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História Mayu - A Garota foragida


Escrita por: dpsilva

Capítulo 34 - A Garota foragida


Fanfic / Fanfiction Mayu - A Garota foragida

-Qual o seu plano? - disse Mayu. A jovem estava nitidamente agitada, nervosa. Ansiosa por não saber quanto tempo teria antes de haver inúmeras viaturas com policiais à sua procura.

-Que plano? - Ayumi dirigia rápido pelas ruas, porém tomando o devido cuidado pois atrair a polícia a aquela altura seria um desastre.

-Você disse que tinha um plano reserva pra caso tudo desse merda! E deu uma merda colossal!

-Ah, claro. Tenho algo em mente mas primeiro preciso ter certeza de que você está disposta. Há uma chance de escaparmos mas para isso vamos precisar abandonar essa cidade, nossas vidas normais e tudo o que conhecemos pra fugir para bem longe. E quando digo tudo, falo da comodidade da vida urbana. Esse novo lugar não vai ter sinal de telefone, internet, televisão ou rádio. Não sei nem se tem ao menos eletricidade por lá! Estou disposta a fazer isso por nós. E você?

Mayu tocou a mão da namorada e olhou no fundo dos seus olhos.

-Se for pra ficar a salvo contigo e nosso filho, eu vou até o fim do mundo.

Ayumi sorri.

-Então vamos fazer isso!

-Mas como isso vai funcionar?

-O Jackie me ligou hoje de manhã avisando que ele conseguiu um lugar pacato para viver e acabar com essa vida de foragido. Ele me ofereceu uma chance de ir junto mas recusei pois eu queria ficar com você. Ligarei para ele nos conseguir um meio de irmos juntas pra lá.

-Acha que ele vai concordar? Tipo... O Jackie não me conhece. Acho que uma estranha não está nos planos dele.

-Tenho certeza que o cabeça oca vai te aceitar. Eu te disse, ele paga de durão mas é um coração mole. - sorriu Ayumi.  Disse o que disse mas a verdade é que ela tinha certeza que Jackie não aceitaria uma estranha em seu pé, e que ele poderia até mesmo matar Mayu para evitar problemas. Seria arriscado prosseguir com isso mas a ruiva já havia bolado um plano.

-Há algo que eu possa fazer? - perguntou Mayu.

-Sim. Enquanto eu ligo pro Jackie, preciso que entre em casa e pegue o que puder para nós. Roupas, principalmente.

Enquanto conversava com Mayu, Ayumi se distraiu ao volante e acidentalmente atropelou duas latas de lixo paradas em frente à casa dos Yamazaki. A ruiva tentou frear antes de atingir as latas mas não foi suficiente. Ela tentou se desculpar com Mayu mas a jovem havia corrido para dentro de casa para preparar as malas.
Ayumi sacou seu celular e discou o número de Jackie Whiteman.

-Okay... Certo... Vamos lá... - disse nervosa - Vamos lá Jackie, atende!

-Aika?

-Jackie! Oi, desculpe por ligar mas eu preciso mesmo de você. Aquela sua oferta ainda está de pé?

-Sim, está. Mas você não ia ficar em Tóquio? O que houve com a sua namorada?

-Ela... morreu.

-Você a matou?!

-Não! Não foi nada disso! - suspiro - Depois que nos falamos mais cedo minha namorada entrou em trabalho de parto. Foi tudo muito inesperado pois a gravidez ainda estava no sétimo mês. Houveram algumas complicações e ela acabou morrendo junto com o bebê. Eu a perdi... Agora não tenho mais nada. - Ayumi mentia na cara dura mas sabia que era para o bem da Mayu.

-Eu sinto muito. É claro que você pode ir morar comigo.

-Eu agradeço. Como vamos fazer isso?

-Eu vou te dar algumas instruções e você vai seguir a risca. Onde você está? Tem algum transporte?

-Ainda estou em Tóquio e tenho um carro.

-Ótimo. Agora escute: com todo o cuidado você vai pegar a rodovia que vai para Fukushima e entrar na primeira estrada de terra á esquerda. Vai ser melhor se você ficar longe das vias principais por enquanto. Essa estrada vai dar no asfalto entre Saitama e Gunma. Você vai seguir por uns 2 quilômetros e entrar no primeiro posto de gasolina à esquerda. Ao lado do posto terá um restaurante chamado Il Sospetto.

