Primeiro caem num foço, uma mulher misteriosa aparece de repente e os ajuda, e agora para aumentar a sorte eles se deparam com um dragão passando pelos céus. Isso era demais para uma coincidência. Principalmente porque era exatamente isso que buscavam.
Geralt e Jaskier seguiram para a direção onde a moça indicara, e também seguiram os rastros daquele dragão que quando passou deixou indícios de destruição nas árvores por onde ele foi raspando as garras.
— Parece até que ele queria que seguíssemos seus rastros. — observou o bardo após chegarem na entrada de uma gruta.
— Hm. — o bruxo grunhiu em concordância — Mesmo se for, não podemos desistir agora. — quando olhou pro lado, viu o mesmo encolhido e um pouco trêmulo — Jaskier? O que houve?
— Geralt, tenho que te contar uma coisa, é sobre uma lenda... Mas não sei se Yennefer me contava somente para entreter e assustar ou se isso era uma verdade, mas eu lembro até hoje... Bom, a lenda fala sobre ômegas lúpus serem a comida favorita de dragões por conta do sabor de nosso sangue ser muito atrativo para eles, é como se estivessem se deleitando em um manjar.
— Pensei que vocês e os alfas lúpus estivessem no topo da cadeia alimentar e de poder, então são dragões?
— Parece que sim. Mas é como eu disse, é só uma lenda. E espero que seja somente isso. Mas não podia deixar de contar, eu... Não sei direito, mas até Julian está se revirando aqui dentro. — disse Jaskier, apontando para sua cabeça e peito.
Geralt arqueou uma sobrancelha. Nunca tinha visto até agora o outro lado temer algo, e se estava reagido dessa maneira, algo ali naquela situação não estava certa.
Pra começo de conversa, eles estarem ali seguindo pistas muito suspeitas já era algo bem errático. Mas tinham que arriscar.
— Parece não haver nada. — Jaskier farejou o ar, deu um passo para mais perto, mas nada aconteceu — Geralt? Porque está me olhando assim?
— Nada. Só... Vamos entrar. — disse, tirando uma espada da costa e passando pelo bardo para entrar primeiro.
Se Jaskier soubesse o quanto o bruxo estava achando atraente aquele jeito investigativo... suas maneiras pareciam a de uma fera tentando deixar o seu precioso tesouro longe de qualquer problema. Geralt se perguntava se esse era Julian influenciando no jeito do bardo ou se era mesmo Jaskier e seu recém desperto instinto de proteção.
Mas de qualquer forma, Geralt estava adorando ser um pouco cuidado, mas também tinha aquela parte incômoda em seu peito por conta da preocupação pela saúde física do moreno. Lhe causava pavor imaginar que ele pudesse se ferir gravemente.
Assim os dois entraram. Tudo estava calmo e deserto. O único som era do vento que entrava e zunia pelos cantos e estalactites. O espaço era bem amplo, e qualquer som que fizessem era ouvido, como o respirar ou os passos que acidentalmente quebravam algum pedregulho ou os micros pedacinhos de cristais que estavam espalhados por todos os lados.
— Acho que estamos indo pelo caminho certo. Olha só essas pedrinhas. — Jaskier se abaixou para pegar algumas, eram tão coloridas que ele não resistiu em pegar algumas e colocar no bolso.
— É pra ela? — perguntou o bruxo parando ao lado do moreno, que ficou sem jeito.
— Bom, sim... Eu... Queria fazer algo pra ela. Algo bonito. Já que até agora eu não fiz nada para presenteá-la...
— Você já fez isso Jaskier. — Geralt disse, pegando uma mão do bardo na sua — Você a teve. Cuidou dela até agora e está se esforçando para ser um bom pai. O seu amor já é o suficiente.
Jaskier sentiu seus olhos arderem e se encherem de lágrimas.
— Ainda está sob o efeito dos feromônios do último nó? — riu e pôs uma mão no rosto do alfa, acariciando-o com o polegar.
— Já estou sóbrio o suficiente. Mas creio que vou ficar embriagado pra sempre por ter você ao meu lado.
