Me chamo Ômega – Fanfic Namjin.
O cordeiro e o lobo.
Me chamo Ômega.
Em uma noite chuvosa, um lobo e um cordeiro se encontraram. De início um não sabia que o outro estava por perto, ambos se abrigavam da chuva em baixo da maior árvore da floresta e demorou para que percebessem que não estavam sozinhos, mas assim que feito, não puderam desgrudar seu contato visual um segundo que fosse. Eles tremiam, o lobo estava com medo e o cordeiro sentia frio.
Mesmo que possa parecer estranho, o cordeiro gostaria de se aproximar, ficar o máximo ao lado do lobo amedrontador, mas esse apenas queria distância, por mais que fosse de sua natureza, seu medo era grande, não queria atacar o pequeno; seus instintos poderiam e deveriam ser trágicos.
Tomando sua forma humana - para poder prevenir qualquer desventura - tornou-se possível que um visse o outro de verdade, como de fato eram. O lobo tinha cabelos negros, olhos vermelhos, grande altura evidente, corpo definido e peito despido. Seus shorts, além de encharcados, estavam rasgados, o deixando ainda mais intimidador. O cordeiro era frágil, seus fios eram loiros e suas roupas brancas, - completamente impecáveis em termos de beleza - caiam perfeitamente em seu corpo magro e consideravelmente menor que o do predador.
- Vo-Você... Pode me dar comida?
- Como? - o lobo espantou-se diante do pedido, um tanto quanto, incomum saído dos lábios de um cordeiro.
- Eu... Eu... - seus olhos ganharam o brilho entristecido das lágrimas ralas – estou perdido. Há dias que não como. – Ele se joga ao chão, sentando-se sobre os próprios joelhos.
- Você não está com medo? - o cordeiro levantou-se apoiando suas mãos ao grande carvalho – Eu posso cuidar de você, mas isso ainda fará de mim um lobo – Deu um passo para frente.
- Sim. – Recuou e bateu sua costa no tronco, vendo-se assim sem saída - Mas... Eu não tenho medo de você - Proferiu suas palavras em um tom baixo, arrancando um sorriso escorado do mais alto.
- Tem certeza? - debochou.
-Sim! - disse confiante. Isso acabou por ferir o lobo, seu orgulho se abalou rosnado baixinho.
- Porque não me teme? – sua voz acabou saindo um pouco mais alta do que o esperado.
- Porque estou perdido e faminto. – Ousou olhar nos olhos alheios - Sei que não sou o animal mais amedrontador do mundo, sou frágil e fiel. Eu sou o tipo de híbrido que não se pode ficar sozinho, preciso de alguém que cuide de mim. – Uma gota d'agua correu pelo rosto branco e liso do cordeiro, manchando sua pele de tristezas e incertezas, mas dessa vez a culpa não fora da chuva.
Mesmo não querendo, o lobo viu a oportunidade perfeita para garantir sua próxima refeição, então aproximou-se do cordeiro, segurou seu rosto com as duas mãos e passou seu polegar por de baixo dos olhos, secando as lágrimas ralas da face angelical. O sorriso doentio que se esboçou nos lábios daquele predador fora o estopim para o delicado cordeiro, ele arfou e mordeu os próprios lábios quando aqueles braços lhe deram o poio necessário, ele havia peregrinado muito, estava tá cansado.
- Eu cuidarei de você. – o Lobo sussurrou ao ouvido de outrem, de uma forma rouca e certa. – Meu nome é Alfa... Qual é o seu, meu pequeno? - aquela mesma voz e lábios carnudos estavam tão próximos ao seu ouvido, que fez os pelos do cordeiro se arrepiarem. Ele se sentiu protegido e seguro, sua inocência não o permitia enxergar as segundas intenções que emanavam pelo o ambiente. Um ser tão puro... Por tão pouco tempo...
- Me chamo Ômega.
-x-
Muitos dias se passaram, o predador cumpriu com suas palavras – até mais do que achava que poderia – cuidou do pobre ômega como sua vida, sempre se encontrando de baixo daquela mesma arvore onde nomeavam sua casa, porém, o destino os pregou uma peça e logo ambos estavam completamente dependentes um do outro, não poderiam e nem conseguiam pensar em nada, precisavam da proteção que cada qual fornecia.