-O restaurante italiano?

-Exato. Essa rede de restaurantes é gerenciada por uma poderosa família de mafiosos que atua no Japão e que me deve alguns favores. Você vai se apresentar para o gerente e ele vai te dar documentos novos e mandar alguns dos seus homens te escoltarem para a nova cidade. Eles vão te levar até Aomori, onde vocês vão pegar uma balsa até Hokkaido, onde fica a nova cidade. Não se preocupe, vou ligar para eles avisando que você está indo. Quando chegar lá, diga a senha: "Por favor, eu gostaria de um macaroni duplo à moda do gerente para a viagem". Diga isso a qualquer funcionário e ele saberá que é a senha.

-Você não vai para o restaurante comigo?

-Não. Eu vou pegar um avião direto pra Sapporo, capital de Hokkaido e de lá vou para a cidade nova. Lá nos encontraremos.

-E onde você está agora? Como pretende entrar no avião sem ser pego?

-No momento em Nigata. Tenho um colega trabalhando no aeroporto que vai me colocar no voo sem que eu tenha que passar pela segurança. Se sair agora, você poderá me encontrar na cidade nova amanhã a noite.

-Já estou me preparando para deixar Tóquio. A propósito, que cidade nova é essa?

-Chisana Mura. É uma pequena vila no interior de Hokkaido. O gerente me garantiu que ninguém vai nos encontrar lá.

-Que bom. Acho que já vou indo.

-Ótimo. Te vejo amanhã, Aika.

-É... Até lá.

Jackie passou um tempo em silêncio.

-Aika...

-Sim?

-Sobre a sua namorada, você não está me escondendo nada, não é?

Ayumi gelou.

-É-É claro que não! Por que eu mentiria?

-Ótimo. Ótimo.

Jackie desliga.

Ayumi suspira.

-Isso tem que dar certo. - sussurra.

Em seguida Mayu aparece com duas grandes malas. Uma preta que os Yamazaki usavam para viagens. Estava um pouco velha e arranhada pelos anos apanhando dos rudes funcionários da rodoviária e pelas bagagens dos outros que caiam sobre ela. A outra, vermelha, que por semanas serviu como guarda roupa para Ayumi. Não estava tão nova quanto a dos Yamazaki. Fora de sua falecida mãe, Yuno Matsui.
Yamazaki ajeitou como pôde as bagagens no banco de trás e correu para dentro do carro. Ayumi deu partida no veículo e acelerou para enfim tirar as duas daquela cidade.
Mayu por um tempo observou sua casa sumir da vista. Se sentiu emocionada e não conteu uma lágrima. Ela não estava apenas abandonando o lugar onde cresceu, mas o lar da sua família. Por um momento lhe veio um filme de várias das suas lembranças naquela casa. A primeira festa de aniversário que se lembrava, aos três anos. As noites de cineminha no sofá. Jantares com a família. Seus pais a abraçando. Seus pais a amando. Era triste deixar aquele lugar tão importante. Mayu acariciou sua barriga e pensou no bebê que lá estava.

-Mamãe vai te cuidar e te amar em qualquer lugar. - sussurrou.

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Demorou um pouco mas estavam na estrada onde fica o restaurante.
  O sol se pôs a um tempo e as estrelas tomaram seu lugar iluminando o céu.

-Se segui corretamente às instruções do Jackie, devemos estar chegando. - disse Ayumi.

-Tem certeza de que ele vai me aceitar?

-Eu o convenci. - mentiu - Já está tudo certo! Vamos juntas para essa cidade! - sorriu.

