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História Melhor Atuação - Capítulo 11.1 - Demônio Cuidadoso


Escrita por: AnanditaDutta

Notas do Autor


Comeback de Melhor Atuação! \o/ *party hard*

Vão ler, vão ler! ^^
Tirem suas próprias conclusões.

Capítulo 13 - Capítulo 11.1 - Demônio Cuidadoso


 

A primeira vez, naquela noite, que o Eunhyuk havia se aproximado sorrateiro para me irritar tinha sido quando ainda estávamos na frente do estúdio decidindo com quem eu iria pegar carona até o bar.

Siwon acabara de sair, educadamente se desculpando com todos por não poder comparecer na confraternização e cacarejando que eu tinha que comer antes de ir.

-Foi abandonado? - Hyuk disse, sendo o último a sair do galpão.

Ele não deveria dar asas ao meu ciúme besta de amigo carente com medo de perder a única pessoa que realmente cuida de mim. Macaco infeliz. Como a frase me cutucou num ponto sensível, eu virei para retrucar qualquer coisa, porém o xingamento ficou engasgado na minha garganta.

Porra.

Seu perfume inebriante me atingiu como um soco, da mesma forma foi seu sorriso debochado, irritante e tentador. Hyuk segurava o capacete da sua moto embaixo do braço, com suas mãos enluvadas em couro preto combinando com a jaqueta cara que lhe vestia tão bem que eu não duvidaria se me dissessem que havia sido confeccionada sob medida.

A perfeita imagem de um badboy em começo de filme água-com-açucar dos anos 90... Só faltava arrumar uma puta para se pendurar em seu ombro. Também lhe faltava um coração para que a mocinha conseguisse mudá-lo e, principalmente: faltava a mocinha louca o suficiente para tentar isso.

-É a noite de folga dele.

-O que se traduz como “ele arranjou companhia melhor”. - alfinetou.

Minha lista de xingamentos para esse desgraçado não parecia grande o suficiente.

-Não, significa que não nascemos grudados.

Depois eu lhe provoquei sobre ele ter sido rejeitado pelo Heenim, mas o Eunhyuk não caiu nisso. Pelo contrário: zombou do que eu havia dito antes, falando que, pelo jeito que eu não fazia nada sem meu manager, qualquer um poderia pensar que nascemos, sim, grudados.

Não adiantava continuar uma discussão infantil assim, eu sabia e não conseguia me obrigar a parar enquanto não o calasse. Isso parecia divertir a staff ao nosso redor, inclusive Sora rira das nossas picuinhas até o momento em que se despediu da equipe também e deixou seu irmão livre para fazer qualquer merda que ele quisesse – como pegar metade da parte gay da equipe.

***

Quando não estamos mais sob a influência da visão tentadora do corpo e da sexualidade envolvente do Hyuk, é que nos damos conta da capacidade que ele tem de se infiltrar em nossos pensamentos e de roubá-los para si. Mas aí já é tarde demais e você já gemeu e implorou, pediu por mais e tudo o que resta são as memórias se repetindo em sua mente, e, para zombar da sua lucidez, em sua pele também – a impressão deliciosa de seus toques tão real que provoca arrepios.

Virei o conteúdo do meu drink colorido em um gole só, esperando o próximo ficar pronto. Inferno.

Eu queria tirar o ator idiota da minha cabeça, tão cheia de outras coisas mais importantes que minha vergonha por tudo o que acontecera no set de filmagem com aquele desgraçado. Porém, ao contrário do que prega todos os filmes e todos os adultos amargurados: álcool nem sempre nos faz esquecer num primeiro momento. Ele faz nossa cabeça rodar com tudo o que passa dentro dela se misturando tão pesado que nos deixa sem juízo para decidir o que nos convém e o que não.

Ele me deixa filosófico e a última coisa que eu queria era dissecar minha crescente necessidade de sentir a atenção do Eunhyuk em mim. Não, a última coisa que eu queria mesmo era sentir o amargo da rejeição que estava ali, bem na esquina solitária de um lugar na minha cabeça evitado a todo custo por mim.

Assim, admirei o físico bem afeiçoado do barman que preparava meu pedido com uma coreografia ágil. Bonitas pernas...

-Ele não é gay. - fui surpreendido pelo sussurro impertinente, tão próximo à minha orelha que causou um formigamento de expectativa por toda a minha pele.

Eunhyuk. Merda de noite em que não podia ter paz para lidar com meus fantasmas. Foi a segunda vez que ele foi de fininho me tirar o pouco de paciência que restava, enquanto eu tentava não me afogar em pensamentos sentado no balcão do bar sozinho.

Minha pose casual e sossegada poderia convencer até um especialista em mentiras; quando eu sorri, era de uma malicia que condizia com a minha atual profissão.

-Talvez eu queira um desafio. - respondi, desejando ardentemente que meu drink chegasse logo.

-Ah, é? – seu ar debochado me mostrou que ele não me levou a serio. - Comentei porque você não parecia ter notado que não teria uma boa resposta.

Ele estava certo, o moço em questão não parecia do tipo que ficaria adulado se me pegasse lhe secando como as mulheres ao meu redor faziam, porém eu teria reagido melhor se o tom que o Hyuk usara não insinuasse que ele estava desdenhando da minha capacidade de seduzir.

Idiota.

-Não notei mesmo. O que você sugere? Devo aprender como ser sonso com seu amiguinho e literalmente me jogar em cima dele para que ele me note? - minha humilde curiosidade era tão falsa quanto minha paciência para lidar com esse babaca.

Ainda continuava entalado na minha garganta o pequeno “tropeço” de um dos técnicos de luz, afortunadamente ao alcance das mãos quentes do Eunhyuk para que ele o segurasse com um sorriso charmoso de canalha da pior laia pouco antes de termos nos acomodado nas mesas reservadas para a confraternização.

E o técnico tem cara de punheteiro.

-Com raiva porque não teve tempo de tentar a sorte comigo?

Ergui uma das minhas sobrancelhas.

-Não sabia que você tinha virado propriedade daquele cara só porque ele deu mole para você primeiro.

Provavelmente o Hyuk entrou na onda do técnico-atirado exatamente por saber que ele estava fácil-fácil, mas “não sou de negar fogo” é o lema da vida dele, não é? Por que ele está agindo como se fosse ficar só com um idiota a noite inteira? Ele é um ninfomaníaco nojento e não um cara tentando encontrar alguém legal.

Seu maldito risinho de filho da puta confirmava minha teoria.

-Aliás, o que faz aqui? Já cansou de brincar com aquele coitado? – questionei.

O punheteiro deveria receber seus créditos, apesar de tudo. Roubara a atenção do Eunhyuk e isso já era mais do que eu consegui em todo o tempo em que o conheço.

Não que esse fosse meu objetivo. Longe disso, eu prefiro não me deixar entrar em problemas, ainda mais quando eles envolvem esse desgraçado do Eunhyuk. Entretanto, continuava irritante admitir que, para os gostos estranhos dele, até um zé-mané era melhor que eu.