O lobo estava com medo, seus sentimentos pelo garoto estavam se aflorando, mas não teria espaço para si em sua vida, apenas por isso não permitia que o cordeiro ficasse ali, seria tentador e podre de sua parte permitir que deixasse uma criatura tão frágil ver o que sua vida realmente era.
Mas Ômega adoeceu, aguentar chuvas e frio debaixo daquela árvore o machucava, doía... Ele se sentia protegido com o alfa, por isso aguentava tudo o que tivesse que passar, mas mesmo se alimentando direito, a morte poderia facilmente o atingir, foi desse jeito, sem escolhas e repentinamente que eles tiveram de dividir o mesmo teto, agora o alfa poderia proteger o pequeno ômega.
O apanhou com seu amor e o levou para casa.
O alfa machucaria o seu ômega, eles não poderiam ficar juntos, era completamente impossível um predador se apaixonar por sua presa, ele sabia que diversos fatores os separariam, mas também sabia que a promessa de o proteger ainda era válida, e ele faria, nem que custasse sua própria vida.
Ele apenas não sabia que o cordeiro havia feito a mesma promessa, só que em segredo.
As coisas eram muito mais complicadas do que poderia parecer, Alfa precisava se alimentar, mas como faria na frente de Ômega? As noites em que sua barriga esvaziava eram as piores, seu humor mudava e até mesmo os instintos falavam mais alto, eles brigavam sem motivo algum e então o lobo fugia para a floresta, voltava apenas quando toda a sua fome não existia mais.
Esse relacionamento era deveras intrigante, mais uma vez o lobo havia voltado da floresta completamente arrependido, ele estava molhado pela chuva e seus olhos estavam avermelhados por conta de um choro bobo. Ômega suspirou e, como sempre, correu até ele com um capote velho de pele-de-asno, o cobriu e lhe esfregou contra sua pele, a enxugando sem dizer nenhuma palavra sequer.
O olhar fixado na velha camisa larga e ensopada se desvinculou quando suas pequenas mãos foram seguradas, Ômega levantou seu olhar e prendeu-se ao de seu predador, deixando um suspiro desalento propagar de seus lábios. Ele sempre o fazia, sempre se arrependia e o implorava por perdão ao fim de mais uma caminhada melancólica, o cordeiro já estava acostumado.
- O que vem agora? – O cordeiro empoderou e fora a vez de Alfa suspirar – Pedirá meu perdão novamente e isso se repetirá daqui quatro dias?
- Quando foi que começamos a nos tratar sem medos?
- Eu nunca tive medo de você.
- Disse isso na noite em que nos conhecemos.
- Era verdade naquela lua e continuou sendo verdade até esta!
Alfa fechou os olhos, ele só queria que tudo voltasse ao mais normal possível, ele aspirava pela sua vida antiga restaurada, mas a incerteza era sua maior inimiga, ômega estava ali, ele por si só fazia com que tudo parecesse mais branco e limpo, entretanto, quando sua fome retornava, nada mais brilhava como o cordeiro.
- Só me desculpe por hoje – pediu irritado, ainda sentia raiva pela falta de temor, ômega sempre o confrontava e brincava com isso – uma loba deu a luz na última lua, seus filhotes morreram com o frio – Ômega entristeceu essas notícias ainda o machucavam, mas seu coração se aqueceu com o acalento que recebera em suas mãos ainda seguradas – ela lhe dará leite amanhã.
- Obrigado – quase sussurrou, ele foi abraçado.
O capote velho agora rodava os dois corpos, aquilo parecia o suficiente, mas só parecia, aquela utopia deveria ser lida com clareza para que nem um dos dois se perdesse ao findar da história, sonhar acordado parecia sim ser um lugar reconfortante, mas como poderia continuar sonhando com uma vida cheia de complicações e difícil a ser vivida.
Naquela lua, eles dormiram juntos, um nos braços do outro. Ômega teve a sensação maravilhosa que tanto amava, a mão grande de Alfa lhe acariciou a noite toda, o barulho da chuva lá fora não parecia mais tão alto, seus olhos pesaram mais que mil rochas e ele conseguiu dormir olhando para os lábios de alfa.
Um dia, ele ainda os tocaria.
-x-
E aconteceu outra vez.
Eles haviam brigado por conta do humor irregular de Alfa, eles haviam gritado um com o outro e mais uma vez aquele lobo enorme correu para dentro da floresta. Ali só haviam árvores e nas árvores madeiras, ninguém deveria ter medo, contudo, se ele conhecesse mais alguém que não o temesse, talvez fosse seu fim!
