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História Mentira e Sangue - Mensagens Para Quem Se Foi


Escrita por: BrabuletaAzul

Notas do Autor


Eu sei que eu demorei muito, e até mesmo estrapolei o prazo que eu dei para eu voltar, mas a minha saúde piorou de novo e não consegui escrever. Só agora que o cap ficou pronto.
Para recompensar essa pausa imensa que a história teve, eu vou fazer um cap extra sobre a vida dos gêmeos antes da história, até msm explicando umas coisas q eu n expliquei antes.
Próx cap vai ser esse extra e dps vai ser o último cap msm. Só vai ter um epílogo depois, e então a história terá terminado. Vai ser mt difícil me despedir dessa história, mas eu queria agradecer a vcs, que favoritaram, comentaram, leram essa história e me ajudaram tanto. Eu não teria continuado se não fosse por vcs.
Agr vamo logo pro cap, pq já faz tempo desde q eu postei um pela última vez.
As partes em itálico são mensagens da Paci, enquanto as em Itálico e negrito são da Mabel.
A música do cap é A Song To Say Goodbye, do Placebo.
Espero que gostem!

Capítulo 20 - Mensagens Para Quem Se Foi


Fanfic / Fanfiction Mentira e Sangue - Mensagens Para Quem Se Foi

Will...

Você sabe que sou eu.

Eu sinto a sua falta, sabia?

Está sendo quase impossível ficar na mansão sem você. São tantas coisas que eu finalmente entendo, tantos problemas me acertando de uma só vez... eu finamente sei como você se sente, tendo memórias que não são suas. Dá medo. Fechar seus olhos e ver com nitidez um momento que você nunca viveu, ver um trauma que não é seu... isso é apavorante.

Tudo que eu mais queria era que você estivesse aqui. Não só por você ser o meu melhor amigo, mas por você ser a minha âncora. Deve ser uma ligação mãe e filho, sei lá, mas você é uma das únicas pessoas com quem eu ainda me sinto confortável  com, a única pessoa que me ajuda no meio dessa loucura.

Desde que você se foi eu tenho me aproximado mais do Dipper. Um mês atrás eu tinha tanta certeza de que ele era um monstro, de que eu não deveria ter o mínimo de pena dele, mas agora ele parece outra pessoa. É triste vê-lo do jeito que está, ver o que ele se tornou. Eu ainda não simpatizo tanto com o Gleeful, mas mesmo assim eu não quero o ver morrer.

Isso faz sentido?

Eu espero que sim.


Will...

Você não já está fora por tempo suficiente? Já não acha que é hora de voltar?

Eu não consigo entender essa sua mente de demônio. Primeiro você se aproxima de mim, se aproxima da sua mãe, e depois decide abandona - la e me deixar sozinha no único momento em que você deveria estar aqui?

Que ótimo.

Não se passou muito tempo desde que você fugiu, mas tudo parece ter virado de cabeça pra baixo. Nós temos armas, temos uma chance de nos defendermos, porém cada conquista está nos custando algo. Algo caro. Dipper está pior. Ele quase morreu ontem, e eu tenho medo que isso aconteça de novo, e ao mesmo tempo eu mesma estou ficando mais fraca, tossindo mais sangue, perdendo minhas forças... deuses, como eu queria que você estivesse aqui.

Você alivia isso, sabia?

Eu não preciso de você,  antes que esteja pensando isso.

Mas de alguma forma a sua presença ajuda minimamente a dor a parar.

Eu devo estar ficando louca.

Talvez mais do que eu já sou.


Oi, sou eu de novo, desculpa por te mandar algo assim do nada, mas eu sinto falta de falar com você.

Minha cabeça está uma bagunça e eu não sei por quanto tempo eu consigo aguentar isso, eu preciso de uma luz, uma ajuda, alguma coisa que pare essas vozes que gritam o tempo todo.

Eu...

Desculpa se isso ficar horrível, mas é difícil me concentrar com tantas vozes falando de uma vez.

Ei, eu consegui entender uma coisa em uma das vozes, na sua voz. Era uma risada infantil, você devia ter uns 4 anos. Talvez tenha sido o som mais lindo que eu já ouvi. Bill murmurava coisas aleatórias como ele sempre faz na minha cabeça, mas você ria, uma risada fofa e alegre, de quem está o mais feliz que se poderia estar. Seria bom se você pudesse voltar e contasse para mim o que te fez rir, eu aposto que eu vou rir também.

Mas por favor...

Por favor volte pra mim.


Pacífica fechou seus olhos e parou de falar, vendo o símbolo azul se desfazer no ar conforme sua mensagem para Will era enviada. 

Mabel havia lhe explicado que ela poderia tentar falar com ele usando alguns símbolos estranhos e coisas que a garota Northwest nunca iria entender. Mas Paci não achava que era só ela que iria contatar Willbourne.

Dizer que a garota estava uma bagunça era quase elogio. Na verdade, todos eles estavam. Gideon estava se dedicando à aprender tiro e poder ser útil, mesmo que ainda não tivesse entregado o diário para Mabel; Dipper se tornava cada vez mais doente, desmaiando quase que o tempo todo e parecendo cada vez mais um cadáver; Pacífica mal era sã, além de estar se sentindo o mais sozinha que já esteve; e Mabel... Mabel era o verdadeiro caos. Mesmo aparentando estar controlada e fria como sempre, ela mal se aguentava de pé. A dor consumia sua mente e a saudade o seu peito. Ela nunca admitiria, mas Willbourne fazia muito mais falta do que aparentava.

