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História Memórias Rasgadas - Capítulo XXX


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada a todos pelo carinho deixado nos comentários, mensagens e também por cada favorito e leitor que acompanha a minha fic!

Capítulo 30 - Capítulo XXX


Capítulo XXX

 

Durante o almoço em que Eren esteve à mesa com Levi, Bianca, Hanji, Petra e Isabel, o moreno teria que confessar que os seus pensamentos estavam distantes. Se lhe perguntassem do que tinham falado durante aquele tempo, não saberia dizer. Chegou inclusive a não ver alguns dos olhares de Levi na sua direção, que estava a estranhar o silêncio do moreno e acima de tudo, os olhos de quem teria vertido algumas lágrimas momentos antes.

Contudo, o homem de olhos cinzentos não quis interpelar Eren ali no meio de todos, imaginando que este pudesse sentir-se pouco à vontade. Levi também não estava certo de que devesse questionar, pois podia ser um assunto de que Eren não quisesse falar.

Não me lembro de o ver assim quando chegou ao meu escritório. Será que aconteceu alguma coisa entretanto? Ou alguém lhe disse alguma coisa por aqui?”, questionava Levi em silêncio, recordando o que Nina lhe tinha dito. Em locais em que Eren podia ser reconhecido como o filho de Grisha Jaeger, muitos não resistiam aos comentários. No entanto, esperava que esse não fosse o caso na sua empresa. Se algo assim acontecesse, não hesitaria em repreendê-los. Essa era uma das coisas para as quais tinha tolerância zero, até porque ele conhecia na pele a consequência de comentários maldosos que escutou durante vários anos da vida dele.

Porém, a oportunidade de colocar a questão a Eren sobre o que teria acontecido nunca veio, pois já no fim da refeição, recebeu uma chamada de um cliente importante e teve que regressar ao trabalho quase sem tempo para se despedir da filha. A mesma que Levi viu agarrar a mão de Eren, arrancando-o da expressão mais triste e ocupando-se de distraí-lo de qualquer problema que tivesse surgido. Isso fez com que recordasse uma das conversas recentes com Nina.

 

Flashback

– Acho que além de te ajudar com este problema em substituir o Farlan, também será bom para o Eren passar algum tempo com a Bianca. – Explicava Nina. – Penso que ele pode precisar de passar tempo com alguém que vê as coisas daquela forma pura e simples que só uma criança consegue ver.

– Tens razão. – Concordou Levi. – Houve várias ocasiões em que tudo passou a ficar bem, só porque ela sorria para mim.

Fim do Flashback

 

Entretanto já de regresso à residência Smith, Eren continuava a ser puxado por Bianca para o meio do jardim, onde se encontrava a piscina.

– O Farlan disse que não podemos fazer isto todos os dias. Podes ficar doente porque ainda não estamos no verão.

– Não vamos para dentro, vamos sentar perto da água. – Explicou e depois de se descalçar a ele e também à pequena que como estava de vestido pôde sentar-se logo, ao contrário de Eren que teve que dobrar um pouco as calças para não as molhar.

Mais uma vez, viu como a criança colocava o tablet por perto, mas com cuidado para que não ficasse tão perto da água. Em seguida, a menina olhou para trás e murmurou:

– O Berth está mais longe agora, mas se quiseres, posso dizer para ir passear ainda mais longe.

Eren olhou de soslaio e viu o segurança perto do portão, aparentemente ao telemóvel a falar com alguém.

– Também achas que ele é assustador? – Perguntou o moreno.

– Assustador? O Berth? Porquê? Por ser grande?

– Não é apenas isso, mas pronto, talvez seja só paranoia minha. – Coçou os cabelos. – Então, o que queres fazer aqui?

– Falar, Eren. Tu ‘tavas triste o tempo todo no almoço.

– Ah, eu só não tinha muito para falar. Eu não conheço tão bem os teus amigos. – Tentou explicar com um sorriso forçado.

– Mentir é feio, Eren. – Acusou com uma expressão que não escondia o quanto ela não acreditava nele.

Nível de mentira que alcancei. Nem uma criança de 5 anos acredita em mim”, suspirou.

– Não é nada de importante, Bianca.

– É sim. Se não estarias contente como de manhã. – Insistiu. – E eu sei porquê. É porque o meu papá tem aquele namorado que não é mesmo namorado, o Tiago.

Puta que… aliás, não! Espera, palavrões são feios, não se dizem!

– O meu pai diz quando pensa que não ‘tou a ouvir.

– Ah… ok, mas não se dizem. São palavras feias. – Eren tentava remediar a situação enquanto tentava processar o que tinha acabado de ouvir. – E como é que sabes… quer dizer, de onde tiraste essa ideia?

– Já disse, Eren, eu vejo tudo. – Disse orgulhosa de ouvir que o moreno não parecia ser capaz de negar o que tinha dito. – Na festa de aniversário, estavas a olhar para o meu pai como o meu papá Erwin olhava para ele. Ainda dá para ver nas fotos e nos vídeos. Queres ver?

– Não, não. – Dizia, fazendo com a menina, mantivesse o tablet onde estava.

Disfarço assim tão mal que uma criança de 5 anos reparou?” questionava, pensando que de facto, não queria ver mais nenhuma foto e sobretudo vídeos em que visse Erwin e Levi a interagirem. Não precisava de mais facadas no peito para se recordar, como se sentia muito abaixo do que o outro merecia.

– Então, contas a verdade? Gostas do meu pai, não é?

– Não é tão simples.

– Vocês adultos…– Disse com um certo desapontamento, abanando a cabeça e Eren repentinamente, sentia como se estivessem a trocar de lugar em termos de maturidade. – O meu pai diz que o Tiago não é bem namorado, mas eu não percebo. Para mim é ou não é. Essa coisa de ser namorado sem ser mesmo, é muito confuso. E depois vocês não dizem quando gostam de alguém. Vocês todos complicam tudo. Eu digo sempre quando gosto ou não.

Eren suspirou.

– As coisas não assim tão simples. Mesmo que eu goste… sabes que eu conheci o teu pai antes?

– Sim, eu ouvi a madrinha Hanji e o pai a falar, mas quando perguntei ninguém explicou. – Cruzou os braços, chateada. – Sou sempre pequena para os adultos.

O moreno não conseguiu conter um pequeno sorriso divertido ao ver a expressão emburrada da criança e passou a mão nos cabelos dela.

– É melhor assim, porque pelos vistos nós complicamos tudo, não é?

– Eu vou ser descomplicada quando for grande.

– Que não deve acontecer tão cedo porque podes herdar o tamanho do teu pai Levi. – Comentou com vontade de rir e que teria perdido essa vontade perante o olhar que ela fez. Porém, era demasiado semelhante ao do pai e era divertido ver uma criança a tentar copiar a aura das trevas. – Desculpa, mas vamos admitir que há uma diferença considerável na altura entre os teus pais.

– Não esqueci a conversa de antes. – Apontou, decidida a não deixar o assunto de antes cair por terra.

– Eu conheci o teu pai antes e… fiz-lhe muito mal. – Admitiu com um nó na garganta.

– Pediste desculpa?

– Huh?

– Pediste desculpa? – Persistiu na pergunta.

– Sim, mas… eu não acho que seja daquelas coisas em que basta pedir desculpa para resolver tudo. Nem sequer acho que mereça que ele me perdoe. – Disse incapaz de esconder o desânimo e tristeza na voz.

