1. Spirit Fanfics >
  2. Mechanical Orgel >
  3. Capítulo Nove: O Gran Finale

História Mechanical Orgel - Capítulo Nove: O Gran Finale


Escrita por: AnnaSaeng

Notas do Autor


ANTES DE TUDO, gostaria de citar uma música: Moonlight Sonata, do Beethoven. Se sentirem vontade, seria legal ler o capítulo a ouvindo! (foi a música que eu ouvi escrevendo)

Enfim, último capítulo... Ansiosos? Pressentimentos bons ou ruins? Acham que tudo acabou bem ou...

Vamos descobrir? Boa leitura!

Capítulo 10 - Capítulo Nove: O Gran Finale


Fanfic / Fanfiction Mechanical Orgel - Capítulo Nove: O Gran Finale

Capítulo Nove: O Gran Finale


"Eu me afastei para enfrentar a dor
Fecho meus olhos e me afasto
Do medo que nunca encontrarei uma maneira de curar minha alma
E eu vagarei até o fim dos tempos
Arrancado de você."
(My Heart Is Broken, Evanescence)

 

A cidade ia aos poucos silenciando-se com a chegada da noite, os comerciantes fechando suas lojas, as mães chamando seus filhos para jantar, os trabalhadores do porto voltando às suas casas, em busca do descanso pelo longo dia que haviam tido.

Tudo parecia em harmonia, destoado apenas pelos ruído dos passos apressados de Oh Sehun, que agora praticamente corria pelas ruas vazias, os sapatos chapinhando contra o chão de paralelepípedos molhados, ainda úmidos pela chuva da manhã.

Por fim chegou ao casarão, tão abandonado como sempre esteve. Olhou-o por alguns segundos, ponderando se devia ou não adentrar ali. Ainda tinha a firme convicção de que Luhan merecia alguém melhor que ele. O resto de bom senso que ainda possuía lhe gritava para virar-se e ir embora. Eles já haviam tido um final. Tudo na vida tem seu fim.

 

Mas Sehun não estava pronto a aceitar essa ideia.

 

Forçou a entrada da porta, encontrando esta trancada. Sentiu o coração trepidar, a ideia do que poderia encontrar lá dentro lhe assombrando como os fantasmas de seu passado. Afastou-se para chutar a porta, agora esta cedendo e lhe dando passagem.

Não se importava. Se saísse dali, seria com a pequena marionete em seus braços.

Caminhou a esmo, horrorizado com o estado em que o interior do casarão se encontrava. Móveis, retratos, ornamentos: todos estilhaçados pelo chão, como se um furacão houvesse passado por ali e destruído tudo.

Tudo.

Sehun arregalou os olhos, correndo em direção da escada, em busca de Luhan. Tinha um palpite de onde o encontraria, e preferia ter errado. Ele desejava estar errado.

Porém, seu palpite não poderia ser mais certeiro.

 

As roupas levemente rasgadas, a pele da mesma maneira, tão machucada que parecia que havia sido violentado por milhares de homens grandes e violentos. Porém, ninguém havia feito aquilo consigo, apenas ele mesmo, se machucando com pedaços de cada coisa que quebrava naquela casa. 

Se encontrava agachado no chão do escritório de seu pai, algumas gotas de sangue escorrendo tão lentamente de seu braço que pareciam estar brincando com sua paciência.

Esta que nem existia mais aquele ponto.

Sempre acabava ali, naquele cômodo, mesmo este não tendo nada mais para descontar sua depressão, já totalmente destruído. Estantes no chão, porcelana e sangue por todo o lugar, as cortinas destroçadas, espalhadas por ali. A imagem não poderia ter um aspecto mais perturbador. 

As unhas de LuHan passeavam pela parede ao seu lado, descascando o papel de parede mofado que havia ali, como uma criança que não possuía nenhum brinquedo para se divertir. Nem notara a presença de outro alguém em sua casa, estava mal demais para perceber qualquer outra coisa que acontecia ao seu redor.

 

Sehun permaneceu estático na soleira da porta, tentando identificar no pequeno ser mutilado o rapaz com que vivera, trocara carícias e dividira os lençóis tantas vezes. Porém, não havia nada de Luhan ali.

 

Ele se fora. Aquela era apenas sua casca.

 

Aproximou-se devagar, temeroso de fazer qualquer movimento brusco e o outro descontrolar-se, colocando não só a de Luhan, mas sua própria vida em risco.