-Está perguntando por que não sabe? Pensei que estivesse me fiscalizando.

Ah, que piada. Ri.

-Seu ego é foda. Chega a ser engraçado.

O barman me entregou meu drink, afastando-se para pegar o que o Hyuk pedira: duas garrafas de água. A falta de resposta do ator não significava que ele iria me deixar quietinho no meu canto.

-Tem certeza de que sabe qual é a ideia de uma confraternização de trabalho? - questionou.

Ele queria me tirar do sério, só podia ser.

Controlei o xingamento na minha língua. De onde estávamos, era possível ouvir o som de risadas e vozes animadas da staff, mas não foi por causa da tendência que grupos grandes em bares têm de se tornarem barulhentos que eu vim sozinho para o balcão.

-Saudades? Se faz tanta questão de que eu esteja lá, eu volto para a mesa. – concedi, benevolente e embebido em sarcasmo.

Girei no banco de madeira polida para descer, sem ter tempo de me equilibrar o suficiente. Os últimos três drinks que eu bebera rápido demais continuaram girando e arrastando minha cabeça com eles, mesmo depois do fim do movimento, enquanto eu me dava conta do calor das mãos do Hyuk nos meus braços para me manter no lado certo do planeta.

Agarrei a borda do balcão. O diabo se inclinou sobre mim, com suas mãos descendo até minhas coxas e seu rosto perto demais.

-Não é saudade.

Minhas bochechas arderam – talvez um efeito do álcool. Não era por meus olhos terem se fixado no movimento dos seus lábios bem desenhados e, com certeza, também não era porque eu estava a meio segundo de pedir para que ele grudasse sua boca na minha e nunca mais soltasse.

Claro que não.

-Eunhyuk.

-Hmm?

Não fala, Donghae. Não fala nada... Fechei os olhos, sentindo os do Hyuk pesarem sobre meu rosto acalorado.

Puta merda.

-Aqui. - Hyuk se endireitou para fazer meus dedos contornarem o que deveria ser uma das garrafas de água que ele pedira antes. Já estava aberta e o dono daqueles dedos soltou os meus ao se afastar. -Você deveria parar de beber.

Ele saiu com sua própria garrafa e sentou-se novamente ao lado do punheteiro, como se não tivesse vindo até aqui só para embaralhar os meus pensamentos e tomá-los para si. Aish.

Não era água o que eu queria, ela não aplacaria a brasa irritando a boca do meu estômago.

Nem meio minuto depois eu já me encontrava sorrindo para qualquer-que-fosse o assunto que Shindong falava, sentado ao meu lado num dos cantos do sofá que contornava três dos lados de uma das grandes mesas reservadas para a equipe. 

-A ForMen vai divulgar fotos dos bastidores da série? - questionei na primeira oportunidade que apareceu na conversa.

-Sim, vamos atualizar nossas contas das redes sociais com vídeos curtos e fotos. As pessoas gostam de saber que os atores curtem as filmagens e, ainda mais, de ver que eles são pessoas normais. Isso os aproxima sem desgastar o brilho ilusório dos filmes. - explicou para mim e então levantou para falar com o resto da equipe: - Vamos tirar uma foto e filmar um pouco. Vou pedir autorização ao gerente. Aiden, vá para o lado do Eunhyuk enquanto isso.

O ator me encarou por cima da garrafa de água, bebendo devagar, com um dos cantos dos seus lábios repuxado em um meio-sorriso sexy.

-Não posso ficar aqui no canto mesmo? - resmunguei, soando terrivelmente contrariado. E convincente.

-Não, você precisa estar ao lado do outro protagonista. Vai logo. - o diretor instruiu, chamando um dos câmeras para que ajeitasse a câmera semi-profissional para a iluminação do bar. Em seguida foi atrás do gerente e as pessoas que não queriam sair na foto saíram da mesa, fazendo o caminho contrário ao que eu deveria fazer.

Meu equilíbrio afetado pelo álcool agradeceu que não restassem muitos pés para que eu desviasse. Passei pelos que ainda continuaram sentados no sofá ao redor da outra mesa até chegar ao centro, onde o Hyuk estava, mas não teria graça se não fosse para ser empata-foda: mesmo que eu pudesse ter parado do lado em que não atrapalharia nenhum dos dois idiotas, eu não faria isso e é lógico que o Eunhyuk não me deu licença para passar e poder sentar entre ele e o punheteiro.

Imbecil. Chutei seu pé para ter espaço para o meu e deve ter doído pela forma que ele sibilou e curvou-se, esticando o braço para deixar a garrafa de volta na mesa e terminar de travar meu caminho. Olhei-o de cima, forçando minha coxa contra seu braço.

-Não vai me deixar passar? - questionei, com uma ordem velada em meu tom ácido.

Hyuk ergueu os olhos para o meu rosto antes de encolher o braço e eu quis amaldiçoar minha ideia de jerico. Aquele ângulo, naquela posição com a minha virilha tão perto do seu rosto, enchia minha mente de ideias relacionadas à sua boca tentadora e seus olhos me olhando tão maliciosos quanto faziam. Porra, ele percebeu que mexeu comigo - e eu não conseguiria esquecer tão cedo a imagem dele tão perto de me chupar.

Desviei o olhar, apressando-me em pular seus pés para sentar ao seu lado e aproveitando para empurrar mais longe o técnico de luz. Alguém colocou uma garrafa de cerveja em meus dedos a pedido do Shindong, assim que ele retornou com uma resposta afirmativa da parte do gerente do bar, e gritou um “gambae!” para que posássemos sorrindo com nossas bebidas no alto.

Algumas fotos depois, o diretor se deu por satisfeito e pediu que retomássemos as conversas para filmar por alguns minutos. A ForMen não pretendia divulgar mais do que alguns segundos aleatórios de imagens devidamente editadas, no entanto, a maioria das pessoas que saíram da mesa não retornaram.

Tomei um gole refrescante da minha cerveja, muito consciente do calor da pele do Hyuk sob sua roupa, no contato da sua perna com a lateral da minha.

-Você vai ficar aqui? - ele questionou depois que meus lábios se separaram da garrafa, úmidos.

-Atrapalho? - rebati, encarando seus olhos escuros.

-Sim.

Bom, porque a ideia era essa.

Sorri e bebi mais um gole demorado. Tive a impressão de ter me tornado, de repente, o centro das atenções. Não quis olhar ao redor para confirmar, o homem ao meu lado era quem importava.

-E você quer que eu saia? - minha voz soava mais sóbria do que eu me sentia. Por um segundo tive certeza de que eu era tudo o que o Eunhyuk via.

-Seria bom. - respondeu, olhando além de mim, para o punheteiro.

É assim que ele é, eu já sabia. Ninfomaníaco filho da puta.