De longe, o casal avistou um letreiro luminoso. Neles estava escrito: Il Sospetto, cocina italiana. Elas haviam chegado. Estacionaram bem em frente ao restaurante. Se tratava de um prédio grande, muito chique para um restaurante de beira de estrada. Do lado esquerdo estava o posto de gasolina que Jackie mencionou. À direita estava o Il Sospetto Hotel, um prédio de 4 andares marrom e branco que combinava com o restaurante.
O casal deixou o carro e as malas para adentrar o recindo. O lugar era bem charmoso por dentro. Mesas longas com toalhas brancas e vasos de flores. O teto e o chão era feito de madeira, e a parede de tijolos brancos. Todos os garçons usavam um uniforme preto com o nome do restaurante bordado em letra cursiva e um avental branco cobrindo a parte inferior do corpo. Não haviam muitos cliente no momento, apenas hóspedes do hotel e caminhoneiros.
Quando entrou, o casal rapidamente foi recebido por um garçom, que era só um garoto de uns 14 ou 15 anos. Ele chegou sorrindo para cumprimentá-las.

-Bem vindas ao Il Sospetto, a melhor cozinha italiana em Honshuu. Meu nome é Pietro e serei seu garçon esta noite. Mesa para duas, certo?

-Por favor, gostaríamos de um macaroni duplo à moda do gerente para a viagem. - disse Ayumi.

-Certamente. Por favor me acompanhem.

O casal seguiu Pietro, passado pela cozinha e por uma pequena capela, até o escritório do gerente. Atrás da grande mesa de madeira, estava ele. Um homem grande, gordo e careca. Seu tamanho intimidaria qualquer um. Ayumi olhou para as mãos gordas do homem e deduziu que um tapa dele equivalia a uma paulada. Na mesa tinha uma pequena placa escrito: "Enrico Sospetto, gerente". Na sala haviam dois seguranças de terno que conversavam até o casal entrar. Ao ver Ayumi, o gerente se levantou da poltrona, abriu os braços e sorriu.

-Aika Matsui! - disse o velho - Há quanto tempo não nos vemos!

Ayumi fitou o rosto do homem, tentando se lembrar dele, mas não, nada lhe veio à mente.

-Perdoe a minha grosseria, mas eu não me lembro do senhor. - disse a ruiva.

-Não deve mesmo, a última vez que te vi foi há uns 8 anos. O Nagano evitava ao máximo que nós chegássemos perto das filhas dele, para evitar problemas. Ele não foi do tipo que gostava de misturar família e trabalho.

-O senhor conheceu o papai?

-Se conheci? Ele era meu principal fornecedor! O produto da concorrência não chegava nem aos pés do cristal que o danado fazia.

-Oh... Entendi.

A feição da Ayumi muda. Estava alegre e curiosa por saber de alguém que conhecia seu pai além dela e de Jackie. Agora triste por descobrir que essas pessoas estavam envolvidas com o trabalho secreto dele.

-Compreendo sua chateação. Seu pai dedicou muito tempo a essa profissão e no final ele morreu por isso. Era um bom homem. Se soubesse o que iria acontecer eu teria feito algo para salvá-lo. Mas agora você está com Jackie. Ele também é um bom rapaz. Convidei-o para ser nosso novo químico, já que foi aprendiz do seu pai, mas ele quer sair dessa vida, então paciência. O mínimo que posso fazer é deixa-lo sair dessa inteiro. Mas chega de papo, você veio por um motivo. Logo a van chegará para levar você até Aomori. Vou precisar dos seus documentos para imprimir uma nova identidade para você. Aliás, quem é essa moça que está te acompanhando?

Ayumi puxa Mayu pra perto.

-Essa é a Mayu, a minha namorada.

-Estranho, Jackie não avisou que ela vinha.

-Foi uma mudança de última hora. O senhor pode dar uma nova identidade a ela e a mandar junto comigo para Aomori?

Enrico fechou a cara.

-Sabe, quando uma situação dessa acontece, nós costumamos executar a pessoa no mesmo instante para evitar problemas.

Ayumi e Mayu se assustaram. Enrico sorri.

-Contudo não posso fazer isso com a namorada da filha de Nagato Matsui. Vou abrir uma exceção. Me deem seus RG's.

As garotas acataram o pedido.

-Senhor, será que posso pedir outra coisa? - perguntou Ayumi.

-Vamos ver. O que quer?

-Quando estávamos vindo para o escritório vimos uma capela. Vocês a usam para quê?