– E o meu pai disse o quê?

Os olhos verdes focaram-se na água que tocava nos pés e pernas dos dois, que se encontravam sentados na beira da piscina.

– O teu pai perdoou.

– Então, não podes decidir por ele se deve ou não perdoar. – Disse decidida e tocou no braço do moreno para que este olhasse para ela, que sorriu. – Se ele perdoou, fica feliz.

– Não é tão simples. – Falou com a voz e olhos a arderem ligeiramente.

– É sim. – Insistiu. – Não podes decidir por ele se quer perdoar ou não. Ele decidiu e disse sim, portanto, esquece essa parte.

– Pois, essa parte… – Murmurou e surpreendeu-se ao ter a cabeça da criança encostada ao braço dele. – Mas eu fiz-lhe muito mal, Bianca. Não só a ele, mas a outras pessoas também.

– O tio Mike disse que não podemos fazer mal aos outros, sem fazer mal a nós também. – Disse sem se distanciar do moreno.

– Não sentes raiva de mim? Estou a dizer que fiz mal ao teu pai. – Disse Eren sem compreender como a criança teimava em manter-se perto dele. – Será que entendes o que estou a dizer?

– Se calhar não entendo muita coisa, mas se ‘tás triste, então eu vou perdoar também.

– Huh? – Balbuciou. – Como é que podes perdoar sem sequer saber o que aconteceu?

– Não preciso. Eu faço o que quero, Eren por isso, se digo que estás perdoado por mim, é porque estás. – Olhou para o moreno que baixou e em seguida, ela levantou-se. – Já disse que vocês, adultos, complicam tudo. – Estando mais à altura dos cabelos do moreno, alisou os mesmos. – Pronto, vai passar. Vais ficar bem, sabes porquê? – Viu o outro acenar negativamente e ela decidiu abraçá-lo. – Vou dar muitos abraços e mimos até ficares bem.

Não viu o pequeno sorriso de Eren, que deixou que a criança continuasse a abraçá-lo, enquanto passava a mão nos cabelos dele. Ficaram assim algum tempo, até que os olhos verdes viram a entrar no jardim, um animal conhecido.

– Kuro olá! – Bianca deixou o abraço para acenar ao gato preto que se aproximava. – Vem dizer olá ao Eren.

– Kuro? – Murmurou, estendendo a mão e logo teve que se esquivar da garra com as unhas afiadas. Curiosamente, isso colocou um sorriso divertido no rosto dele.

Definitivamente, lembra-se de mim. Pelo menos, da parte em que me atacava sempre que queria aproximar-me”.

– Desculpa, Eren, ele tem este hábito de arranhar muita gente. – Disse a criança com as mãos na cintura. – Isso não se faz, Kuro. Tens que ser simpático para o Eren.

O gato continuou a observar o moreno e aproximou-se, começando a cheirar a mão que tinha tentado arranhar antes. Esteve assim alguns momentos e o moreno evitou qualquer movimento brusco, esperando que o gato terminasse de o cheirar e perplexo viu como no fim, lambeu a mão dele.

– Lembras-te de mim? – Perguntou emocionado com essa perspetiva e o gato miou.

Porém, quando Eren tentou demonstrar carinho excessivo, voltou a recordar o que era sentir as garras na pele. Mas estava tão contente por ver o gato de novo, que nem deu importância ao arranhão que recebeu no braço.

Mais tarde, o moreno também foi surpreendido com o envio de um horário relativo às aulas de dança de Bianca. Farlan explicava que aquele era um dos dias em que além do almoço, mais tarde teriam que se deslocar ao ginásio. O que o loiro esqueceu de mencionar é que Levi também frequentava o mesmo local e só depois de deixar a criança na aula, é que se apercebeu que ficaria sem nada para fazer. Por curiosidade, enviou uma mensagem a Farlan questionando, qual era a duração da aula pois o horário na especificava essa parte.

 

Farlan – Mensagem:

O Levi também deve estar aí. A Isa disse que ele saiu a horas decentes. Normalmente, eu deixava-a na aula e ele depois é que a leva para casa ou então juntava-me a ele nas piscinas.

 

Assim que terminou de ler a mensagem, ouviu alguém aclarar a garganta e encontrou uma loira com longos cabelos presos, roupa de estilo desportivo que sorriu na direção dele.

– O antigo baby-sitter não era fã das revistas aqui da receção, portanto, se quiser, posso mostrar as instalações ou se…

– O Le… digo, o Sr. Smith. – Começou, sentindo-se estranho ao referir a Levi dessa forma. – Está nas piscinas, não é?

– Sim, quer que o leve até lá?

– Ah sim.

– Com certeza. – Disse, virando as costas e fazendo sinal ao moreno para segui-la.

Eren devia saber que aquilo não era uma boa ideia, mas ver Levi na piscina era uma imagem demasiado tentadora para que pudesse ficar ali na receção a tentar ler revistas ou ver algum programa estúpido na televisão.

Todavia, ao colocar de lado os pensamentos menos próprios, uma questão importante veio à cabeça dele. O Levi antes não tinha problemas em expor o corpo? Mesmo em situações íntimas, ele fazia os possíveis para nunca descartar completamente as roupas e agora, ficava reduzido a possivelmente uns calções na frente de toda a gente? O moreno recordava como o outro era consciente dos cortes nos braços e também das inúmeras marcas que tinha nas costas e que contavam histórias de maus tratos que lhe teriam sido infligidos quando vivia com a família dele.

Recordava-se perfeitamente quando teve um vislumbre raro das costas dele numa das vezes que se envolveram e ainda que a iluminação não permitisse ver tudo, viu o suficiente para ter vontade de chorar. Não eram apenas cortes, mas queimaduras provocadas por pontas de cigarros.

Ainda refletia sobre isso e na forma como o afetou ver aquelas coisas, quando chegaram à área das piscinas e teve que suster a respiração. Levi saía da piscina e encontrava-se de costas, mas estas estavam cobertas por uma imensa tatuagem de duas asas sobrepostas que cobriam toda a extensão, alcançando até um pouco os ombros. Assim que acabou de subir os degraus, Levi passou a mão nos cabelos molhados e pouco depois, os olhos dos dois encontraram-se.

– Ele está a acenar, Eren. – Disse a funcionária divertida, acenando de volta na vez do moreno antes de sair. – Tenho que voltar à receção, mas penso que já deves saber o percurso de volta.

– Ah… sim, obrigado. – Murmurou, vendo como Levi se aproximava com uma das toalhas que passou nos cabelos.

– Algum neurónio morreu aí dentro? – Ouviu Levi perguntar e o outro apercebeu-se que provavelmente, ainda estaria a olhar como um idiota. – O Farlan deve ter avisado que não precisavas de ficar. Normalmente, sempre que posso vir cá, calha nos dias em que a Bia tem as aulas dela e por isso, no fim vamos juntos para casa.

– Sim… ele disse. – Respondeu, observando também os braços e vendo que não havia qualquer marca.

– Já apareceste mais do que uma vez sem camisa à minha frente e eu não reagi como um retardado. – Apontou Levi.

– Tu não estás apenas sem camisa. – Recordou o moreno, sentindo o rosto um pouco ruborizado, mas a curiosidade falava mais alto. – As… desculpa, mas as marcas…

– Hum, nem sempre posso estar de camisas de manga comprida e no trabalho ou vida social que tenho que fazer, isso poderia causar-me vários problemas. – Explicou sumariamente. – Também não ajudava às boas lembranças, ter que olhar para os meus braços.