— Chega Geralt — o bardo sorriu mais abertamente e se aproximou, dando um selar longo nos lábios do maior —, desse jeito vou ficar abaixando a guarda... Não sabia que bruxos podiam ser tão românticos assim.
Geralt deu de ombros, e puxou o bardo pela cintura, lhe dando um beijo até que lhe faltassem o fôlego.
— Vamos pegar logo esses cristais. — disse assim que separou as bocas e percebeu um leve e crescente soltar de feromônios excitados vindo do bardo, e como sabia que aquilo só ia evoluir, tratou de colocá-lo no foco da missão novamente.
Mas no fundo, na verdade, queria logo terminar aquilo para depois fazer... Aquilo. Estava começando a ficar ansioso para isso.
Caminharam o mais silenciosamente que podiam, sempre olhando para todos os lados, e quanto mais adentravam naquela gruta, mais gélido o ar ficava.
— Olha Geralt! Ovos de dragão! — sussurrou o bardo, e antes que fosse dar mais um passo na direção do ninho que estava rodeado de muitos cristais, até os obsidianos, o bruxo o impediu pondo uma mão em seu ombro — Não há perigo. Não queremos os ovos. Só cristais.
— Jaskier, se há ovos, isso significa que...
Antes que pudesse completar sua sentença, alguém atrás dos dois se pronunciou.
— A progenitora desses ovos está bem mal, mas graças aos deuses, consegui achar a cura para ela. E o melhor, sem muito esforço.
Era aquela moça!
Automáticamente, Geralt apontou sua espada, e no instinto, jogou a outra espada, a de aço comum, para Jaskier. Mesmo de mal jeito, conseguiu pegar e se por numa postura mais defensiva, e sem perceber, começou a rosnar baixo na direção da mulher, que se mantinha séria enquanto olhava para os dois.
— Eu jurava que não existia mais de sua espécie, ômega. Mas como sempre digo... — a moça então também tirou sua espada da cintura e apontou na direção dos dois, intercalando entre um e outro — Esse mundo é grande demais para os mistérios, e pequeno demais para o que já é conhecido.
— Saskia, não é? — Geralt lembrou do seu nome, e a moça acenou com a cabeça — O que você quer? Aliás, se veio até aqui porque pensa que vamos mexer com esses ovos, pode jogar fora esse pensamento. Não queremos nada além do cristal.
— E eu quero esse ômega. — disse a mulher, agora estava em vestes diferentes, estava com uma espécie de armadura que se assemelhava a uma couraça de dragão. Jaskier franziu o cenho.
— O seu cheiro... — o bardo começou, e olhou novamente para os ovos — Céus... Geralt... Essa moça... Essa moça é...
Não conseguiu terminar, logo um ataque feroz veio pra cima de si, e se não fosse pelo bruxo e sua exímia esgrima, Jaskier já estaria com um corte profundo no peito.
Chocado pelo golpe, Jaskier caiu de bunda no chão, mas não se demorou para se levantar e com a pouca coragem que tinha, também ir pra cima da mulher.
Ambos, bruxo e bardo atacavam-na as suas maneiras, a força dela era sobrehumana, e seus olhos ficavam mais azuis a cada vez que recebia uma investida mais habilidadosa do alfa, que também se defendia de outros golpes mais rápidos da moça.
— Jaskier!
— Estou bem! Continue! Não deixe essa louca nos intimidar! — disse, enraivecido.
Não sabia em que momento tinha levado aquele corte na coxa, mas agora sangrava muito, sujando os cristais ao redor do ninho. E como medida de urgência para poder estancar o sangue, rasgou a beira de seu manto de frio e amarrou ao redor do corte, impedindo que o sangue jorrasse tanto.
Geralt e Saskia por outro lado, estavam em uma batalha muito difícil. O bruxo colocava em prática tudo que aprendera, mas sua força era vencida pela força daquela mulher, estava claro a desvantagem.
E Jaskier, vendo que seu amor estava em apuros, começou a pensar logo em uma maneira de igualar aquilo.
Suas vistas logo pararam nos ovos...
De repente Geralt caiu, ferido após a mulher cravar sua espada na barriga do bruxo.
