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História Menina Selvagem - Capítulo sete: A caída do herói


Escrita por: mili_cruzz

Capítulo 7 - Capítulo sete: A caída do herói


  O novo ano letivo tinha tudo para ser bom. Isso porque Daphne enfim iria Hogwarts. Astória estava alegre, mas não tanto quanto sua irmã. A caçula olhava para a janela frequentemente procurando pela coruja que trazia sua carta.

  Além disso, era ano de Copa Mundial. Astória nunca tinha visto sua irmã tão contente. A menina era profundamente fanática de Quadribol e colecionava cartas, camisetas e até posteres. Sra. Greengrass dizia que isto não era coisa para garotas. Contudo, seu marido a fez ficar quieta rapidinho.

  Assim como a mãe, Astória não tinha qualquer vontade em ir à Copa Mundial. Ela ainda ia aos jogos da Sonserina por amor da sua Casa, mas não via razão para ir á Copa Mundial. E o fato de Daphne falar sem parar só reprimia mais seu desejo.

- Como você não quer ir, Sabiá? – Indagou seu pai, na biblioteca de casa

- Não quero, papai! Não vejo graça alguma em ir! O que tem de mais em ver pessoas correndo atrás de goles e pomo de ouro e balaço? Isso não é para mim.

- É porque você não sente a vibração! – Daphne tentou justificar – Quadribol é muito mais do que voar atrás de goles! Tem a animação, a agitação, as pessoas torcendo! Não consegue sentir?

- Não. Será que não posso ficar em casa?

- De jeito algum! – Proibiu Sr. Greengrass – E se um safado descobre e vem fazer maldade com você? Isso não posso permitir!

- Sei me defender, papai. Além do mais, Pin estará comigo.

- Não, não. Você vai. Ou...

- Ou?

- Fica com seu avô?

- Com o vovô?

  Vovô Greg, pai do Sr. Greengrass, era o homem preconceituoso que poderia existir. Seu filho ainda conseguir ser melhor porque havia esperanças de evolução. Já seu pai era um velho rigoroso, chato e até assustador. Como morava na Alemanha, não era visitado muito frequentemente. Suas netas agradeciam, porque sempre que iam tinham que ouvi-lo reclamar sobre os novos tempos inconsequentes. Além do mais, foi um dos primeiros seguidores do Lorde das Trevas e contava suas histórias como se fosse um soldado de honra. Definitivamente, ficar com o vovô Greg não ia ser divertido.

  Daphne lançou um olhar à irmã, dizendo que era melhor ir com elas.

- Será que não tem outro jeito?

- Não. Todos de confiança vão à Copa Mundial. E eu não quero que pensem que minha filha é jogada no mundo!

- E se eu for e ficar na barraca?

- Não, Astória! Ou vai com a gente, ou fica com o seu avô! Decida-se! 

  Cruzou os braços e soltou um suspiro frustrado.

- Eu vou ficar com o vovô.

- Tem certeza?

- Sim. Só vai ser por um fim de semana, acho que posso aguentar.

- Pois está decidido! E depois não me mande cartas, implorando para ser buscada!

  Daphne achou a escolha da irmã terrível, mas não interferiu. Astória pegaria uma Chave de Portal pela manhã e sua família viajaria algumas horas mais tarde. Pin havia organizado sua mala. Tinha mais livros do que roupas. O gosto literário do avô era chatíssimo e não tinha nada além de obras preconceituosos ou documentos financeiros ou históricos. Enfim, coisa chata.

  Deu uma longa despedida amorosa no pai e na irmã. Ia se aproximar da mãe, mas Richard não permitiu. Tocou na colher e assim foi levada.

  A mansão de vovô Greg era tão chata como ele. Eram cores neutras e não tinha nada de interessante. Lembrava-se de quando, mais novas, ela e sua irmã exploravam a casa e não achavam nada de divertido. Mesmo assim, levavam uma bronca daquelas do morador.

  Foi recebida por uma elfa-doméstica. A viagem foi uma oportunidade perfeita para praticar seu alemão. A criada levou as coisas da visita para o quarto de hospedes. A menina aguardava seu avô, sentada no sofá, quando ele apareceu. Nossa, seu coração disparou ao ver o tal menino.

  Tinha o cabelo castanho. Pele pálida. Seus olhos verdes de peixe morto era o que mais destacava. Não era tão mais velho que a menina, tinha por volta de seus dezesseis, dezessete anos. Isto não impediu Astória de se apaixonar.

- Oi. – Disse ele, em alemão – Sou Patrick Rosier.

  O garoto estendeu a mão. A menina balançou sua cabeça rapidamente, voltando à tona. Se levantou para apertar a mão dele. Pelas barbas de Merlin! Como ele é bonito! Será que tem namorada?, pensou.

- Astória Greengrass.

- Eu sei.

- Como?

- Seu avô me contou.

  Em seguida, o vovô Greg entrou. Um senhorzinho de rosto quadrado, olhos azuis e pele escura. Usava um terno bem caro e mantinha uma expressão séria. Às vezes Astória se perguntava se não era Sra. Greengrass filha dele.

- Oi, vovô. Como vai?

- Mal! O dia está quente! A poluição sonora é alta! E os pássaros não param de cantar! Bichos miseráveis! Se me irritar, garota, eu bato em você!

  Ele nunca bateu e jamais bateria. Apenas ameaçava mesmo. Quando pequenas, suas netas tinham medo. Mas depois se acostumaram.

- Este é Patrick Rosier. Encha a paciência dele e não a minha!

  Vovô Greg se retirou, ainda reclamando de alguma coisa. A garota voltou a olhar ao seu primeiro amor. Ele era tão lindo. Nunca tinha sentido algo assim – só por personagens de livros.

- Deve estar ganhando muito bem para aguentá-lo. – Comentou ela

- Na verdade, ele está me ajudando. Quero ser um ótimo defensor e não há ninguém melhor do que ele.

  O avô de Astória era conhecido mundialmente por vencer cem casos seguidos. Isto aumentou a fama de sua família. Com certeza Rosier estava em boas mãos.

- Isso é verdade. Então, você vem muito aqui?

- Sim. Mas vai ser só até que eu volte à Durmtrang. Você é de Hogwarts, certo?

- S-Sou. Digo... Sou sim. E sou da Sonserina.

- Não sei bem o que é isso, mas deve ser bom.

  Astória estava totalmente, completamente, inteiramente apaixonada por Patrick Rosier. Não encontrava um defeito nele. Descobriu que era um grande fã de Quadribol, mas não pôde ir para não comprometer os estudos. Que apesar de desejar ser defensor, era muito bom em rap. Ele tinha quinze anos, estava para completar dezesseis logo. Greengrass podia conversar com ele durantehoras e ainda não se cansaria. Ele é um príncipe, pensou.

  Deitou-se à cama com o coração acelerado. As memórias que teve com Patrick não desgrudava de sua mente. Abria um sorriso só de pensar nele. Chegou a pensar na probabilidade se casar. Ele é um puro-sangue. Papai vai gostar dele e não vai proibir nosso amor. Vamos morar em uma linda casa e vamos ter gêmeos. Uma garota e um garoto. A garota vai se chamar Elisabeth e o menino será Charles. Eu vou ser a Sra. Rosier! Sra. Astória Rosier! Eu mal posso esperar para nosso casamento!, pensou.  

  Escreveu todos os acontecimentos detalhadamente à Gina e Daphne. Tinha plena certeza de que apoiaram seu amor A menina estava tão apaixonada que nem leu a notícia sobre o ataque à Copa Mundial e a Marca Negra no Céu.

  Para sua infelicidade, o fim de semana passou rápido demais. Na última tarde, os dois ficaram sentados no banco da parte exterior da mansão. Seu avô estava ocupado reclamando.

  A menina estava nos braços do menino. Seu estômago embrulhava e seus pelos estavam todos arrepiados. Queria beijá-lo, mas tinha medo de ser rejeitada. Ele era mais velho e, com certeza, mais experiente no quesito amor.

- Queria poder ficar mais. – Revelou

- Por que não fica?

- Tenho que voltar para casa. Prometi que iria comprar o material da minha irmã com ela. Não posso quebrar minha promessa! Pena que você não estude em Hogwarts. Poderíamos nos ver, lá, todos os dias.

- Pode me enviar cartas.

- Eu vou.

  De repente, o rosto da menina foi puxado e recebeu um selinho nos lábios. Seus narizes se chocaram, causando uma dor incômoda. Grengrass se afastou e mergulhou seu olhar naqueles lindos olhos verdes. Então lhe deu mais dois selinhos. Não passou disso. Foi assim que Astória deu seu primeiro beijo. Sentia uma enorme felicidade dentro de si.