Pacífica sentia pena. Ela também queria que Will voltasse, queria isso mais do que qualquer outra coisa, mas ela sabia que Mabel estava se sentindo solitária. Ela mesma estava se sentindo assim.

Tentando afastar a lembrança da saudade, a garota deixou seu quarto de hóspedes no primeiro andar, descendo até os laboratórios enquanto pressionava a sua barriga. Dipper tinha cuidado do machucado, mas mesmo assim doía muito, como se ela precisasse estancar um sangramento o tempo todo.

Ao se aproximar do corredor longo e branco do subsolo, um dos únicos lugares da mansão que ela ainda temia, um som alto pareceu estourar seu tímpano, vindo da sala do lado. Levando sua mão livre para a orelha, e checando se havia algum sangramento, Pacífica abriu a porta que dava para um imenso quarto verde, com algumas caixas e bonecos em tamanho humano, que aparentemente estavam servindo de alvo para Gideon, que tentava se entender com uma pistola, claramente falhando miserávelmente.

O garoto usava tampões na orelha, enquanto atirava nos bonecos, quase nunca acertando perto do peito. Sei rosto estava cansado, e deixava claro o fato de que ele mal havia dormido. Provavelmente tinha passado a noite em claro, lendo ou olhando o arsenal pela milésima vez.

-Você deveria ir dormir.- Pacífica disse, alto, para que ele pudesse a ouvir. Mesmo que fosse difícil organizar as palavras em sua cabeça, ela procurou se manter calma e controlada.

Gideon se virou para a prima, tirando os tampões e esbanjando um sorriso cansado.

-Valeu, mas eu vou treinar um pouco mais. Quando for de manhã eu durmo.

-São dez horas da manhã, Gi.- Ela disse, se apoiando na porta.

A expressão do garoto se tornou confusa, e até um pouco envergonhada, enquanto ele levava uma mão à nuca, esfregando a raiz de seus cabelos loiros em um gesto de desconforto.

-Desculpa. Eu prometo ir daqui a pouco. Eu só perdi a noção do tempo.

-Você tem treinado muito. -Pacífica falou, se sentando em uma caixa, enquanto segurava seu ferimento na barriga. -Não precisa cobrar tanto de si mesmo.

Ele colocou a arma numa mesa, junto da munição, liberando a sua mão para poder tirar o suor do rosto, antes que pingasse em seus olhos.

-Eu preciso ajudar de alguma forma, é eu não sei se você percebeu, mas eu sou inútil aqui. Não sei lutar, não tenho poderes, não sou pai de nenhuma criatura mística e nem mesmo entendo de magia, o que eu posso fazer? -Perguntou, se sentando na frente da garota e fechando os olhos, além de respirar fundo, procurando um tipo de calma que ele nem mais conhecia. -Vamos encarar os fatos, eu só estou aqui porque tenho o terceiro diário, que aliás, eu entreguei hoje pra Mabel. Se eu não puder fazer mais nada vou ser só um peso morto, só vou atrapalhar, e tudo isso vai ter sido em vão.

 -Gi... você não é um peso morto, mesmo que não acredite, você é útil sim! Você é muito mais corajoso do que eu, faz o que é e necessário para proteger quem ama, você brigou com o seu próprio pai pra me proteger, se lembra disso?- Ela tomou a mão de Gideon na dela mesma, com um pequeno sorriso para o motivar. -Tem idéia do quanto aquilo significou pra mim? Ninguém nunca tinha feito algo por mim desse jeito. Eu queria morrer toda vez que entrava naquela casa, mas por um momento você me fez querer viver para poder te ver bem, pra te agradecer e pra ver aquele filho da mãe atrás das grades. Nós precisamos de alguém assim. Mabel precisa. Eu preciso. Você nos inspira, nos ajuda, esta disposto à fazer o que for necessário para nos ver viver. Nunca pense que é inútil.

Pacífica só conseguiria entender a expressão no rosto de seu primo vários dias depois. Após vários segundos com um olhar confuso e até mesmo lisonjeado, Gideon deixou um pequeno sorriso escapar de seus lábios, e uma lágrima descer o seu rosto. Ele puxou a garota para perto de si em um abraço apertado e fechou os olhos.

-Obrigado, Pací. Sério mesmo.- Ele disse, enquanto ela o abraçava de volta. 

Mesmo que o momento fosse lindo e um dos primeiros em que ela estava se sentindo normal, as vozes em sua cabeça começaram a falar mais alto. "Isso, conforte o seu primo. Como acha que ele vai reagir quando souber? Será que ele vai continuar vendo você do mesmo jeito?" "Ah, cala a boca Bill! Mami, não ligue pra ele." "Cala a boca você, cabeça de vento!" "Ei! Mami! O Bill tá me chamando de cabeça de vento!" "Isso, chame a mamãe! Ainda não percebeu que estamos na cabeça dela, idiota?" 

Gideon se afastou um pouco, olhando para Pacífica. 

-Você está bem?

Como se houvesse acabado de sair de um transe, ela olhou para ele, tentando ignorar as crianças que brigavam em sua mente.