Foi aí que o bardo deixou todo seus princípios de bondade de lado...
— Então quer dizer que você está guardando esses ovos, mas também me quer. Hm, interessante. — Jaskier começou seu discurso, tendo atenção da mulher, que arregalou os olhos e empalideceu ao ver o que o bardo estava prestes a fazer.
— Eu juro, que se fizer isso não terá seu alfa vivo. — ameaçou a moça.
— Nah, de qualquer forma, eu vou ganhar. Eu estou em vantagem agora. Meu alfa vai ficar bem, isso eu garanto. Agora seus ovos... — Jaskier então pôs o ovo no chão sob um de seus pés, e começou a pisar com uma força mediana, fazendo a casca trincar.
A moça engoliu em seco.
Ovos de dragões não são fáceis de se quebrar. Muito menos com alguém pisando. Muitos até já tentaram quebrar batendo com pedras, mas a casca é tão dura que é comparável a uma pedra preciosa, como um rubi ou talvez até a um diamante.
Mas a moça, cega em sua batalha com o bruxo, e também pensando que o ômega fosse congelar por ter seu alfa ferido ali, não esperava que o moreno fosse fazer aquilo tão cedo.
— Isso é alguma retaliação pelo que já fizemos com sua espécie? — perguntou Saskia.
— Realmente, eu não tenho a mínima idéia do que vocês já fizeram. Só conheço lendas pra assustar crianças. Mas isso não me importa, o que me importa é o que você vai fazer aqui e agora. Então o que vai ser? Vai deixar eu e meu bruxo pegar esses cristais em paz ou vai continuar a nos importunar?
A moça olhou mais seriamente para o bardo, principalmente por perceber a voz sair duplicada dessa vez.
— Eu não posso deixá-lo ir. A uma mãe precisando de seu sangue e sua carne. E fresco. E tem esses ovos para serem alimentados quando eles chocarem.
— Sinto muito por isso. Eu tenho uma filha para voltar. Também tenho minha cria para criar e alimentar. É um mundo cruel.
— Sim, é um mundo cruel. — no mesmo instante em que a moça acabou dizer aquelas palavras, jogou a espada no chão e de repente começou a rugir.
— Oh... Merda... — xingou Jaskier ao ver o que tinha provocado.
Saskia estava deixando de lado sua forma humana, e no lugar de uma pele macia e de carne que parecia frágil, estava aparecendo uma couraça dura e muito resistente. Em suas costas se criavam duas asas de couro e ossos, seu rosto bonito deu lugar a um bico cheio de dentes e um olhar feroz que apresentavam duas esmeraldas que brilhavam naquela pouca luz da gruta.
A moça era nada mais nada menos que um dragão!
Assim que sua transformação se fez completa, cuspiu fogo para o teto, fazendo algumas estalactites caírem. Geralt teve que se esforçar e se arrastar pro lado antes que uma o empalasse, e já Jaskier teve que pegar o ovo do chão e práticamente pular para dentro do ninho.
"Eu nunca tinha visto um de perto...!". Admirou o bardo por ver aquele dragão em sua fúria.
— Não vou te matar agora, preciso de seu sangue, e sua carne. Ou você colabora, ou então farei de seu bruxo um pedaço de carvão.
— Sério? E quanto aos seus ovos?
— Não são meus ovos! A verdadeira mãe está muito mal. Precisa do sangue de sua espécie para a cura. Sangue fresco. Direto da fonte.
— E eu preciso de cristais! Estamos num impasse aqui! — Jaskier novamente pegou um ovo, mas agora manteve um em sua mão, e como se tivesse orado a alguém, no segundo seguinte seus olhos ficaram liláses, e um sorriso sombrio apareceu em sua boca.
— Não tenho medo de vocês! — rugiu Saskia.
— Sangue... Eu posso dar. Em troca... Não matar bebês. — disse, em uma surpreendente atitude de acordo. Assustando pouco o bruxo, já que o ômega estava práticamente permitindo que aquela dragão fosse lhe capturar.
— Julian, não faça isso!
— Eu saber Geralt... Saber o que fazer. — disse para o bruxo, sorrindo feliz por vê-lo.
