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História Mecânico - Jeon Jungkook - Capítulo dez: Um coração partido e apaixonado


Escrita por: ParkTT

Notas do Autor


Olaa <33 [Não revisado!!!]

Capítulo 10 - Capítulo dez: Um coração partido e apaixonado


Fanfic / Fanfiction Mecânico - Jeon Jungkook - Capítulo dez: Um coração partido e apaixonado

Capítulo dez: Um coração partido e apaixonado 

Lianna Evans 

 

Solitude. 

A solitude se trata, prioritariamente, em escolher ficar sozinho. Viver em sociedade significa ter de pensar por outras pessoas e temer a todo momento ferir um outro alguém com palavras, atitudes ou qualquer outra coisa que possa vir a colocar aquele à beira de um colapso emocional. A solitude fez com que eu me privasse do medo de ferir um outro alguém, mas me aprisionou em meus próprios temores, receios e pensamentos. 

— “A abstinência de duas mentes sedentas por um prazer que só não é saciado porque uma das partes não quer ser vista como sexo de uma noite” — repito aquelas palavras a mim mesma, tentando achar racionalidade e coerência em meus pensamentos — “Boa em jogos que envolvam mais do que um desejo infantil” — logo as ligo as falas de Kim Taehyung.

Estava uma bagunça. Minha cabeça estava uma bagunça. 

Livros que abordam psicanálise não me ajudavam quando o assunto era desvendar algo do tipo; os filósofos famosos não tinham resposta para minhas dúvidas; os romancistas, como William Shakespeare, se envergonhavam de minha falha tentativa de interpretação. Afinal, palavras, por mais sólidas que fossem, tinham um significado abrasador, enlouquecedor. 

Eu não sabia ao certo o que pensar, ou como pensar. 

Estudante de humanas, principalmente aqueles que estudam o comportamento de um alguém, deveriam saber desvendar o enigma por trás de frases como aquelas. Era difícil. Era como lidar com um problema animalesco; como correr em círculos em uma rua da qual a saída está logo à frente, mas, por pura covardia e ingenuidade, você não consegue enxergá-la.

Eu sei a resposta, mas não admito. Ela me parece absurda demais; inalcançável e desgastante para que eu prefira dar-lhe a atenção necessária. Estou com medo, apenas. Reconheço, mesmo não entendendo os motivos para temer. Ou talvez… 

Merda! Em qual momento desse enredo me tornei tão patética ao ponto de não saber lidar com aquelas emoções contraditórias que se afloram em meu peito, causando angústia e ansiedade; fúria e necessidade. Eu quero vê-lo, mas sinto um incômodo grande demais no peito para que passe por cima desse orgulho de merda. Estou brava, brava por não ter sido aquela a quem ele convidou para ir até seu quarto naquela tarde. Mas, acima de tudo, eu ainda o desejo, necessito e imploro mentalmente por seus toques. 

Foi apenas um beijo. Um beijo que fez com que eu percebesse aquela confusão ao qual eu arrastava de canto, ignorava e não dava importância. Eu fiz pouco caso daquilo que estava sentindo, deixei que tudo se acumulasse dentro de mim e apenas segui a vida como se não fosse algo que me prejudicaria no futuro e, atual presente. 

— Lianna, no que tanto pensa? — Meu padrasto, atencioso e gentil, vinha sempre ao meu quarto exatamente às onze e meia da noite. Era rotineiro suas visitas; constante nossos diálogos e acolhedor a forma ao qual ele se sentava ao meu lado na cama e me puxava para um abraço quentinho — Cheguei tarde hoje, me perdoe a demora, princesa — beijou o topo de minha cabeça e eu direcionei meus olhos ao relógio na escrivaninha próximo à janela. 

Já se passavam da meia-noite e eu me via totalmente inerte com as palavras de Jeon Jeongguk, que por sinal, eu estava evitando há vários dias, pois estava curiosa e obcecada por saber mais sobre o que eu mesma sinto. Eu nunca fui boa em ler pessoas quando se tratava de algo que acontecia tão próximo a mim, portanto, eu apenas fugi e me aquietei na intenção de entender o que ele queria me dizer. Não fazia ideia de como lidar com aquela turbulência toda. 

As coisas não eram fáceis para mim, mas aquilo não poderia se tornar minha dependência. 

— Quais as chances de um homem não querer apenas sexo, Tio? — Meu padrasto e eu tínhamos uma intimidade peculiar. Era divertido. Apesar de eu não chamá-lo de pai, dado que se casou com minha mãe quando eu estava com meus quatorze anos e já tinha certa noção de tudo que acontecia ao meu redor. Ainda assim, eu o amava incondicionalmente — Eu não consigo entender a forma ao qual os homens agem quando estão dispostos a algo, tampouco compreendo o quebra-cabeça em suas palavras — suspirei. 

