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História Memórias de Sombras - "Te amarei pelo resto da minha existência"


Escrita por: Jynn_hi

Notas do Autor


Prontos para mais um capítulo? :'3
Por favor, antes de alguém me ameaçar por comentários (cof cof fantasminha cof cof), saibam que esse foi o capítulo mais doloroso de ser escrito até agora por mim ,_,😓😓😓😥😢
Mas enfim, boaaa leituraaaaa ❤❤❤❤
Espero que gostem, desculpa lançar tão tarde e me perdoem por erros ortográficos! Beijos!!😙😙❤

Capítulo 16 - "Te amarei pelo resto da minha existência"


 O céu estava acinzentado e coberto de nuvens escuras havia dias, mas em nenhum momento chegou realmente a chover. Sobre a terra, uma neblina irritante e sufocante preenchia sua visão sem nunca desaparecer. Seu corpo estava dolorido devido ao frio intenso, assim como os passos eram lentos pelo excesso de neve e cinzas que se derramaram sobre o chão. Além dessa paisagem mórbida, podia -se identificar também enormes pedras pontiagudas e pinheiros que cobriam o terreno, como único indício de vida que ela conseguiu encontrar, pois havia milhas que não encontrava uma única civilização.

Ou melhor, encontravam.

Assim como ela, Tegan estava andando de um lado para outro sobre os escombros do antigo templo destruído em busca de alguma coisa que parecesse valiosa, uma relíquia... mas já fazia tanto tempo e não tinham encontrado absolutamente nada.

Ela estava começando a ser dominada pela desesperança quando ouviu o barulho de pedras sendo lançadas sobre uma superfície descoberta de neve. Tinha sido seu noivo, e ele parecia extremamente irritado e desapontado.

– Eles disseram que estaria exatamente nessa posição do mapa! Então por que diabos...? – resmungou o homem em voz alta, olhando novamente ao redor.

Ela suspirou e se encostou sobre uma rocha, cruzando pernas e braços.

– Talvez devêssemos procurar um pouco mais no terreno ao redor.

– Já fizemos isso cinco vezes, querida. E não tem nada além de neve e árvores na floresta, seria muito fácil se perder.

– Aqui não tem nada além de pedras velhas também. – respondeu, dando de ombros. – Tem certeza que essas notícias sobre a relíquia perdida no templo eram atualizadas? Talvez esses homens não tivessem noção de que já poderia ter sido levada há muito tempo, não seria a primeira vez que esse tipo de erro acontece.

– Não, eles trabalharam cada detalhe desde contratar nós, como dois dos mercenários de elite, até pagar por toda a viajem, provisões... estes homens são gananciosos demais para gastar tanto numa simples aposta. – falou o feérico, se aproximando dela e trazendo consigo a bolsa onde guardavam as provisões, que da forma como separaram bem, ainda estava pela metade. Suficiente para o resto da viajem de volta.

– O preço que ofereceram de fato era algo sagrado para que se trate apenas de uma tentativa falha... Se for algo tão valioso e difícil de ser encontrado, deve estar muito bem escondido, talvez no subsolo. Era comum eles manterem armadilhas dentro dessas construções antigas, certo? 

– Tentar cavar demoraria muito tempo, dias na verdade. Não sei se nossa comida seria o suficiente, você viu algum vestígio de animal pela floresta? Isso sim seria uma aposta muito grande, Lyn, não podemos arriscar tanto nossa vida. Não chegamos até aqui para morrer de frio e fome. – disse Tegan, com carinho e repousando o beijo sobre a testa dela, que a fez imediatamente relaxar o corpo.

Era incrível como ele tinha esse poder sobre ela.

O feérico ofereceu para ela um pouco de comida, que negou com um gesto de cabeça.

– Guarde. – disse. – Não estou com fome, melhor deixar para quando isso realmente poderá se tornar um problema.

Ele, no entanto, semicerrou os olhos.

– Isso não é uma desculpa para economizar mais que o previsto, certo? – a pergunta a fez abrir um sorriso doce, enquanto se aproximava dele, abraçando-o e repousando sua cabeça sobre o peitoral, em busca do calor aconchegante e o cheiro de brasas crepitantes que era sua essência natural. Lyn amava aquele cheiro, principalmente quando o mercenário começou a dar leves beijos no topo da sua cabeça e fazer vários círculos carinhosos com o dedo sobre suas costas.