-Mais comumente para nossas preces e orações. Mas também a usamos para um pequeno negócio de casamentos ilegais. Sabe, para pessoas que não podem se casar normalmente, como homossexuais. Já casamos de tudo aqui. Um dia apareceu um homem querendo se casar com uma almofada com o rosto de uma personagem de anime. Claro, os casamentos não são reconhecidos legalmente, mas providenciamos uma cerimônia para que eles possam sentir que estão se casando de verdade. Já entendi onde você quer chegar. Querem se casar, certo?

Ayumi pega na mão da Mayu.

-Você quer, Mayu? - perguntou eufórica.

Mayu se espantou por aquilo ser repentino. Seu coração disparou.

-T-Tá me pedindo em casamento...?

-Isso!

A jovem não conteve sua emoção.

-Sim! Eu quero!

Elas se abraçam. Mayu sente um calor confortável em seu peito.

-O senhor pode nos casar? - perguntou Ayumi.

-Paolo é o cerimonialista. - aponta para um dos seguranças - Acho que podemos fazer isso enquanto a van não chega.

O casal pula alegre.

-Contudo, como eu disse, o casamento não vale. Podemos ceder duas alianças e tirar algumas fotos mas é tudo falso. É uma cerimônia apenas para o casal sentir que esta se casando.

-É o suficiente para nós. - Mayu sorri.

-Ok. Paolo, vá preparar a capela. Vocês duas coloquem seus melhores vestidos para a cerimônia. Vou pedir para o Stevens cuidar das suas identidades falsas. Aika, vou precisar de uma foto da época em que você estava loira.

-Tenho uma na carteira.

-Vamos mudar de nome? - perguntou Mayu.

-Podem ficar com o primeiro mas o sobrenome terá que mudar.

-Podemos escolher?

-Se quiserem, mas precisa ser algo diferente do primeiro.

-O que acha da gente juntar os nomes da minha mãe e da sua irmã? Hinata Chinatsu. - perguntou Mayu a Ayumi.

-Então ficaria Hinatsu?

-Isso!

-Eu amei!

-Mayu Hinatsu... Ayumi Hinatsu... Eu gostei.

-Você pode voltar a se chamar Aika se quiser. - disse Enrico.

Ayumi decidiu que queria voltar com seu nome original.
Enrico chamou um dos seus homens para fazer uma nova identidade para o casal.
Mayu e Aika foram ao carro e pegaram os melhores vestidos que tinham. Era um momento especial, elas não poderiam sair feias na foto. Após se arrumarem, estava na hora do casamento!

Era uma capela simples. Nada muito religioso. Poucas cadeiras dobráveis e um altar pequeno. Um aparelho de som para reproduzir as musicas. Não era muito mas a aquela altura estava perfeito para o casal. Os assentos foram cobertos com um pano branco com um laço rosa. Pétalas vermelhas cobriam tapete no chão. Um dos seguranças de terno aguardava no altar para realizar o casamento.
Aika foi a primeira a entrar. Vestia o vestido branco da Hinata, a roupa mais chique que tinha. Lentamente caminhou ao som de um violino para o altar. Quando se posicionou a marcha nupcial começou. Os únicos a assistirem a cerimônia, Enrico, Pietro e o outro segurança, se levantaram. A noiva estava vindo. Mayu, com seu simples vestido branco, um véu na cabeça e um buquê de rosas na mão, graciosamente entrou. Seus olhos emocionados fixados apenas naquela linda mulher que lhe aguardava. Não conseguia parar de sorrir, era o momento que ela tanto sonhou. Chegou no altar e ficou de frente para sua amada, que lhe tirou o véu. As duas se olharam apaixonadas. Aquele era o seu momento.

-Boa noite a todos. Estamos aqui reunidos para testemunhar a união matrimonial entre Aika Matsui e Mayu Yamazaki. Aika e Mayu, você começaram como amigas, depois namoradas, venceram o preconceito e agora estão aqui para dar o próximo grande passo. O caminho a partir daqui será duro, muitos irão criticar, muitos irão questionar e talvez vocês terão que omitir seu amor, mas se resistirem a todos os golpes que o mundo dará, significa que realmente foram feitas uma para a outra, e que o amor pode superar tudo. É chegada a hora das noivas expressarem seus sentimentos na forma de votos.

