História Meia Noite - 24 de abril, 2010

24 de abril, 2010

Lailo

O relógio da sala de espera da diretoria marcava nove e meia da manhã, o sinal confirmava, estávamos há duas aulas esperando nossos pais chegarem, estávamos encrencados.

Drew se mexia desconfortável na cadeira de plástico cinza escuro que nos sentávamos. Seus olhinhos examinavam o sapato que acendia uma luz vermelha cada vez que pisava no chão. Ele amaria sair correndo pela secretaria em qualquer dia normal, mas hoje não.

Dam nos fuzilou com os olhos enquanto passava voltando da aula de artes, ao qual odiava, ao contrário de Sena. Ela amava brincar com guache em uma tela grande e branca, mamãe guardava cada quadro seu e ela agradecia com a mesma expressão doce que nos lançou quando passou acompanhada de Cann.

A garota ruiva vivia no radar dos olhos de meu irmão ranzinza, mas os pequenos olhinhos verdes sempre passeavam para Jude, o garoto sem medo.

Seus cabelos já foram em um tom preto como os de seu pai, mas se não me engano, ela mudou sua cor assim que ouviu uma conversa na rodinha de garotos, que Jude havia achado lindo a cor dos cabelos laranjas de uma garota do vídeo game que jogara com seu primo mais velho.

Às vezes sentia pena dela, afinal, quem queria alguém como Lauren atrapalhando sua chances de falar com o rapaz?

Ah, Lauren… a garota de aparência ainda mais infantil que a de Drew, de apenas oito anos. Ela vivia na sombra do irmão, que a paparicava sem ela precisar pedir, não que ela algum dia pudesse pensar em reclamar. Bem pelo contrário, fazia de tudo para afastar quem quer que se aproximasse do Jummy, como chamava.

Dez e quinze. Recreio e nós continuávamos lá com a sombra da confusão em nossas mentes. Foi tudo tão rápido…

Estava indo pra primeira aula, português, Sena tagarelava sobre Luke ter ficado em casa e nós tivemos de vir para a aula. Passávamos por baixo dos telhados da calçada enquanto uma chuva triste cobria o sol, avistei Drew e acenei. Só que ele não viu e o que veio a seguir fez arregalar os olhos e sorri. E foi quando percebi o que estava acontecendo.

O garoto da sala de Drew o afasta limpando a boca com cara de nojo, fechando as mãos em punho e indo para cima dele.

Só me lembro de ouvir o clack do nariz do garoto se quebrando contra meu punho.

- Andrew! - corro até o garotinho jogado no chão aos pratos. Seus olhinhos castanhos me olham com medo. Me ajoelho à sua frente enquanto ele examinava o garoto que acabara de beijar caído.

- Eu… eu…

- Está tudo bem - suspiro o ajudando a levantar para sairmos da chuva.

Os saltos da coordenadora batem mais rápidos que as batidas do meu coração, Sena vem correndo e nos puxa da chuva, tentando limpar com os dedos o sangue que estava em minha mão.

Paramos em um banco de madeira que ficava encostado na parede sem vida.

- Oh-ou… - Sena reclama.

- O que você tem na cabeça, Andrew?! - Damen chega irado.

- Cala essa boca, Damen - Sena xinga.

- Por favor… - resmungo sentando Andrew entre Selena e eu. - Drew já está abalado.

- ABALAD…?!

- Cale-se, Sr. Simms - a coordenadora chega por trás dele o interrompendo. Você e sua irmã podem seguir para a sua aula.

Sena reclama em pensamento, coisa de quadrigêmeos. Podíamos ouvir os pensamentos um do outro, apesar de sempre tentarmos evitar… Isso era desconfortável de todas as formas.

Balanço a cabeça me livrando das lembranças. Olho Drew novamente.

- Ei… está tudo bem? - sorrio reconfortante.

- Si-sim... - sua voz falha pela primeira vez, apesar de tudo Andrew era um cara durão.

Bagunço seu cabelo da mesma cor dos olhos, com leves reflexos dourados quando pegava a luz.

- Você não fez nada errado - estalo a língua.

- Mas Damen… - levanto uma mão o interrompendo.

- Andrew… Nunca… Você nunca deve deixar o Damen lhe controlar! - falo baixo e rápido. - Se você fez aquilo foi porque quis! Não ligue para as pessoas que não entendem...

Me levanto saindo rapidamente da diretoria e indo até o bebedouro do outro lado do corredor. O rádio do velho zelador estava ligado e preso no cinto de sua calça enquanto ele passava… “Acidente na estrada principal… Um homem e uma mulher ainda não identificados gravemente feridos… um adolescente preso nas ferragens e ainda não se sabe seu diagnóstico. Mais informações no BN Noticias ao meio dia!”

- Eles não tem mais nada pra falar... - Seu Michel resmunga. A narração do jogo das finais de campeonato começa e ele sorri.

Volto a diretoria e sento ao lado de Andrew novamente. As crianças começam a se espalhar pelo pátio e corredores rindo e correndo. E… Cann chega correndo com Cinddy.

- O que vocês aprontaram?! - temos sorte de estarmos sozinhos na sala… pois a expressão de Cannela assustou até à mim.

Sena chega junto a nós.

- Ela nem me deixou explicar! - fala sem ar. - Quando falei que es… - Cinddy a interrompe com aquela vozinha de preocupação.

- O que foi, An? - ela se ajoelha em frente ao meu irmão. Ficando bem de sua altura, com os seus onze anos de doçura.

- Eu fiz besteira, Cin! Mamãe vai ficar chateada comigo…

Cinddy me olha e vejo a pena em seus olhos azuis cristalinos.

- O que você fez, querido? - Cann se ajoelha ao lado de C.

- Eu beijei o Matt…

A loirinha se espanta um pouco, enquanto Cann continuava calma.

- Damen brigou com ele por essa bobagem?

Eu e Sena concordamos.

- Damen anda estressado de mais ultimamente - murmuro. - Parece criança pequena!

 Me levanto indo até a janela com persianas, bagunço meu cabelo e observo o pátio externo, onde um grupo de garotas ensaiava uma dança boba… mas era tão hipnotizante…

- Lailo eu estou falando com você! - Selena fala reinenta.

- O que foi, droga? - me viro para eles, já havia se passado quatorze minutos, logo o sinal batia. Cann estava olhando tia Fairy horrorizada, espera… O que ela estava fazendo ali? - Tia?

- Oi, querido - os seus olhos estavam vermelhos - Vamos para casa?