Mas que vida restara aos dois, após se separarem?

Um estava louco e o outro, fora de controle. Sozinhos, eram apenas pedaços de carne sem propósito. Eram incompletos.

Como manipulador sem marionete, e marionete sem manipulador. Era uma relação doentia, sim, porém necessitavam do outro para existir. Para sequer terem um propósito na vida.

Para serem alguém, acima de tudo.

Sehun engoliu em seco o bolo que se formava em sua garganta, ignorando a ardência que sentia nos olhos que insistiam em querer chorar. Tocou o ombro do menor, este esquálido e mais magro que antes.

- L-Luhan? - chamou, esperando que este ainda o reconhecesse, mas ele sabia que não seria fácil. Nada jamais fora fácil para os dois.

O garoto loiro nem sequer se moveu, apenas seus dedos, que voltaram a fazer contato com o papel de parede velho, arranhando-o tão forte a ponto de produzir um barulho fino e perturbador ao arrasta-los ali. Fungou apenas uma vez, evitando que as lágrimas da pura solidão voltassem a escorrer por seu rosto pálido e bem mais magro que antes. Não podia ver o outro ali, sua mente estava mergulhada demais no passado, este que lhe assombrava cada vez mais, dia após dia.
- Luhan?  Luhan... - Sehun o chamou outra vez, porém sem resposta. O menor parecia estar alheio à sua presenta. Como os fantasmas antes estavam. Mas fazia sentido, não fazia?

 

Pessoas vivas não podiam falar ou ver os mortos.

 

Puxou o menor para que este ficasse de frente para si, mesmo que parecesse fitar além dele, os olhos presos ao vazio. Ao vazio que Sehun conhecia muito bem. Fora a primeira coisa que notara nas orbes escuras de Luhan.

- Luhan... Acorde. - tentou mais uma vez, agora o rosto imerso nas lágrimas que insistiam em evidenciar todo o seu medo e angústia. - Volte... Apenas volte... Pra mim. Você não pode me deixar. Não outra vez. Não pra sempre. Acorde...

Quanto mais o chamava, mais pareciam inúteis suas tentativas. O menor estava longe demais para poder ser encontrado. Se perdera dentro da própria dor.

- Não me faça crer que eu cheguei tarde demais... O que eu sou sem você, além de nada? O que eu vou fazer sem você, além de esperar a morte? Luhan...

Mas não havia resposta. O pior pesadelo de Sehun se concretizava. O menor se tornara uma marionete inanimada.

E estas já não lhe pareciam mais tão interessantes.

 

LuHan podia ver o rosto em lágrimas a sua frente, porém não o reconhecia. Apenas o via, como qualquer outra coisa que havia ali, as marionetes em pedaços, a casa destruída. Nem mesmo o sentia; com o tempo, perdera parte da sensibilidade de suas mãos, devido aos inúmeros machucados ali. Entreabriu os lábios, tentando dizer algo, porém sua voz não saiu, apenas um murmúrio rouco e sôfrego, devido a garganta machucada por causa dos gritos de puro ódio que dava em meio às suas crises.

- E-Ele... - conseguiu dizer após algumas tentativas - E-Ele me deixou...

Sehun puxou o outro para seus braços, mesmo que este firmemente tentasse desvencilhar-se desses, como em todas as crises. Sentia os braços e mãos ensaguentados lhe marcarem a camisa e os braços, mas não se importava. Nada naquele momento importava mais do que trazê-lo de volta, seja de onde fosse que ele estava.

- Ele não existe mais. Ele é o seu passado. E eu estou aqui agora. Eu sou o seu presente, eu... - Sehun engoliu em seco, sorrindo mesmo com as lágrimas a escorrer pela sua face, as palavras lhe causando um sentimento bom, em meio a todo o caos que se instalava dentro de si. - Eu sou o seu namorado, não se lembra?

LuHan ainda tentava tirar o maior de perto de si, afastando-se debilmente para trás, encarando o rosto ainda desconhecido a sua frente, o olhar ainda sem vida.

- Eu não tenho um namorado... - disse, visivelmente deprimido, sua mente ainda o forçando a acreditar que não tinha ninguém junto de si - Eu mal t-tenho uma vida... - riu de forma sôfrega, o desespero começando a tomar conta de seu corpo novamente, o início de uma nova crise.