O laço de parceria... a união de alma e vida que unia dois féericos. Aquilo era algo exclusivo apenas para sua raça, como um presente dos próprios Valar. A capacidade de sentir sua alma entrelaçada pela destino com a de outra pessoa... uma alma gêmea.

Lyn não sabia dizer se Tegan era seu parceiro, mas tampouco se importava. Talvez fosse, afinal, foi o único homem com quem já se interessou e não sabia exatamente como era essa sensação de parceria. Mas se não fosse, ela também não se importava. Pois era a ele que amava, e apenas.

Era comum que muitos féericos, ao encontrarem suas parceiras, acreditassem que elas se tornassem sua propriedade de nascença, o que muitas vezes poderia causar conflitos, pois poderiam não ser aceitos. Mas, geralmente, os laços de parceria só eram despertados quando ambos os lados tivessem certeza dos seus sentimentos e se completavam.

Sim. Tegan devia ser seu parceiro, ele era tudo isso para ela.

Com cuidado, se afastou um pouco – não muito – e levantou o queixo para olhá-lo, que já fazia o mesmo com um sorriso.

– Vamos acampar aqui por dois dias e procurar alguma coisa no subsolo. Se não tiver nada, nós voltamos, que tal? – sugeriu, acariciando levemente o rosto do moreno com os dedos, até alcançar seus cabelos ondulados e baguncá-los levemente.

No olhar do feérico continha apenas preocupação.

– Tem certeza que é isto que quer?

Ela confirmou com um aceno.

– Já fomos muito longe, Tegan... pelo menos vamos tentar mais um pouco antes de desistir, não quero me arrepender. – murmurou. – Pense bem... com essa quantia, teríamos dinheiro suficiente para largar de vez a vida de mercenário, viajar para terras distantes e investir em algum negócio. Somos féericos, mas acho que já passamos por mais que o suficiente. Quero descansar, tentar ter uma vida simples dessa vez... sei que quer tanto quanto eu uma casa, lareira quente, leitura em conjunto na madrugada...

– Um banquete delicioso no jantar. – comentou Tegan, aumentando mais o sorriso sonhador. – Várias crianças completamente loucas para nos deixar ainda mais perturbados! – ambos riram ao ouvir aquilo.

– Exatamente. – disse, com um brilho de felicidade nos olhos. – Estamos tão perto desse futuro... e este pode ser o primeiro passo. – falou, indicando com uma mão ao redor. – Que tal lutarmos por ele só mais um pouquinho?

Após alguns segundos reflexivos, as feições do feérico se amenizaram outra vez.

– Tudo bem, você está certa, meu amor. – falou, cedendo por fim, o que a fez abrir um sorriso ainda mais vitorioso. – Mas assim que se passarem os dois dias, voltamos, certo? Esse sonho é tão importante para mim quanto para você, Lyn. Mas minha prioridade é sua vida.

Ela assentiu, entrelaçando os braços no pescoço dele, e Tegan fez o mesmo ao redor da sua cintura, aproximando-a mais ainda de si. Devagar, ergueu seus pés para alcançá-lo, encostando seus lábios nos dele em um beijo doce e caloroso. 

Era maravilhoso sentir o sabor dos seus lábios, mesmo que  já fosse uma sensação comum para ela, nunca perdia a graça. E nunca perderia. O amor que sentiam um pelo outro era algo mais calmo e leve, portanto inquebrável, quase nunca brigavam ou algo do tipo, sempre estavam dispostos a ouvir um ao outro, mudar um pelo outro, mesmo que fossem praticamente iguais em espírito e personalidade.

A oportunidade de conhecê-lo foi a melhor coisa que já aconteceu com ela, e apesar de tudo que aconteceu com seu povo e seus pais, dos anos de fome e frio... se era para levá-la até ele, valia a pena. Sempre valeria.

Quando o ar começou a faltar dos pulmões de ambos, eles se separaram, ambos sorrindo e voltaram a se abraçar, reconfortando um ao outro como sempre fizeram e fariam pelo resto da sua eternidade.

– Amo você. – murmurou Tegan.

– Amo você. – repetiu ela. – Te amarei pelo resto da minha existência.