  Algumas horas depois, Astória retornou para casa. Estava completamente apaixonada. Patrick tinha lhe enfeitiçado muito bem e nem havia tido dificuldades nisso. Daphne lhe recebeu com um abraço enorme.

- Estava com tantas saudades!

- Só fiquei fora por um fim de semana.

- O fim de semana pareceu um mês. Ah, Ast, foi tão horrível!

- Seu time perdeu tão feio assim?

- Você não soube?

- Soube de quê?

- O acampamento foi atacado.

- O quê?!

- Foi o que você ouviu. O acampamento foi atacado por comensais da morte. E aí alguém conjurou a marca negra no céu. Parece que foi uma elfa-doméstica de Bartô Crouch.

- Não acredito! Alguém morreu?

- Acho que não. Mas teve muitos feridos. – A menina olhou de um lado para o outro, certificando-se que não havia bisbilhoteiros – Eu acho que mamãe e papai já sabiam.

- Como assim?

- Meia hora antes do fuzuê, me acordaram às pressas e mandaram que eu seguisse Draco. Fomos para um lugar bem distante, bem longe mesmo. E então ouvimos gritos. Não dava para escutar direito, mas eram gritos de verdade, daqueles em peças de terror. Não fiquei por muito tempo porque peguei a Chave de Portal e parei na casa de Draco. De manhã, papai foi me buscar, muito assustado. Será que ele estava envolvido?

- Não, papai jamais participaria de uma atrocidade dessas! Ele até poderia guardar segredo, mas ele não é torturador, e muito menos, assassino!

- Fico feliz de saber que confiam em mim!

  Tomaram um susto ao encontrarem Sr. Greengrass na porta da sala de estar.

- Papai, o que aconteceu? – Interrogou a filha mais velha – Quem fez uma coisa dessas? E por que não contou ao Ministério?

- Tudo o que vocês precisam saber é que eu não tive qualquer envolvimento nisso! Soube naquele mesmo dia o que ocorreria e fiz o possível para salvar Daphne.

- E por que não contou às autoridades?

- Minha filha, quem ia acreditar em mim? E mesmo que acreditassem, não fariam nada para impedir. Fudge ganha muito dinheiro com as copas mundiais e não cancelaria por nada neste mundo!

  Embora Sr. Greengrass não tenha dado a razão honesta, não mentiu sobre os atos do Ministro da Magia.

- Aonde o senhor vai assim? – Interrogou a mais nova

- Vou ao trabalho.

- No domingo à noite?

- Não irei exatamente na Casa da Moeda. Com este ataque, todos enlouqueceram. Precisam da minha ajuda.

- Por quê?

- Porque sim! – Disse em um tom tão agressivo, que assustou as filhas – Porque sou um homem influente e posso ajudar de alguma forma. Não sei qual, mas Fudge me solicitou. E não vou virar às costas ao meu povo!

- Papai. – Chamou Astória – Não está mentindo, está?

- Não. Eu jamais enganaria minhas filhas. – Beijou a mais velha – Tchau, Sabiá. – Beijou à caçula – Tchau, Pardalzinho. Não durmam tardem, ouviram?

- Sim, papai. – Disseram em coro

  O homem saiu de casa e aparatou.

- Acha que papai está mentindo? – Perguntou Daphne

- Peço a Merlin que não.

- Então, sobre a Alemanha, como é que foi?

  A garota soltou um suspiro apaixonado e abriu um largo sorriso. Sentou na cadeira e contou novamente o que falara na carta. Só que com mais paixão e entusiasmo.

  Era uma tarde de domingo. Haviam comprado material escolar de Daphne no dia anterior. Os Malfoys tinham os visitado. Estavam ao ar livre. As irmãs jogavam um jogo cujo se assemelhava muito à peteca com raquetes. A diferença é que invés da peteca, era uma bolinha bem rápida e escorregadia.

  Embora Astória sempre estivesse disposta a ajudar Daphne, não conseguia se controlar em jogos. Era impossível controlar sua competitividade e sempre se gabava de suas vitórias. Até mesmo quando jogava com crianças. Daphne apenas a suportava porque tinha fé que um dia venceria. A boa e meiga Astória se tornava insuportável quando se tratava de competições. 

- Astória vence! Daphne perde!

- Ah, cala a boca! Cansei de jogar!

- Não quis dizer: cansei de perder?

  Foram à mesa, a qual as famílias estavam. Usavam vestes mais curtas e leves por conta do calor. Era possível ver a marca negra no Sr. Malfoy. Isso fazia as irmãs terem nojo.

- Matriculei Draco em um curso de administração. – Gabou-se Sr. Malfoy – Somente os meninos mais brilhantes são aceitos!

- É mesmo? – Indagou Sr. Greengrass – Quem sabe eu matricule Astória também. Ela é ótima com números e organização. Se daria muito bem lá!

- Acho que Ast prefere ser defensora. – Provocou Daphne, mexendo a limonada com o canudo – Ela tem andado bem interessada neles. – Astória pisou em seu pé – Ai!

- Que história é essa? – Interrogou sua mãe

- Nada de mais. Só conheci um garoto que está tendo aulas com vovô para ser defensor. Nos tornamos amigos, naquele fim de semana. Daphne que está falando besteira.

  Lançou um olhar feio à irmã. Daphne abriu um sorriso diabólico.

- É bom fazer amigos pelo exterior. – Informou Sr. Greengrass – Abre portas para grandes oportunidades!

- Isto se  as amizades forem qualificadas! – Ressaltou Sra. Malfoy – Draquinho, querido, conte sobre o que tem aprendido nas aulas.

- Estou estudando sobre Eliot Shaquif. – Contou Draco com orgulho – Foi um importante economista. Já fiz até uma análise da vida dele e seus feitos no nosso mundo. Foi um homem brilhante! Meu mentor disse que realizei um trabalho perfeito.

- Já li os livros de Shaquif aos nove anos. – Revelou Astória – Acho interessante a teoria dele sobre a sociedade francesa. Qual a sua parte do livro predileta, Draco?

  Era lógico que Draco não sabia absolutamente nada sobre este Eliot Shaquif. Preferia passar seu tempo jogando Quadribol paquerando garotas, falando mal de Harry Potter, gastando a fortuna da família, paquerar garotas. Greengrass sabia disto e tinha a intenção de envergonhá-lo.

- Não tenho parte predileta. Gosto de tudo.

- Mesmo? E o que você achou sobre ele ter falado que a fortuna dos ricos deveria ser repartida aos menos favorecidos?

- Uma péssima ideia! Não tive culpa dos pobres nasceram pobres. Eles que se virem!

- Quem falou da repartição não foi Willian Mckinnion? – Questionou Daphne

- Sim, Daph.

  Astória encarou o cunhado com deboche. Era divertido vê-lo mal. Logo a conversa obteve outro assunto. Ainda assim, Draco não esqueceria daquilo. Se tivesse as fotos em mãos, faria a garota sofrer sem dó ou piedade. Tudo nela o irritava. A voz, a aparência simples, as companhias, o ar de sábia. Tudo. Só não a odiava porque era uma puro-sangue. Era a única boa que via nela.

  As irmãs riam de Malfoy, no quarto de Daphne. Apesar da caçula ainda era amiga do noivo, não podia negar que tinha vezes que merecia passar por certos vexames.

- Viu a cara de idiota dele? – Zombou Astória

- Vi. – Respondeu, rindo – Os pais dele não gostaram nadinha.

- Pouco me importa! Não sou eu que vou casar com o filho deles!

- Ah, pega leve! Draco não é tão mal.

- Ele não é tão mal com você. Se visse como se comporta em Hogwarts, mudaria de opinião. Pena que você não pode mudar de noivo.

- Eu nem ligo mais para isso. Falando em noivo, já falou com papai?

- Sobre?

- Seu amor, é claro! Não quer casar com ele?

- Ah, não sei. Você sabe que não aprovo casamentos. Mamãe diz que sempre acaba em desgraça e não quero que aconteça comigo. Mas Patrick. – Liberou um suspiro apaixonado – É tão lindo, tão inteligente. Se visse uma fotografia dele, Daph!

- Não tem uma?

- Não. Não levei câmera e não saí da casa de vovô. Mas ele é um verdadeiro príncipe! Tem olhos verdes, cabelo castanho, alto.

- Quantos anos tem?

- Fará dezesseis em outubro.

- Até isso você sabe?

- Se pudesse, descobriria muito mais! Eu gosto tanto dele, Daph!

- Então conte a papai! Vai que ele te noiva com esse garoto!

- Enlouqueceu? Papai, do jeito que é ciumento, capaz de ir até Durmtrang e estrangulá-lo!

- Que nada! Papai anda tão feliz ultimamente, que aceitaria numa boa. Aposto que ficaria feliz se você noivasse.