-O que faremos? – a pena na minha voz era doce como um xarope para tosse e terminou com um gosto amargo de sarcasmo venenoso no sussurro que eu me aproximei para dizer: – Eles estão nos filmando agora.

O que, diabos, você ganha procurando algo com o Hyuk? Nada que valha a pena. - reafirmei a mim mesmo. Eu deveria ficar longe de problemas, deveria deixar o Eunhyuk se foder para lidar com seus ex-peguetes no estúdio de gravação.

Deveria.

***

O punheteiro saiu apressado do banheiro, ainda com seus olhos alarmados como se fugisse de um pesadelo. Talvez eu tenha exagerado na dose de “persuasão”, mas não era minha culpa que ele tenha escapado para o banheiro sozinho.

Se eu não viesse, talvez o Eunhyuk continuasse com sua tara por transar em lugares públicos – esse pensamento me fez rir enquanto ajeitava o colarinho da minha camisa branca para que o primeiro e segundo botões estivessem casualmente abertos.

Quero ver sair do zero-a-zero agora, macaco-galinha.

Hyuk ainda agia como um garotinho mimado que descobrira que seu brinquedinho novo havia quebrado quando eu voltei à mesa propondo um segundo round mais divertido para nossa confraternização.

Ele deveria me agradecer. Alguém tão facilmente influenciável - como o punheteiro que ocupava discretamente o canto ao lado de um Shindong extremamente piadista e evitava meu olhar - não aguentaria seu gênio ruim por muito tempo.

***

Eunhyuk agarrou meu braço antes que eu pudesse seguir os outros para fora do bar.

-O que você fez?

Eu sabia que ele falava do punheteiro. E falava como se tivesse certeza de que, dentre todos os caras que enchiam o banheiro masculino do bar lotado naquele momento mais cedo, eu é que havia jogado água no fogo do técnico-atirado. Tão presunçoso e arrogante...

Por que eu faria isso? Por causa do meu puta ciúme de alguém que não me pertence? Eunhyuk não tinha como saber se eu conseguisse conter a corrente agradável de adrenalina em meu sangue. Não fazia meu estilo agir tão dissimulado, mas quem se importa?

Eu poderia culpar o álcool, o Siwon que me abandonara para sair com o Heechul, poderia culpar até o Papai-Noel se eu quisesse – havia tantas escolhas que nem hesitei:

-Fiz o quê? Quando?

-No banheiro.

-Ah. - meus lábios finos se torceram em um aegyo ensaiado. -Você precisa mesmo saber?

Ele me encarou com um ar irritado muito sexy. Era divertido ver seus olhos semi-cerrados analisarem minha atuação. Aproximei-me para lhe segredar:

-O número 1.

Hyuk afrouxou seu agarre, franzindo o cenho em seus pensamentos sobre minha inocência ou o que eu planejava e, talvez, sobre o que ele mesmo estava fazendo. Antes que se afastasse, um sorriso curvou seus lábios e cresceu em um riso que me fez sentir curiosamente com meu instinto de autopreservação à flor da pele.

***

Eu já não conseguia contar quantas rodadas de “pedra, papel, tesoura” eu havia perdido antes de, por algum motivo que não faço a mínima ideia de qual seja, ter trocado de lugar com a moça sentada entre o Hyuk e eu no grande sofá da sala do norae-bang¹ que fomos para o segundo round.

A punição era uma dose de tequila ao estilo americano, com sal e limão, e minha boca continuava meio salgada da minha ultima derrota. Entretanto, ao invés de prestar atenção no jogo, eu ria do diretor cantando uma musica infantil a plenos pulmões com um pandeiro na mão que não segurava o microfone. Estava fazendo graça para a câmera que o enfocava e continuou até que algo mais interessante chamasse a atenção do moço que filmava – e isso seria eu e a comemoração, de todos os que jogavam, pela minha vitória sobre o único jogador que continuava invicto: Eunhyuk.

Comemorei também, divertido com sua expressão contrariada ao ver a dose que o esperava ser colocada no pequeno copo que fiz questão de lhe entregar eu mesmo, junto do saleiro.

-Depois me diz que gosto tem ganhar de todo o mundo só para vir e perder para mim. - provoquei, mesmo sabendo que minha voz soaria pastosa.

-Você está esquecendo... - tirou o saleiro e o copo das minhas mãos instáveis. -… de todas as vezes que eu ganhei de você.

-Yah! - apontei para a dose de tequila que ele deixara na mesa. Uma dúzia de protestos idênticos me acompanhou: - Não me enrola.

O ator riu, puxando minhas mãos para que eu as abaixasse e me ajeitasse mais perto do seu corpo, virado em sua direção.

-Eu vou beber. - acalmou a todos com um sorriso brilhante que me distraiu a ponto de não ter notado seus dedos brincando no colarinho da minha camisa, nos primeiros botões.

O ar-condicionado da sala soprando diretamente sobre a minha pele me acordou.

-O que você...? - comecei a pergunta quando notei que ele puxava a gola aberta para expor minha clavícula e o meu ombro no lado mais próximo a si.

-Vou aceitar minha punição e beber tequila... - respondeu a pergunta que eu não consegui terminar sob o barulho crescente das exclamações de surpresa e torcida da staff. -… em você.

-O-o quê?! – engasguei, apressado ao erguer minhas mãos para parar as do Hyuk e tremendo em um arrepio insistente.

-Você não sabe qual é o melhor jeito de beber tequila? - questionou como se lamentasse, deixando que eu lhe fizesse me soltar.

Em meus ouvidos o retumbar forte da minha pulsação ofuscou o barulho do ambiente.

-Com certeza não é em mim.

-Aqui é onde você deve colocar o sal. - ensinou, ignorando-me e subindo de novo seus dedos para deslizar a ponta deles pela junção entre meu ombro e meu pescoço.

Hyuk acompanhou seus dedos com seu olhar escurecido, observando o calor que minha pele bronzeada emitia sob seu toque.

-Não quero você me lambendo. - protestei.

Minha veemência pode ter soado como repulsa em minha língua enrolada.

-O que faremos, então? - ele começou e eu sabia que nada de bom viria de seu sorriso malvado e desgracento de filho da puta vingativo. Continuou num sussurro, aproximando seu rosto de mim ao ponto de eu sentir seu hálito soprando em meu rosto. - Estão nos filmando.

O diretor parecia animado ao lado do câmera, olhando o visor. Foda-se sua ambição sobre o quão vantajosa poderia ser a publicidade com um joguinho apimentado de atores pornô se divertindo sem compromisso, eu não queria isso sendo filmado.

Eu vou pegar baba do punheteiro? Não mesmo.

Levantei do sofá e a minha visão se turvou rápido demais, como uma parede se fechando ao redor minha cabeça, comprimindo meu ar, gelando meus membros.

-Aiden?! - havia um coro inteiro de vozes e nada mais.