Todos precisávamos de terapia, meu padrasto seria o escape para toda aquela confusão. Talvez ele me ajudasse a entender, ou apenas me fizesse admitir. 

— E quem é o responsável por fazer essa bagunça na cabeça da minha garotinha? — indagou risinho. 

Jeon Jeongguk. 

Como dizer a pessoa que considero como pai, que eu estava confusa em relação a um homem treze anos mais velho? Como dizer que os olhos negros de meu vizinho me encantam; o corpo másculo me atrai; e o sorriso gentil, ao mesmo tempo que perverso, me tirar o sono? Como descrever as inúmeras sensações que ele vem me causando; como narrar aquele prazer desconhecido que ele me proporciona? 

Quem visse nossa aproximação nos últimos dias nos chamariam de errados, irracionais. Pessoas talvez julgassem que estivéssemos indo com muita sede ao pote, mas ninguém sabe ao certo o que se passa em nossas mentes. 

Não é de hoje. Agora eu entendo isso. 

Essa história se iniciou no dia em que eu decidi dizer a ele o que eu queria; o quanto o desejava. As pessoas só sabem aquilo que eu pontuei como importante até então, porém ninguém de fato entende. Eu deixei de dizer tantas coisas, ocultei uma infinidade de gestos benevolentes e sorrisos gentis, pois no início, quando dei a entender que sua cama era tudo que eu queria, eu não entendia, tampouco imaginava a que ponto chegaríamos. 

— Lianna, eu estou bem. Não se preocupe! — Andy me deixava aflita. Sua voz estava totalmente arrastada pelo efeito do álcool e, o homem do qual ela havia saído, não deu indícios algum de onde a levaria quando tirou-a de meu lado na pista. 

Estávamos em uma balada comemorando meus dezenove anos, mas o que era um jardim cheio de flores se tornou apenas um espaço com a grama seca e árvores mortas. Minha amiga havia me dado as costas mesmo após afirmamos que não deveríamos nos envolver com o sexo oposto essa noite. Era para ser algo nosso, um momento do qual nós duas aproveitaríamos e curtiríamos do nosso jeito.

Me enganei ao pensar que ela poderia sustentar sua irrelevante promessa. 

— Tudo bem. Se cuide — peço, desligando o celular o guardando na bolsa e tornando a olhar ao espelho logo à frente. 

Eu estava bonita. 

Eu optei por uma maquiagem forte e marcante. Meus lábios eram contornados por um gloss vermelho, minhas pernas espremidas por uma calça de couro sintético e meu busto coberto por uma blusa pouco conservadora. Me sentia bonita, por mais que ninguém tenha me dito, eu me sentia bem comigo mesma. 

Era meu aniversário, eu deveria estar me divertindo. 

Quando deixei aquele cubículo e me vi no mesmo corredor com luzes avermelhadas e paredes com arte de pessoas anônimas, eu pensei em sair correndo para minha casa e passar o resto de minha noite dormindo. Cogitei que tudo havia acabado ali para mim, que meu aniversário havia se findado e que não fazia sentido alguma me divertir sozinha. 

— São extremamente peculiares, não acha? — Minha atenção era totalmente voltada aos rabiscos na parede, mas ao ouvir a voz do homem de estatura alta e olhar marcante, me questionei o porquê de ele estar ali, ao meu lado — Boa noite, Lia! — Sorriu e logo as pinturas se transformaram em meros detalhes; pontos irrelevantes que usurpam de nossa visão.

Vagas foram as vezes em que ouvi sua voz proferir a mim palavras que estabelecessem um diálogo produtivo e duradouro e, em todos esses poucos momentos, ele sempre estava com aquele mesmo perfume místico que me lembrava as rosas vermelhas e as florestas de eucalipto. Aquela essência era tão única e embriagante, que minha mente materializou-a apenas para poder contemplar tamanha brandura com um simples tatear. 

Era entorpecente. 

Há alguns meses atrás, na festa ao qual tive de entregar inúmeros bombons a ele e recebi um pequeno beijo na testa e um novo apelido, eu acabei por desenvolver em minha cabeça um querer totalmente irracional: ficar com Jeon Jeongguk, nem que seja apenas por uma noite. Eu gostaria tanto de tocar seu corpo, de descobrir e decorar seus detalhes e poder, principalmente, desbravar da curiosidade ao qual cresce constantemente em minha mente devido aos inúmeros comentários das moças de nosso condomínio. 