- Você não acha estranho? Papai tão feliz? Está quase pulando de alegria.

- Ah, sei lá. Ele está feliz, isso que importa.

  A felicidade repentina do Sr. Greengrass não era a única coisa estranha que havia ocorrido. Ultimamente havia passado muito tempo no trabalho, seja na Casa da Moeda ou no Ministério. Estava tão ausente que as filhas só o viam à noite, para o beijo de boa noite e muito brevemente.

  Não lia mais, não as ouvia tocar e cantar. E quando aparecia, era cantarolando com um enorme sorriso. Nem as provocações da esposa o irritava mais. Sua ausência maior abalou muito as filhas. Astória compartilhou sua frustração com os amigos mais íntimos.

  As gêmeas disseram que era normal alguém de cargo importante trabalhar muito. Neville disse praticamente o mesmo. Luna supôs que o homem deveria ter sido possuído por uma criatura que produzia felicidade. Gina foi quem deu a melhor resposta. Falou que, como adorava o trabalho, estava muito infeliz. Era uma suposição eficaz, contudo deprimente. Ninguém gosta de que seu pai fique mais feliz distante de si.

  Em uma destas noites, as irmãs realizavam tarefas das aulas particulares. Deveria ser uma oito e meia da noite.

- O pai de vocês não veio jantar novamente. – Disse Sra. Greengrass, alisando Richard – Deve estar com muito trabalho.

- Quando será que papai volta? – Perguntou Daphne, sonolenta

- Eu não sei. Acho que ainda nem jantou.

- Pin poderia levar o restante do jantar. – Sugeriu Astória

- Por que você não leva? Seu pai vai adorar te ver. Pode entusiasma-lo.

- É uma ótima ideia, mamãe!

- Eu quero ir também! – Afirmou Daphne, e em seguida, soltou um bocejo

- Você está quase caindo de sono. Vá para cama. Astória pode ir sozinha.

- Mamãe está certa. Pode ir comigo, na próxima vez.

  Daphne acatou a ordem e subiu para seu quarto. Astória foi à cozinha, onde encontrou uma cesta bem bonitinha com a comida empacota por Pin. Pegou a cesta e foi através da Rede de Flu.

  A fábrica estava completamente vazia e escura. A menina usava a varinha para iluminar seu caminho. Os elfos-domésticos dormiam no chão frio. Preciso falar sobre isso com papai, pensou. Caminhou até o escritório do pai. Estranhou a bolsa da secretária continuar em sua mesa.

- Será que Rhonda esqueceu a bolsa?

  Ouviu uma risadinha vindo do escritório, o qual não pertencia a quem procurava. Havia uma pequena brecha na porta e a luz da vela acessa. Se aproximou cautelosamente e avistou a coisa mais nojenta do mundo. Sr. Greengrass, seu pai, seu amável e adorável pai, aos beijos quentes com Rhonda. Ela estava em cima da mesa e o amante se apressava para retirar o vestido.

  Nem notaram que haviam sido flagrados. O que chamou a atenção foi o som do prato se espatifando ao quebrar no chão. Se afastaram rapidamente e olharam a menina. Sr. Greengrass jamais ficou tão acanhado. Lágrimas saíam dos olhos da menina.

- Astória!

  Ela não disse mais nada. Saiu correndo aos prantos. Seu pai tentou alcança-la, mas não conseguiu. Havia chegado na chaminé primeiro. Assim que chegou em casa, correu para o seu quarto e se atirou na cama. Chorou tanto, tanto, como nunca havia chorado na vida. Já tinha se lamentado pelo rejeito da mãe, mas descobrir que seu herói, sua pessoa predileta, era um traidor com certeza foi bem pior. Não podia acreditar que enquanto ansiava por sua chegada, ele estava tendo um caso com ela.

  Sentia uma raiva, uma tristeza, uma confusão. Será mesmo que um par de pernas bonitas é melhor do que eu? Por quê? Por que ele fez isso comigo? Por que fez isso com a mamãe? Não é certo! Não é certo!, pensou. Nada conseguiria espantar aquela melancolia.

  Alguns minutos depois, sua mãe chegou ao seu quarto, desacompanhada. Sentou ao seu lado e perguntou com uma voz mansa.

- O que foi, querida? Por que está chorando?

- O papai... O papai estava... Com outra mulher...

  Desatou a chorar. Caiu nos braços da mãe e desta vez, não foi recusada. Sua mãe alisou seu cabelo.

- Foi horrível, mamãe! Horrível! E-Eu fui dar a comida e-e... Quando cheguei no escritório, ele estava com ela! Ele estava com outra mulher!

- Os homens são assim mesmo, Astória. Egoístas. Até mesmo quem mais nos ama, pode nos trair. É da natureza deles.

- Isso não está certo, mamãe! Papai devia ser correto!

- Não pode exigir que um limoeiro traga maçãs. Assim como não pode esperar que seu pai seja fiel a nós. Ele é e sempre será um traidor egoísta!

- Não! Não! E pensar que ele me beijou com a mesma boca beijou ela! Que ele deixou de ficar comigo para ficar com ela!

  Sra Greengrass abraçou a filha.

- Eu sei, eu sei. É terrível! Você tem que entender que os homens são assim! Não deve confiar neles! Se seu pai te trocou por uma secretária, qualquer um pode te enganar! Não deixe se iludir!

- Eu... Eu – olhou fixamente nos olhos da mãe – não contei que tinha sido com a Rhonda. A senhora sabia?

- É claro que sabia! Eu não sou tola para não desconfiar de um homem que chega tarde em casa!

- Você sabia! – Se distanciou da madame – Sabia que ele estava te traindo e me fez ir mesmo assim! Por quê?  

- Queria te mostrar quem seu pai realmente é! Um traidor!

- E não poia ter me contado? Tinha que me fazer ver? Isso é uma coisa que eu nunca vou esquecer! Vai me assombrar para o resto da vida! Que tipo de mãe faz isso?

- Serve como lembrete de que nunca deve confiar em ninguém além de si mesmo!

- Acha mesmo que é melhor que ele? Porque, se acha, está muito enganada! Você não presta, igual a ele! É uma mulher terrível!

- Você não sabe do que está falando! Está muito confusa com o que viu!

- Pelo contrário! Jamais estive tão lúcida! Admita! Admita que nunca me amou! Só me usa para provocar o papai! Eu nunca vali nada para você!

- E como poderia? Nunca faz nada direito! Sempre arranja um jeito de me envergonhar! Eu sei que te chamam de Menina Selvagem e não teria um apelido melhor do que esse! Não importa o quanto me dedique, sempre será uma grande decepção!

- VOCÊ É UM MONSTRO! NUNCA SERÁ AMADA DE VERDADE! EU TE ODEIO!

  A garota levou um tapa tão forte que caiu no chão e saiu um pouco de sangue.

- Você não passa de uma nojentinha mimada e ingrata! Nunca valorizou todo o meu esforço! Vai acabar sozinha porque ninguém quer ficar perto de uma Menina Selvagem! Merece o pai que tem! E um dia vai se arrepender do que fez!

  Sra. Greengrass saiu do quarto. A menina atirou um vaso contra a porta, imaginando ser sua mãe, e deu um grito de raiva. Desatou a chorar sem parar. Aquele, sem dúvida, tinha sido o pior dia de sua vida – até aquele ano. Daphne despertou com os gritos e correu para o quarto da irmã só quando a mãe saiu.

  Abraçou a irmã e passou a noite a consolando. Uma triste piada do destino. Porque, há alguns anos, era a mais velha que consolava Daphe por conta dos pais. Daphne não perguntou a razão do choro, apenas ficou ao seu lado a noite inteira até dormirem.

  Se vergonha matasse, Sr. Greengrass estaria num caixão há muito tempo. Não teve a coragem de voltar para casa e encarar a decepção estampada em suas filhas. Só retornou pela manhã. Possuía olheiras por não ter consigo dormir de tanto remorso.

- Já voltou, Albert? – Irritou sua esposa – Pensei que sua amante fosse melhor. Se bem que vindo de uma secretária, não se pode esperar grande coisa.

- Você sabia! Você sabia de tudo!

- É claro que eu sabia, não sou idiota! Uma secretária, sério? Não podia ter sido menos piegas?

- Por que fez isso, Constance? Eu sei que errei, mas tinha que envolver minha filha nisso? Nossa filha?

- Se não quisesse ser descoberto, não devia ter feito isso!

- Você é muito baixa!

- Eu sou baixa? Você me trai e eu sou a culpada? Não estamos mais no séc. XIX, em que tudo é a culpa da mulher, Albert. Pensei que um homem tão sábio já teria descoberto.