 

~~~~~~~~}•●•{~~~~~~~~

 

Tinham se passado dois dias, enfim, e a terra ao redor e sobre o templo estava em grande parte remexida e cavada, onde montanhas de neve e areia acinzentada se encontram em um canto, e vários buracos enormes das escavações que demoraram dia e noite para serem feitos.

De certa forma, o esforço fez com que seus músculos se mantivessem ativos, apesar do frio não ser exatamente um problema tão grande para ela quanto certamente era para Tegan, que preferia muito mais o calor. Mas as brasas crepitantes que o circulavam conseguiam fazer um bom trabalho protegendo-o.

Decidiram que continuariam ali até o meio dia, e depois, partiriam. O lado negativo do esforço foi que a comida diminuiu mais rapidamente do que era o previsto, e não podiam se arriscar ficar sem mantimentos na viajem de volta.

Bom, eles tentaram pelo menos... Mas não podia evitar de se sentir decepcionada. Afinal, aquela era a chance deles, de uma vida melhor... de um futuro comum.

Assim como ela, Tegan continuava escavando mais e mais, esperançoso que cada camada de terra poderia ser a certa. Lyn fazia um esforço para manter sua determinação tão firme quanto a dele, mas era um pouco difícil pelo cansaço que pairava sobre seu corpo, embora não queria admitir.

– Aqui. – falou Tegan, oferecendo para ela um pouco de água e comida. – Coma um pouco, você parece faminta.

Ela murmurou um obrigada e pegou o que foi oferecido, analisando-o enquanto voltava a trabalhar.

– Você devia comer um pouco também, está tão péssimo quanto eu. – apontou, fazendo-o rir.

– Isso é porque ainda não se olhou no espelho.

Ela revirou os olhos, e abrindo um sorriso, se aproximou, segurando-o pelo braço.

– Vamos ser justos: certamente estamos tão horríveis agora que essa deve ser a causa de que nenhum animal apareceu nos últimos dias.

– Ou talvez seja apenas porque eu estou queimando vivo. – Por mais que Lyn preferisse o frio, de onde seu poder era proveniente, o calor que emanava dele causava uma sensação maravilhosa. De alguma forma, o feérico conseguia manipular as chamas para que não a machucassem.

– Se você não comer nada, eu também não vou. Sem discussões. – disse a garota, cruzando os braços.

– Que mulher exigente é você, sabia?

– De nada por tentar te manter vivo, seu idiota. – respondeu, dando um leve soco no seu braço.

Se dando por vencido, eles sentaram para comer juntos durante alguns minutos. Não demoraram muito, e voltaram a trabalhar novamente, cada um em seu lado.

Passaram-se horas... já era quase meio-dia. Logo teriam que partir.

Tinha que admitir que sentiria um pouco de alívio, pois seus braços estavam doloridos por horas de esforço que fora, infelizmente, inútil. Ainda sim, continuou tentando...

– Lyn... – a voz soara quase como um murmúrio, mas ela ouviu mesmo assim. Quando se virou para Tegan e percebeu que o noivo encarava um ponto específico sobre a terra escavada, seu coração começou a palpitar violentamente.

– Tegan, algum problema? Você... você encontrou? – as palavras saíram da sua boca quase como um pedido aos céus de que fossem verdade.

E pela primeira vez os céus ouviram suas preces, pois um curto aceno em confirmação do feérico fora suficiente para ela correr em sua direção, enquanto sentia a felicidade consumindo-a por completo.

– Lyn... ali! Ali está! – exclamou em meio a uma gargalhada pura de alegria escapava dele, como se tivesse tomado consciência de vez do que acabara de acontecer. Do que aquilo significava. 

Quando ela chegou, parou ao seu lado, já entrelaçando seus dedos nos do moreno.

Realmente estava ali. Uma coroa magnífica, feita de pedras prateadas e brancas trançadas sobre fios de ouro branco e cristais magníficos que seguiam sobre as pontas levemente distorcidas. De fato, aquilo deveria valer uma fortuna.

A fortuna que lhes garantiria um lar e uma vida próspera.