Eu o queria como uma necessidade endurecedora e, merda, aquilo era totalmente contraditório já que Jeon Jeongguk dormia e se divertia com inúmeras mulheres.  

Era tão errado essa curiosidade que moldava meus desejos; tão peculiar o fato de eu não temer a possibilidade de me machucar, ou até mesmo de não conseguir me importar em vê-lo com outras garotas. Por quê aos meus olhos não era um problema ele transar com inúmeras mulheres e não se envolver em relacionamentos? 

É isso que a abstinência faz, me cega? 

— O que faz sozinha neste lugar, Carinho? — aquele apelido. Aquele maldito apelido. 

Às vezes ele fazia uso do ‘Senhorita’, em outros momentos meu nome ressoava por aquela boca vermelha como uma infâmia deliciosa, mas, sempre que sozinhos, em um ambiente calmo para nossas almas, ele me chamava por aquele apelido gentil do qual inventou. Eu não poderia me deixar levar por sua brandura, tampouco gostaria de ser enganada por minha própria mente. 

— Comemorando meu aniversário… — dei de ombros, um tanto constrangida por dizer aquilo e na verdade estar sozinha em uma boate no centro da cidade, em uma luta interna sobre o que fazer para findar essa noite que se tornou apenas um fardo para meus pensamentos. 

— Sozinha? — Assenti. Eu gostaria de estar aos beijos com algum cara; transar pelos cantos escuros e me divertir, no entanto, meu corpo já ficava pesado por conta do cansaço e o álcool ingerido quando minha amiga ainda estava ao meu lado há minutos atrás, consumia meu subconsciente, causando-me certa tontura e mal-estar — Onde está aquela garota que estava com você? — torna a me questionar e me vejo surpresa por ele ter notado minha presença antes de nosso atual encontro. 

— Perdida sobre os lençóis de um homem qualquer — dei de ombros, tentando transparecer naturalidade ao falar. 

— Por que não faz o mesmo? — arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços, fazendo a jaqueta de couro se destacar em seus músculos. 

Era tão bonito. 

Os cabelos caídos de lado por conta do tamanho, os brincos que brilhavam ao colidir-se com a luz das lâmpadas, a calça também de couro que modelava a fartura de suas coxas, os sapatos com um pequeno salto, a social com os três primeiros botões abertos e a corrente banhada a ouro que se destacava no peito másculo. 

Era tão bonito. 

— Não curto ir para casa com desconhecidos — digo a primeira coisa que me vem à mente. 

— Então irá terminar a noite do seu aniversário assim? — indicando minha atual situação, ele indagou. O que dizer senão aquilo que ele já espera ouvir: sim, eu vou. Eu poderia ir para o bar e beber ou ligar para meu primo, mas ele disse que estaria com uma garota hoje e eu não iria importuná-lo com meus problemas — Irá para casa agora? — assenti novamente — Vem. Eu irei levá-la — Arregalei meus olhos no mesmo momento e neguei. 

Quando sequer percebi, estávamos no estacionamento daquele bar e Jeon Jeongguk lutava contra minha negação em aceitar que me levasse para casa. Seus braços estavam cruzados em frente ao peito másculo e a cabeça pendia um pouco para o lado enquanto o corpo se encostava em sua moto. Parecia bravo, pois sua língua não cessava o constante movimento em empurrar o interior de sua bochecha: 

— Eu estou bem, Jeon. Pegarei um táxi, não se preocupe — digo decidida, ouvindo um suspirar alto do moreno e logo um balançar de cabeça. 

— Já disseram que você é uma garota extremamente teimosa? — afirmei risonha enquanto andávamos sem pressa e totalmente calados até o ponto de táxi, onde ele esperou pacientemente ao meu lado — Frio? — Era uma noite gelada, meus braços estavam desprovidos de qualquer proteção e me senti totalmente constrangida e retraída pela timidez que brincou por minhas veias ao ver o homem desfazer-se da jaqueta de couro e colocá-la sobre meus ombros. 

Seu perfume impregnou-se em minhas narinas e uma branda sensação de conforto dominou os pontos principais de minha mente quando um vento fraco trouxe aquela fragrância gostosa para mais perto, fazendo-me notar o quão próximo estávamos um do outro: ele se encontrava encostado em um muro e eu pude sentir as famigeradas borboletas no estômago quando o moreno esticou um dos braços apenas para puxar-me pelo tecido de sua jaqueta e praticamente findar nossos físicos. 

Muito perto…

Seus olhos eram lamparinas acesas que iluminavam o preto e branco; seu respirar fazia uma pequena fumaça deixar sua cavidade por conta do frio, mas nada disso importou quando um breve sorriso foi deixado em minha direção e eu me visse totalmente presa em seu abraço.