– Mas…

– És familiarizado com o conceito de cirurgia estética, certo? Retiram uns excertos de pele de um sítio e colocam noutro. – Respondeu, colocando a toalha sobre os ombros.

– E a tatuagem? Ah, quer dizer, podias ter feito o mesmo dos excertos. – Disse, sentindo-se um pouco mal por pensar que podia estar a invadir a privacidade de Levi.

– Um presente. – Respondeu com um sorriso que parecia algo nostálgico. – Não sei se chegaste a conhecer ou se te lembras da Ymir. Bom, ela tem um estúdio e isto é um trabalho dela. De tempos a tempos, vou lá retocar.

– Ah… não estou a ver agora quem é, mas a tatuagem ficou… puta que pariu, não vou conseguir tirar estas imagens da minha cabeça tão cedo.

– Material para bater várias durante meses, não é? – Provocou Levi com um meio sorriso e piscou o olho antes de distanciar-se. – Ainda quero aproveitar o resto do tempo. Podes babar lá de cima ou pedir à Alexandra para te inscreveres no ginásio. Assim, não ficas sem o que fazer quando tiveres que cá vir com a Bianca e eu não estiver cá.

De regresso à piscina, o dono dos olhos cinzentos era consciente que devia evitar os comentários de conteúdo sexual ou provocador, mas com os olhos do moreno tão descaradamente a observá-lo, foi incapaz de conter o comentário. Além disso, se Eren ainda estava com aquela ideia absurda, na opinião dele, de aleatoriamente elogiá-lo e declarar-se, então deveria esperar algum tipo de retaliação.

Quanto a Eren apenas se moveu do lugar onde ficou plantado, quando ouviu o som da água indicar que alguém tinha mergulhado na piscina. Virou as costas e decidiu regressar à área da receção porque por mais tentador que fosse observar Levi na piscina, isso não ajudaria em nada os pensamentos dele. Desconfiava que o corpo que recordava sempre como sendo atraente, estava ainda mais definido e interessante, sobretudo com aquela tatuagem que além de fascinante, na opinião do moreno, também era bem sexy.

Acho que não vou esperar pela Bianca para me despedir. Preciso ir para casa agora enfiar-me debaixo de um chuveiro de água gelada. Definitivamente, não estava preparado para vê-lo com tão pouca roupa”.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Depois da rotina habitual de deitar a filha na cama e esperar que ela caísse no sono ao som da voz dele a ler-lhe algum livro, Levi encostou a porta do quarto depois de apagar a luz. Os passos cuidadosos e quase inaudíveis marcaram o regresso dele ao quarto para onde mais uma vez olhava para a cama e por momentos, via Erwin sentado. O loiro sempre que o ouvia entrar no quarto, esboçava um sorriso e em alguns dias como aquele, sentia falta desses momentos. Quem sabe, estivesse um pouco mais nostálgico naquele dia porque Eren tocou no assunto das marcas e também da tatuagem.

Já devia esperar que fosse ser questionado em algum momento acerca disso, visto que agora não tinha receio de mostrar o próprio corpo ao contrário do que acontecia no passado. Porém, não esperava ser interpelado naquele momento e isso levou a que não contasse toda a verdade. Não era somente uma questão de querer estar apresentável em questões sociais e aquelas cicatrizes não iriam provocar somente más lembranças. Ao ser tratado por Mike aprendeu que elas também atuavam como uma espécie de rastilho, algo que podia desencadear crises de ansiedade ou depressivas. Ver todas aquelas riscas ou sentir as cicatrizes podia ser o suficiente para que até a medicação falhasse. Portanto, concluiu juntamente com Mike e Erwin que o melhor seria tratar disso, assim que saísse do internamento. A ideia de cirurgia estética não lhe pareceu muito apelativa, mas na primeira vez que olhou para os próprios braços sem aqueles cortes repletos de angústia e raiva, sentiu como se se tivesse libertado. Ainda recordava todas as lágrimas que caíram ao ver pela primeira vez em anos, os braços livres de qualquer cicatriz.

Depois do resultado tão positivo e tão melhor do que esperava, surgiu uma ideia diferente de como queria lidar com o que havia nas costas dele. Na frente não tinha tantas marcas, ou melhor, a maioria desvaneceu com o tempo e outras eram pouco percetíveis.

 

Flashback

– Hei, não comentei aquilo para te sentires culpado. Temos jantado sempre juntos e almoçado também algumas vezes por semana. Além disso, na próxima semana vamos tirar férias e por isso, isto vai acabar por valer a pena. – Respondeu Levi, vendo os olhos azuis observarem-no mais uma vez com curiosidade. – Estás com vontade de ver?

– Tenho que admitir que sim. – Confessou o loiro. – Estou a tentar aguardar pelo dia que queiras revelar a surpresa, mas gostava de saber o que tanto tens feito nestes últimos tempos.

– Sei que já tens as tuas suspeitas. Afinal de contas, alguém viu-me a sair do estúdio da Ymir.

– Sim, mas ainda assim gostava que fosses tu a contar-me.

Levi suspirou, abanando a cabeça.

– Queria esperar pelas férias, mas se vais continuar a torturar-te com a curiosidade, acho que vou ceder e mostrar-te o presente que me deste.

– Um presente que te dei? – Questionou o homem de olhos azuis confuso à medida que via o outro retirar a camisa preta, mantendo as costas viradas para ele e revelando a tatuagem que o fez arregalar os olhos.

– Se continuares em silêncio depois de toda esta persistência e curiosidade mal disfarçada, eu juro que pego neste candeeiro e vou…

– A Ymir tem um talento impressionante. – Interrompeu o loiro. – A tatuagem tem uma beleza que…espera, disseste que era um presente meu porquê?

O mais baixo virou-se e sentado na cama diante do loiro, sorriu um pouco antes de explicar a razão para aquilo fosse um presente.

– Eu pensava que não tinha um lugar neste mundo. Pensava que nunca teria uma casa para onde voltar e os braços de alguém que me amasse para me receber. Acreditei que o abismo iria levar-me porque nos meus tornozelos e pulsos só via correntes e pedras que me empurravam para lá. – Dizia, mantendo o contacto visual. – Mas então apareceste tu e agarraste a minha mão. Disseste que quebrarias as correntes e afastarias as pedras. Prometeste que o abismo não me levaria e mostraste-me que eu tinha asas e que podia aprender a voar para longe do abismo e encontrar um mundo que me acarinhava e onde me esperavam os braços de alguém que seria a minha casa, o lugar para onde iria querer voltar. – Tocou o rosto do loiro. – O que me deste não tem preço e esta imagem nas minhas costas é só mais uma lembrança do presente sem preço que me deste.

Tocado pelas palavras que tinha escutado, Erwin aproximou-se do parceiro até tocar nos lábios dele e com cuidado, foi deitando-o na cama. Parou por instantes apenas para se olharem olhos nos olhos e nunca em outro momento, Levi sentiu como se estivesse em casa. Como se realmente, tivesse alcançado algo sem preço porque o que via nos olhos à sua frente, pensou que nunca fosse ter de alguém. Aquele sentimento que era a sua casa e que finalmente, encontrava e recebia de alguém.

Fim do Flashback

 

As lembranças foram interrompidas pelo som do telemóvel a tocar e após confirmar o nome no ecrã, atendeu. Não era comum que Tiago telefonasse aleatoriamente, portanto, até começava a perguntar-se se teria acontecido alguma coisa.

