Memories ~
Capítulo 2 - Café da Manhã
- Acorda, papa! Eu to com fome!
Kotaro sente empurrões em suas costas, fazendo com que ele lentamente role pela cama, ficando muito próximo da beirada. Um empurrão consideravelmente mais forte é dado pelas pernas da garota, que faz o pai ficar com mais da metade do corpo para fora da cama, resultando em uma queda nada silenciosa.
- Ai! - Kotaro diz se sentando no chão com uma das mãos acariciando a cabeça. - Por que você fez isso?
- Eu to com fome! E cadê o papai? - Ela diz indo até a beirada da cama e se jogando no colo do pai em um abraço apertado.
Ainda não acostumado com um corpo de menos de um metro e vinte sobre si, o grisalho mais velho acaricia as costas da garota levemente, enquanto está distribuía beijos pelo rosto do pai.
- Bom dia, papa. - Ela fala se afastando e se sentando sobre as pernas do mais velho.
- Bom dia, anjo. - Um sorriso involuntário escapa de Kotaro. - Vamos atrás do seu papai? - Ele diz animado, passando as mãos por debaixo dos braços da garota, pegando-a no colo.
O grisalho fica de pé indo até o banheiro, pegando a escova de dentes que o “marido” havia indicado ser a sua e a outra escova de dente cor de rosa que estava na pia. Rapidamente a dupla escova os dentes e lava o rosto.
Assim que estão “limpos”, ambos saem do quarto com uma garotinha animada andando na frente, abrindo o quarto de hóspedes silenciosamente. Kotaro vinha logo atrás da garota, fazendo tanto silêncio quanto possível. Ambos entram no quarto, encontrando Keiji encolhido com uma câmera ao lado. Várias fitas estavam sobre a cama, fazendo uma leve bagunça.
O moreno ressonava tranquilamente, abraçando fortemente uma coruja de pelúcia que Yuki imediatamente reconhece. Era a coruja que havia ganho de presente de seu pai no seu último aniversário.
- Papa, shh. – A garota faz, colocando o pequeno dedinho a frente da boca, pedindo silêncio.
Na ponta dos pés, a garota anda até a cama, subindo na mesma o mais gentilmente possível. Se arrastando até a frente do pai, a garota leva a mão gentilmente até a testa do mais velho, tirando o cabelo da frente do rosto do mesmo.
- Papai, acorda. Já está na hora de comer. - Ela diz em um quase sussurro, que é respondido com um suspiro pesado por parte do moreno. - Vamos papai, você sabe que o papa não sabe cozinhar igual você. - Ela fala fazendo um bico adorável e colocando ambas as mãos na cintura.
Kotaro, que observava a cena com carinho, solta uma leve risada silenciosa, concordando internamente com a garota. Em passos silenciosos, ele anda até o lado da cama, se sentando ao lado da garota.
- Papai, poxa. Você prometeu pra mim que quando o papa acordasse você ia fazer as suas panquecas especiais. Eu adoro as suas panquecas especiais. - Ela fala quase indignada.
Um suspiro ritmado sai do nariz do moreno, que havia acordado quando o marido se sentou ao seu lado, mas preferiu manter-se “dormindo” para ver a reação da filha. O que não passou despercebido pelo grisalho mais velho.
- Eu acho que ele só vai acordar se você der um beijo de bom dia nele. - O mais velho diz sorrindo.
- Mas você é o namorado do papai. Você dá beijo de bom dia. - Ela fala com certeza na voz.
Kotaro fica em silêncio, levemente em choque pela fala da filha. Ele olha para o moreno que ainda fingia dormir e um pensamento rápido passa pela sua cabeça. “por que não?”. Mas tão rápido quanto veio, ele se foi. Ele não conhecia o homem, e mesmo que fosse seu marido pela lei, ele não se recordava de ter qualquer sentimento pelo moreno. Se o beijasse, poderia dar falsas esperanças de que estava recuperando a memória, coisa que não estava.
- O que você acha de nós dois darmos um beijinho de bom dia, então? - Ele diz tentando encontrar uma saída da saia justa em que se colocou.
- Tá bem! - Ela diz animada, abaixando-se para dar um beijo na bochecha do pai.
Kotaro lentamente a acompanha, dando um beijo gentil sobre a testa do moreno que suspira ao sentir ambos os beijos em seu rosto. Quando ambos se afastam, um largo sorriso surge no rosto do moreno, que abre os olhos e puxa a garota para um abraço apertado.
- Bom dia, minha luzinha. - Ele fala distribuindo beijos pelo rosto da garota.
- Bom dia papai. Você vai fazer as panquecas especiais? - O moreno começa a rir alto, atraindo a atenção do grisalho para seu sorriso que, na opinião de Kotaro, poderia ser considerado o mais bonito que já viu.
- Claro meu amor, por você até o mundo. Só deixa o papai ir ao banheiro, sim? - Ele diz e se senta na cama, organizando as fitas dentro da caixinha e devolvendo a coruja para a filha. - Bom dia, Kotaro. Como se sente?
- Bom dia. Estou bem, obrigado. - Ele responde, recebendo um olhar quase que com expectativa. - Nada ainda. Desculpe.