— Feliz aniversário, Lia! — murmurou baixinho apenas para mim.

Naquela noite a última coisa que eu vi foi o sorriso gentil de Jeon Jeongguk e, novamente, aquele lado brando e sútil vindo à tona. Ele não era apenas um homem sexualmente ativo, tampouco um mulherengo sem coração. Ele era um cafajeste de qualidade, com coração, boa lábia e extremamente adorável. 

Não era de hoje, nunca foi…

— Lia, nunca iremos impedir você de se relacionar com um homem do qual se sente bem, mesmo que ele seja anos mais velho — após eu explicar tudo ao anfitrião de minha família, ele pontuou calmamente quando eu disse que o receio de Jeon estava ligado ao respeito do qual sentia por meus progenitores, e, talvez, o temor de ser julgado por ficar com uma garota anos mais nova. Havia mentido para ele, pois contar a verdade da qual acredito parecia tolice. Patético — Você não ficaria com um homem por interesse financeiro, tem a mim e eu darei todo o luxo a você. Se ficasse com nosso vizinho, seria porque realmente gosta dele, não o oposto. 

Gostar. Não. Ou… talvez. 

No sábado foi o último dia que o vi. Eu estava fazendo tudo que falei a mim mesma que não faria: ser indiferente por conta das coisas que Jennie, minha mais nova amiga, havia me dito. Porém, parecia mais forte que eu. Não consegui olhar em seus olhos e não imaginar o quão prazerosa deve ter sido a noite ao lado da morena, o quão delicioso deve ter sido se entregar a um homem de sorriso bonito e corpo atrativo. 

Eu estava pensando demais em coisas sem sentido. Estava aérea demais, flutuando em sensações e sentimentos que me permiti apenas quando notei que tudo não se tratava ou girava em torno de um tesão. “Jeon Jeongguk não é apenas a foda de uma noite”. Foi o que Taehyung disse há dias atrás. 

— Eu não entendo vocês homens! — me joguei na cama — Ele demonstra querer, mas ao mesmo tempo foge; ele me trata com sutileza, mesmo que tenha transado com outra na noite anterior — uso metáforas que representam minha atual situação — Vocês homens não misturam as coisas, não são como nós mulheres — algo que não deve ser generalizado, óbvio. 

A personalidade de Jeon Jeongguk me assusta pelo simples fato de eu não conseguir desvendá-la. “Quando você perceber isso, talvez seja tarde demais”. Completou o moreno de sorriso quadrado. Perceber antes do quê, exatamente? Antes que eu caísse e me afundasse nesse poço de imundice que é composto por cores pastéis e cheirinho de flores recém colhidas? Senão, era desta forma a qual eu descrevia a atual estadia de minha mente. 

Não eram só rosas. Tenho certeza que se cavasse mais a fundo, eu iria me machucar e me cansar. Me veria exausta. 

— Vocês mulheres nos veem como uma figura imponente; um alguém do qual têm dificuldade em amar — ele deu um sorrisinho antes de retomar as palavras — Não somos apenas uma máquina de prazer, Anna. Vocês focam tanto nas atitudes erradas que sequer notam quando fazemos algo para tentar agradá-las — voltando a abraçá-lo, procuro por seus olhos — É mais fácil você pontuar as mulheres com quem ele dormiu, do que reconhecer que apesar de todas, é com você que ele quer estar.

— O quê? — indaguei, realmente confusa. 

Não poderia ser. Meu padrasto estava alimentando minhas ilusões. 

— Esse querer irracional, pode ter se transformado em um sentimento que se aflora não apenas no seu peito, mas no de Jeon Jeongguk também. A abstinência é um prato que se come frio, mas a negação queima a língua e corrói o coração — eu estava estática. Sem saber o quê, ou como responder. 

Em um suporte na porta do meu guarda-roupa estava pendurada a mesma jaqueta que ele me emprestou naquela noite há meses atrás. Tentei até devolver, mas segundo ele, aquele era meu presente. Um presente do qual ainda tinha o doce cheiro de seu perfume, trazendo a minha cabeça, um novo questionamento: no fim, o que restaria dessa inútil relação? 

A indiferença não era algo do qual eu sabia lidar. Pessoas que agem de forma diferente por conta de uma desilusão, apenas estão atrás da atenção daqueles que a machucou, como se isso fosse resolver algo, mas nem sequer percebem que estão machucando a si mesmo e a um outro alguém. Quando não se trata apenas de nós, temos de ser racionais, afinal, ninguém quer ser culpado das dores causadas em outras pessoas, e ninguém merece sofrer por uma confusão que está unicamente em nossos corações. 