- Eu te traí poucas vezes! Você vem me traindo todos esses anos! É tão atirada, que te chamam de Cisca-Cisca! Eu deveria ir até as meninas e contar a espécie de mãe que elas têm!

- Faça isso e despedace os corações delas de uma vez! Já não bata a tristeza de descobrir que o pai é um traidor, saber dos casos da mãe com certeza vai ajudar muito!

- Por que fez isso? Por que fez as meninas descobrirem? Você pouco se importa com elas e muito menos comigo!

- Liberdade, Albert. Eu quero minha liberdade. Quero sair desta casa e jamais retornar!

- Pois então vá! A porta está aberta! Eu nunca te proibi de ir embora e não é agora que vou! Se quiser, até faço suas malas e abro a porta você!

- Para que as pessoas falarem que abandonei minha família? Não! Isso não posso permitir! Não posso desmoronar toda minha imagem depois de todo meu esforço! Agora, quando souberem da sua traição, poderei ir embora como uma coitadinha. E não levarei minhas amadas filhas porque você não vai deixar. Irei embora e minha imagem continuará intacta.

- Prefere a fama de corna do que a de abandonadora de família? 

- Tudo tem o seu preço. Podem esquecer que fui traída, mas jamais esqueceram que larguei vocês. Vai ser melhor assim: eu irei embora e você ficará com seu Sábia e Pardalzinho.

- Você é um diabo, Constance! Uma desgraça! É tão tola que prefere ser a infeliz do que mal falada!

- E você não é igual? Prefere bancar o pai perfeito para suas filhas e continuar infeliz.

- A felicidade delas é mais importante do que qualquer coisa!

- Você não pensou nisso quando estava comendo aquela mestiça! Como é que as meninas diziam? Quando o papai vai chegar? Eu estou com tanta saudade. Será que ele vai me ouvir tocar hoje? Até partiria meu coração se eu tivesse um. Você pode até amar suas filhas, mas prefere seu trabalho. Sempre preferiu.

- Eu posso mudar!

- Já é tarde, Albert. O que fez não há reparos. Astória mesmo me disse: isso é uma coisa que nunca vai esquecer. E Daphne já deve saber, a esta altura.

- Eu te odeio, Constance! Merlin sabe como eu te odeio!

- Isso é por ter arruinado a minha vida! Agora eu arruinei a sua!

  Sra. Greengrass saiu. O homem, com muito medo, subiu às escadas e foi ao corredor do quarto das filhas. Encontrou Daphne saindo do quarto da irmã. Ela lhe lançou um olhar decepcionado que dizia: nunca esperei isso de você. Não falou nada e entrou em seu quarto. Inalou profundamente antes de bater na porta da primogênita.

- Astória. – Chamou

- Me deixe em paz!

- Por favor, minha filha, me deixe explicar!

- Não tem o que explicar! O senhor tem uma amante! Agora vá embora!

- Se pudesse entender-

- Eu entendo que o meu pai é um traidor! Vai embora! Eu não quero mais te ver! Volte para o seu trabalho! É o que mais ama!

- Isso não é verdade! Você e sua irmã são tudo de mais importante para mim! Me deixe entrar! Eu te conto tudo direito!

- SAI DAQUI!

  Ouvi-la chorar sempre partia coração. Ouvi-la chorar por sua causa o partia por completo. Seus braços, pernas, cabeça, todos cantos doíam. Não teve outra alternativa se não ir para o seu quarto. Sabia que se invadisse o quarto dela só pioraria as coisas.

  As irmãs estavam inflexíveis sobre não perdoá-lo. Principalmente a mais velha. Embora fosse bondosa e gentil, era muito rancorosa. E duvidava de que perdoaria o pai algum dia. Sr. Greengrass estavam completamente desorientado sem o carinho das meninas. Não trabalhava direito, comia pouco e raramente dormia. Ainda ouvia choro de alguma delas de vez em quando. Tudo lembrava sua traição. Estava tão desesperado, que se contentaria com migalhas de amor.

    Conversava sobre isso com Sr. Malfoy, em um restaurante. Era o único com quem compartilhava seus segredos e vice-versa.

- Eu não sei mais o que fazer, Lúcio! As meninas não querem saber de mim. Nem aguentam ficar perto de mim por muito tempo! Evitam me olhar e quando me olham, é com desprezo ou decepção.

- Tão rancorosas quanto o pai.

- Lúcio, por favor!

- Não se desespere, Albert! O que você fez foi grave, não pode esperar que te perdoem assim! Precisam de tempo!

- Mas já passou tempo de mais! Daqui há pouco já irão à Hogwarts. Não quero que vão com raiva de mim!

- O seu querer não altera nada. Precisa ser paciente!

- E você? Nunca foi pego?

- Nunca fui porque nunca traí.

- Mesmo? Nem uma vez sequer?

- Não. Narcisa é o bastante para mim! Por que iria querer outra qualquer?

- Acontece que Constance não é o bastante para mim! Acredita que ela fez Astória me flagrar só para poder ir embora?

- Como assim?

  Sr. Greengrass explicou toda história.

- Por Merlin! Que mulher perversa!

- Perversa é apelido! E aquilo não é mulher, é um diabo! Só não a odeio porque trouxe ao mundo aquilo que é mais importante para mim! Foi a única coisa que aquela desgraça fez direito! O que eu faço?

- Já disse: espere! É a melhor coisa que pode fazer! Não pode exigir que te perdoem!

- Infelizmente está certo. Só espero que este dia chegue logo.

  As garotas foram totalmente intransigentes em relação ao pai. Nem no embarque ao Expresso de Hogwarts, cederam. Daphne ainda se limitou a um aperto de mão. Astória nem isso quis fazer. Evitava olhar o pai, como se não estivesse presente.

- Astória, se despeça de seu pai! – Ordenou Sra. Greengrass

  A menina o olhou com frieza.

- Tchau, pai.

  E então entrou no Expresso de Hogwarts. A irmã correu para acompanha-la. Sra. Greengrass estava muitíssimo feliz pelo descontentamento do marido e nem fez esforços para esconder sua alegria.

- Gina deve estar nos esperando. – Falou Astória para a irmã – Ela chegou antes de nós.

- Eu queria ficar com Susan.

- Ah. Então tudo bem. Nos encontramos no Salão Principal, quando for para Sonserina.

- Como tem tanta certeza que eu vá? Posso cair em outra Casa.

- Eu pensava igual a você, Daph. Mas não se preocupe. Se quiser mesmo ir à Sonserina, pense nisso, quando for sua vez. O Chapéu Seletor leva nossa opinião em consideração.

- Demais! Te vejo mais tarde, então.

  As irmãs se separaram. Astória encontrou Gina no corredor. Se olharam por alguns segundos. Gina logo lhe deu um abraço, o qual Greengrass retribuiu. Estava mesmo precisando daquilo.

- Vem, está todo mundo te esperando.

  Gina a encaminhou à cabine em que tinha Luna, Neville e Colin. Todos estavam muito preocupados com Greengrass. A garota não tinha contado tudo em detalhes sobre seus problemas, apenas o ponto principal.

- Como você está? – Preocupou-se Neville

  Olharam o garoto perguntado que tipo de pergunta era aquela. Longbotton percebeu sua estupidez e corou.

- D-Digo...

- Está tudo bem. Meu pai traiu minha mãe e eu peguei ele no flagra. Não é como se isso fosse incomum.

- Seus pais vão se separar? – Indagou colin, sendo, desta vez, o que recebeu olhares incrédulos

- Acho improvável. Na nossa classe, o desquite ainda é uma coisa terrível. Por isso muitos se submetem a um casamento falho.

- Depois eu que sou a louca. – Comentou Luna

- Concordo com você, Lu. Foi uma burrice meus pais casarem sem amor e foi uma burrice maior ainda não terem se separado. Eu nunca irei me casar assim. Mas isso já passou. Como foi o verão de vocês? Soube que foram à Copa Mundial.

  Greengrass tinha aprendido com sua família a arte da falsa felicidade. Embora sentisse uma enorme vontade de chorar, conseguia interpretar facilmente uma alegria mentirosa. Gina contou que havia ido à Copa Mundial e que teria se divertido muito, caso não tivesse o fim que levou. Neville falou que seu verão, assim como sempre, se baseou em visitar os primos e ler alguns livros. Colin disse coisas trouxas ainda incompreensíveis para seus amigos. E Luna falara das viagens que teve com o pai.

- Meus irmãos estavam muito estranhos quando estávamos para partir. – Contou Gina – Estavam com um papo de quererem estarem em Hogwarts novamente, sabe?

- E quem não quer? – Argumentou Colin – Tem lugar melhor do que aqui?

- Congo. – Respondeu Luna – Eles têm uma cultura muito bonita.