– Tiago? – Chamou ao escutar silêncio do outro lado.

– Sim, desculpa estou um pouco…

– Estás bem? Desde que estiveste no centro de saúde hoje à tarde, tive a impressão de que quando voltaste, parecias preocupado. – Disse Levi, sentando-se na cama. – Aconteceu alguma coisa?

– Ficaste preocupado ou sentiste falta da minha visita à tarde no teu gabinete?

– Fiquei preocupado, Tiago. Precisas de alguma coisa?

– Quando é que podemos ver-nos? – Perguntou. – Queria passar tempo contigo.

– Vemo-nos amanhã no trabalho, a menos que tenha acontecido alguma coisa e arranjo forma de sair agora para ver como estás. – Falou, ouvindo a campainha soar pela casa e de imediato, ergueu-se para ir até à secretária e após premir algumas teclas do computador, viu a imagem do exterior.

Farlan a esta hora? Será que teve outra discussão com a Isabel?”, pensava à medida que passava para a opção touch do ecrã para desbloquear o portão e também a porta de casa.

– Se te pedir, vens ver-me agora? – Perguntou Tiago.

– Aconteceu alguma coisa ou não? – Quis saber Levi à medida que saía do quarto. – Preciso que me digas porque sabes que não posso sair só pelos teus caprichos, Tiago. Se for alguma coisa grave, vou ter que improvisar alguém para ficar com a minha filha.

– Sempre a tua filha em primeiro…

– Não vamos ter essa conversa outra vez, pois não? – Perguntou um pouco irritado.

– Disseste que saías agora para vir ver-me.

– Mas obviamente, não parece que exista um motivo sério para isso. – Retrucou o homem de cabelos cinzentos. – Portanto, acho que nos vemos amanhã nalguma pausa do trabalho, onde espero que não estejas com esses comentários a respeito da minha filha. Além disso, chegou agora o Farlan e acho que também vou precisar de estar um pouco com ele.

– Sim… desculpa, faz o que entenderes. É como dizes, é só um capricho meu. Boa noite.

Levi despediu-se de Tiago e viu Farlan entrar pela porta com um ar abatido.

– Condenado a dormir no sofá de novo? – Questionou e sentiu o telemóvel tocar no bolso, mas algo mais breve. Olhou de relance e abriu rapidamente a mensagem.

 

Isa – Mensagem:

Depois diz-me se esse idiota chegou aí de boa saúde e não se deprimiu o suficiente para bater com o carro em algum lado.

 

Levi – Mensagem:

Está vivo e deprimido em minha casa.

 

As discussões entre aquele casal não eram nada de sério. Ou pelo menos, nada que colocasse o relacionamento em risco, mas Levi conhecia bem Isabel e sabia que quando ela teimava em discutir, podia transformar-se numa autêntica novela com ela a atirar almofadas e mantas para que o namorado/noivo dormisse na sala, pois ela acabava por trancar-se no quarto. Sendo certo que não existiam tantos momentos em que ela perdia a calma, havia temas que a ruiva tinha mais dificuldade em digerir e ao escutar que era mais uma vez a mesma razão, Levi concluiu que teria que conversar com a amiga no dia seguinte.

 

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Os olhos castanhos estavam fixos no ecrã escuro do telemóvel que tinha na mão. Apesar de estar sentado sobre a cama, ainda tinha as roupas com que tinha chegado há pouco a casa. A saída até ao bar demorou menos do que o amigo dele pretendia, mas como já tinha dito antes, apenas queria informações e nada mais.

Pensava que o passar das horas e mesmo conversar com o amigo, pudesse atenuar o receio que ficou plantado dentro dele desde que foi interpelado e claramente, ameaçado. Teria até se deixado subornar por Zeke, se tivesse cedido a dizer a verdade. Porém, não o fez porque não queria arriscar perder aquele relacionamento que tinha com Levi. Se é que podia classificar aquilo como uma espécie de relacionamento, mas era alguma coisa e queria conservar isso.

Usualmente, nem recorria a chamadas para falar com o homem de cabelos negros, mas quando chegou a casa, sentiu a necessidade de ouvir a voz dele e surpreendeu-se quando ouviu a vontade do outro em vir vê-lo. Mostrou a preocupação que tantas vezes não viu em outras pessoas que conhecia há mais tempo e ofereceu-se inclusive para ir vê-lo. Não falou em hotel ou qualquer outro sítio neutro em que se pudessem encontrar, disse somente que iria ao seu encontro.

Escutar isso, provocou-lhe um frio na barriga acerca da possibilidade de ter Levi em casa. Contudo, tão depressa como veio o sorriso para o rosto dele, surgiu também o desapontamento quando referiu mais uma vez a filha e como se discutir sobre a criança não fosse o suficiente, claro que ainda tinha que chegar outra pessoa. Mais alguém que o colocava numa escala pouco prioritária.

Eu estou a proteger o nosso segredo. Tive medo, mas protegi o nosso segredo e no mínimo, queria um pouco da tua atenção agora”, pensava com uma certa mágoa, atirando o telemóvel para o chão.

Depois de horas a remoer as últimas horas da sua vida, Tiago não teve grande oportunidade de descansar as horas necessárias. Não obstante esse facto, ao acordar e ver uma mensagem no telemóvel, o humor melhorou o suficiente para que desconsiderasse a ideia de faltar ao trabalho.

Em vez disso, seguiu uma rotina semelhante a outros dias com pequenas alterações e em pouco tempo, saiu de casa. Ignorou algum caos que sempre se criava de manhã nos transportes públicos e por fim, chegou à Survey Corporation. Saudou com um sorriso vários dos colegas com quem se cruzou e ouviu mais algum elogio pouco original de uma colega. Às vezes, ele questionava-se se as mulheres daquela empresa colocavam sobre a mesa a hipótese de ele ser bissexual. Ele não as desdenhava, mas não sentia qualquer atração do ponto de vista sexual pelo sexo oposto. Não se importava de socializar com elas, mas achava que era um pouco sem noção que algumas considerassem que o lado hétero dele pudesse manifestar-se.

Esse lado nunca existiu e ao contrário do que muitos atrasados pensam, não é um capricho ou uma escolha. Simplesmente tenho outras preferências e não devia ser obrigado todos os dias a ver como tantos tentam encaixar-me naquilo que consideram normal”.

Depois de também cumprimentar Petra que indicou que em poucos minutos deveria levar o primeiro café da manhã, Tiago foi diretamente até à sala que partilhava com outros colegas. Pelo que ouviu em geral, Levi não devia ter tido direito a muitas horas de sono e por isso, a conversa da urgência do café era o tema mais falado. Como sempre sorriu e dirigiu-se a uma das máquinas para recolher o líquido milagroso na temperatura e com a quantidade exata de açúcar que aprendeu a colocar, conforme os comentários do homem de cabelos negros.

Enquanto retirava o café da máquina, sorria ao recordar-se de mensagem que parecia ter mudado toda uma perspetiva daquele dia. Quase não dormiu ao pensar na mesma pessoa que de manhã lhe enviava uma mensagem a desculpar-se pela forma como falou e desligou a chamada. Em outras ocasiões, o sorriso nesse tipo de situação seria de uma certa ironia. Sempre teve o poder de fazer os parceiros rastejarem por ele e dizerem o que queria, apenas para afagar o ego dele.