Ômega estava cansado, ele não aguentava mais essa história de sempre, eles brigavam, faziam as pazes e quatro luas depois tudo se repetia, ele quem iria resolver tudo daquela vez, ele tinha que fazer algo, então pegou seu capote de pele-de-asno e seguiu a trilha que os passos brutos do lobo deixaram.
As folhas dos arbustos batiam no rosto judiado, cortavam a pele branca e faziam com que ardesse. Geladas e velozes, quebradas pela a velocidade absurda que o lobo possuía, chega a ser engraçado o desespero de Alfa, chegava a deixa-lo um ser digno da pena alheia, o levava ao ponto mais alto onde poderia ser julgado sem dó, mas Alfa não ligava mais para isso.
Ele era um animal impulsivo, um ser digno do temor de qualquer pessoa, alguém frio, alguém que foi conquistado da forma mais destrutiva, o deixou completamente de quatro, de patas e mãos atadas, teve de ser guiado por seu coração, mas não aceitava ser comandado por ômega.
- Que merda... – deixou que sua frustação fosse obvia, ele estava distante de sua toca, então poderia ser ele mesmo, poderia gritar o quanto queria.
O seu foco mirava naquele abismo fundo, escuro e atrativo. A luz da lua não era o suficiente para que pudesse ver alguma coisa, mas a copa das arvores estava muito bem nítida e era ali que ele encontrava certa calma. Bastou um ruído, um leve quebrar de galhos atrás de si para que isso mudasse.
Era como se o homem na lua estivesse lhe dando um presente. Um lindo e malhado cervo estava por de baixo da luz da lua, como se fosse um holofote mostrando quem era o centro daquele show.
Logo o alfa estava em forma de lobo mais uma vez, se abaixou em meio aqueles arbustos e balançou sua calda, pronto para sentir a direção do vento, sentir o bagunçar dos pelos, fechou os olhos para sentir o cheiro do animal, escutando com atenção o respirar do cervo que se alimentava das folhas rasteiras da floresta.
O rosto do animal virou levemente para o lado, se sentindo observado, mas antes que ele pudesse reagir, o grande animal já havia pulado em seu pescoço, e agora...
... Era só mais um corpo morto...
Ele se levantou com a clássica pose humana, sorrindo sádico ao contemplar aquele sangue escorrendo do animal morto, com seu peito despido ensanguentado e roupas rasgadas sem demorar para começar a rasgar a carne com os dentes, apenas com um proposito, se satisfazer, afinal...
Ele ainda era um lobo.
Depois que não sobrou nada aproveitável daquele resto de ossos, ele se julgou satisfeito. Levantou completamente tranquilo e limpou o sangue que ainda escorria de seus lábios, mas acabou sujando ainda mais o próprio rosto, rindo de si mesmo.
Outro barulho foi ouvido na floresta, ele se virou e arregalou os olhos quando viu, quase perdendo seu equilíbrio nas próprias pernas, começando a tossir.
Os olhos de Ômega trasbordavam medo e angustia, ele olhava para o peito malhado que o aquecia todas as noites coberto de sangue, as mãos que acariciavam seu cabelo... Os lábios que sonhava em tocar... Tudo estava vermelho, junto ao sorriso que assistiu em seu Alfa enquanto devorava aquele animal.
- Ô...Ômega... – tremulou, dando um passo para frente e se destruindo quando ele deu para trás, algo que ele nunca havia feito, nem mesmo no dia que eles se conheceram.
O cordeiro fechou os olhos com força, respirando pesado por tudo o que viu, ele sempre soube da natureza dele, aquilo não era novidade, mas sonhava em não assistir algo parecido, se iludia pensando que o lobo poderia ser diferente, mas certas coisas nunca podem mudar.
Os dois já estavam apaixonados um pelo o outro. O amor deles era puro, tão puro quanto qualquer coisa, tão puro ao ponto de um preferir morrer pelo o outro. Um cordeiro podia se apaixonar por um lobo? Isso estava errado! Tão errado quanto um lobo se privar de comer para que não assustasse o seu cordeiro, mas isso estava o matando, o Lobo iria morrer.
E o lobo não queria morrer.
- Está com medo, não é? – passou por cima de seus próprios sentimentos, se irritando quando Ômega nem se quer ousou em responder – VOCÊ ESTÁ COM MEDO? – o cordeiro se remexeu por conta da voz de Alfa, desatando a chorar ainda mais, se corroendo, pensando que essa era a hora de sair correndo.