- Acho que eles sabem de algo grande que vai rolar em Hogwarts. – Supôs Weasley

- Tipo o quê? – Indagou Neville

- Eu não sei. Mas acho que vai ser algo marcante.

- Tomara que seja uma competição de perguntas. – Desejou Astória

- Hermione Granger nos faria vencer fácil, fácil. – Disse Colin

  Greengrass sentiu uma ponta de irritação pelo elogio à Granger. Sim, ela tinha plena noção que ela era muito intelectual. Só que seu lado competitivo tinha um profundo desejo em ultrapassá-la. Astória sabia que seria uma péssima ideia embarcar neste jogo e tentava ficar de fora. Não era inveja, apenas uma forte vontade em vencê-la. 

- Há outras pessoas tão inteligentes quanto Hermione Granger. – Disse Astória, como quem não quisesse nada

- Duvido muito! – Exclamou Neville – Hermione como um livro em pessoa.

  A rica cruzou os braços e ficou um pouco emburrada.

- Não fique assim! – Falou Gina para ela – Você sabe que é inteligente! Tem as maiores notas do nosso ano desde que chegamos em Hogwarts!

- Eu sou, não é?

  Isto aumentou o ego de Astória um pouquinho. Continuaram conversando até chegarem em Hogwarts. Greengrass mal via a hora de sua irmã ser selecionada. Claro que não ficaria irritada caso Daphne fosse em outra Casa, mas gostava de pensar que pararia na Sonserina.

  Encontrou seus amigos sonserinos na ida ao Salão Principal. Sentou ao lado de Francis.

- Oi. – Cumprimentou Bulstrode – Eu não te vi no Expresso de Hogwarts.

- Estava com meus outros amigos.

- Sei. Seus pais deixaram você ir à Hogsmeade?

- Sim. – (Pelo menos isso, eles fizeram por mim, pensou) – E os seus?

- Também. Olha nossas irmãs!

  Os novatos entraram, seguindo Profa. McGonagall. Daphne acenou para a irmã. Astória acenou de volta. A seleção foi iniciada. Daphne estava tremendo quando seu nome fora chamado. Sentou no banquinho e colocaram o objeto. Não foi tão difícil de escolher, caíra na Sonserina.

  Retiraram o Chapéu Seletor de sua cabeça. A menina foi praticamente correndo para os braços da irmã. Astória a abraçou com orgulho, deu um beijo em sua testa e se deslocou para que a mais nova pudesse sentar.

- Eu estava com tanto medo, Ast! Nem acredito que vim para cá!

- Eu sempre soube que esse é seu lugar!

- Mas será que é mesmo verdade? – Indagou Francis

- O quê? – Quis saber Astória

- Veja! É Olho-Tonto Moody!

- Não pode ser! É ele mesmo?

- Mas é claro! É o melhor e maior auror que este mundo já viu! Prendeu mais comensais da morte do que qualquer outro bruxo! Nem mesmo Michael Winchester chegou a ter esta proeza! Um dia, serei um auror como ele!

- Você? Auror? – Debochou Parkinson – Está mais para palhaço da corte!

- E você está para meretriz! – Revidou Astória

  Greengrass não fazia ideia do que porque ter escolhido aquela ofensa, já que ela era chifrada por Malfoy. Mesmo assim, os ouvintes ficaram chocados e intrigados na discussão. E claro que Parkinson não ficaria calada.

- O único traidor é seu pai! – Acusou – Aposto que ele deve estar transando com a namorada novamente! É bem melhor do que ficar com você!

  Aquela tinha sido a gota d’água. Greengrass se pôs de pé, já sacando a varinha. Daphne tomou sua varinha e Francis a agarrou para que não tomasse um ato de loucura. A menina tentava se soltar, mas o amigo – felizmente – era mais forte.

- Me solte! Me solte! Eu vou mostrar a essa vadia o que acontece com quem mexe com Astória Greengrass!

- Astória, pare! – Ordenou Hestia – Só está chamando mais atenção!  

  Verdade. Algumas pessoas assistiam a cena. O fato de Parkinson rir só aumentava mais a raiva.

- Ok! Ok! Não vou fazer nada! – Cedeu – Daphne, me dá varinha!

- Só depois do jantar! – Alertou – Sou sua irmã e sei muito bem o que quer fazer!

  Apoiou o queixo na mão e soltou um suspiro, que fez uma mecha levitar. Parkinson e seus amigos continuaram rindo. Como prometido, Daphne devolveu a varinha à irmã após a refeição. Astória estava irritada demais com seu amigo e decidiu ignorá-lo à noite inteira.

  Pela manhã, Bulstrode a perseguia, chamando por seu nome. A menina o ignorava completamente, enquanto rumava para o Salão Principal.

- Astória! Astória! Astória!

- O que é?

- Pode parar de me ignorar?

- Não!

- Por quê?

- Você sabe porquê! Deixou aquela imbecil sair impune!

- E o que você ia fazer? Azará-la na frente de todo mundo? Receberia uma tonelada de detenções!

- Eu poderia ter feito outra coisa!

- E ainda receberia detenções!

- Não ouviu o que aquela idiota disse? Chamou meu pai de traidor! Só eu posso chamar ele assim! Que direito ela acha que tem para falar do pai dos outros?

- Ela só é uma ridícula que quer chamar atenção. Nunca perdeu a cabeça com ela e não deveria perder agora!

- Eu sei! Mas... Quero descontar minha raiva em alguém. E Parkinson seria a pessoa ideal.

- Eu sei que você está triste, magoada e irritada com o que está acontecendo, mas fazer bullyng com certeza não é a solução! Ou vai acabar como aqueles imbecis. É o que quer? Se tornar uma valentona?

- Você sabe que não.

- Tem outros jeitos de expressar sua raiva. Por que não tenta expressar pelo seu canto no coral? Ou tocando piano, que você tanto gosta.

- Hogwarts não tem pianos.

  Francis deu um passo na direção dela e falou em um tom baixo.

- Quer ver uma coisa legal?

- Claro.

- Mas tem que prometer segredo.

- Eu nunca descumpro minhas promessas!

  Francis encaminhou à amiga ao terceiro andar, na ala leste.

- Eu estava procurando pela minha vassoura, quando apareceu. Aqueles idiotas do Crebbbe e Goyle tinham roubado e escondido em algum lugar. – Contou o menino

- O que apareceu?

- Você vai ver. Pense com muita força, muita força mesmo em uma sala com piano. – A garota o olhou descrente – Só confie em mim, está bem?

- E eu tenho outra opção?

  Caminharam pelo corredor pensando em uma sala com piano. De repente, uma porta surgiu. E adivinhe, ela tinha um piano.

 - Como? – Interrogou ela

- Hogwarts nunca deixa de nos surpreender, não é? Aqui que eu encontrei minha vassoura. No início, achei que tinham escondido aqui. Depois quando voltei, não tinha nada. E na terceira vez, eu estava pensando em livros.

- E apareceu. Como uma Sala Desejo.

- Mais ou menos isso. Contei a Snape e ele me disse que é a Sala Precisa. E que não deveria contar para ninguém.

- E por quê?

- Acho que ele não quer que abusem. Não venho tanto aqui, mas acho legal. Você não?

- Claro! É um ótimo lugar para se refugiar.

  Sentou no banquinho. Seus dedos deslizaram suavemente sobre as teclas. Francis sentou ao seu lado.

- Por que não toca?

- Tocar o quê?

- Não sei. O que vier do seu coração.

  Greengrass começou a tocar uma canção. Desta vez, sua voz não acompanhou a música. Francis a observava carinhosamente. Tocava com muita intensidade, expressando tudo o que sentia.

- Obrigada, Francis. – Disse, após terminar de tocar

- Eu que agradeço por me deixar ouvir você tocar.

  A garota checou o horário no relógio de pulso de ouro.

- Pelas barbas de Merlin! Tenho que correr logo ou vou me atrasar para minha primeira aula de Runas Antigas!

- Mas você é praticamente fluente.

- Praticamente não é totalmente! Você não vem?

- Vou depois.

- Você é louco! E eu estou perdendo meu tempo! Tchau!

  Saiu correndo desesperada para a aula. Pouco importava se não tinha conseguido comer. Para sua sorte, tinha chegado entre os últimos e não teve problemas. Muito bem, Astória! Seu histórico acadêmico ainda continua impecável!, pensou.

  Durante a aula, uma coruja voou até si. Era do Sr. Greengrass.

- Srta. Greengrass, estou atrapalhando sua conversinha seja com quem for? – Interrogou a professora

- De modo algum, senhora. Foi apenas um inconveniente.

  Rasgou a carta ao meio e continuou a prestar atenção na aula. Aquela não havia sido a última carta jogada fora. Algumas ela queimava, outras atirava pela janela e até rasgava, quando estava frustrada.

