara de cachorro abandonado. Geralt quase por um momento pediu que ele voltasse a abraçá-lo e só o soltasse quando fosse de sua vontade, mas aquele momento não seria hora para isso.
— Vocês nunca saírão daqui. — disse uma voz grave ao longe.
— Matar...! — murmurou o moreno, farejando ao seu redor, tentando buscar ávidamente sua presa.
— Se concentre em achar a saída, Julian.
O ômega olhou para o bruxo e sorriu um pouco tímido.
— Meu nome... Gostar ouvir... Geralt falar...
Era impossível manter o foco quando se tinha um ômega lúpus feroz lhe mirando com tanto afeto. E Geralt pensou que isso pudesse ser até mais perigoso do que os feromônios, pois aqueles olhares... Aquele sorriso... Fazia seu peito aquecer de uma forma maravilhosa e anormal que tinha como consequência ele fazer tudo o que o outro pedisse ou quisesse.
— Também gosto de ouvir você me chamar. — disse, num impulso de sinceridade, fazendo o moreno desfocar da voz e prestar atenção só em si, o que resultou de Julian caminhando novamente para agarrá-lo, mas antes que isso acontecesse, o bruxo pôs suas mãos nos ombros do outro — Se concentre em achar a saída, e prometo fazer o que você pedir.
As pupílas do ômega dilataram-se assim como seus olhos lilás se intensificaram.
— Sim, achar... Saída! — e virou-se novamente para o corredor, farejando tudo.
Às vezes pelo caminho ambos encontravam armadilhas artesanais, e em outras, alguma espécie de mistura química que fazia o ar ficar mais pesado e difícil respirar, mas os sentidos aguçados tanto do bruxo quanto do moreno lhes ajudava a ir para outro caminho mais seguro.
Esse sucesso contra as defesas começaram a deixar os elfos preocupados...
— Parem! Agora! — ordenou dessa vez uma voz feminina.
— Você... Matar...! — murmurou Julian dando um passo à frente, mas Geralt lhe segurou por um pulso, e o mesmo parou na hora, surpreendentemente obedecendo a aquela ordem silênciosa do bruxo.
— Vejo que estamos em desvantagem... — disse agora um elfo aparecendo ali ao lado da elfa — Podemos negociar.
Geralt deu um pequeno armargo riso contido.
— É mesmo? Depois de um elfo ser estripado vocês querem conversar?
Os dois elfos se entreolharam.
— Talvez nossa cautela tenha nos custado. Mas não poderiamos baixar a guarda para ninguém. E nem agora. — disse a elfa.
— Sim. Vários de vocês já vieram aqui e já nos atraparam em diversas armadilhas, levando muitos dos nossos. — disse o outro.
— Eu já disse, não somos quem vocês pensam que somos. Eu e... Ele, só estávamos procurando algum lugar para descansar. Estamos procurando por uma cura que pode estar ao sul dessa região. Nada mais.
— Que tipo de cura é essa? — perguntou o elfo.
Geralt olhou para Julian, e começou a pensar numa escolha de palavras que não fosse afetá-lo, afinal, ele mesmo tinha prometido que iria ficar com ele no final do dia e deu a entender que o queria permanentemente, e falar agora sobre uma quebra de marcação poderia por tudo ali em risco.
E se deparar com a fúria daquele espécime raro de ômega, era a última coisa que ele gostaria de ver acontecer.
— Vamos dizer que há coisas entre um alfa e ômega que podem ser impossíveis de desfazer. Mas ouvimos que há sim uma solução. — disse Geralt. Julian lhe mirou confuso, tentando entender o que havia dito.
Mas claro, os dois elfos ali em sua frente entenderam perfeitamente.
— Isso é uma lenda. Mas assim como outras lendas, sempre há um grão de veracidade. — disse a elfa — Porque querem isso? Sei que em seus mundos há situações erráticas e desonrosas e passíveis de um desejo desse, mas... No caso de vocês dois eu sinto uma ligação muito forte, muito além dessas suas marcações.