— Assim tão fácil? Pensa que não sei de suas armadilhas? — Saskia rugiu — Criatura tola e traiçoeira... Não há como me enganar. Conheço muito bem a sua raça!
— Conhecer bem? Então... Não precisar fazer isso. — quando Julian deixou o ovo de volta perto de outros, sem que a dragão esperasse, ele pulou do ninho numa velocidade assustadora, correu em sua direção, cravou suas garras na couraça perto da jugular da criatura, que rugiu em dor por ter aquele ômega pendurado e com sinais de que não soltaria por nada.
Tudo aconteceu tão rápido que mesmo com a dragão consciente de que isso pudesse acontecer, não conseguiu impedir.
Essa foi a oportunidade para Geralt tentar atacar, mesmo que sua barriga estivesse ferida. Mas tomando uma poção Andorinha rapidamente, o bruxo então se levantou com sua espada de prata e partiu pra cima da dragão, que ao ver o movimento do bruxo, logo tratou de decolar do chão e sair da gruta, levando Julian que estava agarrado em seu pescoço.
Geralt ficou com o coração apertado por ver seu bardo ser levado daquela maneira. Uma pontada de dor foi sentida no ferimento em sua barriga. E quando chegou ali fora, olhou para os lados rapidamente para ver pra aonde aquela Saskia tinha voado com o bardo.
Havia uma aflição muito grande no peito do bruxo, principalmente se a criatura resolvesse tomar uma altitude para poder arremessar o moreno lá de cima. E por mais que Jaskier e Julian fosse praticamente imortais, talvez não sobreviveriam a uma queda daquelas.
— Geralt! Você viu aquilo? Estamos com sorte! — era Eskel, e atrás dele vinham mais outros bruxos e alguns outros elfos — Voou para o oeste!
— Sim, Jaskier está com ela!
— É um dragão fêmea? Isso significa que encontrou seus ovos? — perguntou Lambert.
— Encontramos. E os cristais também. Estão naquela gruta. Vão e peguem o que puder! Eu vou atrás daquela coisa! — disse, passando pelos bruxos, mas Vesemir o parou assim que viu o ferimento na barriga.
— Você não pode ir assim Geralt, está gravemente ferido.
— Julian e Jaskier está naquele dragão! Está em perigo! Não vou deixar ninguém me impedir de ir salvá-lo! — rugiu, se afastando do mais velho.
— Eu vou com você então. — disse Vesemir, lhe dando um frasco de Andorinha — Sei que já deve ter tomado o seu, mas pegue e tome novamente, para reforçar.
Geralt acenou com a cabeça em agradecimento e tomou mais uma vez aquela poção, que na hora lhe fez doer o peito pelo nível de toxidade que novamente seu corpo teve que passar.
— Também vou com você Geralt. Um dragão não é brincadeira. Vamos. — disse Cöen, tirando sua espada das costas e já seguindo o outro bruxo. Enquanto isso, Eskel e outros elfos se encaminharam para a gruta pegar logo os cristais.
O caminho que levaram e seguiram não foi difícil de se encontrar, pois para onde olhavam ao oeste por aquela trilha, tinha rastro de destruição, seja por ter topo de árvores quebradas, ou sejam por estarem queimadas. Além também de algumas escamas caídas e ensaguentadas que às vezes estavam fincadas na neve, manchando a beleza deserta do inverno.
— Jaskier! Julian! — chamou Geralt no momento em que viu o bardo caído em um buraco feito por uma rajada de fogo de Saskia.
— Matar... Matar...!!! — disse, se levantando e saindo do buraco todo molhado da neve derretida, e já correndo em direção a criatura, que estava caída a alguns metros por entre as árvores.
A sua fúria era também grande, que nem percebeu Geralt ou os bruxos ali...
— Por deuses...! É um dragão dourado?! — perguntou Cöen ao ver a dragão.
— Não. Mas tem traços. Parece um híbrido... Talvez uma mistura de dourado e verde. — disse Vesemir, tirando sua espada das costas.