Pietro foi ao altar entregar as alianças.

-Não preparamos nossos votos. - disse Mayu.

-Vocês podem improvisar.

-Eu posso começar - disse Aika. Ela olhou no fundo dos olhos da sua amada - Mayu Yamazaki, conheci você numa das fases mais difíceis da minha vida, uma fase onde eu não tinha esperança, não tinha sonhos, não tinha felicidade. Você apareceu pra mim e no mesmo momento eu tive tudo isso. No dia que eu te conheci meu mundo cinza ficou colorido, seu sorriso iluminou a escuridão dentro de mim. Você é meu remédio, minha fonte de amor e alegria, meu motivo de estar viva. Eu prometo te amar e respeitar na alegria e na tristeza, na saúde e doença, na riqueza e pobreza até que a morte nos separe.

Mayu não conteve uma lágrima. Aika pegou na mão esquerda da sua noiva e colocou o anel.
Era a vez da Mayu.

-Aika Matsui, por tempos eu vivi na escuridão do meu castelo chamado tristeza, sendo controlada por um dragão chamado insegurança. E por muito tempo sonhei com o meu príncipe de armadura vindo me salvar, derrotando os monstros que me prendiam e me carregando nos seus braços para uma vida de felicidade juntos. Esse príncipe veio mas quando tirou seu capacete reluzente, era uma princesa. E quer saber? Eu não estou nem um pouco decepcionada! No começo fiquei confusa, meu coração estava repleto de sentimentos e sensações que eu não conseguia entender. Eu estava amando uma garota. Acabei fazendo uma burrada por preconceito, mas uma grande mulher me fez perceber o quanto o meu amor por você era maior que isso. Eu prometo te amar e respeitar na alegria e na tristeza, na saúde e doença, na riqueza e pobreza até que a morte nos separe.

Mayu colocou a aliança no dedo de Aika. Elas se olharam emocionadas.
Como não haviam papéis a serem assinados, o cerimonialista passou para os finalmentes.

-E agora eu vos declaro casadas. Podem se beijar.

Dito e feito. O casal selou seu pacto de fidelidade com um beijo apaixonado. De fato, foi uma cerimônia curta e simples. Não haviam familiares. Não haveria recepção. Não haveria festa. Não haveria banquete. Não haveria noite de núpcias. Mas haveria amor. Elas estavam juntas e se amando, e era o que mais importava. Mayu por um momento se entristeceu ao olhar as cadeiras vazias da capela e ver que seus pais não estavam lá para vê-la se casando, mas se confortou com o pensamento de que eles estavam em um lugar bom a protegendo.

Após o casamento, Stevens apareceu com os novos documentos falsificados do casal.

-A van está esperando por vocês lá fora. - disse Enrico - Júlio vai dirigir a noite toda até Aomori.  Depois vocês seguirão com Pietro. Ele levará vocês até Chisana Mura, seu destino. Ao chegarem na nova cidade, vocês precisarão de histórias para justificar seu passado. Não se preocupem, Pietro cuidará dessa parte, ele tem muita criatividade. Não é mesmo, Pietro?

-Farei o meu melhor, papai.

-Bom, acho que é isso. Desejo-lhe uma boa viagem. Aika, peço desculpas por tudo de mal que seu pai teve que fazer por minha causa. Tenha uma boa vida. Adeus.

O casal se despediu de todos e entrou no veículo, uma van de 15 assentos. Júlio iria na frente, dirigindo. Pietro se deitou nas cadeiras da segunda fileira para dormir, e o casal foi na última fileira.
No meio do caminho Aika tentou puxar conversa.

-Então você é filho do Enrico, o chefe da máfia no Japão?

-Aham.

-E mesmo assim trabalha como garçon?

-Eu gosto, é um passatempo. Fico entediado dentro da mansão.

-Deve ser bom ser milionário.

-Não ligo muito pra dinheiro e conforto. Fico inquieto se eu ficar muito tempo sem fazer algo. Por isso pedi pro papai me deixar levar vocês até Chisana Mura, sua nova cidade.

De repente a van para num posto de gasolina.