- Tudo bem. Você não tem culpa. - Ele se levanta e coloca a caixa sobre o criado mudo.
Keiji faz um leve carinho nos cabelos embaraçados da filha e deixando um rápido beijo no topo da cabeça de Kotaro, indo para o banheiro da suíte em seguida.
- Mais calda, papai! - A garota pedia sentada na mesa da copa.
- Nada disso, já tem bastante. Você vai se sujar ainda mais.
- Não faz mal, ela ainda não tomou banho. - Kotaro diz concordando com a garota enquanto colocava mais e mais calda nas próprias panquecas.
- Deu de calda para o senhor também. - Ele pega o pote das mãos do mais velho. - Se o seu treinador te pega comendo isso tudo ele vai brigar comigo.
- Saco. - Ambos, pai e filha, voltam a comer as panquecas emburrados.
Keiji revira os olhos e se senta de frente para o marido na mesa redonda. O moreno pega uma maçã e começa a comê-la, vendo a filha se lambuzar cada vez mais.
- Papai, quando a gente vai comprar os presentes de Natal? - A garota pergunta animada, pulando na cadeira.
- Natal? Já? - O grisalho diz com a boca cheia.
- Não fale de boca cheia, querido. - Keiji diz olhando para o marido, logo desviando o olhar para a garota. - Não sei, meu bem. Você quer ir hoje?
- Quero! - Ela responde animada, voltando a comer.
- Que dia é hoje? - Kotaro diz após ter engolido a panqueca.
- 23. - O moreno olha para a tela do celular, vendo a data.
- Mas já? Amanhã já é véspera de Natal! - O mais velho diz quase apavorado.
- Eu sei, mas eu não tive muito tempo e cabeça para me preocupar com o Natal esses últimos dias. - Ele fala voltando a comer a maçã.
- Oh... - O grisalho fica em silêncio, voltando a comer.
- Papai, a gente vai na casa do padrinho amanhã?
- Vamos sim. Você vai poder brincar bastante com o tio Kenma. - Keiji diz fazendo carinho na cabeça da mais nova.
- Eba! - Ela diz animada. - Papai, eu terminei. Posso ir tomar banho?
- Claro, meu bem. Vai lá.
A garota sai correndo da mesa, voltando quando já estava no pé da escada para levar o prato na pia, logo em seguida subindo as escadas rapidamente. Apenas o som dos talheres de Kotaro eram ouvidos.
- Então... Natal? - O grisalho diz meio desconfortável com o silêncio.
- É. Eu esqueci de comprar as coisas com a Yuki. Minha cabeça tá tão cheia de coisa. - Keiji coloca as mãos no rosto e apoia os cotovelos na mesa.
- Ei. O que houve? - O mais velho abandona o prato pela metade, sentando-se na cadeira ao lado da do marido.
- Meu chefe está me cobrando pra voltar pro trabalho. Deixei atrasar uma meia dúzia de textos e atrasei todo o calendário da empresa. - Ele passa as mãos pelos cabelos, olhando para o teto, pensando internamente em como terminaria todo o serviço acumulado até janeiro. Kotaro, mesmo que levemente hesitante, leva uma das mãos ao ombro do marido.
O grisalho não sabia o porquê, mas sentia que deveria fazer o moreno se sentir melhor. Algo dentro de si revirava apenas por ver o olhar cansado e os ombros tensos do moreno. Keiji parecia ser o tipo de pessoa que exalava um brilho sério e amistoso, quase reconfortante, porém agora ele parecia embaçado, como se não tivesse forças para brilhar. Kotaro dá um leve aperto no moreno, atraindo a atenção do olhar cansado do mais novo.
- Olha... eu não sei por que, mas algo me diz que você é um homem incrível e um ótimo profissional. Eu sei que você sente falta do seu casamento, e que eu pareço um homem diferente do Kotaro que você se casou. Mas eu vou tentar o meu máximo para lembrar. - O brilho que Keiji tanto conhece volta para o olhar do mais velho. Não era seu Kotaro, mas ainda assim, tinha a mesma alma bondosa do seu marido. A mente de Kotaro parecia viajar. - Vou fazer de tudo pra fazer você feliz, igual o seu “eu” fazia. Vou te encorajar e vou fazer você sorrir, porque o seu sorriso é o mais bonito que eu já vi e eu acho que entendo por que o “eu” gostava de você.
O silêncio se instala na copa. Keiji sorri e coloca sua mão sobre a mão de Kotaro que estava em seu ombro, fazendo um leve carinho nas costas da mão dele.
- Eu falei demais? - Ele pergunta quase hesitante.
- Não... não, foi perfeito. - Uma lágrima solitária escorre pelo rosto do moreno que logo é seca pela mão livre de Kotaro.
- Então se anima e vamos comprar presentes! - O mais velho se levanta, dá um rápido beijo no topo da cabeça do moreno, assim como o outro fez mais cedo, e vai até a escada. - Vou arrumar a roupa da Yuki e tomar banho. Pode deixar que eu guardo a louça. - E sobe as escadas correndo.
Keiji é deixado sozinho na copa, apenas com seus pensamentos e sentimentos. Uma risada curta sai pelos lábios do moreno.
- Não acredito que ele vai fazer eu me apaixonar por ele de novo.
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