  Em um dia de outono, fazia lição de casa com Gina, na biblioteca. Uma coruja lhe trouxe uma carta. A garota soltou um bufo.

- Não vai nem mesmo ler?

- Para quê? É sempre a mesma coisa. Estou arrependido, lamento muito, por favor, me perdoe. Se brincar, escreveu a mesma coisa em todas as cartas.

- Sabe que não pode ignorar ele para sempre, não é? Ele é seu pai.

- Traidor. Esqueceu dessa parte.

- Por quanto tempo vai ficar com raiva?

- Não estou com raiva. Estou decepcionada. Imagine descobrir que seu herói não passa de traidor. Ele não traiu só minha mãe, traiu a família inteira. Não sabe como fico com vergonha disso.

- Será que não pode dar uma chance?

- Mais do que já dei? Sabe quantas vezes eu esperei meu pai aparecer para jantar? Ou para sair comigo? Como ele pode dizer que me ama e nunca está por perto? Eu até entenderia se dependêssemos do salário dele, mas temos muito dinheiro acumulado. E mesmo assim ele se recusa a ficar comigo. Mas ele tem tempo para trepar com a amante.

- Ele pode estar arrependido.

- Grindewarld também e nem por isso as pessoas perdoam ele.

- Está mesmo comparando seu pai a um dos maiores assassinos?

- Ok, falei besteira. Podemos falar de outra coisa, por favor?

- Claro. Tipo, o seu namorado.

- Patrick não é meu namorado! Ainda.

  Riram.

- Ele vai poder vir à Hogwarts?

- Acho bem difícil. Ele só faz dezessete outubro que vem.

- Já pode tirar o hipogrifo da chuva então.

– Queria que ele visse. Mal nos falamos. Ele anda meio ocupado com os estudos, então não me escreve tanto.

- Pelo menos ele te vê como uma garota. Harry só me ver como a irmã mais nova de Rony.

- Você ainda está com esse mané na cabeça?

- Não fala assim dele, Ast!

- E não é? Só um louco mesmo para não querer ficar com você. Esquece esse garoto, que tem muita gente melhor te dando bola.

- Ah, claro.

- É sério!

- Me diz alguém, então!

- Michael Connor.

- O da Corvinal?

- Ele mesmo. Está de olho em você já faz um tempinho. Só não percebeu ainda porque não tira uma certa cicatriz daqui.

  Tocou na testa da amiga.

- Fala como se fosse fácil. O meu sentimento por Harry é puro e verdadeiro. E ele é meu primeiro amor! Não posso simplesmente esquecer!

- Faz como eu, quando quero evitar de pensar em alguma coisa: estuda. Sempre dá certo e você ainda sai inteligente.

- Prefiro jogar Quadribol, mas vou tentar depois.

  Greengrass usava este método para evitar de pensar que seu pai era adúltero e sua mãe não a amava. Os colégios estrangeiros chegaram e foi anunciado os participantes do Torneio Tribruxo. Claro que ninguém esperava que Harry fosse escolhido. Mas seria mais estranho ainda se não fosse Harry Potter, já que sempre estava envolvido em alguma coisa.

  Os alunos de Durmstrang se instalaram na área da Sonserina. Era um pouco estranho tê-los por lá. Greengrass fez algumas amizades através de seu primo. Os búlgaros eram bem interessantes.

  Astória lia um livro no Salão Comunal quando avistou Daphne e Susan Bulstrode usando bottons anti-Harry Potter.

- Ei, Daphne! – Chamou, se aproximando – Quem te deu essa porcaria?

- Crebbe e Goyle saíram por aí distribuindo.

- Gostou, cunhadinha? – Interrogou Malfoy – Eu mesmo que fiz!

- Porque não usa mais do seu tempo para fazer algo que preste, invés de incomodar os outros!

- Porque não teria graça!

  A garota arrancou o botton da irmã e atirou no rapaz. Puxou Daphne pela mão para um lugar distante dali.

- Eu não quero você usando essas coisas, entendeu? Isso é coisa de valentão! Você quer se tornar uma?

- Não.

- Então pare com essas coisas! Draco é uma péssima influência para você!

- E o que quer que eu faça? Evite ele? É o meu noivo, esqueceu?

- Infelizmente não. Não vá na onda dele! Só vai te levar para um mau caminho! Fique perto das pessoas boas!

- Ok. Já acabou de me dar bronca?

- Já.

  Daphne se afastou e se juntou às amigas. Astória lançou um olhar feio ao cunhado, que correspondeu com deboche. Aquele dia era ida à Hogsmeade. A garota saía do colégio quando fora abordada por Simas Finningan.

- Oi. – Cumprimentou ele – Sou Simam Finningan.

- Eu sei.

- Sabe?

- É colega de quarto de Neville.

- Oh! Claro. Onde vai passar as férias de natal?

  Qualquer lugar que não seja minha casa, pensou.

- Por quê? Quer me chamar para o baile?

- Nossa! Você fala na lata.

- Gosto de praticidade. Se está me convidando, eu aceito.

- Mesmo? Assim? Fácil?

- Claro. Eu adoro um bom baile. Mas fique sabendo que se tentar qualquer gracinha, vai passar o resto da noite em St. Mungus. Fiz aulas particulares de duelo e não pensaria duas vezes em atacar um assediador!

- Não se preocupe com isso! Eu não tenho qualquer intenção em tocar em você! A não ser que você queira! Aí eu toco em você!

- Tchau, Simas.

- Tchau, Astória.

  A garota viu o convite como uma ótima escapatória de sua triste família. Sem contar que queria mesmo se divertir no baile. Encontrou Francis no Três Vassouras.

- Pedi cerveja amanteigada para você.

- Obrigada. – Tomou um gole – Está muito bom! Flora e Hestia vêm a que horas?

- Eu não sei. Uma pena que não vamos poder ir ao baile, não é? Poderíamos ir juntos.

- Você não vai poder ir ao baile. Eu vou. Simas Finningan me convidou.

- O quê?! Quando? Onde?

- Ainda há pouco, no caminho para cá.

- E você aceitou assim? Sem mais, sem menos?

- Francis ele me convidou para um baile. Não para casar com ele.

  As gêmeas sentaram a mesa.

- E aí? O que perdemos? – Perguntou Flora

- Astória foi convidada para ir ao baile e aceitou.

- Mesmo? Quem te convidou? – Quis saber Hestia

- Simas Finningan. – Informou

  As gêmeas caíram na gargalhada. Achavam a ideia de ridícula. A morena continuou séria.

- Você e Simas Finningan?

- Faça-me o favor, Astória!   

- Desculpe-me, mas qual de vocês foram convidadas? – Não responderam – Exatamente, nenhuma. Ele pode não ser o mais atraente, o mais rico ou mais inteligente. Mas pode ir ao baile e me convidou. Então enquanto eu me divirto com ele, vocês podem passar o natal comendo biscoitos.

  Flora e Hestia ficaram envergonhadas. Foi a vez de Francis rir. Pôde ter ficado enciumado sobre Finningan, mas achava terrível debocharem do coitado assim.

  A garota ainda mal recebia cartas de Patrick. E quando recebia, eram muito curtas e não dizia nada de intrigante. Embora seu coração batesse fortemente toda vez que sua imagem viesse à mente da menina, estava perdendo espaço na vida dela. Astória tinha que lidar com a traição do pai, a falta de amor da mãe, os estudos, o coral, o trabalho na biblioteca, passar tempo com amigos. Isso quando não ajudava a irmã e as amigas dela nos estudos. Ela simplesmente não tinha tempo para amar.

  O tempo foi passando, passando, e o amor foi diminuindo. A garota tinha recebido seu vestido através da coruja. Ele era lindo. Hestia e Flora ajudaram a escolher. As gêmeas insistiram para a amiga provar.

- Ok. Vamos ali no banheiro.

- Enlouqueceu? É o banheiro da Murta Que Geme!

- E daí? É mais perto!

- Faz assim: você se troca e aparece aqui.

- Ok.

  A garota entrou no banheiro. Esqueceu-se completamente de seu afazer quando avistou Parkinson chorando.

- Parkinson?! Mas o que aconteceu?

- Me deixa em paz, Greengrass! Não preciso que ria de mim!

- Eu nunca faria isso! – Sentou ao lado dela – Fale comigo! Dou minha palavra que jamais contarei a alguém!

  Pansy fungou e olhou à garota. Astória podia ser insuportável, mas sabia que era alguém de palavra.

- Draco... Está me traindo!

  A morena não ficou surpresa porque todo mundo já sabia disso. Mesmo assim, tinha que ser solidária.

- Não fique assim, Parkinson. Ele não merece você!

  Ninguém merece, pensou.

- E sabe por que ele está me traindo? Porque a idiota aqui não quer transar. Isso que você ouviu! Eu sou corna por não querer dar!