-Sim... e-eu... eu tenho que ir...- Ela se levantou, andando até a porta, sentindo o olhar preocupado do garoto à seguir. 

Sem olhar para trás, Pacífica deixou os laboratórios, subindo as escadas com a pouca força que restava em seu corpo, mal conseguindo se concentrar no que estava à sua frente. Enquanto sua cabeça girar e as crianças falavam por todos os lados, a garota sentiu algo viscoso e nojento subir por sua garganta. O cheiro da bile encheu suas narinas e ela não conseguiu se conter, vomitando em uma planta assim que chegou no primeiro andar, sem perceber a figura que estava de pé atrás do vaso.

-Parece que não sou só eu que estou mal. O que foi dessa vez? Com eu algo estragado? Não comeu nada? Ou tem a ver com seus filhos demônios? -Dipper perguntou, mantendo seu ar arrogante mesmo que mal conseguisse se manter sobre suas duas pernas.

-Eu não sei por que eu ainda espero que você deixe de ser tão babaca.-Após vomitar, Pacífica de levantou, finalmente encarando o Gleeful, e para seu horror, preferia nem ter o visto.

Sua pele já estava bem mais cinza do que estava no dia anterior e seus olhos azuis jaziam sem vida no rosto cansado machucado. As pernas, que à muito eram fortes e um tanto grossas, pareciam dois palitos de dente, tão magras que mal aguentavam o peso do garoto, mesmo que esse peso não fosse muito. O torço, que estava exposto por uma camisa aberta, estava com os ossos quase completamente aparentes. Mas o pior era o cheiro. Algo podre. Algo morto. Algo mascarado com perfume francês -Que provavelmente era de Mabel.- Aquele odor conseguia ser pior que o do vômito, mesmo que o líquido escarlate que Mabel havia preparado com o que sobrara de Robbie e entregado à Dipper o tivesse amenizado muito.

Pacífica não conseguiu se conter e vomitou mais uma vez. Mas algo estranho aconteceu. Dipper, que segundos antes estava sendo arrogante, tirou um pano de seu bolso, entregando-o à garota, que o encarou confusa.

-O que aconteceu com você? - Perguntou enquanto limpava seus lábios sujos.

Ele encarou a parede por alguns segundos, desviando o olhar da garota e parecendo estar perdido em seus próprios pensamentos.

-Está se espalhando... Talvez eu tenha somente alguns dias ou...

-Não foi isso que eu quis dizer. Eu sei por que você não está bem fisicamente, não precisa se explicar, deve ser difícil falar sobre isso. -Pacífica disse, cortando a fala dele. -Eu quis dizer por que foi legal comigo. Você tem sido menos escroto esses dias.

Dipper soltou um suspiro de alívio sem nem mesmo perceber. Ele então tentou retomar sua pose e cruzou os braços, desta vez com um sorriso confiante e até um pouco travesso no rosto. Quase parecendo realmente ter dezoito anos.

-Eu não sabia que estava sendo tão legal. Vou tentar voltar a ser "escroto", se é isso que a incomoda. -Ele disse, confortável com a conversa, e claramente brincando.

-Não, por favor. - Pacífica respondeu, rindo. E por um momento, as vozes se calaram. Não que a garota tivesse percebido.-Até que tá sendo legal, sabe? Você não ser tão babaca comigo por uns dias. É uma coisa rara.

-Parece que quando eu estou morrendo eu não tenho energia para ser babaca, até mesmo com quem merece. Mas não se acostume com isso.

-Prometo não me acostumar. -Ela disse, sorrindo.

Por algum motivo, eles estavam se tornando amigos. Talvez fosse o fato de às vezes eles se entenderem, ou as vozes na cabeça de Pacífica só pararem quando ela falava com ele, mas algo parecia os fazer só se sentirem confortáveis um com o outro, principalmente porque Mabel mal falava com Dipper. Doía muito aceitar que o que quer que eles tinham estava apodrecendo. 



"Você é um dos erros de deus,

Seu desperdício de pele chorão.

Eu sei muito bem como dói, 

Mas mesmo assim você não me deixa entrar"


Dois andares acima deles, no quarto que antes pertencia aos gêmeos, Mabel lia os dois diários. Estava tão perto, tão perto! Mas mesmo assim sabia que era inútil tentar qualquer coisa sem o último diário.  Se sentindo inútil e sozinha, ela se sentou na cama, olhando à sua volta e procurando alguma coisa, qualquer coisa, que a desse algum sinal de que Will estava ali, de que ele iria voltar.

Mesmo que fosse orgulhosa demais para admitir, Mabel sabia que sentia falta dele muito mais do que deveria. Havia passado tantos anos o culpando pela morte de Tyrone, tudo para acabar precisando dele mais do que precisava de qualquer outra pessoa. Só pensar nisso já fazia a tão poderosa Mabel Gleeful se sentir idiota. 

Ignorando seu orgulho e sua mente que lhe dizia que era bobagem, ela desenhou alguns símbolos no ar. Nada muito complicado. Outras pessoas pensariam que ela só estava desenhando triângulos, mas na verdade era algo muito mais importante. Quando terminou, as formas desenhadas brilharam em azul celeste, se destacando no ar. Mabel se concentrou na imagem de Will que ela tinha em sua cabeça e começou a falar.