-Onde estamos? - perguntou Mayu.

-Pausa pro xixi.

Todos sairam da van, exceto Aika. Ela aproveitou para sacar seu celular e ligar para Jackie.

-Você conseguiu? - perguntou Jackie.

-Sim, peguei minha nova identidade falsa e estou a caminho de Aomori.

-Ótimo! Vou desligar, preciso ir logo pro aeroporto pois meu voo sai em uma hora. Te vejo em Chisana Mura!

Jackie desliga.

Aika suspira. Ela tinha algo para fazer, e precisava ser naquele momento. Antes que todos voltassem, a ruiva caminhou até um telefone publico, tirou o fone do gancho e discou um número de emergência. Após um toque, uma mulher atendeu.

-Departamento de Polícia de Nigata, em que posso ajudar?

Aika encheu o peito e disse:

-Eu gostaria de fazer uma denúncia anônima.

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Quando o sol raiou a van chegou no porto de Aomori, onde uma balsa os aguardava. Somente Mayu, Aika e Pietro entraram nela. Júlio ficaria num hotel esperando Pietro retornar.
Com tudo devidamente pronto a balsa partiu. Levaria uma hora e meia para atracar em Hokkaido. Mayu não havia dormido bem na van, então aproveitou para tirar um cochilo numa das espreguiçadeiras. Enquanto isso Aika estava no convés debruçada olhando o mar. Não havia dormido a noite toda, nervosa, preocupada. Decidiu olhar o site de notícias novamente, a setima vez só naquela manhã. Ela se deparou com a notícia:

Químico narcotraficante morto em Nigata

O químico americano Harry Jackson, conhecido como Jackie Whiteman, foi morto a tiros na noite de quarta feira (12) no aeroporto de Nigata após uma denúncia feita por um cidadão anônimo. As informações dadas afirmavam que Jackson estaria entrando num voo com a ajuda de um comparsa e que ele estava pretendendo sequestrar a aeronave. Ao ser abordado Harry tentou fugir e posteriormente veio a atirar contra os policiais que não tiveram escolha se não abater o indivíduo.
Jackson tinha 39 anos e ficou conhecido por trabalhar com Nagano Matsui, o maior fabricante de metanfetamina da historia do Japão.

Aika respirou aliviada.

-Desculpa Jackie... Mas eu não posso deixar ninguém tocar na Mayu...

Depois disso ela atira seu celular no oceano.

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Às 7 e meia da manhã a balsa chegou a Hokkaido. Não havia porto, apenas um cais de madeira antigo. Depois do cais havia uma estrada de terra, muito longe das rodovias que levavam às cidades mais importantes da província.

-Vamos numa carroça? - questionou Aika.

-A estrada até Chisana Mura é muito estreita e irregular. Não tem como irmos de carro. Já adianto que vai levar o dia todo pra chegarmos lá e ainda vai ter um pedaço a pé pois a carroça não vai descer a montanha. - disse Pietro.

-Montanha?

-A vila é cercada por montanhas. Sem asfalto, sem túneis, o único jeito de acessar o lugar é passando por elas. Agora, vou precisar que me deem seus telefones. - ele ergue a mão.

-Eu joguei o meu no mar. - disse Aika.

Mayu entregou o seu e Pietro o partiu ao meio.

-Meu celular!

-O que foi? Queria atualizar o seu status antes de partirmos? Não podem levar nada tecnológico para onde vamos!

-Mas você devia ter avisado que iria quebrar meu telefone...

Pietro coloca as malas em cima da carroça e todos sobem. Usando um chicote ele ordena o cavalo a começar a andar.

-Por que o governo não constrói uma estrada nesse lugar? - perguntou Aika.

-Chisana Mura é um lugar ultrapassado que não paga impostos e não tem pontos turísticos, então não é como se o governo estivesse louco pra modernizar o lugar. Os moradores nem reclamam. Eles vivem suas vidas à moda antiga. Com o resto do mundo evoluindo, eles preferiram continuar no século XIX, vivendo da agricultura e criação de gado. A maioria das pessoas lá nunca sequer viu um telefone de corda na vida. Televisões... Computadores... Celulares... Aparelhos de som... Nada disso entrou naquela Vila. Também pelo fato das montanhas altas não deixarem o sinal entrar. Por isso é um otimo lugar para se esconder.