– Nós conseguimos... – murmurou para ele e para si mesma, em voz alta, virando-se para olhar nos olhos de Tegan. Puxando delicadamente o queixo dele para que fizesse o mesmo. – Nós conseguimos, meu amor. Conseguimos. Acabou... vai acabar. Agora vai. – falou, com firmeza.

O homem sorriu, encostando sua testa na dela, e ambos não evitaram quando as lágrimas de vitória e alegria derramaram-se nas suas faces. Era perfeito... aquele momento era simplesmente perfeito.

Não demoraram muito para começar a recolher as coisas. A coroa fora deixada sobre a bolsa de Lyn, e o peso extra do objeto era bem óbvio. Quase prontos, já com as coisas sobre as costas, e eles começaram a espalhar a terra sobre os buracos novamente.

Então ouviu -se um som estranho.

De início, não foi nada além de um barulho agudo ecoando de longe, e como Tegan pareceu não perceber, imaginou que fosse só coisa da sua cabeça. Mas surgiu outra vez, mais alto e mais alto...

O feérico se virou para trás, observando a floresta ao redor com a testa franzida.

Isso a fez acreditar que não era só coisa da sua cabeça.

Mesmo sobre as grandes camadas de neve, o barulho de vários passos correndo de uma mesma direção não foi capaz de ser omitido. Quase que por instinto, de uma das suas mãos seu poder de gelo surgiu, tocando suavemente a pele como uma pequena neblina esbranquiçada que poderia se tornar fatal quando lançada, e da outra mão, sombras dançaram entre os dedos, esperando o momento certo de serem colocadas em ação.

Tegan também estava em alerta, completamente sério e as chamas que cobriam seu corpo se tornaram agressivas, como se declarassem guerra ao mundo. Seus olhos não estavam diferentes.

– Lyn, fique perto de mim. – falou, com a voz firme. A mercenária não hesitou ao se aproximar, ficando ao lado dele.

Juntos eram fogo, gelo e sombras. Armas vivas.

Mas, quando viu seu maior pesadelo surgir diante dos seus olhos, não pôde evitar o terror que recaiu sobre si: Orcs. Muitos, muitos orcs. Uma tropa inteira surgia entre as neblinas da floresta, armados e corriam na direção deles.

Iriam atacá-los. 

Com uma explosão de poder, gelo expandiu diante deles, formando uma cerca ao redor de ambos e as sombras dominaram seu corpo, escurecendo sua face e seus olhos, mesmo quando ergueram-se sobres os cabelos, fazendo-os flutuar suavemente.

Mas estavam em uma quantidade absurda, fugir não adiantaria nada agora. Ela se viu no mesmo cenário de anos atrás... Quando seu povo e sua cidade fora destruída pelas malditas criaturas... Não. Dessa vez tinha Tegan ao seu lado, não poderia esquecer disso.

A horda avançou de uma vez, jogando-se uns sobre os outros, cravando suas armas sobre as paredes de gelo até derrubarem-na, iniciando o conflito de vez.

De um lado, Tegan queimava vivo vários de uma vez, estava completamente cercado assim como ela, mas estava dando seu jeito de combatê-los. Lyn, por sua vez, usava uma das mãos para congelar vivos alguns, ou usando o gelo em rajadas pontiagudas que atravessavam os pontos vitais das criaturas, e com a outra mão as sombras da morte sufocavam os orcs, cobrindo toda a extensão do corpo deles e sugando suas vidas, até que caíssem como cadáveres ressecados no chão.

Eles pareciam não ter fim!

Não sabia por quanto tempo continuara com aquilo, mas seu poder estava começando a perder força, e mais orcs surgiam a cada segundo. Não conseguiu conter um grito quando três flechas se cravaram em seu ombro, deixando-o imobilizado. Justamente o lado em que usava seu poder mais poderoso, as sombras.

Tegan olhou para ela aterrorizado, também estava ferido e sangrando. 

Os olhos dela se arregalaram imediatamente quando se voltaram para os dele também.

Ela iria gritar, iria avisá-lo...

Mas a voz morreu dentro de si, tarde demais quando uma lâmina atravessou a lateral do abdômen do homem, fazendo-o cuspir sangue imediatamente. Um orcs se aproveitou da pequena distração do feérico... A distração que ocorreu por culpa dela.

Dessa vez, Lyn gritou.