Tudo o que Alfa mais queria, era se sentir temido, mas então porque seu coração doía ao contemplar o temor que sempre esperou?
- Não... – Falou com a voz fraca, tentando limpar as lágrimas que caiam cada vez mais – Faz parte da sua natureza... Você é...
- Um lobo – cortou a fala do menor.
- Sim... Um lobo.
- Você viu o que lobos fazem com presas fáceis – olhou para as próprias mãos – o que acha que podem fazer com você?
- Eu não sou uma presa fácil! – Empoderou com confiança, arrancando um olhar arregalado do outro – se eu fosse, já teria tido o mesmo destino desse cervo – Alfa engoliu suas próprias palavras – não é? Alfa?
-Você não entende mesmo – riu sem humor – Olhe pra mim! Olhe pro sangue nas minhas mãos e nas minhas roupas! – Ômega desviou o olhar – eu sou um predador... Isso – Apontou para os dois, gesticulando com uma das mãos. – É ridículo.
- Eu concordo com você. Eu sei que você só me deixou ficar perto de você por que queria garantir sua próxima refeição.
- O que? – Questionou surpreso.
- Você não é diferente dos outros lobos, Alfa, não é por que não existe isso de alguém mudar sua natureza por outra pessoa ou por que é certo!
- Então o que ainda está fazendo aqui? – Quase gritou. – Eu posso te matar há qualquer momento!
- ENTÃO PORQUE AINDA NÃO MATOU? – Ele começou a chorar – É O QUE VOCÊ DEVERIA FAZER E É O QUE EU ESTOU ESPERANDO DESDE QUE NOS CONHECEMOS! – Sua respiração ficou mais ofegante e sua cabeça começou a doer – VOCÊ NÃO FAZ IDEIA DO QUANTO ESTÁ SENDO DIFICL PARA MIM, QUANDO EU DIGO QUE NÃO TENHO MEDO DE VOCÊ EU FALO A VERDADE!
- E PORQUE VOCÊ NÃO TEM MEDO DE MIM? – Riu em escárnio – ISSO AQUI NÃO É O SUFICIENTE PARA VOCÊ FUGIR? – Pegou alguns ossos do chão e os jogou na frente do cordeiro – ANDA! ME RESPONDE PORQUE VOCÊ NÃO TEM MEDO DE MIM!
- POR QUE EU NÃO TENHO MEDO DE MORRER! – Alfa se calou e arregalou os olhos – Porque eu quero... – Tampou o rosto no meio da frase, deixando que seus soluços tomassem conta de si.
- Ômega... – Ele deu um passo, ele queria abraça-lo, mas o vermelho em sua pele impediu que ele fizesse o que mais amava, acalmar seu pequeno cordeiro.
- Você venceu – fungou mais forte e enxugou o rosto com a costa das mãos – eu vou correr para longe de você – Alfa arregalou os olhos – Obrigado por tudo, Alfa.
- O que...? – Ômega se virou de costa, ele sabia que não conseguiria o que queria com aquele lobo, ainda que agora seus sentimentos fossem outros – Ô...Ômega, espera... – Pediu tarde demais, ele já havia se transformado e feito o que lhe foi pedido.
Ele havia corrido para bem longe.
-x-
Muitas luas se passaram, muitas e muitas luas. Qualquer pessoa que conhecesse Alfa antes de tudo o que aconteceu se assustaria, o lobo estava magro, ele quase nunca assumia sua forma humana, ele ficava mais fraco, estava doente e desnutrido, seu pelo continha falhas e machucados em carne viva por conta de algumas brigas.
Ele estava há muito tempo sem comer.
Não que ele quisesse, longe disso, ele queria, estava quase morrendo, e ele não queria mesmo morrer, mas ele não conseguia se alimentar. Todas as suas presas pareciam as mesmas, era só pular no pescoço de algum animal frágil que sua mente o transformava em um lindo cordeiro machucado.
Com o passar das luas, suas alucinações se complicaram, ele não conseguia comer e sentia saudade de Ômega, ele o queria ao seu lado novamente, ele já havia mudado sua vida, ele não tinha mais o mesmo de antes, pensava que era só Ômega ir embora para que tudo voltasse ao normal, mas nada voltaria a ser como antes.
Nada seria como era antes de Ômega.