Seu merda. Você faz a mínima idéia da falta que faz? Sabe como é aguentar essa loucura toda sem você?

Babaca egoísta.

Nunca vamos conseguir o terceiro diário à tempo. Não há pista alguma! Eu estou quase mandando Gideon correr a cidade atrás do diário e simplesmente revelar algumas coisas à cidade pela chance de conseguirmos algo. 

Eu não consigo entender esses diários separados. Não sozinha.

Caso esteja pensando "ah, mas ela tem o Dipper." Não, não tenho. Nós mal nos falamos mais. Não somos mais os mesmos desde que ele foi preso. Meu irmão está morrendo, e mesmo que isso parta o meu coração eu não consigo me importar com ele como me importo com...

Deixa pra lá.

Só volte logo...

Por favor. 

Vendo os símbolos desaparecerem no ar, Mabel se deitou em sua cama, encarando o teto enquanto pensava, mesmo que só por alguns segundos, que precisava de Will ali. Que sem ele nada seria possível. E isso lhe dava medo.


"Agora eu estou derrubando a sua porta,

Para tentar salvar o seu rosto inchado,

Mesmo que eu não te ame mais,

Seu desperdício de espaço mentiroso. "


-Então, como tem sido mergulhar nas minhas memórias? Encontrou algo interessante? -Dipper perguntou, recostado em uma escrivaninha enquanto tomava o mesmo líquido vermelho de sempre, que Pacífica agora sabia o nome. "Vulprir" algo que significava "vida por vida", em uma língua antiga, a língua do povo que acreditava em demônios como Will, em enviados -O termo correto para o que Dipper e Mabel eram-, em anjos e várias outras criaturas místicas, além de um grande conjunto de deuses.

-Mesmo que algumas coisas sejam sim interessantes, e difícil prestar atenção em algo quando se está assustado. Tudo que você é sua irmã passaram por... É apavorante. Tantas coisas que eu nem conseguia imaginar antes... -Pacífica mal percebeu, mas bem no fundo de sua mente, sussurrando baixo, a voz de Bill lhe disse "Você verá coisas muito piores." mas a garota não queria saber de vozes pessimistas, a vida já era dura demais para acreditar no que sua cabeça lhe dizia.

-O que te assustou mais? Os assassinatos... as fodas... as perdas? 

-Tyrone. -Ela disse, simplesmente. Nada a assustava mais do que aquele garoto, que mesmo parecendo se importar com a família, usou a própria como arma até em seus últimos minutos de vida. Uma criança que era muito mais perversa que os outros Gleeful juntos. A única pessoa nas memórias dos gêmeos que a assustava sem ser Tyrone era Ford, que a lembrava de Bud. Um verme abusador estuprador que não merecia nem mesmo a vida. -E Ford.

-Minha família é ótima, não? Meu irmão assustava a todos. Era brilhante, é claro, era o cérebro, enquanto eu era o coração  e Mabel a força.- Dipper encarou o copo em sua mão, com um sorriso nostálgico em seu rosto, pensando na época gloriosa em que ele e a irmã eram tão puros e tão apaixonados,  na época em que Tyrone estava vivo, os guiando.

-Você? O coração? Pelo que eu vi você tava mais para sei lá... a força, enquanto a Mabel era o coração.-Após ouvir isso, o sorriso de Dipper sumiu, dando lugar para um trincar de dentes impaciente.

-Eu fazia tudo que era possível para minimizar a dor da Mabel, eu ficava ali para ela, eu tentava a ajudar a desbloquear seus poderes por que eu tinha fé nela, por quê eu a idolatrava mais do que eu idolatraria qualquer deus. Que tipo de força eu tinha? Eu só era um apoio pra ela. Minha irmã que caçava, que atacava, que botava os planos em ação enquanto eu ficava aqui, esperando ela voltar com uma caixa de chocolates, um poema que eu mesmo escrevi e um abraço que eu sabia que ela precisava. Não venha diminuir isso como se eu fosse só um monstro, se for para isso que estamos conversando então saia do meu quarto.- O tom de voz do garoto tinha mudado completamente. Ele fora de calmo para desesperado em segundos, botando para fora o que parecia ter segurado por anos.

Ao ouvir tudo aquilo, Pacífica o entendeu. Sem pensar duas vezes ela se levantou, o abraçando forte. Mesmo que não fossem exatamente amigos, mesmo que ela tivesse muitos motivos para o odiar, não conseguia não sentir a dor dele, assim como não conseguia não o consola - lo.

Mesmo lutando para não o fazer, Dipper cedeu, a abraçando de volta, bem apertado, quase rezando para que o que ele e Mabel tinham voltasse. 

-Ei.- Pacífica se afastou um pouco no abraço.-Tem uma coisa que eu quero te mostrar. -Ela estendeu a mão para ele, e quando Dipper a tocou, uma imagem passou pelos olhos dos dois.

"Mabel, o que você quer ser quando crescer?" O pequeno Mason perguntou, com dez anos.

"Não sei. Seria maneiro usar os meus poderes pra deixar as pessoas impressionadas. Tipo ter o meu próprio show de mágica!" Ela respondeu com um olhar sonhador. "Com você, claro."

Mason -Ou como todos já o chamavam, Dipper.- corou um pouco, olhando para a irmã.

"Você me incluiria?"