Geralt já ia para o ataque, mas mais uma vez foi impedido, dessa vez tinha sido salvo por Lambert que o empurrou antes que levasse um golpe da causa espinhosa de Saskia, que estava em fúria, sangrando na região do peito, enquanto isso cobria com uma das asas o seu pescoço, já que o ômega tentava atacá-la ali em seu ponto de fraqueza.
— Não consigo acreditar que esse ômega é o mesmo que fica agarrado à você e que é pai de sua cria Geralt. — comentou Cöen.
— Ele é tão feroz... E louco! Está enfrentando um dragão sem nada a não ser com as mãos! — admirou Lambert.
— Mas temos que fazer algo, antes que alguma coisa aconteça, vamos! — orientou Vesemir e deu um sinal para todos os três bruxos lhe seguirem no ataque a criatura.
Como se tivessem se combinando pelo olhar, todos lançaram ao mesmo tempo um Sinal de Axii, fazendo a dragão ficar paralisada no chão, se debatendo para se soltar daquela influencia invisível que a prendia.
Claro, vários rugidos ensurdecedores foram soltos, além de várias tentativas de soltar rajadas de fogo, que eram com sucesso desviadas pelos bruxos, que ao mesmo tempo mantinham suas mãos erguidas para manter o Sinal.
Julian então novamente se aproximou, partindo pra cima do pescoço de Saskia, que sem opção, não conseguiu mais impedir que seu pescoço fosse exposto, tendo novamente um ômega cravando suas garras em sua couraça.
— Vocês se arrependeram disso! — rugiu a dragão.
— Matar!!! — rosnou Julian, arranhando como podia aquelas grossas e endurecidas escamas.
— Tenho... Algo que buscam... Algo importante...
— Sim, nós sabemos. Já vamos ter nosso ingrediente. — disse Geralt, tentando se concentrar ao máximo para manter o Sinal em harmonia junto dos outros bruxos.
— Não me entendem... Eu sei do plano do rei elfo... Sei o que verdadeiramente buscam... E se me matarem, perderam essa guerra! Sangue e morte para todos! Sangue e morte para quem amam! — rugiu feroz, mas cada vez mais cansada de tentar se proteger ou aguentar as tentativas do ômega em arrancar sua jugular.
— Como pode saber? Está nos espionando? — questionou Vesemir, e Saskia riu.
— Eu sei, eu vejo desespero. Vejo elfos sendo massacrados. Bruxos extintos. Sem mim não conseguiram nada! Sei aonde está o verdadeiro herdeiro ao trono do império do sul!
A menção daquilo fez os bruxos se entreolharem pensativos.
— Julian! Pare! Agora! — gritou Geralt, fazendo o moreno acordar um pouco de sua ira.
— Matar monstro cospe fogo! Matar quem quer machucar Geralt!
— Sim, mas agora não.
— Porquê?!
— Porque se matar ela agora, vai me deixar chateado, porque eu quero respostas dela. — disse o bruxo, e logo o ômega fez uma expressão arrependida, tirando suas garras da garganta da criatura e correndo para perto de Geralt, o abraçando pelo torço, e como das outras vezes, sujando sua armadura de sangue.
— Por favor... Não querer fazer meu ficar triste. Não quero ser mal para meu Geralt. Me... desculpar? — disse, enterrando seu rosto no toráx do bruxo, que olhou de soslaio para outros bruxos, que lhe miravam com sobrancelhas arqueadas e um tanto risonhas.
— Tudo bem eu desculpo, não estou triste, mas vou ficar se não ouvir o que peço. Entende Julian?
— Sim! Entender. Entender tudo! — sussurrou baixinho, ainda abraçando o torço do alfa.
— Hm... Certo, então vamos soltar esse dragão e conversar com ela? Assim? Sem mais? — questionou Lambert.
— É a nossa única opção. — Geralt deu de ombros — É o risco. Mas qualquer coisa... Temos quem possa dar cabo e conta disso. — disse, apontando de leve com a cabeça em direção ao moreno, e todos os outros se entreolharam novamente um tanto incertos às suas seguranças físicas.
Mas decidiram dar um voto de confiança para Geralt e seu ômega. E também para a dragão, que agora parecia querer colaborar e dialogar, já que se viu em desvantagem.