***

Acordei com a luz infernal doendo em meus olhos. Não sabia o que havia acontecido, no entanto, se a dor e mal-estar eram alguma pista, eu poderia apostar que havia sido atropelado por um trem.

-O Siwon está puto com você e eu também. - a voz disse, próxima.

Olhei em volta até focar no homem sentado em uma poltrona ao lado da cama, provavelmente estivera lendo os papeis em suas mãos. Heenim?

Estávamos num ambulatório da emergência de um hospital? A porra da luz brilhante demais fez meus olhos pinicarem como se mil agulhas os perfurassem.

-Tudo bem, a gente briga com você depois. - ele continuou, soando cansado. Uma das suas mãos foi até minha testa, com seus dedos finos e gelados deixando um carinho bom. - Como está?

Tentei responder, porém duas coisas me pararam: minha garganta parecia tão seca que era como se minha saliva tivesse se tornado chumaços de algodão e meu rosto ardeu, dolorido, sob um enorme curativo no alto da minha bochecha.

Heechul sorriu um tanto compadecido quando toquei a gaze branca cuidadosamente presa com esparadrapo.

-Você vai sobreviver. Com dor, assim que o analgésico perder o efeito.

Analgésico? Mais dor?

-O que aconteceu? - articulei as sílabas com cuidado para não mover demais meu maxilar.

-Você desmaiou em cima de um copo de tequila e cortou seu rosto. Assustou todo mundo com todo aquele sangue apesar de não ter sido muito fundo.

-Eu não costumo desmaiar. - murmurei.

Era soro gotejando pela intravenosa?

-Sim, e também não costuma beber tanto depois de passar o dia inteiro sem comer direito. - sua voz se tornara firme, como se as palavras a seguir fossem uma chicotada: - O que você tem na cabeça? Eu entendo que as gravações limitem sua dieta, mas o que você estava pensando?

Coisas demais. A maioria delas voltou como uma grande onda quebrando bem em cima de mim no momento em que me dei conta de que não conseguiria filmar as cenas agendadas para hoje, cheias de closes no meu rosto, nem com a melhor maquiagem do mundo. Um frio incômodo de medo se arrastou pela minha espinha. Ergui meu corpo até conseguir me sentar, procurando a ponta do esparadrapo que prendia a agulha nas costas da minha mão.

-Se você está fazendo o que imagino que está, é melhor voltar a deitar essa cabeça-oca no travesseiro antes de eu me irritar. - Heechul avisou, sério.

Seus olhos felinos tinham aquele brilho perigoso e inconstante. Eu não queria arriscar para saber o que ele faria se eu desobedecesse.

-Heenim, eu preciso me desculpar com a equipe. Preciso falar com o Shindong.

-Você pode falar até com a Presidente da República se quiser, mas só depois que isso aí… – apontou para o suporte onde a bolsa com o soro e meu remédio para dor pendia já meio vazia. -… terminar.

-Heechul-hyung, eu não posso ficar parado... - “... enquanto vejo meu trabalho escapar pelos meus dedos” tentei argumentar. Fui interrompido pelas suas mãos empurrando devagar meus ombros na direção do colchão.

Paranoias de ator novato, não consegui evitar.

-Você vai. - o CEO reforçou. Todo aquele movimento começou a cobrar seu preço, latejando em minhas têmporas e nauseando meu estômago sensível. - Do que tem medo? A série é meu projeto e eu não vejo mal em esperar um dia até seu rosto desinchar dos pontos. Siwon está em uma reunião com o diretor, o representante do Sungmin e do Eunhyuk; estão tentando combinar uma agenda que não nos obrigue a abrir mais um dia de gravação. Mais para o fim da semana você terá uma reunião com os outros sobre a agenda das próximas semanas e vai entender a urgência que temos em terminar de filmar esse novo episódio. Por enquanto descanse.

Concordei. Se ele dizia que minha inconsequência não tiraria minha maior fonte de dinheiro, estava tudo bem, não estava?

Se ao menos a vozinha na minha cabeça parasse de me chamar de “estúpido”.

-Como está seu braço? - Heechul questionou depois de se sentar novamente.

Pisquei confuso, até notar que não falava comigo. Segui seu olhar para ver quem chegava e dei de cara com o corpo bem esculpido do Eunhyuk. Ele usava o blusão da equipe técnica ao invés da sua jaqueta e parou perto de mim para sentar no espaço ao lado do meu quadril, como se essa fosse sua cama, no seu quarto, e não um dos leitos em uma ala de emergência.

-Nada sério. - olhou para baixo, para o meu rosto. - Eu não sabia que você tinha problemas com álcool, Aiden.

Seu tom poderia ser qualquer coisa, menos “preocupação”. Esse desgraçado não para de me encher o saco nem quando estou derrubado num hospital? O que eu fiz para merecer isso?

-Eu não tenho. - rebati, virando meu rosto para que a vergonha da situação em que eu me meti não fosse motivo para mais provocações.

Como se eu fosse um adolescente que não sabe beber.

-O primeiro passo é admitir. - informou, solene. -Posso pegar o telefone do AA se você quiser.

Encarei-o. Não acredito que ele estava mesmo tirando com a minha cara. Sua risadinha, seu maldito sorriso bonito, com mais gengiva do que deveria, acendeu meu pavio.

-Vai… se… foder. - exclamei pausadamente e me arrependi tão logo terminei, sentindo uma dorzinha ardida no lugar dos pontos. Cobri o curativo protetoramente, fuzilando o maldito culpado com um olhar mortal.

Era tudo culpa desse macaco filho da puta. Ele que deixara o copo na mesa, ele que me provocara, era sempre ele que ferrava minha vida.

Um dia eu ainda arrancaria o deboche da sua boquinha perfeita a socos.

-Que indelicado... Você deveria me agradecer. Se não fosse eu ter chamado meu médico aqui, seus pontos deixariam uma cicatriz grotesca no seu rosto.

Eu tinha um novo xingamento na ponta da língua, mas o significado de tudo o que ele falara me pegou desprevenido.

Puta merda. Calculei rapidamente quanto eu ainda tinha na minha conta e meu cérebro mal recuperado do álcool e embotado de analgésicos não me deu uma resposta boa.

-Você chamou seu médico caro, da sua clínica de estética cara, para vir me dar pontos?

O alarme em minha voz lhe fez me olhar melhor. Heechul, que havia desistido de acompanhar nossa conversa depois da primeira provocação, ergueu os olhos dos papeis que lia também.

-Chamei. Você acabou de receber o cachê do segundo episódio... - comentou, para emendar um palpite incrédulo: -… Está sem dinheiro?

Estava, porém não queria que logo o Eunhyuk, que sempre me esnoba, fosse a pessoa a discutir comigo como eu iria pagar a conta do médico dele assim que saísse daquela cama. Se eu estivesse mais lúcido, mais calmo, teria pensado logo de cara que meu plano de saúde² iria aprovar o procedimento independente de qual médico o fizesse. Mas ali eu só estava reagindo, sem pensar.