-Tem ao menos eletricidade? - perguntou Mayu.

-Negativo. Se acostumem a usar lampião e a tomar banho de cuia.

-Nossa... Acho que vai ser um pouco difícil para nos acostumamos.

-Com o quê vamos nos sustentar? Quais os tipos de trabalho que podemos ter? - perguntou Aika.

-A maioria deles vivem da própria agricultura, mas existem algumas poucas pessoas que podem te empregar. Vocês tem alguma formação?

-Abandonamos a escola no segundo ano do ensino médio.

-Acredite, isso é bem avançado para o padrão da Vila. Só tem uma escolinha por lá com uma professora, a senhorita Yamada Mei. Ela só ensina o básico de matemática, escrita e geografia paras as crianças, pois depois de uma certa idade elas saem para ajudar seus pais nos trabalhos da família. Uma de vocês pode se candidatar para ensinar. Com o conhecimento que tem, com certeza vão conseguir trabalho. Também tem a Sra Hanako, ela a parteira local e não tem filhas. Parece que ela está procurando alguém para ensinar seus conhecimentos. De resto, tem os trabalhos braçais, como levantar construções, mas são serviços mais masculinos.

-Tem hospital?

-Apenas uma pequena enfermaria. Quem cuida dela é o Dr Takashi. Ele não é médico de verdade, apenas um velho sabido, mas todos confiam nele. Agora, vou explicar como as coisas funcionam por lá. A Vila não tem prefeito, é o Dr Takashi quem cuida das coisas mais importantes da comunidade. Quando estiverem lá e precisarem de roupas, peçam para a Sra Haru e suas filhas, elas quem fazem as roupas para todos. Elas fazem um vestido do seu tamanho por um quilo de qualquer coisa. Lá poucas coisas são compradas com dinheiro, a maioria é com troca de favores. Se precisarem de um quilo de algo, vocês dão um quilo de outra coisa. Se precisarem de uma reforma na sua casa, peçam para alguém fazer e vocês deverão um favor a essa pessoa. Mas cuidado, não acumulem favores a serem pagos ou vocês ficarão com a reputação de aproveitadoras e ninguém mais vai ajudar vocês. Como é uma vila que segue antigos valores, a reputação é muito importante. Acreditem, não vão querer ser mal faladas nesse lugar. Por isso nunca, em hipótese alguma, digam que vocês são um casal lésbico.

-Espera! Vamos ter que esconder nosso relacionamento?! - Aika ficou indignada.

-É para o bem de vocês. Na sua posição atual chamar atenção demais pode significar suicídio. Pensem no bebê de vocês.

-Espera - disse Mayu - Eu nunca te disse que estou grávida, como adivinhou?

-Você? Eu jurava que era a sua esposa quem estava esperando um bebê.

-AHN?! Eu estou tão gorda assim?! - disse Aika.

-Desculpe a grosseria mas seus peitões e essa barriguinha realmente me enganaram.

  -Que cruel... - Aika tristemente cutucou um dos seus pneuzinhos.

Foi uma viagem cansativa e doída. Todos ficaram doloridos pois os assentos da carroça eram duros. Durante o caminho Pietro foi elaborando aquela que seria a história que o casal contaria para justificar sua mudança para aquela vila. Para isso ele usou uma enchente que realmente havia acontecido em uma cidade próxima. Para ajudar, o casal deu algumas informações pessoais. Mayu e Aika passaram um bom tempo treinando suas histórias, até que finalmente decoraram.

-Ok, vamos repassar as suas histórias. Quem são vocês? - disse Pietro.

Mayu começa.

-Meu nome é Mayu Hinatsu, tenho 17 anos. Nasci em 23 de abril de 2001. Sou filha de Akun Hinatsu, um agricultor de 48 anos.

-Eu sou a irmã dela, Aika Hinatsu. Nasci em 14 de agosto de 2001, tenho 16 anos. Sou filha de Ami Hinatsu, uma professora de 45 anos.

-Como podem ser irmãs se uma é só 4 meses mais velha que a outra?

