História Melodia do Silêncio - Misconceptions of You

HanGeng tinha tudo o que qualquer garoto chinês podia sonhar com, na sua mera opinião. Era filho de pais ricos, tinha tudo do bom e do melhor, e mesmo assim, sempre levara uma vida bastante humilde. Apesar de todo o dinheiro de que sempre dispusera durante e ao longo de toda a sua existência, nunca sentira a necessidade de ser arrogante com as pessoas em seu redor. Sempre fora um filho exemplar, que ao invés de estudar em escolas privadas, sempre pedira para fazer parte da comunidade escolar das vilas em sua volta. Nascido em Mudanjiang, o filho de um dos maiores magnatas e empreendedores chineses apenas almejava obter o maior conhecimento nas mais vastas áreas, mesmo que seu pai limitasse tais coisas. A sua vida não era infeliz, pelo contrário, sempre fora amado em demasia por ambos os progenitores, mas havia algo que faltava em si.

Mesmo que vivesse envolto de pessoas, Han sempre se sentira sozinho.

A primeira amizade apenas a fora fazer já em plena universidade. Choi Siwon, filho de um empresário sul-coreano no ramo dos hipermercados e farmacêuticas havia escolhido estudar em Beijing, e fora aí que conhecera o chinês, no curso de gestão empresarial e marketing. Ambos haviam sido obrigados a trabalhar juntos em uma das cadeiras, mas por partilharem as mesmas visões, acabaram mesmo como melhores amigos e conselheiros, essa mesma amizade existindo por anos, a ponto de o Choi ser seu braço direito na gestão da Best Wish, a revista que dava que falar nos quatro cantos do mundo e que contava com os melhores profissionais do mundo para gerir de forma balanceada as coisas.

Mesmo assim, o chinês sentia que faltava algo em meio a toda a sua gestão das relações profissionais e pessoais, e isso o tornava um pouco mais frio do que era na realidade. Siwon era duro consigo nesse sentido, mas nada parecia fazer mudar as atitudes do herdeiro do império editorial que a Best Wish detinha, muito menos melhorava a falta de humanismo que frequentemente o presidente demonstrava. Era fato que seus subordinados detestavam trabalhar sob sua influência, e valia-lhe o Choi nessas situações. Todavia, sabia bem que até o tão humano e sentimental homem acabaria se fartando de suas atitudes.

Naquela manhã em particular, tivera de viajar para Los Angeles, onde estava sediada a editoral americana. Um dos chefes editoriais estava dando que falar, e era do interesse da empresa o transferir para a editorial chinesa, onde lhe seria dada a chance de crescer. O chinês estava algo apreensivo com o fato, pois não era procedimento comum ser ele a deslocar-se, mas o CEO americano, Park Jungsoo, exigira a sua presença na sucursal como se fosse algo mandatório. O coreano-americano era um velho conhecido seu, o considerava mesmo um amigo no qual podia confiar para tudo e sabia bem como a palavra deste era sempre a última naquelas questões. Era incapaz de lhe tecer um não como resposta, e isso que o levava a fazer as suas malas para então se enfiar num avião rumo aos Estados Unidos, mesmo contra sua vontade.

Por outro lado, Heechul considerava que iria ter um dia bastante calmo, longe de pessoas e longe de ser incomodado por conta do seu aniversário ou o que fosse, mas dera nem dez minutos do seu dia para começar denotando que o mesmo seria recheado de dores de cabeça em demasia para apenas uma pessoa lidar.

Tudo começara no caminho para a redacção, Kim seguindo seu caminho habitual pelas ruas movimentadas em direção ao imponente edifício onde a editorial funcionava e os escritórios estavam instalados, parando então o carro no cruzamento habitual, o sinal vermelho se mostrando imponente no semáforo. Mais uns metros, e o moreno poderia parar seu carro da forma mais confortável possível no estacionamento que ficava nos pisos inferiores, e podia assim aproveitar para depois passar na cafetaria, e pegar seu habitual café sem açúcar. Enganara-se redondamente no quesito paz e sossego, pois quando dera por ela, apenas sentiu um forte solavanco no seu carro, quase embatendo o rosto no guiador, as mãos delicadas se agarrando firmemente ao mesmo, o pânico tomando conta do seu ser.