Sehun balançava a cabeça em desespero, tentando livrar-se das lágrimas que nublavam sua visão. Tentou segurar as palmas das mãos de Luhan, mas este soltou um gemido baixo de dor, pelos machucados ainda abertos. Sehun mordia o lábio com quase violência, tentando evitar que os soluços escapassem de sua garganta, enquanto via todo o horror que o menor fizera consigo mesmo.

- Por que fez isso, Luhan? Por que fugiu de mim? Como chegamos à isso? - sorriu amargamente, engolindo em seco, a voz emergida numa mágoa contida. - Eu sou apenas um desconhecido para você agora.

LuHan tirou suas mãos do alcance das do maior de forma desesperada, estas agora ardendo devido a forma como o homem as segurara. Sorriu ainda deprimido, porém agora um pouco mais obcecado, o sorriso grande e assustador que costumava ter em momentos extremamente críticos de sua depressão. Se levantou com dificuldade, apoiando-se na parede ao seu lado, murmurando coisas como "eu não conheço você" e "nunca nos vimos antes", antes de andar cambaleante até o outro lado da sala, mantendo-se longe do outro. Logo abaixou-se para pegar um caco de porcelana qualquer por ali, o observando como se fosse a coisa mais bonita que vira nesse mundo. Apoiou-se na parede, sentando novamente no chão aos poucos, suas costas coladas no cimento velho, o caco passeando por sua pele como se fosse algo normal para se fazer.

Sehun olhou em volta, para as marionetes ainda intactas no topo da estante, aonde Luhan não as alcançava. Pela primeira vez, sentiu o profundo ódio por elas. Por terem enlouquecido o menor, por terem destruído sua vida. E agora, destruírem a dele também.

- O que vocês falaram para ele? - sussurrou numa voz cheia de mágoa, quase um sibilar, a voz fraca. Voltou-se para Luhan, novamente sentindo uma pontada no peito ao ver a forma como este se cortava, como se apenas fizesse um desenho com tinta no próprio braço.

Foi até este, retirando-lhe o caco a força. Luhan agora lhe focou o rosto, olhando-o com um ódio cortante.

- Se eu fizesse isso comigo mesmo... - murmurou, apertando o caco entre os dedos, até que estes sangrassem pelo corte. - em outros tempos... Você ficaria apenas assistindo? - disse, fitando as orbes escuras do menor, reconhecendo um pouco da pequena marionete por quem se apaixonara, a confusão presente nessas.

Algo havia mexido com ela. Talvez fosse seu sangue. Talvez suas palavras.

 

Talvez o fim próximo, espreitando-se ainda apenas à observar a cena desenrolar-se.

 

LuHan manteve os olhos arregalados enquanto o caco afundava na pele do maior, este em pé a sua frente. Esticou as mãos de forma obcecada e até um tanto quanto infantilmente na direção do pedaço de porcelana que agora machucava o outro não mais tão desconhecido para si, tentando pega-lo. Se sentiu agoniado sem motivos, ao ver o líquido quente e rubro escorrer do corte alheio, como se o machucado houvesse sido feito em si próprio. Já podia ver o outro, porém ainda não sabia quem era e nem o que fora para si. 

- Me devolva isso! - gritou, ainda tentando pegar o pedaço.

Sehun se esquivou, notando que pouco a pouco as reações do menor tornavam-se mais racionais, este voltando a si de modo lento, emergindo à superfície. Tentava convencer-se de que não o havia perdido. Ainda não.

Apertou mais intensamente o caco entre os dedos, agora o sangue escorrendo com ainda mais força por seu braços, pingando no chão. A dor era lancinante, porém se fosse pela dor que Luhan retornaria, ele então o faria. Faria tudo pelo menor.

- Sabe qual é meu nome, Luhan? - perguntou, ainda esquivando-se dos braços afoitos do mais baixo que tentavam lhe tirar o caco da mão.

- P-Pare com isso! - LuHan gritou novamente, levantando do piso antigo de forma fraca e cambaleante, logo voltando a tentar tirar o caco das mãos alheias. O olhar desesperado do menor alternava das mãos ensanguentadas para o rosto do outro, sua memória brincando consigo, lhe negando a recordação do nome do outro. - Por favor...