- Está enganada. Ele te trai porque é um canalha, um cafajeste! Se gostasse de você de verdade, jamais faria você se sentir assim. – Limpou as lágrimas dela – Não deve se sentir inferior por isso. Só você sabe a hora certa para dar um passo desses.

- Por que está sendo tão legal comigo?

- Porque eu sou gentil e gosto de ajudar as pessoas. Mesmo aquelas que mexem comigo. Eu sei que nunca nos damos muito bem, mas me sentiria horrível se te visse assim e não fizesse nada. Precisa entender, Parkinson, que você é muito mais do que dizem. Você não é só a namorada de Draco Malfoy! É Pansy Parkinson! Uma garota com dons e personalidade! Tenho certeza que se focar mais em você e menos nele, evoluiria muito!

- Eu... Ninguém nunca disse algo assim para mim.

- As garotas precisam sempre se ajudar. Nunca mais chore por um idiota! O único homem que você tem direito de chorar é pelo seu pai.

- Obrigada. Eu... Vou pensar no que você disse. Obrigada de verdade, Greengrass.

  Astória lhe deu um sorriso meigo. A partir daquela tarde, Pansy Parkinson nunca mais mexeu com Greengrass.

  A noite do baile tinha chegado. Muitas garotas passaram horas se produzindo. Como Flora e Hestia não poderiam ficar para ajudar, Astória teve que se virar nos trinta para se arrumar sozinha. E até que não tinha ficado muito mal. Usava um lindo vestido azul escuro, sem mangas, com uma saia rodada. Uma pequena parte de seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo alto. A maquiagem lhe fazia parecer um pouco mais velha. Embora usasse joias caras, eram pequenas e não muito chamativas.

  Encontrou seu par conversando com Dino Thomas. Ficou chocado com a aparência da menina. Foi ao encontro dela.

- Você tem descendência Veela e não me disse? – Elogiou – Porque está muito bonita!

- Obrigada. Você também não está nada mal.

  O garoto estendeu o braço, o qual a menina segurou nele. Já havia alguns alunos quando chegou. Um tempo depois, os competidores entraram. Todos ficaram chocados ao ver Hermione Granger com Viktor Krum.

  Resumindo, o baile foi muito bom. Astória dançou bastante com seus amigos e acompanhante ao som d’As Esquisitonas. Era disso que ela precisava. Diversão. Estava sempre com algo para fazer, que esquecia que tinha catorze anos – havia completado em novembro.

  Quase no fim da noite, Simas levou a garota a um lugar mais isolado.

- Onde você está me levando?

- Você já vai ver. Aqui! – Finningan apontou ao Céu – Está vendo?

- O quê?

- Espere um pouco.

  De repente fogos de artificios foram soltos no Céu. Astória ficou admirada com o que tinha visto.

- É lindo! Você fez isso?

- Lidar com explosões tem que servir para alguma coisa. É o que quero fazer, fabricar fogos de artifícios! Eles são lindos! Poderia assistir a noite toda!

- Seu sonho é muito bonito. Eu já pensei em ser professora em Hogwarts, mas acho que atiraria um aluno pela janela.

  Riram.

- Pode trabalhar em Hogwarts sem ter que lidar com os alunos.

- Como?

- Sei lá. Pode ser igual ao pai do Malfoy, que ganhava muito e não fazia porra nenhuma.

- Ah, não! Eu não estudei tanto para ter um emprego em que eu não vá fazer nada! Se eu tivesse o emprego do pai de Draco, faria mudança completa aqui!

- E tem como melhorar Hogwarts?

- Claro que tem! Primeiro: eu colocaria um piscicólogo. Não! Dois! Um para os alunos e outro para os alunos que vão fazer N.O.Ms e N.I.E.Ms. Somos adolescentes e passamos por muitas coisas difíceis. Tenho certeza que se tivesse alguém assim e de qualidade, nos ajudaria muito! E também eu melhoraria e muito a segurança! Acho um absurdo não colocarem aurores aqui depois de tentarem roubar a pedra filosofal, um basilisco quase matar crianças e um maníaco foragido de Azkaban entrar! Hogwarts é o lugar mais seguro do mundo é a frase mais mentirosa que eu já vi na minha vida!

- Parece que você já sabe o que fazer. Já tem tudo planejado.

- Bem, eu... Eu tenho, não é? Nossa, eu daria uma ótima chefe do Departamento de Educação bruxa! Mas antes eu tenho que fazer um planejamento completo e... – O olhou – Eu estou estragando a noite com esse papo de futuro. Me desculpe, Simas!

- Não, tudo bem. Parece comigo quando falo de fogos de artifícios.

- Pelo visto, temos algo a mais em comum.

- E o que, além disso, teríamos em comum?

- A vontade de beijar.

  Segurou pela camisa dele e lhe deu um beijo. Ela ainda tinha sentimentos por Patrick, mas o garoto não lhe respondia há semanas. Além do mais, não havia qualquer compromisso com ele e Simas até que era gatinho. O garoto correspondeu seu beijo. E assim Astória Greengrass perdeu BVL (Boca Virgem de Língua).

  Se beijaram mais um pouco até dar o horário de retornar para cama. O garoto lhe acompanhou às masmorras e deu um último beijo como despedida. Tinha sido um natal perfeito.

  As férias de natal tinham sido muito boas. Primeiro, fez um planejamento para se tornar chefe do Departamento da Educação Bruxa. Não seria fácil, mas não planejava desistir. Depois ficou estudando ou saindo com os amigos. Ficava aos beijos com Simas de vez em quando. Embora não sentisse uma paixão ardente, gostava de ficar com ele. Era divertido e tinha um beijo muito bom.

  As aulas retornaram e com ela, as atividades de Astória. A garota estudava na biblioteca quando fora abordada por Simas.

- Ei, o que acha de ficarmos hoje à noite?

- Não posso. Segundas e quartas, eu trabalho aqui.

- E que tal amanhã?

- Terças e quintas, tenho o coral. Sexta, faço organização geral na biblioteca. Sábado, é maratona de estudos. Mas estou livre no domingo. É meu dia de lazer.

- Nossa, você é tão ocupada!

- Não consigo ficar parada. Gosto de participar das coisas. Então, fechamos no domingo?

- Domingo, então.

  Finningan deu um beijo na bochecha dela e saiu. Gina apareceu, soltando beijos em deboche. Sua melhor amiga riu.

- Ai, Simas! Você é tão lindo!

- Deixa de ser besta! E eu não falo assim!

- Fala sim! Então, você e ele? Quem diria!

- Não é nada sério. Só umas ficadas.

- Então quer dizer que Sr. Rosier está fora da jogada?

- Acho que sim. Ele mal me responde, eu não vou perder tempo com isso. E Simas é legal. Pare de me olhar assim!

- Assim como?

- Assim com essa cara de pateta! Só estamos saindo. Só isso.

- Ok. Astória Finningan.

- Ah, cala boca! Você sabe que eu não quero me casar.

- Só porque não quer se casar, não significa que não possa se apaixonar.

  Greengrass revirou os olhos. Algumas horas depois, Astória tinha ido ao quarto da irmã porque prometera ajuda com os deveres de casa. Daphne estava no banho quando chegou. A menina sentou na cama e sentiu algo em baixo de si. Era uma carta já lida. A garota não teria lido se não vesse que o remente era seu pai.

“Querida Pardalzinho,

  Gostaria que soubesse que nossa última conversa foi muito importante para mim. Não sabe como fiquei feliz de ter me perdoado. Estes últimos meses foram muito difíceis para mim, os piores da minha vida. Embora eu passe muito tempo no escritório, minhas maiores relíquias são você e sua irmã. Sou disposto a abrir mão de tudo para a felicidade de vocês.

  Só não digo que estou contente porque sua irmã continua ignorando minhas cartas. Mas peço a Merlin que tenha misericórdia de mim e faça ela voltar a me amar como um dia já amou. Amo vocês mais do que tudo que é mais sagrado.

Com muito amor,

Papai”.

  Daphne saiu do banheiro, enrolada no robe e com uma toalha na cabeça.

- Demorei muito?

- Você ainda fala com papai?

  Os olhos de Daphne caíram sobre a carta.

- Está bisbilhotando minhas coisas?

- Não respondeu minha pergunta! É verdade o que esta carta diz? Perdoou mesmo papai?

- Perdoei! E daí?

- Daphne, ele traiu nossa mãe!

- E o que você quer que eu faça? O despreze pelo resto da vida? Ele é meu pai!

- É um traidor!

- Escuta aqui: eu sinto muito pela mamãe! De verdade! Mas eu não vou deixar de falar com meu pai por causa disso! Isso é entre eles! Não tem nada a ver com a gente! Eles devem resolver isso, não nós!

