_ Ai! Mas que droga! _ estava plantando no jardim, quando machuquei a mão numa pedra mais pontuda e afiada.
Não vi de onde ele veio, só me assustei quando as suas mãos tomaram a minha analisando o corte.
_ Hum! Foi bem feio, mas vai ficar bom depois de uns pontos disse o moreno de cabelo liso caindo sobre o rosto, em um topete, e olhos azuis penetrantes.
_ O que faz aqui? _ quis saber, afinal, não haviam casas próximas.
_ Explorando.
_ Mirna _ chamou o Neo da porta da frente.
_ Estou bem _ tranquilizei ele.
Mas o Neo não parecia tranquilo.
O estranho se convidou à entrar e cuidou da ferida na minha mão, com um estojo de primeiros socorros que trazia na sua mochila. O Neo acompanhou tudo de perto, com uma expressão que me intrigava. Não sabia se era raiva porque ele queria fazer aquilo ou se desagrado por haver outro entre nós.
_ À propósito, o meu nome é Allan Fahrenheit _ se apresentou depois de terminar o curativo.
Depois do incidente, convidei ele para almoçar conosco. Era o mínimo que eu podia fazer por alguém que parou o seu percurso para me ajudar, e que não teria uma refeição descente de qualquer modo.
Á contragosto, o Neo foi terminar de fazer o almoço, enquanto eu fazia sala para o Allan.
Fui para o jardim recolher as minhas ferramentas de jardinagem e tampar o buraco. O Allan me acompanhou e ajudou.
_ Vocês são irmãos? _ perguntou da minha relação com o Neo.
_ Porquê acha isso?
_ E que vocês não combinam. Ele até parece dedicado, mas você quer algo mais... Mais.
Não compreendi e fiquei pensando no assunto.
Pelo charme que ele me jogava, percebi que ele se referia à si mesmo, como o algo mais, que ele julgava ser o meu desejo.
_ O Neo é perfeito, Allan _ sorri contando uma certa vantagem, mas nós estávamos próximos demais e o Allan aproveitou para me roubar um beijo.
Foi um beijo quente, envolvente e arrebatador como nunca pensei que um humano seria capaz de dar.
O olhar de tristeza e dor que vi no rosto do Neo que nos flagrou, me fez empurrar o Allan para ir até o Neo, mas ele se afastou de mim entrando em casa. Fui atrás dele sem me importar com o Allan.
O encontrei no hall olhando pela janela. Chorava e o seu corpo tremia de raiva com os punhos fechados.
_ Neo, me desculpa.
_ Me deixa sozinho, Mina _ a voz dele era mansa, apesar do que transparecia _ Vai almoçar com o seu convidado. Eu não tenho de que te desculpar. Vocês são humanos e o que aconteceu foi correto e perfeito... Perfeito como nós dois jamais seremos.
_ Eu e você somos perfeitos, Neo. O Allan vai embora e nós ficaremos juntos.
_ Até quando? _ a sua pergunta foi retórica. Estava certo de que tudo acabaria logo.
_ Para sempre _ o abracei _ Só você é perfeito para mim _ beijei-o e fui retribuída.
Depois do almoço, no qual o Neo não apareceu por justa causa. Assim não precisamos justificar a sua falta de fome.
_ O Neo é perfeito para mim, Allan. Não quero nada mais _ falei pensando no Neo, e um sorriso surgiu no meu rosto.
_ Desculpa por atrapalhar o lance de vocês. Eu sou um freelance e uma empresa colocou um prêmio por um cara parecido com o seu namorado. Mas as reações dele a essa situação deveria ser outra. O Neo não é o cara procurado. Mais uma vez, me desculpa.
As cantadas e galanteios cessaram e o Allan seguiu o seu caminho amigável e agradecido após o almoço.
Mas eu fiquei assustada em saber que caçadores de recompensa nos procuravam. Precisávamos tomar mais cuidado.
Depois que o Allan se foi, cheguei de fininho para abraçar o grandalhão de surpresa, mas ele retribuiu ao abraço, totalmente ciente da minha presença.
_ Você se esqueceu que eu tenho sensor de calor, entre outras coisas, que me ajudam a saber aonde você está sempre?
_ Esqueci _ confessei presa no seu olhar.
_ Você me desconcerta com tanta complacência, amor.
_ O que você faria se fosse humano?
_ Casaria com você.
Gargalhei ao ouvir. Não o desmerecendo, mas porque eu o comprei exatamente para isso. Não para um casamento a partir de uma cerimônia, mas para um casamento de fato. Dia-apos-dia, convivendo e enfim.
O olhar triste do Neo fez eu parar. Ele achou que debochei dele _ Já somos casados _ afirmei com a cabeça _ Foi por isso que te comprei. Era o meu propósito desde o início.
_ Me escolheu para marido? Mas eu não sou...
_ Nunca me casaria com alguém que nao fosse exatamente assim, perfeito. Você é a minha escolha final. Nunca será substituído, Neo.
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