-Não foi o que eu disse. - rebati por entre meus dentes cerrados.

Seus olhos estreitaram, quase sumindo em duas linhas duras.

-Você é viciado?

O quê?!

-Claro que não!

-Não estou falando de drogas ou álcool. Você é viciado em jogo? Tem alguma dívida? É por isso que precisa de dinheiro?

Aish, eu mereço... Pra que ele queria saber?

-Não importa se eu tinha dívidas ou se joguei o dinheiro pela janela. - encarei-o como se ele tivesse enlouquecido. De onde veio essa curiosidade repentina? -O rosto é meu e eu não me incomodaria de ficar com uma porra de cicatriz. Eu agradeço se você parar de se envolver nos meus assuntos.

Hyuk praguejou sob a respiração, frustrado. Eu amanheci numa realidade paralela?

-Você não estava lúcido para poder decidir.

-… e então você fez tudo o que quis, do seu jeito. - completei por ele. - Não me lembro de alguém ter obrigado você a tomar a responsabilidade pelo o que acontece comigo.

-YAH! - Heechul estourou. - Pirralho mal-agradecido, se ele não tivesse feito isso eu teria. Você não pode ter “uma porra de cicatriz” porque vendeu sua imagem para a ForMen até o fim do seu contrato.

Isso me calou. Ele estava certo, mas a raiva que acompanhava o volume crescente da conversa me impedia de conseguir admitir.

Eunhyuk se levantou e, ao voltar a me olhar, soltou a gota d'água que faltava para meu copo transbordar:

-Eu pago.

Ri. Esse esnobe desgraçado.

-Não preciso da sua arrogância escrota.

-Você não vai aceitar porque sou eu oferecendo?

-Sim.

-Por quê?

-Por que você se importa, caralho?!

Eu havia exagerado na minha rispidez, tinha consciência disso, ainda assim… porra! Eu não sei lidar com um Hyuk que não é um filho da puta.

-Porque ... - começou e parou em seguida. Talvez não tivesse como continuar, era absurdo.

- “Porque eu sou lamentável”? - sugeri. Era o que ele sempre repetia, de qualquer jeito.

Devo ser mesmo. Sentindo ciúmes de alguém que não tem nada comigo, bebendo tanto na noite anterior a uma gravação em close, machucando meu rosto, agindo assim quando eu deveria estar focado em terminar essas 20 semanas para receber meu dinheiro e nunca mais ter que olhá-lo e sentir a confusão que sinto toda vez que ele me toca.

Lamentável... 

-Chega, vocês dois! - Heechul continuava tão impaciente quanto a enfermeira que nos mandou manter o silêncio ou nos retirar. -Já está tudo pago, agora parem com esse inferno porque eu não aguento mais os dois batendo-boca.

Soltei a respiração presa no meu peito. Queria mandar o maldito ator desgraçado ir para a puta que o pariu quando o encarei de novo, porém tudo ficou preso dentro de mim e a oportunidade se perdeu. Hyuk não me deu um segundo olhar, apenas se despediu do Heechul dizendo que Sora o havia chamado para o estúdio de gravação assim que terminasse a reunião, às nove e meia, e saiu da ala de emergência. Heechul voltou ao seu lugar na poltrona.

-Quer parar de me olhar assim? - reclamei depois de um tempo em silêncio.

-Estou tentando entender que merda eu acabei de ver você fazer.

-E eu estou tentando não ter que mandar você ir se foder também. - resmunguei, fechando meus olhos para descansar.

-É bom você conseguir, senão serão suas últimas palavras.

Heechul falava assustadoramente sério, ainda que seu tom fosse divertido.

***

Eu não acreditei no que havia ouvido. Quando Sungmin me pediu um minuto a sós, na segunda-feira à tarde, depois de termos gravado nossas cenas, eu imaginei qualquer merda, menos que ele perguntaria se eu conhecia algum truquezinho gostoso para esquentar o sexo.

Como se eu fosse algum tipo de “expert”… tudo o que eu sabia eram as técnicas para deixar as coisas sexys no vídeo final e como me manter excitado e gozar no tempo certo. Ok: talvez eu soubesse algumas coisas interessantes, mas sexo na vida real não depende do ângulo de quem vai assistir porque, bem, não há espectadores.

Ao menos não no caso de sexo comum – que era o que eu acreditava que o Sungmin estava perguntando.

Eu não estava no humor para lidar com aquela babaquice. Minha cabeça latejava numa enxaqueca intermitente e meu rosto continuava dolorido, por mais que eu garantisse ao diretor e ao Siwon que estava tudo bem. E o pior: Siwon me proibira de tomar café desde o dia anterior.

Eu não precisava da porcaria de um sono tranquilo - não quando eu não conseguiria isso nem com tranquilizante de animais de grande porte. Precisava de cafeína, muita, para conseguir sorrir e ser gentil com alguém idiota como esse bundudo.

Claro que eu vou dar dicas de como ele pode transar mais gostoso com o desgraçado do Eunhyuk. Por que não daria?

Ele quer mesmo persistir no erro, atolar-se completamente no lamaçal de luxúria vazia que o Eunhyuk oferecia. E o Kyuhyun pensando que o Sungmin é inteligente, além de bonitinho.

Não precisava ser um gênio para deduzir que o Eunhyuk parara de dar bola para ele. Deveria ter enjoado de comer o mesmo cara, Sungmin é que não percebera que ele já era página virada, figurinha repetida.

Em consideração ao Kyu, eu lhe ofereci um conselho sem preço:

-Você não precisa agir como um ator pornô para o sexo ser bom. Se for com alguém por quem você nutre sentimentos, se vocês estiverem confortáveis e em sintonia… então não vai precisar de receita para ser especial.

Se depois disso ele não parasse para refletir sobre o que estava fazendo, eu lavaria minhas mãos.

-Mas... - desviou o olhar, procurando uma forma de insistir.

Idiota.

-Se ainda quiser uma receita mágica, posso dar uma. - ofereci, para poupar meu tempo. -Só não dou garantias.

Eu sou tão bonzinho.

-Você aprontou alguma coisa. - Siwon afirmou quando me aproximei dele, depois de terminar meu assunto com o Sungmin. - Conheço esse sorriso de criança malvada e você está andando demais com o Kyuhyun.

-EU?! Eu não fiz nada...

-E o que o Sungmin queria?

Segui seu olhar até o ator que se curvava alegremente para toda a equipe, cumprimentando-os e agradecendo pelo bom trabalho durante as filmagens das suas cenas. Meu sorriso dobrou de tamanho.

-Dicas. Não é irônico que meu personagem se aconselhe com ele na série e ele se aconselhe comigo na vida real?

-Então era sobre sexo? - sua pergunta era retórica. -Falou do Kyu para ele? Se você continuar enrolando o coitado sobre conseguir o telefone do Sungmin, ele vai perder a paciência.

-Não vai. Eu estou esperando o momento certo.