E mesmo com toda a dor do ferro de feixo sobre sua pele, ela ergueu o braço ferido e lançou várias sombras naquela direção, sufocando qualquer um que tentasse se aproximar do feérico. 

O golpe não tinha sido mortal, pois ele não foi atingido pelo ferro de feixo, o ferro que com um simples toque, causava queimação em qualquer feérico. Ele poderia sobreviver, poderia... seu ombro ficaria inutilizado por muito tempo, mas não seria nada permanente. Já tinham ido tão longe... tão longe...

– LYN! ATRÁS DE VOCÊ! – Gritou o moreno, e ela virou- se imediatamente, lançando uma rajada de gelo nos próximos, que tiveram seus pés congelados e caíram. Vários avançaram sobre si, e Lyn continuou atacando-os com mais fervor, com mais ódio.

Soou outro grito, e dessa vez não era dela. O grito tinha sido abafado, ela olhou para trás. As lágrimas já brotando e derramando dolorosamente sobre seu rosto quando vários orcs avançaram sobre Tegan, derrubando, no chão, chutando todo seu corpo até que ele tomasse a inconsciência, as chamas dele já estavam muito fracas, quase não queimavam. A magia dela também, mais um pouco e se esgotaria de vez.

Ela quis vomitar, gritar, correr em direção a ele, se usasse eu poder para eliminá-los... exigiria muito mais esforço do que era capaz, morreria junto e Tegan seria morto de qualquer forma pelos outros.

Continuou pensando em possibilidades... Mas os olhos do seu noivo estavam vidrados nela enquanto era espancado sem pudor.

A palavra saiu da sua boca sem voz, mas ela entendeu mesmo assim. 

“Fuja”

Ele repetiu várias vezes... “fuja”, “fuja”, “fuja”...

Ela balançava a cabeça, se negando a aceitar e ainda lutando com o resto da forças que saíam do seu corpo, o gelo cada vez mais fraco... não demorou muito, seu nariz já estava sagrando e ela estava tonta.

Não. Não. Não.

– FUJA, LYN! – gritou Tegan, e ela olhou uma última vez para ele.

Seu Tegan, seu melhor amigo... seu noivo. 

Sua única família.

Ele por fim desmaiou sobre o chão, mas não sem antes abrir um último sorriso de amor.

– Eu te amo... – murmurou o homem. – Te amarei pelo resto da minha existência.

– Amo você. – murmurou de volta, em meio às lágrimas e os soluços.

Com um último esforço, lançou uma parede frágil e fina de gelo atrás de si, que só os deteria por alguns segundos, mas retirou as flechas de feixo do ombro e assumiu a forma de lobo.

Para sua sorte, o ferro não doía tanto em forma de animal quanto no original, colocou a bolsa que carregava as provisões e a coroa sobre a boca, e correu sobre as quatro patas o mais longe que podia daquele terreno, em qualquer direção... apenas para longe.

Alguma horas depois, não tinham mais sequer resquícios dos sons dos orcs. Ela estava distante o suficiente para se sentir segura, então quando a exaustão se jogou como uma rocha sobre seu corpo, voltou a assumir sua forma feérica e as dores dela.

Com um pouco de dificuldade, encostou-se no tronco de uma árvore no meio da floresta e finalmente se permitiu chorar.

Ela tinha o perdido. Seu grande amor... Tegan fora morto ou levado pelos orcs.

Mais uma vez aqueles malditos tiraram tudo que ela tinha.

A dor era tão profunda que parecia que tudo se tratava de um pesadelo horrível... não conseguia aceitar que perdera ele também, mas a queimação das flechas estavam em seu ombro para provar o contrário.

Fora culpa dela... se não estivesse insistido em ficar mais dois dias... estariam bem longe e seguros, vivos... Juntos.

Sua culpa.

“Esse sonho é tão importante para mim quanto para você, Lyn. Mas minha prioridade é sua vida.” Foi o que disse para ela, ele priorizada sua vida, sua segurança...

Lyn não fez o mesmo. E por isso perdeu a pessoa que mais amava nesse mundo, seu único motivo para viver.

Olhou para o lado, para a mochila entreaberta que refletia o brilho da coroa.

Apenas porque ela sonhou alto demais. Porque desejou aquilo que não poderia ter jamais... um futuro feliz.

 