Sehun apertou com ainda mais força o pedaço de porcelana, sentindo a pele rasgar-se, a dor causando um torpor em todo o seu corpo. Olhou em volta do quarto, memorizando as cenas que passara ali com o menor, do primeiro toque íntimo, a primeira vez que de fato fora correspondido. Podia ver em sombras foscas dele mesmo e Luhan, o pequeno em seu colo, caminhando desajeitadamente até o quarto ao lado, tão desesperado em busca do toque alheio.

Precisava se apegar à essas memórias. Sem elas, tudo o que restaria era aquele momento horrível que agora protagonizavam.

 

- Não se lembra desse quarto, Luhan? Do beijo? Da forma como correspondeu à mim? Como depois, nós... Em seu quarto... - a voz lhe falhava, a dor na mão latejante. Olhava em súplica para o menor, como se necessitasse que este se lembrasse de si.

E ele realmente necessitava.

 

O menor parou de tentar arrancar a lasca de marionete das mãos do outro, acabando por desabar, sentado no chão. Abraçou a própria cabeça, da forma que sempre fazia ao sentir dor em suas crises. Imagens em sua cabeça passavam feito um flash de luz, beijos, toques, gemidos e até mesmos as gargalhadas que dava antes, na companhia de alguém.

Alguém que parecia o homem que estava a sua frente agora.

- S-SeHun... - afrouxou mais o aperto, tentando se levantar para olhar melhor a face do mais alto, acabando por tropeçar, atordoado, tendo de se apoiar na escrivaninha que seu pai costumava usar, derrubando algumas coisas que haviam ali em cima.

Sehun suspirou ao ouvir o menor pronunciar seu nome, como um milagre. Não pensava que o outro pudesse reconhecê-lo no estado em que estava. Abriu a palma da mão, com a outra retirando o pedaço de porcelana quebrada que havia se cravado ali, jogando-a no chão, atrás de si. Aproximou-se de Luhan mais uma vez, cautelosamente, até que ficasse de frente para si, tentando ajudá-lo a levantar-se, porém sem ousar tocá-lo. Não arriscaria fazê-lo sentir dor outra vez.

- Ah, Luhan... - suspirou, tocando o rosto do menor com a ponta dos dedos, sentindo a pele macia. Mantinha a mão machucada ainda inerte ao lado do corpo, o braço inteiro formigando em razão dos graves cortes que fizera.

Mas nada importava. Nenhuma dor importava. O pior havia passado.

 

Ou pelo menos, foi o que pensou.

 

LuHan conseguia lembrar aos poucos da face que agora tentava lhe ajudar, porém ainda se sentia atordoado, tonto, as vozes dos brinquedos quebrados ainda ecoando em sua mente, tentando lhe impedir de voltar ao mundo a que pertencia. Longe de sua mente. 

Tentou se esquivar do toque de SeHun em sua face, acabando por realmente cair no chão, tentando se apoiar com uma das mãos no chão, a qual acabou pressionando um pequeno e delicado candeeiro que derrubara da mesa de seu pai, quebrando-o. Em poucos segundos o cheiro do gás que saíra dali já impregnava todo o cômodo, deixando o menor ainda mais tonto que antes. Gemeu de dor, o vidro fino do objeto entrara em sua mão, cortando-a ainda mais que antes.

- Deixe-me ajudar. - sussurrou Sehun, pegando a mão recém machucada de Luhan de modo delicado, a palma virada para cima. Este tentou se esquivar a princípio, mas depois apenas observou enquanto Sehun tentava, com cuidado, retirar o caco da palma pequena e mutilada, das tantas outras vezes em que o menor cortara-se propositalmente.

Em seguida, levou a mão de Luhan até o lábios, beijando-a sobre o machucado, sem se importar se o sangue lhe sujaria a boca ou não. Sentir o menor se arrepiar sobre seu toque, e isso era mais do que ele poderia pedir. Melhor do que podia se lembrar, mesmo ali, naquela situação.

LuHan sentiu o corpo inteiro se arrepiar ao sentir os lábios macios do mais alto em sua mão, o local sensível devido aos machucados. Pôde sentir-se amolecer com o toque, sua cabeça doendo um pouco menos, seu corpo menos cansado. 

- S-SeHun...? - realmente, agora podia lembrar-se melhor das características do homem que tanto amava, e que o abandonara, para ficar com suas marionetes.

LuHan lembrava de como os brinquedos haviam o tirado de si.

- O que faz aqui?! - gritou, raivoso.