Ele estava tossindo, rosnava de angustia e tentava se aquecer no pelo que ainda possuía, mas o inverno estava chegando. A luz que entrava na toca foi cortada, o lobo se assustou e choramingou quando tentou se colocar em alerta e seu corpo doeu.
- O que aconteceu com você? – Ele conhecia aquela voz.
O lobo olhou para a entrada da toca e arregalou os olhos, Ômega estava ali, do mesmo jeito que foi embora. Ele negou com a cabeça e se aproximou mais, retirou o capote e o estendeu no corpo do lobo, deixando um carinho entre suas orelhas. Aos poucos, depois de muito tempo, Alfa foi tomando sua forma humana, para que assim pudesse falar com o cordeiro.
- Por que voltou?
- Me falaram como você estava.
- As pessoas têm que aprender a cuidar da própria vida.
- Como você está cuidando da sua? – Debochou – Você enlouqueceu, como assim parou de comer?
- Eu não consigo comer... – Tossiu – eu quero, quero muito, mas eu não consigo.
- Bom, você tem que conseguir ou vai morrer.
- Você foi embora – Mudou de assunto – não tem que fingir se importar comigo.
- Eu não estou fingindo, você me pediu várias vezes para ir embora!
- E desde quando você faz o que eu mando? Você sempre me desafiou.
- Sim e dessa vez não foi diferente.
- Como assim?
- Você não queira que eu fosse e eu fui. – Alfa riu.
Aquilo era de mais, não havia como se irritar mais com o que o cordeiro pudesse dizer, ele estava se divertindo? Estava brincando ou só testando alguma teoria maluca? Queria saber se lobos têm sentimentos?
- O que você quer? – Ômega mordeu os lábios – Você me pediu abrigo, me desafiou, eu te ajudei passando por cima de nossas classes, cuidei de você quando mais precisou e fiz muito por você, o que mais você quer?
- Eu quero que você me coma. -Alfa se calou – desde o início, eu só queria morrer. Parecia que o homem na lua tinha me dado isso quando me mostrou um lobo enorme embaixo de uma árvore.
- Você queria morrer?
- Eu quero, Alfa.
- Porque? – riu sem humor.
- O mundo é dos fortes, eu te disse quando nos conhecemos, eu sou frágil e fiel, preciso que alguém cuide de mim e dependo de todos. O mais forte ganha, moramos na floresta. Eu não esperava que você realmente decidisse cuidar de mim.
- Eu também não esperava isso – Os dois se sentiam horríveis, dois inúteis, chorando por “besteira” – Eu realmente te via como uma próxima refeição.
- Era isso que eu queria, eu estava cansado de correr e tentar sobreviver.
- Você estava esperando minha fome me dominar.
- Estava esperando que você me comesse, fui embora quando percebi que você não teria coragem. Você só me perguntava porque eu não tinha medo de você, mas não fazia algo para que eu tivesse.
- Eu... – Alfa limpou as lágrimas que escorriam – Eu acho que não queria que a pessoa que eu amava tivesse medo de mim.
Ômega arregalou os olhos, sua respiração se cortou e ele pressionou os olhos, ele não queria ouvir isso, não podia ser assim, ele ainda queria acabar com tudo.
- Onde esteve? – Alfa perguntou.
- Me aproveitando de um fazendeiro, ele pensava que eu era um cordeiro comum.
- Por que voltou? – perguntou novamente.
- Eu não vou te deixar morrer.
- porque?
- Porque... Eu... Eu não quero que a pessoa que eu amo morra por causa de mim – Ele baixou o rosto, tocando a testa com a de Alfa.
A mão de Ômega subiu lentamente até o rosto do lobo, ele estava com medo, mas quando viu, finalmente havia tocado nos lábios de Alfa, como sempre quis, o seu sorriso não pôde ser comparado a algo.
- O que... O que está fazendo? – Alfa perguntou em uma risada fraca.
- Uma vez eu ouvir alguém dizer que você sabe que é amado quando toca os lábios da pessoa certa. – Alfa riu.
- Quem disse isso?
- Eu não faço ideia – respondeu igualmente rindo.
- Eu também não, mas posso te dizer uma coisa. – Ômega o olhou nos olhos – Não era dessa forma que a pessoa se referia.
E antes que ele pudesse perguntar, Alfa havia lhe beijado, encostou seus lábios com os lábios de Ômega e assim ficaram por bastante tempo. Ômega não sabia o que era um beijo, mas se sentiu bem com os milhares de selares que trocou com o lobo.
