História Medo de Água - III. Balançando no Quintal;

Eu estava cansada. Essa semana se passou sem nenhuma explicação por parte de Jennie, e eu não consigo não me sentir decepcionada, mas nada que seja literalmente algo que influencie a minha vida. O resto da semana em si, se passou com provações, indiretas, e coisa do tipo. Nada que eu não ache infantil demais, não é mesmo? Não é como se eu estivesse surpresa. Na realidade nunca que eu estaria surpresa quando se trata de Jennie e escola. Suspirei, levantando da cama e calçando as minhas pantufas que estava ali aos pés da cama. Cocei meus olhos, olhando a sacada, vendo os raios solares fraquinhos adentrarem meu quarto. Talvez já fosse mais das oito da manhã, afinal. E por algum milagre, não estava nublado. Seria algum tipo de pegadinha do universo, afinal?

Me levantei da cama, me arrastando até a porta do quarto, e sai do mesmo, começando a descer as escadas indo em direção a cozinha – que por acaso estava deserta. Meus pais já devem ter ido trabalhar, então, eu estava completamente sozinha e com a casa todinha 'pra mim. E isso significa que irei ficar mofando no sofá ou no meu quarto, engordando e assistindo algo que preste, é isso. E assim seria por todo meu fim de semana. Nada de novo. Nunca tem nada de novo mesmo… Adentrei a cozinha calmamente, indo em direção ao armário, mas acabei soltando um grito ao sentir algo molhado debaixo dos meus pés. Olhei para baixo, vendo então o líquido amarelo, vulgo urina de cachorro. No caso urina da Bella.

— Argh, Bella! — resmunguei, tirando meu pé dali, e ir mancando até o pano de chão que estava ali perto, pegando o mesmo e pisando em cima, para logo a seguir o passar em cima do local na onde Bella havia deixado sua marca. Podemos ver claramente que meu dia começou lindíssimo.

Peguei o pano, o levando até a lavanderia, e então voltei, lavei as mãos e novamente fui em direção ao armário, pegando assim uma vasilha de cereal, juntamente com o pacote de cereal. Eu nem deveria ter cereal em casa, mas eu realmente gostava deste. Bocejei, enquanto deixava as coisas citadas anteriormente em cima da mesa, e me dirigia até geladeira, pegando uma caixinha de leite; e então despejei o líquido no recipiente, colocando o cereal logo a seguir. Me sentei, suspirando e comecei a comer, olhando para nenhum ponto específico. A não ser que você leve em consideração que eu estava olhando para a plantinha que já murchava da minha mãe. Assim que terminei de comer, coloquei a vasilha na lava louças, juntamente com a colher, e sai da cozinha começando a voltar para meu recanto feliz, vulgo quarto.

Suspirei, assim que entrei no mesmo, indo até a cômoda e pegando meu celular. Não sem antes o desconectar do carregador, já que ele vive carregando. Não sei como ainda não viciou a bateria. Vi a quantidade de mensagens não lidas e revirei os olhos ignorando. Não era a minha praia ficar lendo milhares de mensagens. Peguei minha toalha, juntamente com uma blusa branca com listra vermelhas, um short jeans de cintura alta, meias até um pouquinho acima do tornozelo e um tênis qualquer preto. Eu ficaria em casa hoje, não preciso ficar toda arrumadinha. Me arrastei até o banheiro, pegando meu celular e colocando em uma playlist boa 'pra tocar. Me despi, entrando no box a seguir; acabei por fazer uma caretinha no momento que a água gelada caiu nas minhas costas. Tomei meu banho, lavei meu cabelo – vendo a tinta roxa desbotada sair juntamente com a espuma, indo por ralo abaixo – e então fechei o chuveiro, no mesmo momento que começou a tocar a minha música favorita; me fazendo soltar um muxoxo. Poxa, logo agora que eu estava saindo do banho! Antes que eu me arrependesse e voltasse a ligar o chuveiro, minha música fora interrompida pelo som de mais e mais mensagens. O grupo da escola nunca soube calar a porra dos dedos – e a boca – mesmo. Peguei minha toalha me enrolando na mesma, e logo a seguir fui para frente da pia, abrindo o pequeno armário que tem ali e peguei minha escova de dentes junto com a pasta. Assim que terminei, enxaguei a boca e finalmente saí daquele banheiro cheio de  vapor por conta do meu banho quente, praticamente fervendo. Adentrei meu quarto, deixando pegadas molhadas 'pra trás; se Bella passasse por aqui agora, com certeza escorregaria. E eu iria rir, é isto. Eu não mereço a bolinha de pelo que eu tenho.

Me troquei, colocando a roupa que já tinha separado; sequei meu cabelo, tirei a toalha molhada de cima da cama e sai de quarto, vendo Bella brotar do nada, balançando o rabinho e me lambendo. Ela era uma bolinha de pelos fofa, se não fosse pelas unhas enorme que ficam acabando com as minhas pernas, não é mesmo? Desci as escadas, passando pela sala, e indo em direção a porta de entrada. Eu iria ficar tomando sonho, isso sim. Sai de casa, indo até a parte lateral do quintal, e me sentando no balanço – que por acaso estava fervendo por conta de ser de metal – que há ali desde que eu me entendo por gente. Lembro que uma vez eu quase tive um ataque de pânico já que estava balançando tão alto que quase dei meia lua. E bom, eu não estava afim de perder um braço ou perna. Comecei a balançar bem baixinho, e levantei meu olhar assim que ouvi meu nome ser chamado. Encarei a criatura, vulgo Rosé a minha frente e franzi o cenho. Será que eu perdi algo?

— Jisoo, neném, você não vai na lanchonete que inaugurou agora? Ela é toda temática de anos 80! — falou, me fazendo franzir o cenho. Será que era disso que falava as mensagens que eu estava ignorando? — te 'flodamos de mensagem mas nem ficar online você não ficou… — é com certeza era.

— Ah, acho que meu wifi caiu… eu vou levar a Bella no veterinário daqui a pouco, e depois vou ter que ir fazer compras com a minha mãe. — menti —  Perdão, Rosé, fica 'pra outro dia, tudo bem?

A Park fez um biquinho desapontado mas assentiu.

— Tudo bem, depois eu te ligo em! Tchau, Jisoo! — se despediu, e eu acenei, assentindo.

Continuei ali tomando meu sol, até ver do outro lado da rua, Jennie, passando, e então parando para me encarar. Franzi o cenho, estranhando aquilo, mas não dei muita moral. Com certeza logo ela continuaria seu caminho e eu poderia aproveitar meu sol em paz; entretanto não fora isso que aconteceu. Jennie atravessou a rua, vindo em minha direção e sorrindo. Sorrindo como antigamente, e não posso negar que aquilo me acertou como um tiro. A garota adentrou meu quintal, se aproximando e se sentando ao meu lado no balanço vazio.

— Oi, Jisoo — comprimentou, ainda sorrindo.

— Oi, Jennie — respondi meio hesitante. Aquilo era estranho. Na verdade, muito estranho. — O que faz aqui? — questionei.

— Balançando com você, oras! — respondeu, e eu assenti abaixando um pouco a cabeça. Então estávamos assim, balançando no quintal.