~~~~~~~~}•●•{~~~~~~~~

 

Lyn olhou bem para a casa que comprou. 

Era bela, apesar de não ser nada grandioso como poderia ter sido. Bem humilde, mas aconchegante. Perfeita.

Depois que fizera a troca da coroa, semanas atrás, ocorreu tudo bem. Os clientes nem perguntaram sobre a falta do seu companheiro, pois sua expressão dissera o suficiente. Ainda não conseguia sorrir. Não se sentia capaz disso, e nem sabia se conseguiria outra vez.

Quando pegou aquela fortuna sobre as mãos... percebeu que não tinha coragem, não quando sentiu aquele tesouro manchado pelo sangue de Tegan. Então retirou uma pequena quantia, apenas para comprar uma casa comum, móveis e algumas reservas básicas, e doou todo o resto para orfanatos.

Imaginou que isso faria ela se sentir melhor, e de fato fez... Mas não tanto quanto desejava. 

Entrou no lugar e percebeu que por dentro era ainda mais confortável. Tinha um calor natural que protegia do frio intenso da chegada de outro inverno.

Um calor tão comum a ela...

Olhou ao redor mais um vez, subiu para o quarto e se jogou na cama nova.

– Eu consegui, meu amor... eu consegui. – murmurou sozinha, fechando seus olhos e imaginando que ele estaria ali com ela, comentando sobre pratos deliciosos para o jantar.

~~~~~~~~}•●•{~~~~~~~~

Lyn e Legolas ainda conversavam bem tranquilamente conforme se aproximavam da Ala Médica.

Lyn estava sentindo mais dor do que admitiria, mas a preocupação que Legolas mostrou quando ela não conseguiu conter um grunhido de dor... decidiu não pensar muito nisso. Mas era impossível, pois sua mente ficava cada vez mais preenchida pelo figura do elfo ao seu lado.

Subitamente, foram interrompidos pela chegada de uma elfa.

Ela era definitivamente a mulher mais bela que Lyn já tinha visto na sua vida, tinha um ar natural e quase divino, e a feérica não duvidou nada que a qualquer momento se revelasse um dos próprios Valar.

Os olhos da elfa se abriram um pouco mais em curiosidade, olhando para ambos confusa, até concentrar toda sua atenção no príncipe e fazendo uma referência perfeita.

– Alteza...  minha nossa, o que houve? – perguntou ela.

Quase uniformemente, a feérica e o elfo se entreolharam.

– Bom dia, Amarïe, confesso que não esperava encontrá-la nessa parte do castelo. – falou Legolas, abrindo um sorriso amistoso e caloroso para a garota. Por algum motivo, a mercenária não gostou nada daquilo, mas manteve sua expressão impassível. – Não se preocupe com isso, estamos... bem. – a última parte saiu menos convincente, pois ainda era visível que ele estava preocupado com a ferida dela e as questões que pairavam sobre eles.

– Fico aliviada em saber... – comentou a elfa, virando-se finalmente para a feérica. – Senhorita, é um prazer conhecê-la. Como se chama?

Lyn abriu um sorriso preguiçoso.

– Lyn Asas de Gelo. É bom conhecê-la também, Amarïe, embora devo admitir que nunca tinha a visto por aqui.

– Você nunca sai da biblioteca, e quando sai, é para arrumar confusão. Como espera conhecer novas pessoas além de outros curandeiros? – comentou Legolas, com divertimento na voz.

Lyn lançou um olhar sarcástico para ele.

– Saiba que você não está muito diferente de mim agora, princesa. – retrucou, olhando-o da cabeça aos pés.

Amarïe pareceu se surpreender pela forma como ela tratou Legolas, o que já estava acostumada. Aparentemente só ela e Tauriel não se davam ao trabalho de bajulá-lo.

O príncipe também percebeu a expressão da elfa.

– Ignore-a, senhorita Amarïe. Passa dias lendo sem parar, mas nunca deve ter tocado em um livro de anatomia para saber que existe diferenças entre um homem e uma mulher.

– Você já imaginou também o quanto deve ser engraçada a cena dele acordando de manhã cedo e fazendo as trancinhas no cabelo? – falou Lyn, se direcionando para Amarïe, mas tomando a atenção de ambos. – Ninguém nunca pensou em registrar esse momento num quadro? Eu daria tudo para comprá-lo!

– Não sabia que você me admirava tanto a ponto de comprar um retrato meu... – retrucou o elfo, ainda com um ar de divertimento. Mas a feérica revirou os olhos, e continuou se concentrando na elfa, que permanecia abismada pela falta de modos como conversavam um com o outro.

– Continuando sobre o que estávamos falando antes de ser interrompidas por um certo alguém... você vive aqui no castelo mesmo?

Amarïe negou com a cabeça.

– Cheguei na corte ontem à noite, durante o Mereth-en-Gilith com meu pai e minha comitiva. Achei um lugar adorável, como já comentei com Vossa Alteza... perdão, também não a vi durante a cerimônia.

– Tinha coisas mais importantes para fazer. – comentou tranquilamente.

– Ainda mais que desfrutar de um evento tão importante na sua cultura? – insistiu a mulher, deixando-a levemente desconfortável. Deveria explicar que os elfos não eram seu povo?

– Como já deve ter percebido, a Lyn não é exatamente uma pessoa muito normal. Preferiu ficar no quarto lendo, mas tenho certeza que não chegou muito longe com o barulho.

– Além disso os vestidos de festa são irritantemente desconfortáveis e evitarei usá-los por quanto tempo eu puder. – acrescentou.