O cheiro do gás que ainda continuava a vazar do candeeiro agora se encontrava mais forte, porém, os dois mal se importavam com aquilo, não poderia ficar ainda pior a situação que estavam vivendo.

Mas ficaria.

Uma pequena faísca brotara do contato do lustre de velas ligada ao teto com o gás, esta quase insignificante, porém, que crescia aos poucos, ainda imperceptível tanto para LuHan, quanto para SeHun.

- Eu vim... - agora que Luhan se fazia presente com memórias, parecia mais difícil lidar com ele. A realidade parecia sempre conspirar contra os dois. Suspirou, tentando colocar os pensamentos no lugar. - ... Eu vim buscar você. Eu precisava te ver... Luhan, eu... - queria continuar, mas então o cheiro da fumaça se fez perceptível, o fogo alastrando-se pouco a pouco, indo do foco até as paredes, o assoalho estalando fraco sobre as chamas que agora o consumiam. Cada pedaço de madeira, pouco a pouco sendo tomado pela cor flamejante do fogo.

Sehun sentiu a urgência de saírem dali assim que vira o fogo se espalhar, porém Luhan ainda parecia alheio à tudo em sua volta, tornando a fechar-se em sua bolha impenetrável.

Tentou levantar o menor do chão, este porém ainda recusando seus toques.

- Luhan, precisamos sair... - disse, ouvindo o estalo da madeira do teto, um pedaço deste cedendo na extremidade do cômodo. - Isto aqui vai ruir a qualquer momento.

- Não me toque! - LuHan disse, alheio a tudo o que acontecia no cômodo, não percebia o fogo, a fumaça, nada tirava a atenção do menor, esta focada no maior a sua frente, na maneira que ele o abandonara para as marionetes, na maneira com que ele o deixara para cuidar delas. - Você me abandonou...

E então voltara a chorar, soluçando de forma desesperada, as lágrimas rolando livremente por sua face. Se encolheu mais contra a parede, seu rosto molhado encostado nesta, fugindo do olhar de SeHun.

 

Eles precisavam sair. Ou morreriam.


A madeira gasta e velha cedia com facilidade ao fogo farto, agora em todo o segundo andar do casarão. Se não saíssem o mais rápido possível, ficariam presos ali.

Mas Sehun não deixaria Luhan.

Sentia o calor opressivo percorrer seu corpo, evidenciando o pouco tempo que tinham. Precisava fazer algo. Tomar uma decisão.

- Eu jamais lhe abandonaria. Eu... Luhan. - suspirou, as palavras vindo naturalmente, como se estivessem o tempo todo presas ali, esperando seu momento certo. Um último momento. - Eu estava morto até conhecer você. Não tinha um propósito além de satisfazer minhas próprias vontades egoístas, que no fundo serviam apenas para disfarçar o grande vazio que eu tinha por dentro. E então... Você apareceu. - sorriu fracamente, os olhos umedecidos, não somente pela fumaça que os fazia arder, mas pelas verdades que ele tanto escondera de si mesmo. - Você me deu um propósito. Você se tornou meu propósito. E se o fim for hoje, aqui nesta casa, eu o aceitarei. Porque se for por você, eu estou disposto a morrer.

LuHan escutava a declaração do maior de olhos fechados, ainda encolhido contra a parede, as lágrimas ainda mais intensas. Ao escutar o fim das palavras do outro, abriu os olhos, não só literalmente, mas para tudo. Para sua relação com SeHun, para a crise que vivia agora, para o momento desesperador que estava acontecendo. Olhou diretamente nos olhos do outro, estes tão inchados e vermelhos quanto os seus. De forma receosa, foi se desencostando da parede já  quente, engatinhando sem ligar para os cacos de vidro no chão na direção do maior. Tocou seu rosto com as mãos machucadas, os dedos trêmulos deslizando numa calma que não deveria ser presente.

- SeHun... - apenas sussurrou o nome do outro de forma fraca, como se as forças que tinha se esvaíssem junto com a fumaça.

Sehun arquejou, o toque do menor lhe fazendo a pele formigar. Um toque espontâneo. Como ele sentira falta disso.

Puxou o outro para seus braços, apertando-o forte pela cintura, aconchegando o corpo pequeno em si, naquele momento o único som audível sendo a da respiração do outro e o batimento de seu próprio coração, que palpitava violentamente contra seu peito. Sentia-se vítima da piada mais irônica de todas que a vida poderia fazer.

 

Ele o teve e o perdeu. E agora que o recuperara, o perderia de novo.