Mabel sorriu, estirada em sua cama enquanto comia chocolates que seu irmão gêmeo havia feito para ela enquanto ela caçava.

"Claro que sim. Você é meu irmão. Eu te amo." Disse. "Eu não conseguiria viver sem você, Dip." Se levantou, cutucando a bochecha dele.

Era uma criança tão linda, tão cheia de vida, tão diferente da mulher que ela havia se tornado.

O pequeno Dipper desviou o olhar. 

"Você só iria me manter por perto por quê eu sou seu irmão?"

Havia algo na sua voz que era um tanto melancólico. Talvez fosse por isso que Pacífica tinha revisto essa memória tantas vezes, era possível ver o quanto Dipper amava a garota e se sentia mal, achando que o sentimento que aflorava em seu peito não era recíproco.

"Claro que não!" Mabel rebateu, talvez alto demais. Ela segurou no rosto do irmão com suas mãos delicadas porém fortes, aproximando seus rostos. "Eu te amo. Mais do que como irmão... Como..." ela começou a corar, desviando o olhar.

"Como...?" Dipper perguntou, colocando uma mão por cima da dela.

"Como..." Sem encontrar as palavras certas, ela fitou a boca dele por alguns segundos, sentindo aquele sentimento que ela mal entendia crescer em seu peito. 

E no que parecia a ação mais difícil porém calma de suas vidas, os dois gêmeos se aproximaram, selando seus lábios em um beijo gentil, quase que o oposto do que eles fariam em alguns anos.

Pacífica tinha mostrado aquilo para Dipper em uma tentativa de acalma-lo, mas antes que conseguisse botar alguma outra memória boa, ele tomou as rédeas da situação, mudando para as memórias de quando ele fora preso. Os primeiros momentos, quando sua irmã e Paci haviam explorado o túnel pela primeira vez.

Sabendo o que ele iria ver, a loira tentou fazer de tudo para quebrar a ligação entre eles, mas seu desespero a impedia de se concentrar e realmente conseguir fazer algo. Quando se deu conta disso, já não havia mais nada a ser feito.

"Para um cruzar o portal, o outro deve morrer." Era o que dizia a carta.

-Meu deus... -Pacífica disse na memória. 

-Não, não não não!- Mabel gritou.

Antes que pudessem ver mais da memória, Dipper quebrou a ligação entre ele e a garota loira.


-Você sabia...? -Ele perguntou,  como se não fosse óbvio.

-Eu... 

Dipper prensou a garota contra a parede, apertando sua garganta.

-Você sabia disso? -Gritou. 

-Sim! -Ela respondeu, chorando, tentando alcançar o chão com seus pés, o que era difícil já que ela estava suspensa no ar pela mão ossuda e forte do Gleeful.

Ele a soltou em um só movimento, nem sequer olhando para ela quando seu corpo atingiu o chão.

-Saia daqui. -Ele sussurrou. -Saia do meu quarto agora! -Dessa vez sua voz saiu como um grito.

Assustada, Pacífica correu para a porta, se virando para ele enquanto chorava. 

-Eu me esqueci disso! Eu ia te contar! Mas você merecia ter um descanso! Me desculpa!

-Você não merece o meu perdão, cadela. Agora suma da minha vista antes que eu esmague a sua cabeça. -Disse, batendo a porta na cara dela.

Arrependida e aos prantos, Pacífica caminhou até seu quarto, rapidamente tentando contatar Will.

Por favor...

Volte...

Eu preciso de você aqui...


"Antes de nossa inocência ser perdida,
Você sempre foi um daqueles,
Abençoados com o 7 da sorte,
E a voz que me fez chorar."


Gideon não havia parado de treinar. Mesmo que ele tivesse desistido das armas para não gastar muita munição, ele agora socava os bonecos que antes eram alvos, para tentar aprender a pelo menos dar um soco.

Mabel observou a cena com um pequeno sorriso convencido em seu rosto. Seu plano estava indo bem. Pelo menos na medida do possível. Se continuassem assim e conseguissem o último diário, Gideon estaria pronto para lutar e ser uma distração, conseguindo ganhar tempo para que os gêmeos acionassem o portal.

Sem dúvidas era uma cena que a alegrava só de pensar, mesmo que lhe causasse medo também. E não era medo pelo garoto.

-Cansou das armas? -Ela finalmente perguntou. 

-Por quê vocês insistem em me assustar assim? -Gideon perguntou, depois de quase cair de susto.

-"Vocês"?

-Você e a Paci. Ela veio aqui mais cedo. 

Gleeful deixou um pouco de preocupação aparecer em deu rosto, mas tentou esconder isso se sentando em uma caixa. Seus pés, que estavam cheios de bolhas dentro dos sapatos de salto alto, batiam no chão, em uma batida sem ritmo.

-Ela subiu? -Perguntou, se concentrando no som que ecoava pela sala. 

-É, a Paci começou a passar mal e subiu. Deve ter ido tomar aquela... coisa... que vocês fazem. 

-Ou foi falar com meu irmão. 

Partia o coração de Gideon ver Mabel assim, sem motivação. Ter se afastado de Dipper havia lhe feito um mal enorme. Parecia sem chão, e de fato estava dessa forma. Não existia mais o motivo pelo qual havia lutado tanto, não existia mais aquele sentimento avassalador que tinha a motivado por toda a sua vida. Só pensar em Mason já q machucava, porque mesmo que não o amasse do mesmo jeito, ainda sentia ciúmes, e ainda faria de tudo para o ver bem.