Libertando a criatura dos Sinais, os bruxos sem hesitar pegaram suas espadas e apontaram para Saskia, que soltou um rugido muito alto para extravasar sua frustração de estar sendo encurralada por todos aqueles seres que até então ela achava inferior em questão de poder.
— Pronto, pode começar a falar. — disse Geralt.
A dragão fêmea lhe mirou com irritação, e bufou soltando fumaça pelas narinas, mas resolveu abaixar suas asas e encolher sua calda para dar um ar mais "submissa", mas por dentro, pensava numa maneira de dar a volta por cima.
— Devem conhecer meu progenitor, o dragão dourado Villentretenmerth, mais conhecido entre vocês humanos como Borch Três Gralhas.
Geralt franziu o cenho ao reconhecer o nome.
— Está me dizendo que ele teve uma cria? Você é um daqueles ovos da caçada na montanha do reino de Caingorn ao qual impedi o assassinato das crias daquela criatura? — questionou o bruxo, e ela fez que sim.
O destino é mesmo um grande piadista... Geralt esteve nessa caçada, e ajudou Três Gralhas a salvar os ovos da dragão verde que tinha sido envenenada e caçada pelas milícias que acreditavam no tesouro que guardava.
E agora ali, na sua frente, estava uma cria daquele dragão dourado.
— Meu nome verdadeiro é Saesenthessis. E agora vejo que... — bufou, soltando mais fumaça — Posso ter cometido um grande erro. Então você é o bruxo do qual meu pai me contara. O bruxo sem ambição de caçar dragões. Sim, sou um dos ovos que vingaram, e talvez a única depois daquilo. Agradeço pela misericórdia.
Saskia abaixou sua cabeça em um aceno respeitoso ao bruxo, e sem aviso, começou novamente sua metamorfose. Os outros bruxos se inquietaram pensando que a dragão fêmea pudesse estar fazendo algum golpe traiçoeiro, mas no fim só tiveram como resultado uma moça nua ali na neve, caída no chão por causa de seus ferimentos feitos por Julian.
Toda a região de seu pescoço estava arranhada e com pequenos furos das garras do Julian, parte de suas costelas estavam cheias de hematomas, e havia uma linha fina de sangue escorrendo pela sua boca.
Vesemir tomou a frente, e foi até a mesma e lhe deu seu manto para que pudesse se cobrir da nudez e também se aquecer um pouco, mesmo que a moça não exibisse algum sinal de estar com frio.
— Mas apesar de ser grata, não posso esquecer de minha missão. Não posso deixar para trás aqueles ovos, e muito menos a mãe deles. Todos precisam desse ômega. É questão de sobrevivência.
— Há sempre uma saída. Porquê tem que ser ele? Não há algum substitituto para seu ritual de cura ou o que quer seja? — perguntou Lambert.
— O sangue e a carne dele é puro poder. Toda a linhagem deles são assim. Para nós, se alimentar de um deles é considerado uma honra muito grande por conta de sua raridade. Nos faz fortes. — explicou Saskia.
— Sinto muito, mas essa honra você e nenhum dragão terá agora. Acho que já sabe o que vai acontecer se insistir em se alimentar dele. — avisou Geralt, abraçando só com um braço aquele ômega que ainda se mantinha grudado no torso dele, talvez pensando que o bruxo ainda estivesse bravo consigo.
— Então vão deixar aqueles ovos morrerem? Porque é isso o que vai acontecer se não me deixarem trazer a cura para a mãe deles. — argumentou a moça.
— Mais uma vez, sinto muito por isso. Mas se tiver alguma outra coisa que possamos fazer, faremos. Mas ninguém vai encostar em nenhum fio de cabelo dele. Está me entendendo? — alertou Geralt, recebendo um olhar hostil dela — Mas agora chega de assuntos passados, diga agora sobre a informação que você disse ter sobre a identidade do herdeiro de Nilfgaard. — lembrou.
Saskia bufou, e sentou sobre o pedaço de manto que a cobria.
