Os olhos do garoto através do espelho são mais aprofundados nessa escuridão que o corrói, escondem mais segredos do que deveriam.
Essa escuridão que vejo se espalha para seus lábios entreabertos, que parecem sentir a necessidade de derramar as palavras pelo seu queixo, decorar o piso com as verdades nunca ditas.
Porém as palavras não saem. Sua realidade não condiz com a franqueza tão almejada por seu coração partido.
Mas para quem se destinam suas mentiras? Para os ouvidos alheios ou para si mesmo?
O garoto do outro lado do espelho não é a mesma pessoa que eu. A alma que vejo não mostra a alma que sou.
Porque, verdadeiramente, não quero esconder aquele segredo. Não quero esconder o segredo de que aquela pessoa que vejo no meu reflexo não existe.
Por mais que o espelho diga o contrário, há uma mulher guerreando com meu corpo para tentar provar sua existência.
No espelho, há uma infância perdida, uma adolescência confusa e uma mentira.
Uma vida foi desperdiçada. Uma vida que se destrói cada vez mais que digo que um dia serei um homem.
E a única verdade que insiste em não sair dos meus lábios é que sou uma mulher.
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