- Como vocês estão? -Gideon se sentou na frente dela, ignorando sua mente, que só conseguia focar nas pernas balançantes envolvidas em uma fina meia calça preta já um tanto rasgada. Mabel não era de usar coisas desgastadas ou furadas, sempre se mantinha impecável, não importava a situação. Ela estar daquele jeito, deixando sua preocupação transparecer, não era normal. Mas não era nisso que os pensamentos de Gi destacavam. Não, eles estavam perdidos em algo mais sujo, algo que o garoto sabia que não deveria sentir. Ele sabia que deveria resistir à tentação daquelas coxas grossas, tão macias ao toque. 

Em sua cabeça, ele xingou à si mesmo por ter provado da garota uma vez. Se tivesse resistido, não estaria tão apaixonado por ela, e certamente não estaria preso à ela, num plano louco e quase suicida.

Preso no que sabia que era errado, Gideon até se esqueceu do que havia perguntado.

-Afastados. - Mabel disse, de forma tão vaga que so causou uma expressao perdida no garoto, que já estava confuso e mal se lembrando que havia perguntado como ela e Dipper estavam. -Nós basicamente não nos falamos nos últimos dias. Só uma vez em que nós... Não foi como antes.- Ela desviou o olhar, seus olhos azul celeste parecendo tão sem vida que fariam qualquer um se perguntar se ainda havia alguma alma dentro daquele corpo ou se era somente uma casca vazia.

-Mas você sentiu alguma coisa?

-Nada. Só saudade.

Essas palavras pareceram perfurar o peito dos dois. O de Mabel por ter admitido o que havia guardado por dias, e o de Gideon por imaginar como ela estava se sentindo. 

-Eu só queria... -Começou Mabel, mas bufou antes que pudesse terminar, se levantando e andando em círculos pela sala. -Deuses por quê isso é tão difícil?! Eu amo ele, eu sinto falta dele, mas eu...-Algumas lágrimas desceram o seu rosto, levando um pouco da maquiagem com elas e revelando a pele pálida que estava escondida. Uma pele doente. -Merda! Por que caralhos eu não consigo nem olhar pra ele?

Gideon se levantou, querendo abraça - la, mas sabendo que estaria arriscando levar um tiro. E foi nisso que se lembrou...

As armas.

Sem pensar duas vezes ele agarrou uma pistola, oferecendo ela a Mabel sem dizer uma palavra. A garota Gleeful pareceu entender do que se tratava e segurou a arma em suas mãos trêmulas, sentindo o choque de temperaturas causar um calafrio em sua espinha. 

-Obrigada. 

Essa foi a única palavra que ela disse antes de respirar fundo, encarando o objeto em suas mãos. Aquilo tinha o poder de tirar uma vida e mudar outra. Assim como ela. Quantas pessoas já não havia assassinado por aquele amor? Por uma paixão que nem mais existia? Só o pensamento de tudo de sido em vão, de ter perdido todas as outras pessoas que amava por uma relação que já estava acabada... isso despertou algo dentro dela. E enquanto as lágrimas escorriam até sua blusa de seda, ela começou a desparar.

Foram tantos tiros. O som das balas perfurando os bonecos e caixas, sempre onde ficaria o coração ou o cérebro, era quase ensurdecedor. Somente o olho de Mabel tremia, enquanto ela mal parava de apertar o gatilho, deixando toda a sua raiva e angústia se esvair por aquela ação, por aquele momento de poder em que a arma estava em suas mãos.

E mesmo que Gideon estivesse aterrorizado pela imagem que via, alho naquilo o atraía. Talvez fosse saber que tinha ajudado, talvez fosse a beleza da cena bruta, ou talvez fosse só o fato de saber que a garota lutaria quando fosse necessário, mas não conseguia tirar seus olhos da Gleeful, que depois de muito atirar, parou, respirando fundo e deixando a pistola cair.

E foi nisso que ele soube que era hora de deixa - la sozinha. 

Quando Gideon deixou os laboratórios, pode sentir o cheiro de vômito tomando conta de seus sentidos. Com nojo, ele pegou o vaso de plantas que Pacífica havia usado e o levou para fora. Mabel não iria notar um vaso à menos, e ele estava sem paciência para limpar mais alguma coisa. 

É claro que o fato de ela não ter sentido o cheiro o preocupou. Uma pessoa tão perfeccionista, que sempre se irritava quando a casa estava suja, não ter notado vômito... algo estava errado. Agora ela não só parecia doente, como nem mais sentia os cheiros. Isso não era bom. Nada bom.  E Gideon sabia.

Quando despejou o vaso no quintal, perto da lixeira, torcendo para que a coleta de lixo levasse o objeto para ele não ter que limpa - lo depois, viu uma sombra ao longe se aproximando.

Um homem, de cabelos grisalhos e vista cansada, de roupas surradas e camisa preta, com uma grossa linha branca no colarinho, vinha na direção da mansão. Em suas mãos ele carregava um pacote, e à cada cinco segundos ajeitava os óculos meia lua que insistiam em cair até a ponta de seu longo nariz. Definitivamente não era uma figura estranha para Gideon. 