- Papai traiu nossa família!

- Não, ele traiu a mamãe! Ele pode ser ausente, mas é o único pai que Merlin me deu! Já é muito difícil viver sem o amor da minha mãe, não vou viver sem o amor do meu pai! Se você quer ficar, o problema é seu!

  Astória ficou tão irritada, que saiu do quarto, fechando a porta com força. Pouco importava os estudos no momento. A fúria lhe fez fazer algo irracional. Pegou uma pena e um pergaminho e escreveu uma carta.

  Ao terminar, caminhou ao corujal. Encontrou Neville e Luna no caminho.

- Ast, está tudo bem? – Perguntou Luna

- Não. Vou terminar com isso de uma vez por todas!

- Como assim?

- Escrevi uma carta ao meu pai, dizendo o quanto ele é baixo, que me envergonho em ser filha dele e que não me escreva mais! Eu vou enviar esta coruja agora!

- Você não pode fazer isso!

  Longbotton tomou a carta de suas mãos. Greengrass tentou pegá-la. Ele esticou o braço bem alto, onde ela não conseguia alcançar.

- Neville! Me devolve esta carta agora!

- Não! Você vai se arrepender pelo resto da sua vida se fizer isso!

- Não cabe a você decidir o que devo fazer ou não! É algo pessoal!

- Eu não vou deixar que faça isso!

  A garota o ameaçou apontando a varinha para o seu pescoço.

- Não me obrigue a fazer isso!

- Eu vou devolver. Mas, Astória, para e pensa um pouquinho: seu pai cometeu um grande erro. E isso ele não pode mudar. Mas está tentando te reconquistar. Acha que se não te amasse, não enviaria cartas quase todos os dias? Ele adora você e faria qualquer coisa para te ver bem! Nem todos têm a chance de ter um pai e menos gente ainda têm um como o seu! Pensa direito, ok?

  Devolveu a carta e a deixou. Luna fez um olhar suplicante para que o ouvisse. Greengrass ficou mexida com o que ouvira. Com certeza ficaria bem mal se soubesse o passado de Neville. Ela não entregou a carta. Invés disso, a rasgou. Tinha muito o que pensar e certamente não chegaria a uma conclusão final àquela noite.

  Domingo havia chegado. Astória tinha combinado de se encontrar com Simas em Três Vassouras. Usava uma roupinha simples. Usava uma blusa preta de mangas longas, a qual mostrava barriga, uma calça jeans e sapatilhas. Flora e Hestia desaprovaram o look e achavam que um vestido era melhor. Greengrass preferiu não as ouvir.

  Chegou no estabelecimento alguns minutos antes do horário marcado. Ficou a escutar música enquanto aguardava. Passou cinco... Dez... Quinze minutos. E nada de Simas aparecer. Pediu uma cerveja amanteigada após vinte minutos. Aos vinte e sete, tinha ido ao banheiro. E ainda não tinha aparecido. Cansou de esperar quando passou quarenta minutos.

  À noite, contou tudo à Gina.

- Não acredito que ele te deu um bolo desses!

- Pois é! Nem eu! Aposto que estava rindo de mim, enquanto eu esperava! Panaca!

- Falando no diabo.

  Finningan se aproximou, acompanhado de Thomas. Astória cruzou os braços ao vê-lo.

- Olha só quem resolver dar as caras! Se não quisesse ir, era só ter me falado ou enviado uma coruja! Tinha sido mais educado!

- Mas eu não pude ir, Astória!

- E por que não?

- Crebbe e Goyle me prenderam no armário de vassouras o dia inteiro.

- É verdade! – Confirmou Dino – Filch o achou.

- E por que Crebbe e Goyle.... Malfoy!

- Eu tenho que falar uma coisa com você.

  Foram para um canto mais distante.

- Eu vou acabar com aquela doninha-albina! Pode ter certeza disso, Simas! Ele vai se arrepender de ter feito isso com você!

- Astória, nós não podemos mais sair juntos!

- Por que não?

- Porque Malfoy não quer!

- E você vai aceitar assim?

- Vou! Ele pode ser um idiota, mas ainda tem poder. E eu não vou deixar que ele transforme minha vida no inferno por sua causa! Foi mal.

  Finningan a deixou.

- Que ótimo grifinório você é! Sua Casa deve estar muito orgulhosa!

  Simas deu de ombros, como se não se importasse. Dino se juntou a ele. Gina foi atrás da amiga.

- E aí? O que ele disse?

- Ele me deu um pé na bunda.

- O quê?! Sério?

- Sim. Ele não quer que Draco persiga ele.

- Que covarde! Vai fazer alguma coisa com Malfoy?

- Não.

- Não?

- Não. Ele é um imbecil, mas me mostrou que Simas é covarde. De um certo modo, ele me ajudou.

- Queria ser otimista como você. Se fosse comigo, já estaria arrancando a cabeleira loira daquele idiota!

- E receber uma detenção? Não, eu tenho uma ideia melhor.

  Ao chegar no Salão Comunal, o grupo de Malfoy estavam sentados no sofá. Draco sentava em uma poltrona, a qual era meio que seu pertence. Como um trono de um rei.

- Ei, Greengrass! – Chamou Draco – Como vai seu namoradinho?

- Ele não é meu namorado e não estamos mais juntos. – Informou – Na verdade, devo agradecimentos a você.

- A mim?

- Sim. Se não fosse por você, não veria que Simas é tão covarde. Só não mais que você, é claro. Você me livrou de um peso. Pelo menos, para isso serve.

  A garota subiu para o quarto. Malfoy ficou descontente pela falta de tristeza da menina. Preciso pensar em algo para colocar essa Menina Selvagem no lugar, pensou.

  Havia se passado algumas semanas. Já tinha se realizado a segunda tarefa do Torneio Trubruxo. Greengrass estudava direito para os exames. Menos naquela tarde. Era dia de ir à Hogsmeade. Entrara no Três Vassouras.

- Com licença. – Disse à madame Rosmerta – Eu estou procurando por um homem. Ele é-

- Alto, cabelo cumprido e rico? Está lá em cima. Reservou uma sala só para vocês. É o primeiro à direita.

- Obrigada.

  A garota ofereceu uma gorjeta, porém a madame Rosmerta negou. A menina subiu às escadas, com o coração na mão. Estava muito nervosa e tinha medo do fim que aquela conversa levaria. Inalou profundamente e fechou os olhos ao abrir a porta.

  Sr. Greengrass se pôs de pé rapidamente. Seu nervosismo era notável. Havia uma grande mesa redonda com todas as comidas que a menina adorava.

- Oi. – Saudou ela

- Oi.

  O homem puxou a cadeira para a filha sentar. A mente da pré-adolescente estava em uma completa confusão. Queria gritar com ele, chorar e abraça-lo ao mesmo tempo. Não sabia o que fazer.

- Eu fiquei muito feliz quando recebi sua carta.

- Pensei que não viesse por conta do trabalho.

- Não, eu... Jamais deixaria de vir esta tarde. Nada no mundo impediria de vir.

- E nem a Rhonda?

- Eu a transferir para outro setor. Contratei um secretário, desta vez. Meio tímido, mas eficiente. Não sabe como estou feliz em te ver, Sabiá. Eu senti muita saudade! Nunca fiquei tão angustiado na minha vida!

- É só questão de tempo.

- Questão de tempo para quê?

- Para se casar novamente e ter seus outros filhos. Depois disso vai esquecer de mim e de Daphne! É sempre assim!

  A garota não se aguentou mais e caiu no choro. Seu pai foi para o seu lado rapidamente.

- Não! Eu nunca faria isso!

- Faria sim! É sempre assim! O pai se muda, casa de novo e vive feliz para sempre com os novos filhos e esquece os primeiros!

- Não! Olhe para mim! Olhe bem para mim! – Segurou em seu rosto – Eu não sei se um dia vou casar ou ter filhos, mas te prometo que jamais esquecerei você e sua irmã, entendeu? Vocês são tudo para mim! São a razão para eu levantar! Eu nunca faria isso! Nunca! Eu amo vocês demais! Amo mais do que a mim mesmo!

  Sr. Greengrass a abraçou, alisando o cabelo dela. Ficaram assim por um longo tempo. A garota continuou chorando mais um pouco e seu pai a acalmava. O homem disse que a amava mais vezes do que poderia contar. A menina perdoou o seu pai e sentiu um grande peso deixar de suas costas.   

  Embora o pai e a filha tenham se reconciliado, o ano não acabou com um final feliz. O Lorde das Trevas retornou e com ele, suas desgraças. Quase ninguém acreditou e alguns que acreditarem preferiram fingir que nada havia ocorrido. A infelicidade na família Greengrass mal tinha começado.



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