Geralt tensionou o maxilar, pensando na observação da mulher.
Ah, ele sabia. Pelo menos de sua parte, sua ligação com o bardo era forte, como nunca imaginou que pudesse acontecer com alguém em toda a sua longa vida. E ficava feliz de pelo menos a outra parte gostar dele. Mas sua felicidade seria completa se Jaskier também lhe desse aquele olhar que Julian lhe fazia.
Mas, havia coisas maiores que os sentimentos de um relés mercenário bruxo...
— Ele sim. Mas sua outra parte não. E essa parte que tem suas decisões de vida. E se ele quer assim, não posso deixar de procurar pela sua liberdade. — respondeu Geralt.
— É muito curioso de sua parte, uma alfa, deixar um ômega ter suas escolhas... — comentou o elfo, intrigado — Se é assim... Eu posso dizer uma informação, muito valiosa, e em troca, nó queremos um pouco do poder de seu marcado.
Geralt franziu o cenho.
— Poder? De que merda você está falando?
— Você não sabe? — indagou a elfa com um semblante orgulhoso — Todo ser como ele tem um poder puro e selvagem dentro de si. E são conhecidos por se personificarem. Eu somente havia ouvido histórias disso, mas agora vendo um assim... É fascinante. — olhou o bardo dos pés a cabeça como se ele fosse um bom pedaço de carne — Como deve já ter entendido nossa situação, nós precisamos de uma arma, algo para atacar e defender. E à alguns anos, esses malditos Nilfgaardianos celaram nossas fontes de poder nessas regiões. Não podemos mais trabalhar com a magia que retirávamos na natureza também. E tivemos que nos adaptar.
O bruxo logo entendeu qual era essa adaptação...
— Não vou deixar que toquem nele. — Geralt se pôs numa posição firme, olhando-os sériamente.
O elfo então deu um passo à frente, olhou fixamente para o moreno e deu um sorriso.
— Ele realmente está carregando uma cria... Veja, acho que você bruxo, está numa situação delicada. Ele quer se livrar de você, e você quer desfazer isso também. Como é então que vocês ainda mantém isso? — apontou para a barriga do bardo ao dar mais um passo a frente, mas Julian rosnou feroz, fazendo o elfo recuar — Oh...! — olhou para os olhos lilases e selváticos do ômega, depois olhou para o bruxo, que agora exibia uma tensa expressão — Acho que entendi o que está acontecendo aqui.
— Diga uma merda e verá do que eu sou capaz. — ameaçou o bruxo.
— Imagina se... — continuou a elfa agora — Se outro lado dele souber disso?
— Cale a boca! — grunhiu o bruxo.
— Não, não... Isso é errado. Tudo está errado. Você, bruxo, está fazendo uma coisa, mas por de trás faz outra. Acho que agora todos nós sabemos aqui que manter essa cria é um problema grandioso, não acha?
— Já disse, se encostarem um dedo nele, acabo com vocês.
Os dois elfos se entreolharam novamente.
— Se vocês entregarem essa cria, podemos dizer o nome da cidade onde esta possívelmente lenda. É uma pista, pode ser que não seja verdadeira, mas pode ser também que vocês encontrem e tudo seja verídico e feito.
Esse era um dos maiores medos do bruxo, o dia em que chegasse o momento em que Jaskier soubesse da gravidez.
Estava tão feliz de ter uma parte sua que estava germinando dentro da pessoa que ele sentia tanto... amor. Sim, ali ele poderia admitir internamente que estava caído por aquele ômega. E dentro do seu eu sabia que não era por alguma influência de feromônios ou qualquer coisa do tipo, pois seus sentimentos se iniciaram pelo moreno até muito antes de conhecê-lo realmente naquele porão.
— Agradeço pela oferta. Mas minha decisão sobre não deixar nenhum merda encostar nele ainda está firme. — o bruxo olhou para o moreno que lhe mirava confuso, talvez esperando alguma ordem.
Era mesmo isso? Aquela parte selvagem estava pedindo por sua orientação e permissão?
Bom, Geralt iria descobrir ali agora.
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