-Enquanto isso o menino fica na seca. - riu, arrastando-me consigo para o camarim.

Hyuk saía de lá quando nos aproximamos, já arrumado para as cenas que gravaria comigo. Ele havia chegado não muito antes e só tivera tempo para se trocar. Encarei suas costas depois que passou por mim como se não fosse importante cumprimentar os colegas de trabalho para manter a boa-convivência. Imbecil mal-educado.

Também não faço questão. Ele pode tropeçar no ego dele e quebrar o pescoço que eu -...

-Hyukjae, podemos conversar? - a voz hesitante do Sungmin interrompeu meu fluxo de pensamentos e me fez voltar a observar as costas do macaco idiota. - Você… você não atendeu meus telefonemas.

Claro que ele de repente começa a ignorar os ex-peguetes ao invés de informá-los que já seguiu em frente. É do Eunhyuk que estamos falando, um filho da puta não deveria fazer nada além de ser um filho da puta, assim o mundo pode girar para o lado certo.

-Porque quer. - retomei o assunto com o meu manager. -... Eu não me importaria de ajudá-lo com a carência dele.

-Você está falando da boca para fora. Aqui, eu o trouxe. - a última frase Siwon dissera para a figurinista que nos esperava.

-Espera ele abaixar a guarda e veremos quem é que só está de conversa. - desafiei em tom de brincadeira, aceitando a roupa que a moça me estendia.

Ficara decidido que gravaríamos uma ou duas cenas a mais todos os dias com gravação no estúdio, em uma ordem que preservasse a integridade dos meus pontos e não me causasse problemas adicionais. No dia seguinte eu já teria mais liberdade de movimentos, mas naquele momento ainda não podia abrir completamente minha boca – pelo menos não o suficiente para continuamente fazer sexo oral em algo maior que meu dedão.

Pelo preço daquele médico, não me admirava o tamanho do milagre que ele fizera.

O curativo no meu rosto havia sido trocado naquela manhã por um muito parecido a um band-aid discreto. Cobria os pontos e o corte de cerca de 3 cm no alto da minha bochecha; com um pouco de maquiagem ao redor, ficou como se eu tivesse apenas me arranhado de leve.

Não iria interferir nas cenas com o Hyuk, da abertura do episódio. Estaríamos nós dois na cama, tentando apimentar nosso casamento assistindo pornô. O clima deveria ser meio estranho já que nossos personagens não costumavam usar esse tipo de artifício.

Não era a primeira vez assistindo pornografia juntos, porém os sons dos gemidos e o sentimento de que era errado ver outro casal num momento tão íntimo impediam o Donghae de aproveitar a atmosfera sexual. O rubor maquiado nas minhas bochechas me deixaria adoravelmente perdido enquanto meu marido tentava ignorar que eu estava mortificado de vergonha, deitado ao seu lado na nossa cama sem saber o que fazer a seguir ou para onde olhar.

Hyukjae começara a se tocar por cima das calças finas do pijama que vestia, excitado com o vídeo que exibiam na TV a nossa frente, do outro lado do quarto.

Era um vídeo americano, produzido pela ForMen e estrelado por dois atores com muita química, em um cenário simples, mas que conseguira uma premiação pela cena de sexo oral. A história era algo como “amigo do irmão caçula tenta seduzir e, agora que conseguiu, vai ter que dar conta de engolir tudo”. Valia a pena parar para assistir e ver a forma como um domina o outro em seus papéis e como os dois parecem aproveitar de verdade – eu só não poderia fazer isso enquanto estivesse encenando meu papel de menino tímido.

Desviei o olhar da cena que quase chegava ao ponto de ser rude, no agarre do ator que era o ativo nos cabelos do outro para que ele continuasse a chupá-lo como fazia.  Os pequenos sons de engasgo me deixariam sem jeito e ao mesmo tempo surpreso com a ereção do meu marido.

Encarei-o se tocando ao meu lado. Hyukjae não parecia ter notado que seu agarre aumentara e sua ereção começara a marcar sua roupa.

“Isso o excita?”, Donghae pensaria. Observei-o perder o ritmo da respiração, agora concentrado nas imagens dos atores. “Isso é o que chamam de 'garganta profunda'?”.

-Hae... - Hyuk suspirou, como se me visse no lugar do ator do filme, fazendo com ele exatamente o que faziam.

A intenção era mesmo mostrar que o personagem do Eunhyuk nos imaginava encenando o filme, mas naquele momento eram somente as imagens de antes. Talvez por isso ele estivesse todo quente e suando ao meu lado tão facilmente, porque não era eu quem ele via.

Externei as duas perguntas do meu personagem, hesitante. Hyuk saiu do seu frenesi, deixando sua mão sobre sua ereção como se fosse doloroso não se tocar. Ele piscou por um, dois, três segundos e eu ri da sua expressão perdida, estragando a tomada.

-Você não sabe como ter vergonha na cara? - perguntei, porque seu personagem deveria parecer tímido por estar “aproveitando” o filme sozinho, enquanto o namorado o analisava.

Hyuk virou para a TV novamente, trincando os dentes. O contorno do seu maxilar bem esculpido ficou ainda mais evidente.

-De novo. - Shindong mandou. - A partir das perguntas. Não perca sua ereção, Eunhyuk. Tente parecer mais constrangido.

A leveza da minha diversão morreu aos poucos quando não consegui alcançar o ator com ela. Exceto pelas falas do roteiro, ele ainda não havia me dirigido uma palavra sequer e eu queria poder culpá-lo e, quem sabe assim, diminuir a constrição no meu peito.

Saco.

-Ouvi dizer que a ForMen concordou com seu pedido para manter suas aulas de atuação. - questionei, enquanto o diretor não dava sua permissão para recomeçarmos.

Esperei uma resposta afiada e defensiva, porem o Hyuk me encarou com seus olhos frios, querendo que eu explicasse porque toquei no assunto. Eu não sabia também.

-Nossos personagens não fazem muito sexo oral. - desconversei.

-Eu sei. - Hyuk replicou, com uma cara de bunda épica.

Ok, alguém aqui não quer minha análise sobre o roteiro. Foda-se.

-O Hyukjae gosta de se sentir dominante, mas ele respeita o jeito meio tapado e tímido do Donghae, por isso não pede que ele enfrente isso só para agradá-lo. Você foi pego com tesão por algo que proibiu a si mesmo de ter... - continuei, porque, se eu parasse e lhe deixasse se ferrar para entender como deveria reagir, não estaria irritando-o tanto quanto se eu lhe instruísse. -… como se sentiria? Como o Hyukjae se sentiria?

Deixei a questão esclarecer sua dúvida e me posicionei quando o diretor nos pediu atenção e deu início à gravação.

-Isso… isso é “gagging”, não é? E “deep troat”? V-você gosta? - gaguejei tão naturalmente que até eu me convenci da minha timidez.