— Faz semanas que sigo os elfos. Os segui desde o momento em que disseram que estavam atrás de um bruxo e um ômega lúpus que tinham invadido uma base deles lá para as terras ao sul e eliminado metade dos seus. Não podia deixar aquilo passar. Então os segui até aqui. Até ver que o que disseram era realmente verdade. E me surpreendi por não haver somente uma ômega lúpus, mas sim dois! E ainda a existência de mais outras duas e um grupo de servos leais à um alfa dessa espécie!
— Traduzindo, você foi atrás de um ingrediente e acabou achando um tesouro inteiro.
— Mas não sou gananciosa. Minha missão era só achar um. Já é o suficiente. Um bastará para salvar minha amiga e os ovos dela. — disse Saskia, amuando-se um pouco, pois sabia que não teria sucesso naquela caçada — E sobre a informação do herdeiro... Eu também ouvi dos elfos, e isso me interessou, já que também é um fato que pode ser prejudicial para minha espécie. Há muitos reinos do Sul que querem nos escravizar, e muitos reinos do Norte querem nos matar para somente ter reconhecimento de heróis. Mas entre um e outro... Prefiro uma terceira opção e uma oportunidade que não sabia que existia: a liberdade com um governante verdadeiro, sábio e bondoso para nossa raça. Todos dizem que nós, dragões, somos ameaças para vocês, mas é o contrário, são vocês que são ameaças para nós. E quando nos defendemos, nos passamos por vilões da história. Mas só estamos querendo sobreviver.
— Mas nesse caso aqui, você é quem estava ameaçando nossas vidas. Eu e ele dissemos que não queríamos machucá-la, mas você nos atacou. — lembrou Geralt.
— Mas é a única maneira! Você também faria a mesma coisa por esse ômega, bruxo. Duvido se não estivesse prestes a perder o brilho da vida, e a única opção fosse meu sangue ou aqueles ovos, duvido que não os caçaria nem que isso custasse a vida de outros! — Saskia cuspiu essa afirmação com mágoa, pois ainda tinha esperança de cumprir sua missão.
— Sim, eu poderia fazer isso. Mas também procuraria outras alternativas. Sempre há alguma, mesmo que seja paliativa.
A dragão fêmea olhou pensativa, suspirando em sua derrota.
— Bom, já que é isso que me resta, vou dar-lhes logo a informação que tenho... Conheço uma história, sobre um livro da árvore genealógica de todos os governantes de Nilfgaard. Lá está registrado todos que são parentes reais e que tem o sangue correndo em suas veias. Mas quando esse novo imperador tomou o poder, fez questão de banir esse livro. Lembro que muitos sarcedotes leais ao sangue verdadeiro fugiram com vários registros. Não sei exatamente onde eles vivem, mas quem é descente desses sarcedotes sabe onde fica.
— Ah, que legal. Então para descobrirmos quem é o herdeiro verdadeiro de Nilfgaard temos que achar um livro que está sendo guardado pelos sarcedotes e que agora quem guarda são os descendentes, então pra conseguir esse livro, temos que achar esses descendentes? Quanto trabalho... — reclamou Lambert.
— E presumo que você saiba onde está esse descedente dos sarcedotes. Se não for muito incômodo de nos poupar de tanto trabalho. — disse Vesemir.
— Perguntem à aqueles servos. Eles com certeza devem saber de algo. E não adianta negarem que não. Sei que sabem. Conheço aquela gente. Para chegarem a esse ponto de lealdade, já passaram por muitas provas de segredos e informações sigilosas.
Os bruxos olharam um para outro como quem diz que teriam uma bela dor de cabeça em breve...
— Obrigado por toda essa informação. Venha, vamos levá-la, como convidada, para nosso acampamento. — disse Geralt, e logo recebeu um rosnar do bardo — Se acalme, está sob controle agora. Tudo bem?
Julian lhe mirou como um filhote obediente, e lhe deu um rápido selar antes que perdesse a consciência e caísse em dormência nos braços do bruxo, que o pegou antes do corpo encostar na neve.
...
....
.....
E ali de longe, obsevando tudo, havia alguém fazendo notas de forma muito contente, riscando algo da lista de seu pergaminho:
— Estão no caminho certo. – disse.
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