Existia também a indiferença por desconforto, mas somos tão tolos ao calar nossos lábios, fingindo concordar com uma situação que nos faz querer correr para longe. Calávamos os nossos lábios, mas éramos perturbados pela gritaria de nossas mentes e corações. Existiam tantos casos, tantas situações. 

— O que devo fazer então? — questiono, perdida. 

— Admitir — e aquilo fez algo brilhar em meu peito. 

Eu não sei o que fazer em relação ao que estou sentindo e mesmo que eu não tenha admitido antes, sim, eu estou gostando do mecânico que mora na casa ao lado. 

Eu estou gostando, verdadeiramente, de Jeon Jeongguk. 

[…]

 

Quantas vezes eu situei a progressão dos dias e o quão assustada eu estou com tudo isso? Era sábado. Era a noite de sábado e a festa de Jennie começaria em alguns instante e eu estava em frente ao espelho, me perguntando se valia a pena sair da minha zona de conforto e reencontrar o vizinho que ignorei a semana toda. Eu não deveria tê-lo ignorado, no entanto, nem tudo se fez por minha negação em muitas coisas, mas também pelo fato de que eu havia reprovado em uma prova da faculdade e teria de pagar pela N3. 

Estava frustrada, e minha mãe estava furiosa. 

Minha progenitora havia me sentado naquele sofá idiota que se faz na sala, e passou cerca de setenta minutos me dizendo o quão irresponsável estou sendo com meus estudos. De fato, estou! Mas, ao mesmo tempo eu me esforço para entender os tópicos de neuroanatomia, havia até pego um livro que focava unicamente no assunto, na noite em que eu e Andy saímos juntas pela última vez, na mesma quinta-feira onde Jeon me puxou para perto, acendendo meu corpo e me proporcionando uma sensação enlouquecedora e logo depois me pedindo para recuar.

Eu não o faria, pois se tratava dele. 

Eu aceitei meus sentimentos por aquele mecânico charmoso e julgo minha sabedoria sobre o ser-humano: por que é mais fácil dizer, descrever e entender os sentimentos de um outro alguém do que os nossos próprios? Por que tudo é tão complexo quando se trata de nós dois? Você me deu a entender que me quer, mas, mesmo não estando juntos, a sua noite com Jennie me incomoda tanto. 

Eu não deveria me importar, não queria me importar. Me sinto infantil ao sentir aquele âmago todas as vezes que imagino vocês juntos. Estou magoada e sequer tenho motivos para isso. Ela parece ter gostado tanto do momento ao qual vocês passaram juntos, então, porque na noite daquela segunda-feira você parecia estar com um humor tão precário no mesmo mercado ao qual vi Taehyung pela primeira vez — mesmo que não tivesse dado importância alguma ao homem.

Eu gostaria de te falar meus receios, meus medos. Minhas inseguranças; eu quero tanto que você as conheça. É fútil, eu sou fútil, me tornei isso. Eu dei destaque a acontecimentos artificiais, ignorei tudo que veio antes daquela manhã. Fui boba, ingênua. Agora, observando você pela janela do quarto de meus pais, enquanto está na companhia de seu amigo, trajado naquela jaqueta de couro ao qual eu tanto gosto e sorrindo abertamente enquanto empurra o outro pelos ombros, eu sinto um pequeno incômodo no peito, mas não me impeço de sorrir.

Parecem estar se divertindo.

— Falou com Andy esses dias? — Hoseok estava com os olhos fixos no espelho da penteadeira quando me perguntou sobre a garota que vinha me ignorando, me deixando de lado. Não posso culpá-la, não depois de ter beijado Jimin. Aliás, como o ruivinho esta? Eu também o afastei, mas por medo. Medo de machucá-lo mais do que já o fiz. 

Ji tem o coração bobo, sei que eu não poderia dar a ele o amor e carinho que merece. Então, eu só quero que ele fique bem e que melhore a expressão abatida ao qual ele vem tendo esses últimos dias na faculdade. Ele era meu primo, talvez meu melhor amigo, e ainda assim eu não tinha sequer coragem de pedir desculpas. É tão patético; vergonhoso. 

— Acho que não somos mais amigas… — eu tentei sorrir ao fim da frase, mas aquilo havia feito com que algo desmoronasse em meu coração, este que era como um iceberg: uma grande pedra de gelo que se despedaça aos poucos por lembranças felizes, memórias vivas e sorrisos nostálgicos. 