“Como eu nunca percebi?”, era o que castigava os pensamentos do Donghae.

Hyukjae afastou sua mão de si mesmo, aclarou a garganta e endireitou-se, claramente para se impedir de continuar se deixando levar pelas imagens e sons que ecoavam no quarto. Visivelmente constrangido.

-Não, não particularmente. - negou. -Você quer mudar de filme? Podemos achar um mais...

-Você gostou desse. - interrompi, abaixando meu rosto corado. -Você me quer assim?

O Donghae faria se o Hyuk lhe pedisse, por mais que não entendesse o que havia de tão apelativo no ato de ser quase bruto com alguém que está tentando lhe agradar.

-Não. - a resposta veio atropelada, depois de um segundo em silêncio. Eu não ergui meus olhos para saber qual era a expressão do Hyuk, mas deveria ser a de alguém querendo negar a si mesmo. Senti o movimento do meu marido ao meu lado quando se moveu para buscar o controle remoto para desligar a TV. - Não quero machucar você, eu respeito seu limite. Não precisa fazer isso.

No meio da nossa busca por sexo bom, aquele clima desconcertante e incômodo não era um bom agouro. Encarei o Hyuk, sentado ao meu lado e parecendo tão tenso quanto eu me sentia.

-Desculpe... – murmurei, aparentando me sentir culpado.

“Ele não quer fazer o que tem desejo por minha causa”. No fim o egoísta não seria o que pediria a “garganta profunda”.

Em um relacionamento não é só um lado que cede sempre. É uma responsabilidade dos dois.

-Pelo quê? - questionou quase no mesmo instante que a palavra saíra da minha boca.

Toquei sua mão, inseguro e um tanto vulnerável enquanto tentava lidar com o peso dos meus pensamentos apesar da minha resolução de lutar para darmos certo juntos novamente.

Hyuk sorriu, gentil de um jeito encantador, entrelaçando nossos dedos e curvando-se para me beijar rapidinho.

-Sabe como eu queria você? - murmurou, ajeitando-nos na cama até que eu estivesse deitado propriamente. Neguei, preso em seu olhar carinhoso. -Eu vou mostrar.

Hyuk curvou-se novamente, puxando o cobertor na cama para nos enrolar e esconder nossos movimentos. O quarto iluminado do cenário deixou de existir, meu mundo inteiro se resumiu ao seu rosto bonito na semi-escuridão sob o edredom branco, sentindo seu corpo quente modelar o meu, tão íntimo e convidativo.

Seu sorriso esmaeceu. Eunhyuk sustentava seu peso em uma das suas mãos, suas pernas intercaladas com as minhas. Eu o abracei em reflexo, tocando a lateral do seu peito e esperando seus olhos abrirem para saber o que ele sentia.

Não abriram.

Deveríamos nos mexer como se estivéssemos nos beijando, por isso elevei meu joelho, roçando a parte interna da minha coxa pelo ator que deveria se mover como se quisesse que fizéssemos amor, para que as câmeras conseguissem registrar a insinuação do que aconteceria. Hyuk aproximou seu rosto do meu, causando uma sensação agradável como cócegas onde sua franja me tocava. Se não fosse pelo fato de seus lábios estarem perigosamente próximos do canto dos meus, eu teria um sorriso orgulhoso e cheio de incentivo para brindá-lo por ele ter conseguido expressar o que deveria em seu personagem.

-Corta! Ok!

Nossos hálitos se misturaram um segundo antes de nos movermos para longe um do outro. Eu não havia percebido que o ar ficara preso em meu pulmão por tanto tempo antes de eu exalar, era por isso que eu me sentia meio fraco quando me movi para o cenário da próxima sequencia, seguindo as costas do Hyuk.

-De nada. - provoquei, para desviar minha atenção da escola de samba em meu peito.

Não funcionou, ele seguiu seu caminho e subiu no cenário da cozinha, alcançando a maquiadora que o ajeitaria para que parecesse como se tivesse acabado de acordar.

O que é isso? Ele me ignorou?

-Que idiota.

-Quem é o idiota?

Eu não havia percebido que o Siwon se aproximara e caminhava ao meu lado.

-Você. - resmunguei, pegando o copo grande de suco que ele me oferecera.

-Meu Deus, alguém precisa dar um jeito no seu mau-humor. Quer que eu lhe arranje um encontro às cegas? Toma tudo. - mandou quando eu tentei lhe devolver o copo para me afastar porque eu não queria ouvir as merdas dele. - Ainda vai demorar um pouco até você ter uma pausa para comer.

-Pega esse suco e enfia no... - fui interrompido no meio da frase:

-Tudo. - repetiu com mais firmeza e eu quis esganá-lo enquanto tomava em um gole só.

Siwon me tratando como criança é um pé-no-saco.

-Feliz, mamãe?

Maldito sorriso bonito de coringa do batman. Aish.

-Eu estou indo ver o Heechul. Não precisa chorar: eu volto rapido. - Siwon me informou e me mandou ir para o cenário seguinte com leves palmadinhas na minha bunda, como se eu fosse um menininho obediente que lhe dá orgulho.

Apesar de xingá-lo com metade dos palavrões que eu conheço, havia a sensação cálida de ser cuidado que quase me fazia sorrir. Meu lado carente gostava que ele estivesse ali para se importar com meu bem-estar, como sempre foi apesar de agora ter o Heenim na vida dele.

***

Em um momento eu estava tendo o dia de gravação mais calmo de todos os tempos desde que começamos a filmar a série – mesmo com todas as minhas dores e com a indiferença do meu parceiro de trabalho, com a qual eu já começava a me acostumar – e no próximo eu me vi em uma órbita ao redor do sorriso bonito e do som da risada do Eunhyuk, tal qual uma criança no conto do Flautista de Hamelin. Pateticamente deslumbrado quando deveria estar me trocando para gravar minhas últimas cenas sozinho. Observando-o assistir os vídeos das cenas que eu havia gravado com o Sungmin pela manhã.

Eram de comédia, tomaram várias tentativas até que eu conseguisse parecer inocente e desavisado enquanto pedia conselhos ao meu melhor amigo mais experiente sobre como poderia aprender a fazer deep throat no meu marido.

A parte que era exibida nos monitores, e que divertira o Hyuk, acontecia na nossa cozinha. O Sungmin dissera que o Donghae deveria treinar um pouco sozinho antes de começar a tentar com o Hyukjae e se voluntariara a comprar um dildo para o amigo, já que meu personagem não teria coragem de comprar ele mesmo.

-Qual é o tamanho que você quer? - perguntou e o Donghae apenas o encarou de volta, quase soltando um “e tem mais de um tamanho?”. A dúvida estava explicita no seu rosto, no entanto. Eu fui cuidadoso para que ficasse bem claro quando interpretei a cena. -Qual é o tamanho do Hyukjae, então?