Contudo, Levi era diferente. Tiago sabia que aquelas palavras não surgiam com o intuito de rastejar ou mimar o ego dele. Aquelas palavras eram genuínas e ter esse tipo de atenção começava a tornar-se viciante e definitivamente, algo que não estava disposto a perder.

 

Flashback

– Agora que sabes isto sobre o Eren, não achas que devias investir um pouco mais na tua relação com ele? Antes de responder, explica-me sinceramente o que tens a perder. – Dizia o amigo, sentado ao seu lado diante do balcão do bar, onde se encontravam lado a lado a beber.

– Estou a pensar no que vou fazer. Não penses que é tão fácil conquistar um homem daqueles.

– Não digo que o seja, mas tu conseguiste pelo menos o primeiro passo e se deixares as coisas como estão, corres o risco de deixar esse Eren passar-te a perna. Estás disposto a perder o que conseguiste até agora e aquilo que podes vir a conseguir no futuro?

Fim do Flashback

 

Não, não estava disposto a perder coisa alguma e sobretudo, não para um Jaeger renegado até pela própria família”, concluiu com o café sobre a bandeja, à medida que caminhava em direção ao gabinete de Levi.

Quanto mais pensava na conversa com Zeke, nas palavras do amigo e em tudo o que poderia estar ao seu alcance, se fizesse mais um pouco de esforço, deixava de ver desvantagens. Não era o que tinha acordado com Levi quando iniciaram aqueles encontros, mas o homem de olhos cinzentos era o primeiro a quebrar as próprias regras com palavras e gestos inadequados para a situação deles. Afinal de contas o que tinha a perder? Nada. O que poderia ganhar? Aquele atenção e carinho todos os dias e se tudo desse certo, sem todo aquele secretismo.

– Posso, Sr. Smith? – Perguntou após bater na porta.

– Entra, Tiago.

Assim que entrou, sorriu como já estava habituado e viu os olhos cinzentos desviarem-se do ecrã para lhe dedicar toda a atenção.

– Bom dia, Sr. Smith. Ouvi dizer que precisava de um café urgente.

– Bom dia. – Disse, recolhendo a chávena da bandeja. – Eu imagino que o meu humor já esteja a ser o tema da conversa por aqui.

– Se disseste ‘bom dia’ a alguém com esse ar de quem vai cortar mãos e pés, é provável que exista por aí funcionários assustados. – Brincou um pouco e viu o outro arquear a sobrancelha antes de suspirar.

– Bendito café que me ajudas todas as manhãs. – Murmurou, bebendo mais um gole sob o olhar atento do funcionário. – E tu como estás? Melhor?

– Sim, ontem estava um pouco… enfim, nada de importante. – Tentou descartar até sentir a mão de Levi sobre o braço dele para que se aproximasse mais e assim que o viu, criar alguma distância entre a secretária e a cadeira, Tiago sorriu e sentou-se sobre as pernas do outro. – Dia de mimos para mim? Não sei se mereço. – Suspirou. – Não queria ter falado sobre a tua filha… espero que me tenhas desculpado.

– Sim, eu sei que não o disseste por mal. – Passou a mão nos cabelos castanhos, bebendo mais um gole de café. – Mas o que quero saber é o que não me estás a contar. O que aconteceu na consulta de ontem? Há alguma coisa que não estás a contar? Ou foi outra vez alguma discussão com a tua mãe?

Tiago sentia a tentação de contar a verdade sobre Zeke, mas assim como amigo dele tinha aconselhado, talvez não fosse o melhor a fazer. Mesmo que aquele amigo em concreto não fosse totalmente inocente naquela história daquele Jaeger ter descoberto o hotel onde os encontros discretos aconteciam. Porém, havia o risco de mexer com alguém perigoso e acima de tudo, aquilo que Tiago mais temia no momento: era que ao saber que alguém desconfiava do relacionamento dos dois e ao não querer a comunicação social a especular sobre a vida privada dele, Levi decidisse colocar um fim no relacionamento. Tiago não podia arriscar uma coisa dessas.

– O normal. Apenas mais uma discussão com a minha mãe. – Mentiu e acariciou o rosto do homem de olhos cinza. – E depois quando disseste que vinhas ver-me sem falar em hotel ou qualquer outro lugar onde nos pudéssemos ver, pensei que era a primeira vez que vinhas a minha casa. – Baixou o rosto. – Sei que não tenho o direito de exigir-te nada, principalmente que atures estes momentos em que estou em baixo, mas quando pensei que iria poder passar a noite contigo…

– Hei. – Pousou o café sobre a mesa e com a mão ergueu o queixo do outro. – Já disse que podes contar comigo, sempre que houver algum problema e se precisares que…

– Se precisar que nos encontremos um pouco, podes abrir uma exceção? Podes estar comigo?

– Agora?

– Hoje, mais tarde. – Pediu esperançado. – Sei que tens que encontrar quem fique com a Bianca, mas se fosse importante para mim, será que…

Após algum silêncio, Levi puxou o rosto dele para o beijar, dizendo:

– Se precisas de estar comigo, eu faço quantas exceções precisares.

Aquelas palavras sussurradas arrepiavam a pele do jovem que procurou mais uma vez os lábios do outro que não fugiram ao contacto e até procuraram aprofundar, passando a língua. O contacto entre a língua de ambos e as mãos que começavam a explorar o corpo um do outro, provocaram um gemido abafado entre os dois.

– Sei que disseste que hoje ficavas comigo, mas não sei se vou conseguir voltar para o trabalho assim… – Murmurava, trazendo uma das mãos de Levi até à área do fecho das calças.

– Hum, se calhar preciso mais do que um café para motivar-me hoje. – Sussurrou Levi, acariciando o outro por cima das calças, provocando alguns gemidos. – Vieste preparado? Não temos muito tempo.

– Sim, pode ser rápido e forte como gostas.

– Hum, então levanta-te e apoia os cotovelos aí na secretária. – Disse e viu o jovem obedecer de imediato, começando a desapertar também o fecho das calças. Teria continuado a tirar, se não sentisse as mãos de Levi parar as dele e ele próprio continuou a retirar a roupa que os separava naquele momento. Puxou também a camisa branca para beijar a pele morena e apenas quando uma das mãos se dirigia ao que queria, apercebeu-se o que realmente Tiago queria dizer quando disse que se preparou.

– Surpreendido, Sr. Smith? – Provocou ao ver que as mãos tinham parado de se mover por alguns instantes.

– Nunca te vi usar muitos brinquedos, mas o plug anal é uma boa surpresa. – Admitiu, deixando de parte que aquele objeto lhe trouxe uma outra lembrança recente que forçou a afastar da mente naquele momento.

Mesmo com aquela preparação em casa, Tiago testemunhou mais uma vez como Levi nunca deixava de ser cuidadoso e assegurar-se que não seria brusco ou rápido demais, sem confirmar que a preparação tinha sido feita corretamente. Antes de ter o que queria, ainda trocaram vários beijos longos enquanto a mão de Levi envolvia os dois, masturbando-os e arrancando mais suspiros e gemidos dos dois.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Finalmente, mesmo com algumas reuniões no horizonte, Levi conseguia concentrar-se um pouco na área da programação que era o que realmente o fascinava e assim, ajudar Hanji com alguns projetos que estavam pendentes. No entanto, a conversa pendente com Isabel impedia que se concentrasse totalmente nas fórmulas que tinham linhas e linhas com números, letras e símbolos. Não era comum que a ruiva adiasse uma conversa com ele e por isso, Levi podia deduzir que ela estaria a tentar fugir, o que também não parecia ser coisa dela. Portanto, após completar pelo menos um dos pequenos projetos de Hanji e enviar o mesmo à amiga, saiu para encontrar Petra e questioná-la acerca do paradeiro de Isabel.