Eu gostaria de voltar ao ontem. Andy e pareciamos tão próximas e, agora, eu realmente me questiono se ficaríamos assim até o resto de nosso curso. Eram caminhos diferentes e eu tenho certeza de que se soltarmos nossas mãos hoje, elas não se encontrariam lá na frente novamente, então, o que houve para nos tornamos isso? 

— Lia — ele fez uma pausa, se virando em minha direção. Seok parecia ter pena de mim, e quando esticou os braços em minha direção, indicando um abraço, eu apenas corri para os braços quentinhos de meu amigo — Tente não se importar com ela — segurou meu rosto entre os dedos, delicadamente por conta da maquiagem — Eu não irei me intrometer, mas o que ela está fazendo com você não é certo — beijou minha testa — Vamos nos divertir, Gatinha. 

Quando nos separamos, o recém platinado apenas uniu nossas mãos, me arrastando pelas escadas de minha casa, mas, parei ao meio delas, atraindo a atenção de Hobe: 

— Eu esqueci algo, espere! — falei, retornando a subir as escadas em direção ao meu quarto, onde acendi a luz e fui até até onde estava a jaqueta que ganhei no meu aniversário de dezenove anos. Ela ainda tinha aquele cheirinho amadeirado do perfume dele, era quentinha e confortável — Vamos! — sorri para meu amigo, que já estava no fim das escadas, me esperando impacientemente. 

Seok estava animado quando me arrastou, atravessando a rua e parando apenas quando nossos corpos estavam em meio aos muitos outros. Era eletrizante, entorpecente. A batida da música ainda era calma, mas envolvente. Jennie se aproximou, me dando um abraço apertado e dizendo o quão feliz estava com minha presença. Hobe havia ido ao bar pegar uma cerveja qualquer, e me trouxe uma long de sabor amargo. 

Eu gostava daquele sabor. 

— Você já viu o vizinho? — a morena se aproximou de meu ouvido para me questionar, com um copo de bebida nas mãos e um sorriso perverso. Jennie e eu nos tornamos amigas rápido demais, algo totalmente inesperado. Eu não contava muitas coisas sobre mim, mas confiava na garota que, recentemente, havia contado que percebeu meu desconforto no sábado passado e me pediu desculpa por sua atitude — Ele está um bombonzinho, Lili! — ela pôs as mãos em meus ombros, chacoalhando-me e me fazendo gargalhar. 

As luzes eram em tons azuis, porém, próximo as caixas de som havia um arco-íris todo que iluminava o local espaçoso. A casa dos Kim tinha um ótimo tamanho para festas de porte, e os pais da garota eram ricos demais para se preocupar com possíveis danos. Talvez eu ficasse de castigo pelo resto de minha vida se montasse uma festividade de tal porte em minha casa. Meus pais, que saíram para jantar logo após a longa repreensão, me mantariam. 

— Não o vejo desde sábado! — informo. Eu não era dependente de Jeon, mas não poderia mentir, quero tanto vê-lo, ao menos cessar essa vontade imbecil que faz meu coração dançar dentro do peito — Estive ocupada — justifico. Afinal, não era nenhuma história inventada como desculpa. 

Hoseok havia se perdido entre a multidão e eu já podia sentir meu corpo colado ao vestido de alças finas por conta do suor que escorria por minha pele enquanto meus quadris brincavam de acordo com a melodia gostosa que ecoava por todo ambiente. Estava tão aérea ao álcool e aos risos com Jennie, que nada mais importava. Era como se ali, eu não fosse uma estudante atordoada por um mecânico bonito que mora ao lado de minha casa, tampouco a garota que perdeu uma amizade a qual julgava importante e magoou um primo a qual sente grande carinho e admiração. 

Era apenas eu e era como a solitude, mas em um local repleto de pessoas. Aquela jaqueta que pendia sobre meus ombros ainda me era confortável, apesar do calor. Aquele cheiro aromático insistia em invadir minhas vias respiratórias.

— Lia, não olha agora, mas… — a morena que dançava junto comigo olhava para um ponto acima de meus ombros — agora — no mesmo momento em sinto minha cintura ser envolta por mais fortes e aquele rosto viril se perder entre meus cabelos, não dando importância alguma para os muitos que dançavam ao nosso redor. 

Era ele. Era Jeon. 

Eu reconheceria aquele perfume doce e envolvente em qualquer lugar; aquelas mãos grandes e calejadas uma vez traçaram uma linha invisível por meu corpo, e, cada tatear, deixou-me marcada. Apenas ele sabia como fazer, apenas com ele que a sensação de êxtase era desencadeada, solta como uma fera que passou dias enjaulada, faminta e sedenta. 

Apenas ele faz, apenas ele consegue.  