O seu olhar ficara perdido no espaço, apenas sendo tirado do seu transe por três pancadas secas no vidro do seu lado, sentindo sua vibração contra o cotovelo que repousava na ombreira da porta, a sombra do corpo alheio tampando o sol que embatia no seu rosto. Permitiu-se olhar para o seu lado direito, vendo a porta totalmente dobrada para dentro, o embate havia sido algo forte, e causara sérios danos na estrutura do seu tão amado carro. Kim se sentia perdido naquele pequeno instante, apenas ganhando coragem para e de forma atrapalhada retirar o cinto de segurança, e abrir a janela, dando a indicação à pessoa de que estava bem, abrindo logo em seguida a porta para então sair do carro.

O homem que agora o olhava atentamente lhe era bem conhecido. Os fios loiros resplandesciam ao sol, e seu trejeito preocupado estava demasiadamente espelhado em seu rosto. Deu por si sendo abraçado, os braços quase paternais o envolvendo de forma protetora, como se transmitissem um “estou aliviado que está bem” o que fez o coreano se sentir melhor perante a situação. O loiro logo se afastara, olhando para si e o questionado depois em língua gestual.

ㅡ Você está bem?

ㅡ Nada a que não esteja acostumado, Jungsoo… Embora ainda não tenha percebido muito bem o que aconteceu.

ㅡ Um idiota que bateu no seu carro e fugiu. Sorte sua que o meu motorista estava na fila do lado, ele viu tudo. ㅡ Ele respondera com toda a brandura do mundo, se permitindo depois aproximar do carro e avaliar os estragos que tinham sido feitos neste. Heechul se permitiu o acompanhar, levando suas mãos à boca para suster um grito de indignação, não queria assustar o outro com a sua voz, visto que nunca a havia ouvido em todo aquele tempo que se conheciam. Na verdade, JungSoo, ou LeeTeuk, como era conhecido na editorial, era o chefe editorial da edição americana da revista de moda para a qual Kim trabalhava; tendo sido o loiro quem vira potencial no rapaz, mesmo que este tivesse suas limitações. A diferença de idades de um para o outro era de meros dias, mas ainda assim, HeeChul o respeitava em demasia, como um irmão mais velho, e enquanto isso, Park o tratava como um irmão caçula, embora de dois irmãos, ele fosse o mais novo. ㅡ Seu carro está inutilizado de momento, Chullie. Ele lhe quebrou o eixo da frente e deixou a chapa toda amolgada… Vamos ter de chamar um reboque para levar ele para arrumar… ㅡ A expressão do mais novo trancara naquele exato momento, embora soubesse que se accionasse o seguro, teria direito a um carro de substituição enquanto o seu estivesse a ser peritado e tudo mais. Todavia, lhe incomodava em demasia ficar sem carro, principalmente naquele dia. ㅡ Que bela maneira de começar seu aniversário, ein? ㅡ Jungsoo o retirara de seus pensamentos, uma expressão irônica se formando no seu rosto, enquanto ele ligava para a seguradora, de forma a informar do sinistro. HeeChul apenas se recostara no carro. O dia do seu aniversário estava se revelando um dia longo demais, e mal havia acordado.

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Seu humor não costumava ser dos melhores quando chegava seu aniversário, mas naquele dia parecia que tudo estava fadado a correr mal. Seu assistente havia esquecido o pen drive com a apresentação de Kim relativa à edição mensal, o que lhe valera o esporro do século por parte de LeeTeuk; para além de que havia despejado por acidente café quente no colo do moreno, que acabou por o dispensar para o resto do dia.

O pico de mau humor do editor chegara ao seu limite quando este estava descendo as escadas para levar alguns materiais de referência de volta para o arquivo, e alguém se atravessara no seu caminho, ambos chocando um no outro, o peso das revistas e livros fazendo com que tombasse seu corpo no chão, um som de dor escapando de seus lábios, sua expressão se mostrando visivelmente incomodada com o ocorrido. Aparentemente ambos estavam apressados demais para se perceberem da presença um do outro. Fora dessa forma que pela primeira vez, HeeChul encontrara o seu carrasco, sem que sequer o soubesse.

O rapaz havia se aproximado, balbuciando um pedido de desculpas algo arranhado em inglês, que o moreno conseguira perceber muito a custo pois os movimentos labiais alheios eram quase inexistentes. Na verdade, tudo no mesmo indicava que ele era tão estrangeiro quanto ele mesmo. Todavia havia algo na expressão do mais alto que mostrava alguma troça e desdém, o que irritara soberbamente o coreano, que acabou fazendo descaso e pegando as suas coisas, se retirando do corredor, deixando o desconhecido o olhando com alguma curiosidade misturada a indignação pela falta de resposta sua perante sua lamentação nitidamente forçada.