– Compreendo... – respondeu Amarïe, com um pequeno sorriso, então desviou sua atenção total novamente ao príncipe. – De qualquer forma, não pretendo mais ocupar o tempo de vocês. Espero que nos vejamos mais vezes, foi um prazer reencontrá-lo, Vossa Alteza.

– Já disse que pode me chamar de Legolas. – comentou o príncipe.

– Ah! claro... perdoe-me, Legolas. Também foi um prazer conhecê-la, senhorita Lyn. – Então, com um aceno de cabeça, a elfa se despediu, e ambos voltaram a caminhar até o salão.

– Ela ficará na corte, então? – perguntou a feérica, sem encará-lo diretamente, mesmo quando sentiu os olhos do homem sobre si.

– Aparentemente sim. Algum problema?

– Ela me parece muito certinha para nos tornar amigas, mas espero que eu esteja errada, parece ser uma boa moça. – falou, dando de ombros. – Me parece diferente do resto de vocês também.

– Ela é uma elfa Vanyar, conhecidos por serem os mais belos entre os elfos. Confesso que também não tinha visto nenhum igual ela antes, mas você está certa, Amarïe é muito gentil.

A feérica assentiu. Não fazia questão nenhuma de fazer amigos, mas não tinha nada haver com o caráter gentil da mulher, e sim com o fato de que teria que se despedir logo pois não demoraria a partir de novo... afinal, a falta que sentiria de Miriel seria suficiente. E Miriel também não era muiro diferente de Amarïe quando se tratava de requinte.

Falando nisso, seria uma alegria reecontrá-la, tinha que admitir para si mesma.

Quando entraram na Ala Médica, seus olhos foram imediatamente para os dois rostos elfos que ela reconhecia da noite anterior, que estavam sendo tratados por Miriel, que enfaixava o abdômen de um deles. O primeiro que tinha lançado sobre as escadas.

Quando a curandeira olhou para eles, parou imediatamente o que estava fazendo e Lyn quase riu da expressão que fez ao encontrar ela e Legolas naquele estado.

Mas não se segurou para abrir um belo sorriso.

– O passeio foi muito agradável, obrigada por perguntar. – falou a feérica. Imediatamente a elfa veio até eles.

– Por Eru, mas o que...

– Lyn poderá responder essa pergunta depois, mas agora ela precisa urgentemente de um curativo, seu ferimento se abriu. – explicou Legolas.

A mercenária revirou os olhos.

– Sempre sobrando para mim, claro... – resmungou, cruzando os braços. – Olá, senhores! É um prazer reencontrá-los também! Espero que nosso primeiro encontro não deixe uma má impressão sobre mim! – falou, acenando para os elfos que fizeram expressões confusas e um pouco assustadas ao vê-la.

A curandeira suspirou e balançou a cabeça.

– Má impressão? Você espancou o soldado Farlien e deixou graves hematomas na cabeça e nos braços do soldado Malduin ao jogá -lo da escada!

Lyn encolheu os ombros.

– É por isso que estou pedindo desculpas, afinal!

– Depois você volta e se resolve mais calmamente com eles, certo?

– Seu humor está tão agradável hoje, minha amiga... – murmurou, abrindo um sorriso brincalhão. Era um enorme prazer revê-la, de fato. Mesmo que a elfa estivesse claramente irritada com ela.

– Ah, ela irá me explicar essa história sim... não se preocupe, Alteza. Venha, irei ajudar com esses machucados também. – acrescentou Miriel, direcionando-se ao príncipe dessa vez.

Miriel pediu que outro curandeiro ficasse com aqueles soldados feridos, e guiou Legolas e Lyn para outra Ala Médica. Uma maior e mais bem preparada.

Ninguém disse nada conforme ela tratava da saúde de ambos, apesar da curiosidade estar bem clara nos seus olhos. Como os ferimentos do príncipe não eram muito graves, ele foi liberado mais cedo pela curandeira, apesar de mandar recomendações de que viesse novamente no dia posterior para trocar os curativos.

Mesmo após a saída do elfo, não demorou para que terminasse com ela também.

– Muito bem. – falou Miriel, colocando as mãos da cintura. – Agora estou atrasada para minha aula, mas você nem ouse tentar sair desta cama, entendeu? 

– Não pretendo mais fugir, Miriel. – esclareceu, se espreguiçando. – Não por enquanto.

Aquela resposta fez a elfa suspirar.

– Garanto que vai receber o maior sermão que ouviu em toda sua vida quando eu retornar, e vai me contar o que aconteceu detalhe por detalhe. A Alta Curandeira virá comigo, então se prepare para ameaças em dobro.

– Você definitivamente fica bem mais assustadora depois que pega intimidade. – resmungou, abrindo um sorriso. – Continue assim, eu gostei. Senti sua falta, sabia?

Miriel revirou os olhos, se preparando para sair.

– Você é impossível... – respondeu a curandeira, se despedindo por fim.

Então era isso. Estava de volta no palácio... E se Legolas conseguisse convencer o pai, ficaria por mais um tempo considerável.

Ele desejava partir com ela... não, não permitiria jamais. A feérica se importava com ele suficiente para não ousar arriscar sua vida, não depois de saber que com o que estava lidando era realmente os orcs.

Logo eles, que já tiraram tanto dela.

Pelo menos agora estava sozinha para organizar seus pensamentos. Tinha tanto a pensar... Mas, por hora, só queria dormir pelo esforço excessivo da última noite. Por todas as informações que caíram sobre si, pelos sentimentos confusos e pela dor aguda e o mal estar no corpo.

Não demorou muito para que caísse no sono. 