– Disse que ia passar a tarde com o departamento de contabilidade.

– Por alguma razão urgente?

– Eu não sei dizer. – Disse Petra um pouco desanimada por não poder ajudar mais.

– Preciso falar com ela por isso, vou sair do gabinete e qualquer coisa, diz que estou numa reunião importante e que não posso ser incomodado.

– Claro, Sr. Smith. – Assegurou com um sorriso.

Quando Levi encontrou a ruiva no departamento de contabilidade, esta parecia decidida a ignorar a presença dele e ter o diretor da empresa parado na porta com um ar pouco impressionado, estava a deixar os restantes funcionários com receio de que de alguma forma, tivessem feito alguma coisa de errado. Ao ver a tensão cada vez mais evidente entre os funcionários, Levi suspirou e optou por tranquilizá-los.

– Estão todos a fazer um ótimo trabalho. Tanto que nem sei o que a minha colega Isabel está aqui a fazer e por isso, apenas vim chamá-la porque preciso da colaboração dela.

– A Petra está ocupada?

– Eu disse Isabel e não Petra. – Frisou sem margem para argumentação e em seguida, a mulher saiu acompanhando Levi e deixando para trás funcionários aliviados por já não se encontrarem no meio de toda aquela tensão. – Subimos até ao meu gabinete ou vamos ao terraço conversar?

– Levi, eu…

– Em outra ocasião, isto poderia ser opcional, mas é óbvio que temos que conversar. – Falou, segurando na mão dela e ambos entraram no elevador, rumo ao piso onde havia um imenso terraço e onde por vezes, se organizavam pequenos convívios.

Durante o percurso que os transportou de elevador até esse piso, Isabel nem sequer olhava nos olhos do amigo, o que apenas o deixava mais preocupado. Sempre que existiu alguma discussão entre ela e Farlan, ele tentou manter-se à margem, confiando que os dois resolveriam as questões entre eles. Qualquer casal tinha direito a algumas discussões, mas se a amiga recusava-se sequer a encará-lo e andava a fugir da conversa, era um sinal de que possivelmente o assunto fosse mais sério e quem sabe, fosse altura de oferecer-se para ajudar. Não queria intrometer-se na vida do casal, mas algo lhe dizia que um deles precisava de desabafar sobre alguma coisa e tendo em conta que Farlan não fazia ideia acerca da razão pela qual estava a discutir com a noiva, a resposta tinha que estar com Isabel.

Assim que chegaram ao destino, Isabel parou a meio do terraço encarando o amigo com uma expressão pouco amigável e de braços cruzados.

– Nós não devíamos dar-nos a estes luxos de parar tudo o que estamos a fazer para conversas pessoais.

– Quando elas são necessárias, temos todo o direito. – Retrucou. – Queres contar-me acerca da razão pela qual estás a discutir com o Farlan outra vez?

– Ah, claro. Vocês, homens unem-se sempre quando é conveniente. – Ironizou a ruiva.

– Não estou do lado de ninguém até saber o que raio está a acontecer. – Respondeu Levi. – Aliás, nem o Farlan sabe por que razão estão a discutir. Isa, eu só quero ajudar.

– Não podes ajudar, Levi.

– E se não for eu? Se calhar, podes falar com a Nina.

– Não posso falar com ninguém! – Falou mais alto do que pretendia e Levi aproximou-se da amiga, colocando a mão no braço dela. – Para ele é tudo muito simples. Eu só tenho que deixar o meu trabalho e ser uma boa dona de casa com filhos. Eu não sou assim! Não sou igual à minha mãe!

Levi conhecia a história de família de Isabel. O pai era funcionário num banco e a mãe apenas terminou a escolaridade obrigatória para dedicar-se somente a uma vida doméstica. Viviam dos rendimentos do pai de Isabel e durante muito tempo, foram uma família ao estilo tradicional até que os cortes salariais começaram a criar as discussões. Quantas vezes a ruiva ouviu o próprio pai chamar a mãe de inútil que não sabia fazer nada? Que nunca fez nada da vida a não ser viver às custas do trabalho dele e tantas outras coisas para as quais a mãe só se desculpava e chorava baixinho e escondida da filha, que assistiu ao desenrolar dessa situação durante anos. E contra os desejos do pai de fazer um bom casamento e ficar em casa, Isabel lutou para se formar e nunca se conformar. Ela jurou a si mesma que jamais terminaria da mesma forma que a mãe. Que jamais desistiria dos seus sonhos, apenas porque o “homem da vida dela” afirmava poder sustentá-la e que por isso, ela não precisava de fazer nada.

– Eu sei que não, Isa e acima de tudo, o Farlan sabe disso. Ele melhor do que ninguém nunca te iria obrigar a viver uma vida dessas. Ele gosta tanto de ti, Isa. – Colocou uma mecha de cabelo ruivo atrás do cabelo da mulher que deixava cair outras lágrimas.

– Tu precisas de mim aqui, Levi…

– Ó Isa, mesmo que quisesses ter uma família agora, eu não colocaria qualquer entrave. Tens dito que a Petra está a aprender tudo com bastante facilidade e além disso, sabes que não és realmente substituível e terias sempre o teu posto assegurado. – Dizia num tom calmo. – Se é receio de ser mãe, isso é normal. Sei que o Farlan quase faz as coisas com naturalidade e instinto, mas não é algo que se ensine, é algo que sentes cá dentro. Sei também que uma criança muda toda a nossa vida, mas não há razão para ter medo disso. Sei que assim como aconteceu comigo, será mais uma fonte de amor e felicidade na vossa vida. – Veio um soluço da parte da ruiva que deixava lágrimas cada vez mais abundantes cair dos olhos verdes que naquele momento que o encararam, continham uma tristeza intensa. – Isabel, isto não é só sobre a ideia do casamento que ainda te assusta. Eu consigo ver que não é só isso. O que foi? Aconteceu alguma coisa?

– Eu…

– Isa, seja o que for. – Insistiu. – Eu nunca te iria julgar. Assim como estiveste comigo quando ainda estava a melhorar, eu quero que saibas que estou aqui. Confia em mim, Isa assim como eu confio em ti. Se calhar, eu posso ajudar. Deixa-me pelo menos tirar esse peso que tens aí. – Segurou o rosto dela para que se encarassem. – Não podes esconder isso de mim. Não podes esconder uma coisa que já senti e já tive nos meus olhos. Não quero ver esse reflexo.

– Eu… – Distanciou-se um pouco e colocou as duas mãos trémulas sobre a barriga. – Eu tive medo durante tanto tempo de ser aquela mulher que a minha mãe foi que… acabei por adiar tanto, adiei tanto o que podia ter sido uma alegria para mim e o Farlan que agora… agora pode ser tarde.

– Tarde, como assim?

– Eu já estive grávida, Levi. – Confessou e repentinamente, sentia como se parte do peso saísse juntamente com aquelas palavras que mais ninguém tinha ouvido.

– Estiveste? – Perguntou com cautela. – Quando? E se estás a dizer estiveste, isso quer dizer que já não…?

– Eu perdi um filho que nem sabia que tinha até ao momento em que… – Soluçou. – Em que aconteceu.