Enquanto caminhava, seu celular dentro do bolso vibrava de forma incessante, o que indicava que Kim estava recebendo diversas mensagens de uma vez só. Suspirara, e assim que pousara os materiais sobre a mesa da garota que fazia os arquivos, se permitiu então pegar no mesmo para que assim pudesse ler toda e cada uma com a maior celeridade, caminhando a passos largos de volta ao seu gabinete, onde era então requisitado com alguma urgência.

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A reunião entre os diversos directores editoriais corria sem quaisquer problemas, embora aos poucos o coreano começasse a perder a pouca paciência que ainda dispunha para lidar com os olhares intrigantes dos membros da assembleia, que procuravam sempre provocá-lo mediante atitudes algo discriminatórias. O fato de o moreno não conseguir ouvir era o móbil para que tirassem uma com a sua cara, mas Kim conseguia lidar com a situação de forma elegante, ignorando os comentários maliciosos que recebia, conseguindo ler estes nas entrelinhas nas coisas que estavam sendo murmuradas entre alguns dos elementos que ali estavam presentes. Conseguia ver espelhado no rosto de Park a irritação pelas atitudes que seus colegas de trabalho em relação ao jovem Kim, mas o mesmo conseguia se mostrar ainda mais eloquente que todos os outros, sequer mostrando qualquer hesitação ou irritação, embora seu interior borbulhasse de raiva perante toda a situação.

Como se não bastasse, tinha sobre si os olhares atentos do que agora se revelava chinês sobre si, e para seu azar, era o CEO da edição chinesa da revista para a qual trabalhavam. Apenas naquele momento se apercebera que a presença do chinês havia sido anunciada pelo mais velho havia meses por parte do seu chefe, e não havia preparado nada para que este pudesse ver o potencial da sua equipe, como era suposto ter feito. Porém LeeTeuk havia se preparado para a pequena instância, expondo ele mesmo a situação atual, sob o olhar atento dos presentes.

Logo sentiu o olhar do asiático que viera então da filial chinesa, apontando para si, e ditando então o anúncio que chocara todos os presentes na sala.

- Eu queria aproveitar a oportunidade para anunciar que vão existir algumas mudanças estruturais na minha equipe na China, bem como na equipe de Los Angeles.  E queria anunciar que Kim HeeChul vai ser transferido então para a fililal chinesa.

Não era fácil para si ter de lidar com mudanças de ambiente, ou mesmo ter de lidar com outras situações que o deixavam algo agitado. E aquela frase era tudo, menos o que esperava naquele instante.

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HeeChul estava ainda atónito com a notícia que acabara de receber, olhando confuso para LeeTeuk. A sua expressão espelhava a irritação que se lhe acometia naquele instante, ainda mais depois de saber que sua vida daria uma volta de 360º, sem aviso prévio.

- Eu sei que não era a promoção que estava à espera, Chullie, mas o director da edição chinesa gostou mesmo do seu trabalho, ainda que a comunicação entre vocês seja difícil, porque você conhece a sua equipa há mais tempo, todos sabem trabalhar com você. Todavia você não vai sozinho para a China, Donghae irá com você. Ele é seu intérprete desde que você entrou nesta empresa e isso vai continuar. Não se preocupe, você vai se adaptar lindamente, e a maior parte da equipe sabe falar inglês e coreano.

HeeChul espumava de tamanha a irritação que o acometia naquele instante e nenhum gesto que pudesse fazer expressaria seus sentimentos, pelo que apenas mantinha seus braços cruzados sobre o peitoral, olhando o mais velho na sala enquanto o amigo o fitava nervoso, sabia que Kim estaria à beira de estourar. Todavia o moreno acabara por surpreender todos, assentindo em concordância, mas logo esboçando gestos com suas mãos.

- Qualquer atitude que ele tenha comigo que eu não goste, eu volto para L.A. Não sou obrigado a aturar desaforo de ninguém, muito menos de menino rico metido a macho.

Leeteuk olhara para si algo sério. Ele bem sabia que o amigo não havia gostado da maneira como o chinês alto e aparentemente prepotente agira comigo, e bem sabia que a qualquer momento as personalidades de ambos poderiam chocar e causar uma enorme tempestade que logo depois ele teria de resolver, todavia sabia que o garoto que tinha ali diante si apenas falava aquelas palavras de boca para fora. Na verdade, Kim HeeChul era das pessoas mais maduras que conhecia, ainda que tivesse seus surtos de loucura e mesmo com sua personalidade 4D, conseguia manter o sangue frio em situações que normalmente outras pessoas perderiam a pouca paciência existente.

Park sorrira com a resposta alheia, sabia que ele faria seu melhor para lidar com toda a situação mesmo que não fosse do seu agrado.