~~~~~~~~}•●•{~~~~~~~~

Lyn não sabia por quanto tempo tinha dormido, mas acordou de uma só vez ao ouvir o barulho da porta sendo aberta. 

Sempre fora muito atenta a sons que parecessem suspeitos, já fazia parte do seu instinto... e experiência. Mas quando a figura que se revelou surgiu no salão, certamente fora uma surpresa.

Estava esperando, obviamente, Miriel e Nymelin. Ou Legolas, quem sabe até mesmo Tauriel... mas diante dela estava outra elfa que nunca tinha visto em toda sua vida.

A mulher tinha pele pálida e brilhante, um rosto perfeitamente esculpido sobre anos de poder e vida, e os cabelos loiros ondulados caíam sobre suas vestes brancas com longas camadas. Retirava o que disse sobre Amarïe, aquela sim era a mulher mais linda que já viu. E se tinha comparado a anterior com um Valar, nem sabia o que dizer sobre essa.

Mesmo assim, Lyn franziu o cenho e inclinou um pouco a cabeça.

– Acho que está no salão errado, senhora. – explicou a feérica, meio hesitante de como deveria tratá-la.

Com um sorriso misterioso, a elfa se aproximou dela, deixando-a ainda mais alerta e desconfiada.

– Não precisa ter medo de mim, criança. Não desejo machucá-la. – disse, com uma voz melodiosa. – E creio que estou na sala certa, Lyn Asas de Gelo.


Notas Finais


Alguém tem ideia do que a Galadriel quer com a nossa querida Lyn? 🤭🤭🙃🙃🙃


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