 

Mas não estava disposto a fazer isso sem sacrifícios.

Afundou o rosto na curvatura do pescoço de Luhan, sentindo do aroma de sua pele mais uma vez — uma última vez. Beijou-a delicadamente, tentando guardar para si a textura macia que esta possuía, para lembrar-se disso para onde quer que partissem depois do fim.

 

Fim. Era difícil pensar nele, agora tão presente. Aquele era o fim?

 

Sehun não sabia. Talvez fosse o fim dos dois. Mas e seu sentimento? Este que agora transbordava de si, sendo necessitado ser feito em palavras?

Este, mais do que todas as coisas, Sehun sabia que era eterno. De uma forma que não conseguia explicar, de uma maneira que ele mal conseguia expressar. Mas enquanto existisse, ele o amaria. E mesmo depois que sua existência se esvaísse, sua essência continuaria a amá-lo, através dos tempos. Finalmente ele entendia. Finalmente aceitava.

Sempre fora amor. Desde o princípio, e seria até o fim.

Levantou-se, trazendo o corpo menor consigo, este apoiando-se em si para manter-se em pé. Segurou a cintura fina e delicada com as mãos, ignorando qualquer dor que viesse dessas. Todas as dores passariam em pouco tempo, ele sabia.

Beijou a testa de Luhan, sorrindo para este.

- Juntos... até o fim. - murmurou, colando a testa ao do menor.

E foi naquele momento que LuHan se dera conta do que estava acontecendo.

O fogo, as lágrimas, o tempo que realmente sofrera longe de SeHun, tudo lhe bombardeou de uma vez só, fazendo-o descontar todo o desespero em lágrimas. Seu olhar sôfrego percorreu todo o cômodo em chamas, agora realmente desesperado por ter seu fim daquela maneira.

Tudo em chamas, sem saída.

Mas estava com SeHun. Tudo ficaria bem no final, dizia para si mesmo.

Soluçou, agora desistindo de buscar qualquer escapatória dali, abraçando forte o corpo maior a sua frente, sem se importar com os cortes que sangravam em seu braço. Uniu as testas assim como o maior fazia, olhando diretamente em seus olhos profundos. Sorriu, mesmo sem motivo. Ao menos estavam juntos. SeHun era a única coisa que a vida não podia tirar mais de si.

- Eu te amo. - disse fraco, e então, beijou-lhe os lábios.

Pela última vez.

A magia das últimas palavras. Sehun não podia sentir-se mais feliz por ser a voz de Luhan a última que escutou. Sua voz, lhe declarando o que ele sempre quisera ouvir.

Beijou o menor ternamente, os lábios roçando-se em sincronia, num último toque suave e delicado. A última lembrança que compartilhavam.

- Eu te amo. - Sehun disse, uma primeira e última vez. Abraçou com mais força o corpo pequeno contra si, unidos como um só. E assim partiriam, juntos. Como sempre deviam estar.

Fecharam os olhos, apenas a absorver as últimas sensações, enquanto as chamas devoraram pouco a pouco tudo o que havia no local.

 

Naquela noite, a criança molestada e o garoto abandonado tiveram seu fim, a redenção por fim lhes deixando partir, esvaindo-se às cinzas como todas as marionetes do local, enfim libertos da prisão do passado. Amar talvez os tivesse levado àquele fim. Talvez amar fosse sua redenção.
 

Mas foi por amarem um ao outro que encontraram a paz. Enfim, juntos.

 

f i m


Notas Finais


........................................ Enfim.

Finalmente rolou o 'eu te amo', né? q
Esse é o final de Mechanical Orgel, e decidimos deixar assim, afinal, como muitos de vocês disseram e nós concordamos plenamente: Este era o único final viável para eles, então não vamos mudar!

Desculpe aos que não gostarem do final, e aos que gostaram, obrigada <3

Btw, obrigado à todos que leram e acompanharam! Jamais conseguiremos expressar em palavras a alegria que sentimos por todo o carinho que vocês deram à esse bebê nosso que é M.O.
Até a próxima fic! (que começa a ser postada na primeira semana de dezembro!)

Apedrejamentos, reclamações, gritos histéricos e coisas do gênero, podem comentar aqui (apenas se quiserem, é claro) ou nos gritarem lá no tt: @creepyungsoo e @ColorfulHee.

Até, até! *3*

~Lin


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...