Assim que chegou à frente do garoto, o pastor Hampkins deixou um pequeno sorriso escapar.

-Morando com os Gleeful, Pines?- Ele perguntou, como se fossem antigos amigos. De certa forma eram em parte. Desde pequeno, Gi frequentava sua igreja, então podia dizer que conhecia o pastor minimamente.

-Só por um tempo. Dando muitas missas?

-Nem tantas. Alguns dias vem muitas pessoas, outros não vem ninguém. Desde que aquele demônio causou tantos incêndios a cidade está um caos.-Admitiu. -Mas não é por isso que vim. Mabel está?

Gideon encarou a entrada da mansão. Talvez fosse bom a garota ver um rosto familiar, mas seria melhor que ela tivesse um tempo sozinha. Com esse pensamento na cabeça, ele se virou para o pastor.

-Agora não é uma boa hora, talvez depois você consiga falar com ela.

-Ah, entendo. -Disse, um tanto cabisbaixo. -Pode entregar algo a ela então? Por favor.

-Claro.

O velho ajustou seus óculos mais uma vez e tirou um embrulho de uma bolsa. Era algo grande, enrolado em jornal e um tanto pesado.

-Grenda pediu que eu entregasse isso para ela caso algo acontecesse.

Gideon pegou o pacote e o analisou por alguns segundos. Se não era para ele, não iria abrir. Ele então voltou a olhar o homem, que parecia abalado, como se soubesse que algo iria acontecer.

-Eu vou entregar pra ela quando puder. 

-Obrigado.-Pastor Hampkins disse. -Agora se me dá licença, eu tenho que comprar comida para uma criança. -E então se virou de volta para a estrada e começou a andar, quase sumindo da vista em uma curva quando Gideon gritou.

-O que tem no pacote?

O pastor sorriu. Um sorriso sincero e calmo. 

-Nem eu sei.

E então desapareceu no horizonte.


"Você era filho da mãe natureza,
Alguém com quem eu podia me identificar.
Sua agulha e o seu dano causado,
Permanecem em uma espécie de reviravolta do destino."


Seu merda.

Eu preciso de você aqui.

Eu sei que deve ser difícil a Paci saber que é sua mãe, mas isso não te dá o direito de sumir agora.

Idiota.

Sabe o quanto você importa?

Isso mesmo, nada.

Mas por algum motivo eu preciso de você aqui.

Eu...

Eu não quero ter que aceitar tudo isso e dizer adeus.

Só volte. Por favor.

Por mim.

Se tivessem pedido para ela se imaginar com dezoito anos, ela nunca teria pensado que estaria assim, chorando em um laboratório, com maquiagem escorrendo pelo seu rosto e tentando desesperadamente falar com um demônio. E um demônio que ela no fundo, mesmo que nunca fosse admitir, ela amava, mesmo que só um pouco.

Sentia como se tivesse sido arruinada. Antes ela conseguiria se concentrar, conseguiria achar uma solução. Mas agora não tinha forças nem para aceitar a confusão em que estava. Não sem Will.

Já ia quebrar mais alguma coisa quando ouviu algumas batidas na porta. 

Limpando seu rosto e respirando fundo, ela botou aquela máscara mais uma vez. Ela fingiu estar bem. Fingiu não se importar. Fingiu ser a pessoa que ela precisava ser.

-Entre. -Disse, simplesmente.

Gideon abriu a porta com cuidado, olhando o estado do laboratório e tentando ignorar a quantidade de coisas quebradas ou cheias de buracos de bala.

-O pastor Hampkins passou aqui hoje. Ele deixou uma coisa pra você. Um embrulho.

-Abra.

Engolindo seco, Gideon fez o que lhe foi ordenado, cuidadosamente desenrolando o pacote. Quase sem fôlego, ele arregalou os olhos.

-É-é... É o...

-O...?-Mabel perguntou. Por estar de costas para a porta, não conseguia ver o que estava nas mãos do garoto.

-Diário.

A palavra pareceu ecoar na mansão. Até mesmo Dipper, trancado no seu quarto, e Pacífica, que mandava mensagens para Will pela quinquagésima vez, puderam sentir que algo havia acontecido. 

Mabel se virou em um giro de meio segundo, encarando o diário empoeirado e constatando que era sim o que eles estavam procurando.

-Tem uma carta. Abra....- Ela disse, impaciente.  -Vamos logo, abra!

Com medo de ser alvo de algum ataque de fúria, Gi fez o que ela disse. E começou a dizer.

"Minha mais do que querida Mabel,

A que ponto chegamos?

Nos afastamos tantas vezes, nos reaproximamos muitas outras. Parece um ciclo vicioso, não?

Mas eu sei que você não liga para isso.

Você nunca ligou. Você nunca viu algo mais em mim.

Deve ter sido por isso que eu guardei esse diário por tanto tempo. Por que eu sabia que no momento em que você pusesse as mãos nele você iria me deixar. E controlar isso sempre foi o único poder que eu tive.

Eu mal consigo imaginar o quanto você deve me odiar agora por ter escondido isso por tanto tempo. Sim, Marius tinha o diário o tempo todo. Mas como ele nunca o olhava, eu o peguei para mim.

Se você está lendo isso, então eu morri.

Esta seria a única forma de eu abrir mão da única coisa que prendia você à mim.