Levi voltou a quebrar a distância entre os dois, mas desta vez abraçou com força a amiga.

– Isa devias ter…

– O médico disse que deve ter acontecido por causa do stress, do choque emocional da altura…

– Choque emocional. – Repetiu, apercebendo-se que isso teria acontecido há algum tempo e só podia estar ligado a um acontecimento.

– O Erwin era como um pai para mim e… quando soube que tinha perdido… o meu bebé, a morte dele tinha poucos dias, tu estavas a tentar não parar, ser forte e manter a empresa e a tua vida para que a Bia não sofresse, para que tu não tivesses a oportunidade de ir abaixo e nós, nós todos estávamos em choque e a lutar ao teu lado para que as coisas seguissem em frente.

– Isabel, mas…

– Eu fui ao médico e até pedi dispensa nesse dia. O médico disse que queria fazer exames para confirmar que eu não tinha qualquer outro problema que me impossibilitasse de ter filhos no futuro, mas eu mal tinha digerido a ideia do… aborto espontâneo e a ideia de que eu nunca pudesse ser a mãe dos filhos do homem que eu amo, doeu mais do que eu poderia imaginar. Tenho medo de saber que sou oca por dentro e que não posso fazer o Farlan feliz… que nós não podemos ser felizes.

Levi distanciou-se um pouco para olhar para a amiga.

– Mas tu não tens essa resposta. Não sabes se é verdade e se calhar, podem tentar de novo, mas ele tem que saber, Isa. Devias ter contado. Não devias ter escondido nada disso. Puta que pariu, eu teria arranjado forma de dispensar-te na altura para poderes repousar e ter… trabalhaste sem parar ao meu lado naqueles dias e semanas que se seguiram.

– Não tive coragem de contar, não com tudo o que estava a acontecer e depois o tempo foi passando e eu sempre soube que isto voltaria de novo, mas…

– Ok, ok. – Disse, entendendo como estava a ser difícil para ela falar entre as lágrimas e os soluços, passando a mão no rosto dela. – Respira fundo, Isa. Vem, vamos sentar-nos ali um pouco. Precisas de te acalmar e não precisas explicar-me mais nada por agora.

Sentado ao lado da amiga, Levi sentia aquela vontade de culpar-se mas afastava isso, recordando que mesmo que quisesse, não podia ajudar ou evitar que os amigos passassem por algum sofrimento. Naquele caso em concreto, uma notícia como aquela logo após a morte de Erwin teria sem dúvida, um efeito ainda mais desolador. Porém, por mais doloroso que pudesse ser, gostava que a amiga tivesse partilhado isso aquando do acontecimento. Queria ter estado ao lado dela, mesmo que naquela época estivesse a debater-se com a dor que parecia esperar que ele cometesse o mínimo deslize para engoli-lo de novo. A muito custo, conseguiu manter-se funcional e à superfície só que preferia que Isabel tivesse contado a verdade e sabia que aquilo seria também um choque grande para Farlan.

Por um lado, compreendia o porquê das ações da ruiva que ao seu lado se ia acalmando enquanto seguravam na mão um do outro, mas por outro lado, receava os efeitos que isso pudesse ter na relação dela com Farlan. Não acreditava que o loiro quisesse colocar um ponto final, mas sabia que Isabel se culpava e achava que já não era a mulher certa para Farlan e por isso, teria que ser o Farlan, mesmo que magoado com toda a situação, a provar o contrário.

– Obrigado, Levi.

– Não tens que agradecer, Isa. – Murmurou, encostando a cabeça ao ombro dela. – Mas assim que estiveres mais calma, vou ligar ao Farlan para te vir buscar. Vocês precisam conversar.

– E se ele…?

– Ele vai sentir-se magoado, mas ele ama-te, Isa. Não tens que ter medo pelo vosso relacionamento, mas isso é uma coisa que não podes continuar a esconder e a sofrer sozinha.

Quando Isabel estava bem mais calma do que inicialmente, Levi cumpriu as suas palavras e chamou o noivo da ruiva para a vir buscar à empresa e ofereceu-lhe dispensa por alguns dias, caso necessitasse. Ela não quis aceitar, mas pelo menos prometeu pensar no assunto diante do olhar angustiado de Farlan que não entendia a razão por detrás dos olhos inchados e vermelhos de Isabel e nem compreendia a expressão de Levi que parecia dizer para ele preparar-se para o que iria ouvir depois.

Após despedir-se dos amigos, ele ainda ponderou em cancelar o encontro que tinha prometido a Tiago, mas recordando que já o tinha deixado sozinho na noite anterior, quando era óbvio que precisava de alguém, fez com que escolhesse não repetir a mesma coisa.

Na sequência dessa decisão, entrou em contacto com Eren para pedir-lhe se podia passar a noite com a Bianca e diante da resposta positiva, agradeceu e informou que podia usar o quarto de hóspedes, que provavelmente ainda teria roupas de Farlan. O loiro foi quase como mais um elemento da casa que muitas vezes passou a noite lá no passado e por isso, por sugestão de Erwin e também Levi deixava algumas roupas lá e que agora podiam ser úteis a Eren, caso precisasse de um pijama ou mudar de roupa por outra razão qualquer. Agradecendo mais uma vez ao moreno pela disponibilidade, Levi acrescentou apenas que chegaria na manhã seguinte pelo menos para ver a filha, tomar um duche rápido e sair de novo para o trabalho.

Levi pensou que apesar de tudo, passar a noite com Tiago seria um descanso para a sua cabeça e um momento de puro relaxamento e entregue somente aos desejos e conforto de ter alguém ao seu lado. Porém, desde da chegada à casa do jovem e durante vários momentos em que se envolveram, mais do que esquecer o mundo exterior, começava a aperceber-se de outra coisa.

– Já vais, Levi? – Perguntou Tiago ensonado e com o corpo coberto apenas com um lençol fino.

– Sim, ainda quero tomar um duche, mudar de roupa e ver a minha filha antes de sair. – Disse enquanto calçava os sapatos e sentia os movimentos na cama indicarem que o jovem se aproximava. Isso confirmou-se quando sentiu os braços do outro abraçarem-no.

– Pelo menos, desta vez não vais sair sem que eu te veja primeiro.

– Não o faço por mal. – Disse com uma certa tensão na voz. – Simplesmente, não te quero acordar.

– Sempre tão atencioso…

Afastou os braços de Tiago e ergueu-se da cama diante dos olhos cansados do jovem, mas antes de distanciar-se por completo, beijou a testa dele.

– Até logo.

– Até logo. – Ouviu como resposta.

Ao sair do prédio, olhou para o ecrã do telemóvel enquanto passava a mão nos cabelos desalinhados e mordia o próprio lábio. Podia ser só impressão dele, mas algo dentro dele dizia que não. E se fosse verdade, Levi não tinha a certeza do que fazer quanto a isso.

 

Oluo – Mensagem:

Já me encontro à sua espera no local combinado, Sr. Smith.

 

Levi – Mensagem:

Obrigado, Oluo. Chego dentro de pouco tempo.

 

Era a primeira vez que passava a noite no apartamento de Tiago e por estar a quebrar essa regra entre eles, não deixou que o motorista parasse mesmo no local correto, mas optou por outro ponto neutro e distante. Mesmo que estivesse de óculos escuros e com roupas mais descontraídas e diferentes do que a comunicação social estava habituada a ver, ele não queria arriscar. Não precisava de lidar com uma imprensa que muitas vezes se alimentava da privacidade dos outros.