— Estava esperando seus olhos encontrarem os meus — ele sussurrou em meu ouvido — Estamos dando vida a um clichê estranho, Carinho. Talvez as coisas não devessem acontecer desta forma — sua boca tocou minimamente minha pele a cada menção às famigeradas cenas onde os protagonistas estão em festas e seus olhos se encontram em meio a dança e a multidão. 

Isso é um clichê estereotipado ou uma história original? Eu não sei. 

— Estamos seguindo uma script? — afaste-o. Minha mente me martiriza quando pendo a cabeça em seu ombro, dando-lhe o espaço necessário para beijar minha pele, como fiz com seus lábios na semana passada. 

Meus cabelos foram, carinhosamente, jogados por meus ombros e me vi totalmente inerte a sua língua, quando a mesma traçou lentamente por toda minha pele. Jeon Jeongguk parecia agir sem qualquer receio, sem medo ou insegurança. Estava apenas seguindo o roteiro de seus pensamentos.

Eu me sentia quente, mesmo que meu coração estivesse como gelo, transbordando em ira e uma lista infinita de questionários: Por que deixar que ele tenha tal efeito sobre seu corpo? Porque ele me tem em sua mãos, à mercê de seus toques, desde o dia que me conheceu; Por que se submete a esse desejo? Porque tentar lutar contra é perda de tempo; Por que se deixar levar? Porque eu estou apaixonada, então, isso me cega. 

Nada, de fato, importa. Ao menos até eu quebrar a cara. 

— Caso estejamos, onde está escrito a parte da qual você me ignora por uma semana? — pisquei, nervosa. Minhas bochechas estavam rubras e apesar das luzes, eu tive a certeza que Jeon havia percebido quando pousou as mãos em meu quadril e me incentivou a virar em sua direção — Por quê, Lianna? — Seus dedos guardaram uma mecha de meu cabelo atrás da orelha, e me senti intimidada por aqueles olhos negros. 

O que aconteceria se eu dissesse como me sinto? Ele se afastaria, ou finalmente teria a certeza de que apenas uma noite não seria capaz de me satisfazer, pois, mesmo sem sexo, todos esses dias, depois de todos os toques, frases, tensões, sorrisos e carícias, eu me sentia extremamente bem quando era ele aquele a me proporcionar prazer. 

Era ele. Eu quero apenas ele. 

— Eu estava louco para te ver — segredou, abaixando sua cabeça e fazendo a cabeleira negra cobrir seu rosto à medida que a apoiava em meu ombro — Eu não sei o que aquele beijo significou para você, Carinho… — senti seu toque em minha bochecha, e elevei meu rosto, repetindo sua ação e encaixando nossos narizes. Nossa proximidade era tanta, que nossos lábios tocaram-se levemente, aumentando minha vontade de beijar aquela boca vermelhinha, como cereja doce. 

Sua cavidade tinha um sútil odor de uísque, e presumo que o álcool também estava presente no consciente daquele homem, que segurou minha cintura delicadamente com a mão livre, e me trouxe para ainda mais perto. Seu perfume era tão bom, tão atrativo e viciante. Tão único quanto ele. 

— Mas, para mim, ele se tornou a definição perfeita de confusão e abstinência — junto às nossas testas, balançando nossa cabeça de um lado ao outro, fazendo nossos narizes se tocarem e nossos lábios se juntarem em um selar rápido. Merda, eu não consigo resistir! — Me sinto tão confuso agora, Lia — continuou — Tão necessitado de você, amor. 

Por favor, que esse não seja o efeito do álcool que esvai por seus lábios, deixando-me em um misto assustador de sentimentos. Por favor, que não seja apenas uma ilusão causada por uma mente que tenta abrir meus olhos para o quão machucada eu ficarei em relação a aquilo tudo. 

— Eu senti sua falta… — ele tornou a dizer, e havia sido o estopim para mim, que afundei meus dedos em seus cabelos, pronta para selar nossos lábios em um beijo ardente e não ligando para o julgamento de minha mente. Merda, merda, merda! Eu não posso, mas quero tanto. Não devo, mas ao mesmo tempo me sinto tão necessitada. 

Eu estava pronta para grudar nossas bocas, mas o esbarrão que deram em minhas costas me afastou bruscamente do moreno. Era um grupo de rapazes que passaram em nosso meio gritando e erguendo o copo de bebida, um deles até mesmo chegou a derrubar um líquido azul em meu vestido, mas sequer dei importância, pois enquanto aquele grupo passava, o moreno que estava junto a mim prestava sua atenção no topo da escada, logo, sem dar qualquer explicação, indo em direção ao segundo andar. 

Só pode ser brincadeira!