E se você está lendo isso, então você provavelmente sabe que eu te amo.

Não... eu te adoro.

Te adoro mais do que eu adoro o meu próprio Deus.

Onde já se viu, alguém que literalmente fugiu de casa para morar com um homem mais velho na verdade ser apaixonada pela melhor amiga? Mal faz sentido. Mas é o que aconteceu.

E se eu realmente morri, então por favor, fuja. Se salve. Use este diário para sobreviver.

Prove que não é tarde demais. Por que não pode ser.

Da pessoa que te comprou o seu conjunto de facas favorito, mesmo tendo que ter matado um cara para o conseguir,

Grenda."


"Agora estou tentando acordar você,
Para te tirar do céu líquido,
Pois caso não o faça nós vamos acabar,
Com só as suas músicas de dizer adeus."


O pastor Hampkins estava sentando em sua poltrona favorita, dando mamadeira à criança que foi deixada em sua porta, quando ouviu o barulho das sirenes. Em segundos viu sua porta ser derrubada e Marius entrar, furioso, mirando uma pistola para sua cabeça, sendo seguido por outros dois policiais.

-Onde está o diário? -Ele gritou.

-Abaixe a arma, Marius. Não está comigo. - Ele disse, colocando o bebê em um berço para o proteger.

-Seja honesto comigo, velho! Grenda deu ele pra você, não deu? Ela realmente me traiu assim?

Ele parecia outra pessoa. Não era o policial de sempre, era um homem descontrolado e furioso, marcado pela perda e pela dor, que faria de tudo para conseguir vingar aqueles que perdeu.

-Eu já disse que não está comigo. Se acalme, por favor. -O velho se levantou, tremendo de medo, recitando mentalmente a Ave Maria quantas vezes conseguisse.

-Onde está o diário?!

Seu rosto ficava cada vez mais vermelho, e o homem que babava enquanto gritava, estava muito mais para uma besta do que para um humano.

-Não está aqui!

-Ela realmente me traiu assim?- As mãos de Marius começaram a tremer. E mal percebendo ele atirou no pé de seu ex sogro. -Me responda, seu verme.

Brian Hampkins soltou um uivo de dor, caindo no chão e começando a chorar. O bebê gritou ainda mais alto, chorando sem entander o que acontecia.

-Ela era uma boa pessoa... eu juro... ela fez o que achava certo... -Ele disse, como se estivesse implorando por sua vida. E de fato ele estava.

-Ela. Me. Traiu. Assim?!- Perguntou mais uma vez, atirando dessa vez no ombro, enquanto lágrimas pingavam de seu rosto assim como o sangue escorria do pastor que agonizava na sua frente. A cada tiro o bebê gritava mais.

Gritando, o velho tentou se impedir, mas as palavras pareciam se forçar para fora de sua boca. Era tarde demais.

-Ela nunca te amou! Ela te traiu sim e me deu o diário! Você tirou a minha filha de mim mas ela nunc-

Ele nunca chegou a terminar aquela frase, pois uma bala atravessou seu crânio antes disso.

Marius encarou a poça de sangue, seu corpo todo tremendo enquanto o carpete se manchava de carmesim. Não queria ter feito aquilo. Ele não queria matar ninguém que não fosse quem Grenda e seu pai. Ele não queria ser um monstro como quem destruiu sua vida.

Chorando, ele caiu de joelhos, derrubando a sua arma, enquanto seus companheiros de trabalho o olhavam, imóveis.

Era tarde demais para ser um mocinho, agora só lhe restava uma alternativa...

Terminar o que deveria ter feito muito antes.

Limpando suas lágrimas e ignorando os gritos da criança, ele se levantou, murmurando:

-Chame todos os oficiais para a delegacia... Vamos precisar de toda a ajuda possível.

Agora era ou morrer em silêncio, ou matar por vingança. E ele preferia a segunda opção.


"Uma música para dizer adeus."


A mansão inteira tremeu. Mesmo abalados com seus próprios problemas, Dipper e Pacífica desceram as escadas correndo, chegando rapidamente nos laboratórios.

-O que houve?- Os dois perguntaram em uníssono assim que chegaram na sala de onde vinham os tremores.

Lá, Mabel estava com os três diários lado a lado, tremendo e fazendo toda a casa se mover junto dela. Suas lágrimas caiam rapidamente, assim como as de Dipper quando viu o que estava acontecendo.

-C-como...? -Ele perguntou, se ajoelhando ao lado dela.

-Grenda. -Mabel sussurrou, ao mesmo tempo que Pacífica andou até Gideon, agarrando a sua mão com toda a força que tinha. -Grenda estava com ele o tempo todo.

-Agora podemos...?

"Sim." Uma voz familiar sussurrou, atrás de Mabel, colocando uma mão em seu ombro.

Will estava de volta.


"Antes de nossa inocência ser perdida,
Você sempre foi um daqueles,
Abençoados com o 7 da sorte,
E a voz que me fez chorar."



Notas Finais


Muito obrigada por terem lido até aqui e por não terem desistido da história durante essa pausa imensa.
Espero que tenham gostado do capitulo, eu tentei fazer ele ficar bom, mas ficou meio difícil pq eu tava passando mt mal essa semana.
O próximo cap deve sair logo.
Novamente, muito obrigada 💙


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