Quando entrou no carro, Oluo começou uma série de conversas que possivelmente seriam para combater o silêncio incómodo e tensão evidente no chefe, mas Levi não estava relaxado e nem com vontade de falar. Portanto, mais do que conversas, diria que ouviu monólogos da parte de Oluo que ainda assim nunca desistiu de tentar tornar o caminho de regresso a casa o mais confortável possível. No fim, Levi até se desculpou pela falta de simpatia mas agradeceu o profissionalismo do outro, o que já deixou o segurança aliviado acerca do desempenho no seu trabalho.

Em seguida, o homem de cabelos negros entrou em casa, esperando somente o silêncio e não movimentos na cozinha, pois ainda era bastante cedo. Ele sabia que Bianca ainda estaria a dormir e tendo em conta, o pedido do dia anterior, só uma pessoa poderia estar na cozinha. Levando também em consideração, que estava mais agitado do que queria admitir, Levi devia ter seguido para o andar de cima para enfiar-se debaixo do chuveiro e quem sabe, clarear as ideias.

Contudo, as pernas dele pareciam ter tomado outra decisão e foi assim que se viu entrar na cozinha e encontrar Eren encostado ao fogão com uma chávena de café nas mãos e olhos que indicavam que não teria dormido bem durante a noite.

– Bom dia. – Disse o moreno.

– Bom dia. – Respondeu Levi, dirigindo-se também ao café recém-preparado para colocá-lo numa chávena. – Não dormiste bem? A Bianca fez com que ficasses acordado até tarde?

– Não, ela queria fazer uma festa pijama só comigo e com ela durante a noite toda, mas eu expliquei-lhe que não ias gostar da ideia.

– Ela está bem?

– Sim, dormiu na hora habitual que o Farlan me disse e está bem. Ela não tem nada a ver com a razão pela qual não dormi bem esta noite. – Explicou.

Levi acabava de colocar dois cubos de açúcar dentro do café e olhou de soslaio para o moreno com uma expressão menos amigável do que pretendia.

– Se era para ficares com essa cara de quem quer explicações acerca da minha vida privada, para a próxima não te peço que fiques com a minha filha.

– Eu não quero explicações de nada. – Disse com um sorriso desanimado. – Nem preciso. O teu funcionário. Tiago, não é? Já confirmou o que suspeitava quando entrei no teu gabinete ontem.

– Suspeitavas. – Repetiu com uma certa ironia, colocando a chávena sobre o balcão ao lado do fogão. – Nunca foste muito observador, Eren.

– Não, mas é um bocado difícil não reparar na forma como ele estava a olhar para ti. Afinal de contas, eu faço o mesmo.

Levi bateu sem querer na chávena que tinha perto da mão e praguejou. Viu o moreno pousar a própria chávena com cuidado e pegar num pano para limpar. O silêncio tornava-se cada vez mais tenso e o homem de olhos cinzentos, perguntou:

– Era assim tão óbvio?

O sorriso triste mantinha-se.

– Um bocado, sim. – Respondeu, olhando para Levi. – Só te apercebeste disso agora?

– Não tenho a certeza que…

– Pode ser pior se fingires que não existe nada. – Disse o moreno, passando o pano por água. – Nós já tivemos a nossa dose de ignorar o que existia e olha no que deu, não é?

– O que aconteceu entre nós não é igual. – Retrucou Levi.

– Não, o nosso era bem mais complicado e ele nesse aspeto tem sorte. Não tem que lidar com más lembranças de coisas que tenha feito e pelo menos, tem a tua atenção e carinho. – Falou. – Se bem que agora que estás com medo…

– Eu não estou com medo, Jaeger. – Saiu novamente um tom ríspido. – Mas lidar com os sentimentos dos outros não é tão fácil.

– Sobretudo quando não é correspondido, não é? – Perguntou.

– Isso não é da tua conta. – Respondeu, vendo os olhos verdes fixarem-se neles antes de falar novamente.

– De qualquer das formas, eu não tenho medo de admitir que não dormi bem esta noite porque me doía cá dentro, imaginar-te nos braços de outra pessoa. Imaginar o teu carinho dedicado a outra pessoa e eu saber que mesmo que não correspondas aos sentimentos dele, pelo menos acreditas neles ao ponto de ter medo e não saber o que fazer com isso. Já comigo, é diferente. Nem sequer acreditas quando digo que te amo. Não acreditas que tenho medo de te perder para ele porque ao contrário dele, eu já tive os teus sentimentos e fiz tudo errado.

Levi passou uma mão pelo rosto, tentando empurrar para o fundo aquele aperto no peito, aquele frio na barriga.

– Eren, por favor, quero que pares com isto, ok? Hoje é um péssimo dia para estas coisas…

– Estas coisas em que não acreditas. – Cortou o moreno. – Ou tens medo de acreditar, talvez um pouco das duas, mas… – Afastou a mão de Levi do rosto que ele tentava esconder para se olharem olhos nos olhos. – Não consigo evitar. Tenho que te dizer por todas as vezes em que o devia ter feito e não fiz. Preciso que saibas e um dia acredites que te amo, mesmo que nunca mais correspondas a isso.

– Não posso, Eren. Não posso mesmo lidar com isso agora. – Murmurou, baixando o rosto e num gesto impensado, encostou-se a Eren. – Mas quero fazer-te um pedido egoísta. Preciso de um abraço.

O pedido surpreendeu o moreno, mas este não hesitou em fazer exatamente isso.

– Levi?

– Depois do que ouvi da Isa ontem, de saber como o Farlan ia ficar, devia ter vindo para casa em vez de descobrir mais uma coisa que me vai fazer acordado de noite.

– O que aconteceu com a Isabel e o Farlan? Está tudo bem?

– Não sei. Saber que não posso fazer nada, faz-me sentir inútil. Saber que também posso magoar alguém sem querer, faz-me sentir um…

– Não termines essa frase. – Pediu o moreno, abraçando-o com mais força. – Seja o que for que há com a Isabel e o Farlan vai ficar tudo bem e quanto ao… quanto ao Tiago, mesmo que eu não queira, devias pensar bem no que vais fazer. Talvez, ele seja… ele seja uma melhor opção do que eu.

Levi distanciou-se para encarar o moreno.

– Estás a atirar-me para os braços de outra pessoa? – Questionou confuso. – Não perdes uma oportunidade para declarações que nem parecem uma coisa tua e agora…

– Eu disse que te amo, que gostava de ficar contigo mas nunca disse que era a melhor do que ele ou de que outra pessoa qualquer.

– Estarias disposto a ver-me feliz com outra pessoa? – Perguntou abalado com o que estava a ouvir e estendeu a mão até tocar no rosto do moreno.

– Sim… afinal de contas, tu foste feliz com outra pessoa quando eu não o pude fazer. – Murmurou e ao ver que estavam muito próximos, colocou a mão no ombro de Levi que se surpreendeu ao ver o outro distanciar-se. – Não agora. Não quando ainda tens dúvidas e não estás bem.

– Sr. Smith. – Chamou uma terceira voz que fez os dois distanciarem-se de vez.

– Sim, Bertholdt? – Perguntou, aclarando a voz e tentando aparentar mais calmo do que realmente estava.

– Não queria incomodar, mas queria falar consigo um momento. É uma mensagem que pediram que lhe transmitisse pessoalmente.

– Ah, claro. Vamos até ao meu escritório.

 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo *


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