Mas o amor não cura tudo.
Alfa ainda estava morrendo, ele ainda ia morrer e quando o cordeiro se lembrou disso, começou a chorar. Porque aquele que desejava a morte ainda estava ali, mas o que a temia estava quase partindo?
- Eu estou feliz que tenha te visto antes de ser tarde demais.
- Não é tarde demais para você, Alfa. – Sussurrou contra os lábios fartos, logo os juntando mais uma vez. – Eu quero que você me coma, que viva.
- Você não pode fazer isso – Ele fechou os olhos e escondeu o rosto no pescoço do cordeiro.
- Se você não comer, irá morrer e eu logo morrerei também, você me protegia, o mundo lá fora é dos fortes, me desculpe, eu te amo, mas não é um amor que irá consertar tudo. O poder do amor não é tão forte assim.
- Você não vai parar de tentar morrer, não é?
- Sim – apertou o lobo em seus braços.
- Eu te amo... – Sussurrou antes de lhe beijar mais uma vez, agora suas línguas se tocaram e suas mãos se apertavam, como se tentassem entender o que acontecia com o outro, mas nada adiantava.
Um grito, no meio do beijo, Alfa ouviu um grito, ele se separou de Ômega e voltou a chorar quando o viu segurando uma rocha pontiaguda contra seu abdômen, ele sabia que seu lobo não teria coragem de lhe matar, então uma ajuda seria bem-vinda.
- Ômega... – Sussurrou entre suas lágrimas, o cordeiro tentou dizer algo, mas sua boca só abria e fechava conforme tentava, aquilo doía muito e ele estava chorando pois sabia que era o fim, mas ele não tinha medo – Ômega! – Alfa o abraçou, quando os olhos se fecharam e o corpo caiu pesado e sem vida. Ele gritava seu nome sem saber ou querer acreditar que havia partido.
Eles não ficaram juntos no final e aquele que mais amava o outro realmente havia morrido. Alfa não conseguiria come-lo, ele sabia disso, sabia que também morria, mas ao menos ômega conseguiu o que sempre desejou.
Se perguntando que tipo de história era aquela e aceitando seu próprio “O fim” Alfa deu o último suspiro, que fora ouvido pelo homem na lua.
- Adeus, Ômega.
-x-
- Então... É assim que termina? – Yura perguntou cabisbaixa, balançando seus pés no ar, por estar no colo de Kim Mi Kyung.
- Não, meu amor – sorriu passando a mão na costa da criança emocionada – o homem na lua sempre tenta dar uma chance para que eles possam ficar juntos, mas até hoje nunca conseguiram completar suas vidas.
- Eles sempre morrem antes da hora – Yura limpou uma lágrima de seus olhos – mesmo se amando, não é?
- Sim.
- Você disse que eles estão aqui – A ex rainha suspirou – eles vão conseguir dessa vez, não vão vovó?
- Está na hora de dormir, princesinha – a mais velha sorriu, ficou feliz pela filha de Taehyung ter gostado tanto de si ao ponto de lhe chamar dessa forma.
Ela se levantou da cadeira e colocou a menina na cama, a cobrindo e deixando um beijo em sua testa. A mais velha andou até a porta do quarto e suspirou antes de apagar a luz e deixar que Yura dormisse.
Seus passos mais lentos pelo corredor não faziam barulho e acabou assustando Hoseok que passava por ali, sorrindo quando parou para analisar seu neto, ele havia crescido tanto.
- Vovó – se curvou e lhe abraçou – você me assustou – coçou a nuca envergonhado.
- Não precisa dessa pressa toda – sorriu para o neto, ajeitando o livro que havia acabado de ler para Yura – ela já está dormindo – Hoseok arregalou os olhos.
- O... O que?
- Sei que ia fazer Yura dormir, mas eu já fiz.
- Ah... Sim, é que... Taehyung me pediu...
- Tudo bem – o interrompeu com uma risada – eu vou me deitar, não tenho mais idade para ficar acordada até tarde.
- Claro – Hoseok sorriu e deu espaço para que a mulher passasse.
- Ah, Hoseok! – Chamou quando chegou ao fim do corredor, olhando para o príncipe por cima dos ombros – ela realmente parece muito com você.
- O que?... – Perguntou assustado.
- Boa noite. – foi tudo o que disse antes de ir para seu quarto.
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