-Nos tornamos irmãs em 2010 quando meu pai se casou com a mãe da Aika.

-E onde estão os seus pais?

-Infelizmente eles faleceram na enchente de Furawazu, junto com o meu noivo, o pai da criança que estou esperando.

-Se as duas são só irmãs, por que usam alianças de casamento?

-Essas alianças eram dos nossos pais. As usamos para sempre nos lembrarmos deles. Depois que nossa casa foi destruída na enchente, decidimos vir para Chisana Mura para recomeçar nossas vidas.

-Está perfeito! Não se esqueçam dos detalhes.

-Ainda não gosto dessa parte que termos que fingir que somos irmãs. - disse Aika - Eu sei que é necessário, mas é muito injusto!

-Aika, vamos superar isso. Você, mais que eu, já deve saber que isso sempre foi injusto mas aguentamos tudo de cabeça erguida. Aqui não vai ser diferente. - disse Mayu.

-Tá bom, tá bom... Posso te tratar como minha irmã quando estivermos na frente dos outros, mas dentro de quatro paredes vamos fazer amor como animais!

Mayu riu.

-Certo.

-Chegamos. - anunciou Pietro.

Estavam em cima de uma das montanhas que faziam uma espécie de tijela com a cidade e um grande lago no fundo. De lá de cima conseguiam ver tudo. Haviam dezenas de pequenas casas ao estilo feudal japonês, grandes pastos verdes, imensas plantações, lindas árvores de diversas cores que deixavam o lugar lindo.
Foi um trajeto a pé um tanto quanto demorado mas eles conseguiram descer a montanha. A noite já havia caído quando chegaram na nova casa do casal.
A casa era simples com a clássica arquitetura feudal japonesa com paredes feitas com painéis corrediços e papel de arroz. A construção era pouco elevada acima do chão e o piso era feito de tatame. Mayu e Aika exploraram o lugar.

-Bem, ali fica a cozinha. Tem um forno a lenha onde vocês podem cozinhar. Há cerca de um mês de sopa em lata para começarem. De vez em quando aparece um ambulante vendendo especiarias do mundo a fora. No armário tem sementes de algumas hortaliças e legumes para começar uma horta. Nos fundos vocês tem cerca de 1 hectare de terra para plantar e criar gado se quiserem. Daquele lado fica a sala de chá com varanda. Aqui tem dois quartos com camas novas, uma de casal e outra de solteiro. Entre os quartos tem um banheiro.

Pietro terminou de explicar tudo o que precisava, ensinou para as duas como tudo funcionava e foi dormir. Ele passaria a noite em um dos quartos e iria embora pela manhã.
Mayu, por um tempo, andou pela casa para conhecer melhor é deu pulinho do lado de fora. Vou algumas pessoas mas não conversou com ninguém. Aquelas eram as pessoas com quem ela conviveram então decidiu fazer amizade com todos no dia seguinte.
Aika esquentou um pouco de água no fogão a lenha e as duas tomaram banho juntas. Depois disso foram se deitar.

-Então é isso... - disse Aika.

-Acho que sim. - disse Mayu.

-Como se sente?

-Aliviada por estar livre mas com medo do que vem pela frente.

-Eu também. Sabe, quando eu estava desfazendo as malas encontrei a carta do Tadashi Maeda.

-Ah sim, eu trouxe algumas coisas pra me lembrar de Tóquio. Apesar de perder a katana que meu pai me deixou, ainda tenho uma carta que ele me escreveu no meu aniversário. Também tenho outra do Tadashi. Tenho que me lembrar dele, é o mínimo que posso fazer.

-Você acha que esse foi um bom final?

-Como assim?

-Pra nossa história.

-Mas esse não é o fim. Amanhã vamos acordar e começar a lutar novamente. Esse só foi o final de uma fase. Amanhã nossas vidas recomeçam.

-Então vamos dormir. Amanhã será um novo dia. O primeiro dia do resto das nossas vidas. - Aika acaricia a barriga de Mayu, onde o bebê estava.

O casal se beija, se abraçam e adormecem. Elas dormiriam meninas e acordariam mulheres, para enfim buscarem a verdadeira felicidade.



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