Eu sorri amarga, vendo a movimentação cessar e caminhei até a cozinha, enchendo um copo de água e me deleitando em seu sabor, cessando minha sede. O relógio marcava onze e cinquenta e sete, e me pergunto quando as horas começaram a passar tão rápido assim. Meus amigos não estavam em lugar algum, tampouco fiz questão de procurá-los. Jeon também não havia retornado, o que me fez cogitar que aquele momento de pouco tempo atrás, foi causado pelas embriaguez do álcool. 

Eu posso vacilar o quanto for, mas não brinco com as pessoas e não deixarei que façam isso comigo. 

— Sozinha, Gracinha? — A voz era rouca, mas conhecida. Taehyung, com aquela mesma marra ao qual estava quando quase foi atropelado por mim — Entende agora? — eu sequer havia respondido a pergunta anterior, quando ele prostrou-se ao meu lado, pegando um copo de água e o virando na boca.

Não era necessário muito para que eu entendesse suas palavras. 

— O que quer que eu entenda? — deveras peculiar. Me pergunto se ele sofre de alguma doença que afete sua memória, ou se a falta de senso é tão grande ao ponto de me tratar como se não tivesse sido rude comigo semana passada — Que você é um imbecil ou que Jeon Jeongguk é um idiota? — Cruzo meus braços. 

Homens. Eu estou cansada deles! 

— Eu disse que você não era boa em jogos que envolvem mais do que um desejo infantil, Lianna — franzi o cenho. Realmente, ele havia me dito. Mas, as coisas agora eram tão diferentes, eu estava cansado de fugir do que estava sentindo. 

Que se exploda, eu estava apaixonada. Aos vinte anos de idade eu havia desenvolvido uma paixão por um homem anos mais velho. Dane-se. Tão jovem, talvez imatura, mas, ainda assim, propicia e destinada a me apaixonar, e, caramba, se gostar de alguém fosse um erro, por favor, eu quero errar muitas outras vezes, pois não há como explicar como me sinto bem ao vê-lo, ao tocá-lo. 

— Eu… eu gosto dele, Taehyung — certa vez invejei uma pessoa que tinha facilidade em dizer como estava se sentindo. Eu a vi dizer tudo com tanta naturalidade, que me questionei se algum dia eu poderia fazer igual. E, aqui estou. Eu não quero me importar com as consequências, mesmo que tema acabar esse enredo com o coração ferido  — Eu realmente gosto dele e… 

— Eu também já tive alguém que disse estar apaixonado por mim, Lia — não foi rude, sequer grosseiro. Taehyung estava calmo, e me olhava com apreço — Se apaixonar é furada, esqueça! — completou. 

— Não consigo…

— Então suba as escadas e deixe seu coração chorar livremente, afinal, de nada irá servir reprimir toda a dor que Jeon Jeongguk está prestes a te causar — disse, fazendo-me olhar em direção aos degraus. 

Eu não quero fazer isso, não quero ir até lá. Estou com medo, e Taehyung pareceu perceber, pois deixou o copo de lado e segurou minha mão, me puxando para cima. Eu via os músculos de suas costas se destacarem na camisa de estampa floral. Aquele guarda de supermercado era tão bonito e atraente e me parecia tão gentil e atencioso; calmo e sereno. 

— O que estamos fazendo aqui? — questiono ao parar de frente a uma porta de cor branca. 

— Um coração partido não é o fim do mundo, Lia — Ele murmurou em meu ouvido, antes de tocar meus ombros e me virar em direção a madeira onde uma pequena fresta se fazia presente. 

Um coração partido não era o fim do mundo, mas demoraria tanto para que eu juntasse os cacos que se espalharam por todo meu peito e reerguer aquela muralha que foi desfeita com a cena tosca de meu vizinho sentado em na borda de uma cama, com uma garota entre suas pernas enquanto ele a beija, como fez comigo dias atrás, e a segura pela cintura. Eu não irei chorar, não vale a pena. 

Não vale a… 

— Não é o fim do mundo, porque meu mundo não se resume a ele — murmurei, sentindo uma lágrima toscar escapar de meus olhos. Não se resume a ele, não se resume a ele. Nada disso faz sentido, não era para ele ser protagonista. Não era para isso ter acontecido! Merda, está doendo… machucando. 

Eu me sinto uma idiota. 

O amor era uma faca de dois gumes: primeiro você se apaixona, depois sente na alma o peso de suas palavras e o sabor amargo da sinceridade. Eu quero voltar ao começo, onde tudo não se passava de um desejo, pois, gostar de você, Jeon Jeongguk, está doendo tanto agora… 


Notas Finais




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