-Normal, eu acho... - respondeu e foi aqui que o Eunhyuk começara a rir, tanto da frustração do personagem do Sungmin quanto da inocência do meu, por não ter visto muitos pênis eretos na vida toda dele, desde que só havia feito sexo com o Hyuk.

“Normal” não era a palavra certa para definir nada nesse demônio gostoso.

-Normal... - Sungmin repetiu, indo até a geladeira para pegar um pepino comum grosso, uma banana média e uma cenoura fininha. Colocou os três na mesa à frente do amigo. - “Normal” como qual desses?

Donghae apontou para o pepino, voltando a inocentemente encarar o amigo. A expressão de “fodeu” do Sungmin era impagável.

-Esse? - quis ter certeza. Meu personagem confirmou com um sorriso calmo. Ignorância é uma bênção. -'Tá bom, sejamos menos ambiciosos. Esse aqui. - entregou a cenoura ao amigo. -… Esse aqui é suficiente.

Havíamos filmado duas vezes, uma com closes e uma em plano geral – a que estávamos assistindo. Uma das câmeras em close havia enfocado meu aceno de consentimento e então seguido meu olhar até a cenoura em meus dedos. Depois da edição, a cena provavelmente terminaria assim.

-Hyuk? - Sora chamou, acabando por capturar a atenção de toda a staff conosco ao redor dos monitores. Ela também sorria, mesmo quando apontou para o relógio delicado em seu pulso ao falar com o irmão: - Estamos sem tempo, eu vou esperar no carro. Não demore.

Hyuk concordou, uma vez que suas cenas já haviam terminado e ele inclusive já havia trocado de roupa para ir embora. Antes de voltar a assistir as gravações, como o resto da equipe, seu olhar cruzou com o meu. Ele havia gostado do meu trabalho, saber disso era especialmente doce – exceto que seu sorriso morreu e sua cara de bunda retornara com força total.

Idiota, mil vezes idiota. Mimado. Quanto tempo ele vai ficar de bico porque eu falei mais alto ontem?

-Aonde você vai? - meu manager me segurou quando eu tentei seguir o Eunhyuk para o corredor que levava ao estacionamento fora do estúdio. Ele realmente não demorou muito lá “conversando” com o Heenim no escritório dele.

-Matar aquele macaco imbecil e então pedir desculpas.

Siwon teve a cara-de-pau de rir ao me soltar.

-Finalmente. - relinchou às minhas costas, mas eu estava mais ocupado tentando não perder a chance de mandar o Eunhyuk ir se ferrar.

Alcancei-o no corredor vazio. Ele já estava alguns metros à frente e eu gritei para chamar sua atenção ao invés de correr até ele:

-Você sabe que a culpa foi sua por ficar de graça ao invés de beber logo a droga da tequila?

Hyuk parou no lugar e levou um momento antes de virar para me encarar. Cruzei a distância que nos separava esperando sua resposta.

-E o que você quer? Que eu peça desculpas? - ele soou irritado. Orgulhoso. Nunca deve ter pedido desculpas na vida e, mesmo que ele começasse comigo, não mudaria o fato de que ele sempre me ferra. Hyuk nos aproximou mais. -Que eu diga que sinto muito porque seu rosto bonito não deveria ter uma cicatriz? - sua raiva não me impediu de encará-lo sem ação quando parou a meio passo de mim e abandonou a postura agressiva para tocar meu rosto com cuidado, no lado machucado. -Não deveria mesmo.

O... O quê?

Aclarei a garganta, puxando sua mão para longe de mim.

-Eu exagerei lá no hospital… - comecei, suave porque de repente havia algo macio rodeando meu coração. Abaixei minha cabeça até minha testa se apoiar em seu ombro. -… mas você não pode me culpar por ficar na defensiva quando sempre fez questão de enfatizar que não queria que eu estivesse aqui.

O cheiro limpo que desprendia da sua roupa me envolveu rapidamente, fluindo dentro de mim como a repetição das palavras dele que curvavam meus lábios em um sorriso tolo que eu não queria lhe mostrar.

“Bonito”.

-É verdade. - concordou, mais sincero do que eu gostaria.

Isso fez sinos de alerta soarem na minha cabeça, porque eu gostaria de saborear o elogio anterior sem que ele viesse falar merda logo em seguida para estragar tudo. O sorriso em meus lábios derretia tão doce, eu sabia que era estupidez e mesmo assim nem fazia mais questão de tentar desfazê-lo.

Hyuk deixou suas mãos penderem próximas ao seu corpo. Ele ainda não havia terminado sua frase, eu podia prever um “mas” chegando, porém o toque do seu celular o interrompeu. Seu corpo se moveu até eu conseguir ouvir, por estar perto demais do lado ao que ele aproximou o celular, o ruído da voz feminina da Sora na outra linha:

-Você não pode chegar atrasado à reunião que você mesmo agendou. - ela cobrou impaciente.

-Dois minutos. - Hyuk desligou para cortar a resposta da irmã.

Eu, sem esperar o que quer que fosse acompanhar aquele suposto “mas”, cuspi um “Você tem um compromisso e eu tenho que terminar minhas cenas. Vou voltar para o estúdio, até amanhã!”. Não lhe dei um segundo olhar antes de lhe oferecer a visão das minhas costas ao me afastar.

-Aiden. - chamou. Eu sequer tinha dado um primeiro passo para longe. -Você está certo, só entendeu errado uma coisa: … - disse e eu tive certeza de que não era algo que eu queria escutar, mesmo assim meus pés me traíram ao invés de fugir. Uma parte de mim já sentia falta do gelo que ele estava me dando antes de eu ser estúpido o suficiente para vir tentar resolver isso. -… não quero machucar você.

 

 

[continua]


Notas Finais


"Cadê o mel q tu tanto alardeou no twitter, Ana?", vcs me perguntam. Tem mais duas partes, crianças.

*abraça todo mundo*
Meu Deus, olha qtos favoritos! TuT Obrigada!
E obrigada por todos os comentários no capítulo anterior (que eu ainda não respondi, mas vou dar o amor que vcs merecem logo logo), amo vocês. Guardei cada um no meu coração, sempre voltava para ler de tempos em tempos (e então me sentia mal por estar demorando tanto para postar, mas eu sou meio masoquista mesmo e as vezes preciso me sentir amada u.u)... Enfim.
Vocês são lindos <3

Capítulo todinho dedicado à Jéssica e à Flora ^3^

Parte 2 vou postar na sexta-feira (para vocês digerirem tudo direitinho e porque sou má, MUA-hahahahahahahahahahaha – mentira, sou um amor de pessoa... um amor de pessoa q gosta de pausas dramáticas u.u *desvia das pedradas*).

¹norae-bang: karaokê em coreano.
²plano de saúde: na Coreia do Sul não há planos de saúde como temos aqui – eles tem um Seguro de Saúde Nacional, que cobre a população toda, mas eu não sei direito sobre isso, nem vou me arriscar a explicar ou botar isso na história. Usem a imaginação.


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