História Mermaid - Larry Stylinson - Mais do que eu posso pedir

Não dei muitas informações para Liam e eu nem poderia, telefones eram perigosos. Apenas disse que era uma emergência, que eu sabia que ele tinha suas próprias obrigações, mas que eu precisava muito de sua ajuda. Era um caso de vida ou morte.

Talvez, só talvez, eu tenha o deixado desesperado, mas não me culpava, era realmente um caso de vida ou morte e eu precisava dele. Além disso, eu jurei para mim mesmo que o recompensaria de alguma forma, eu ainda não sabia como, mas iria.

Ele pegou o primeiro voo para cá e me mandava mensagens a cada escala. Liam estava achando que o problema era comigo e por mais que eu dissesse que estava relativamente bem, eu sabia que ele não sossegaria até me ver.

Eu lhe dei o endereço do píer, mas ele só pareceu perceber quando saiu do táxi com a mala e um rosto totalmente confuso e preocupado. Assim que me viu, pareceu mais aliviado e me puxou para um abraço forte.

– Droga! – Reclamei rindo. – Você está me esmagando. – Finalmente me soltou.

– O que houve? Você está bem? – Segurou meus braços e me olhou procurando algo errado.

– Li, eu tenho muito o que te contar, mas só para adiantar, eu estou muito bem e... vou ser pai.

– O quê?! – Ele me olhou chocado. – Mas você não era gay? Não estava namorando um garoto? O que aconteceu?

– Eu tenho que te levar a um lugar. – Coloquei a mão em seu ombro e o levei até o barco de James.

Liam ficou totalmente surpreso e até preocupado quando descobriu que ali era minha casa, para todos os efeitos. Mas no fim, ele e James acabaram se dando bem. Deixamos sua mala em um canto e dei as coordenadas a James. Eu os levaria até a ilha, precisava contar tudo aos dois, pois precisava do máximo de ajuda possível.

Eles pareciam completamente chocados quando viram o local e eu não os culpava, era mesmo o lugar mais lindo que eu já havia visto na vida.

– Que ilha é essa? – Liam perguntou chocado.

– Eu nunca a vi na vida. – James completou. – É deslumbrante!

– Ainda está sem nome, mas quem sabe não possamos colocar um nome? – Ri.

Mentiria se dissesse que não estava nervoso, eu confiava em James e mais ainda em Liam, mas, involuntariamente, as palavras de Harry contando a lenda pareciam gritar em minha mente. Eu sentia como se meu destino e de Harry tivessem intimamente ligados a essa lenda e isso me incomodava profundamente.

– Ei, é o seu namorado. – Liam disse animado assim que entrou na clareira. Sorriu e acenou para Harry, que nos esperava no lago e acenou tímido para meu amigo.

– Ele não sabe, não é? – James perguntou baixinho para mim e eu neguei com a cabeça. Agora as coisas começavam a complicar.

James havia visto Harry e Niall de perto, havia os visto nadando, além do mais, ele era um morador local que viveu no mar a vida toda, ele tinha a mente muito mais aberta para a mitologia, tanto que deu o nome de Argo para seu barco.

Liam era um cientista totalmente racional e descrente, as coisas não seriam tão fáceis assim.

– Liam, esse é Harry, como você disse, meu namorado. – Me aproximei do lago. – Amor, vou ter que tirar você daí, ok? – Harry sorriu e assentiu para mim, dando-me permissão. Assim que comecei a tirá-lo, vi a expressão de Liam se tornar preocupada.

– Louis, eu não acredito que faz seu namorado se vestir assim... – Disse incrédulo. – Isso é doentio!

– Eu tenho uma longa história para te contar, mas sei que não vai acreditar em uma palavra se não comprovar por si mesmo. – Voltei a olhar para Harry. – Amor, você pode deixar que Liam toque sua cauda? – O tritão corou. – Juro que vai ser rápido e que é muito necessário, caso contrário eu jamais deixaria. – Sorri para ele que assentiu. Peguei a mão de Liam e a aproximei de Harry.

– Louis, isso é realmente doentio e eu acho que... – Calou-se totalmente quando tocou a ponta da cauda de Harry.

– Eu disse que havia visto uma sereia quando criança e acreditei nisso até o fim. Acontece que eu não vi uma sereia, vi um pequeno tritão, vi Harry. – Troquei a mão dele de lugar, levando até a exata divisão entre seu corpo humano e sua cauda.

– Não e possível... – Liam disse para si mesmo, afastando a mão rápido. – Isso é algum tipo de brincadeira de mau gosto? – Ele parecia completamente transtornado e eu não podia julgá-lo, eu tinha acabado de destruir sua mente. – É um sonho? Nós paramos de fumar maconha há muito tempo, não é? Deus, o que está acontecendo?

– Li, acalme-se. – Tentei.

Ele olhou para Harry de novo e aproximou-se, com a ponta do dedo cutucou a cauda de Harry.

– Ai. – O tritão riu e Liam o olhou em choque.

– Caramba, você é real! Eu devo estar muito louco.

– Harry é um tritão e não é o único. – Ele riu sem humor algum. – Há uma colônia de tritões para cada oceano, eles são criações de Poseidon para proteger a vida marinha, não aparecem para os humanos por determinação do próprio criador, eles têm medo do que os humanos podem fazer.

– Medo de nós? Poseidon? Louis, isso parece loucura demais até mesmo vindo de você.

– Olha, eu sei que parece chocante, cara. – James interveio. – Mas olha só para ele. – James apontou para Harry. – Olha para esse lugar. – Olhou ao redor. – Você não se sente bem aqui? Não sente bem em olhar para ele? Eu não sei se posso chamar de magia, mas gosto de pensar assim. Os humanos também não eram para existir, você, como cientista, sabe o quanto isso aqui era impróprio para nossa existência, mas olhe para nós, olhe para como somos perfeitos e funcionamos bem, olhe nosso planeta, o ar puro, as florestas, o mar, tudo também me parece feito por magia.

– Gosto dele. – Harry disse sorrindo e eu assenti concordando.

– Eu sei que estou pirando a sua mente, Li. E acredite, eu estou te metendo em uma enrascada, mas eu não faria isso se não tivesse escolha. Você é meu melhor amigo, meu irmão e eu realmente preciso da sua ajuda. – Ele suspirou diante da minha súplica.

– Ok, eu estou começando a pensar que enlouqueci de verdade, então, só me resta abraçar a loucura. Você precisa da minha ajuda em quê?

– Eu não sabia o que esperava quando vim para a Grécia, mas eu definitivamente não esperava o que aconteceu. – Comecei a história.

Contei-lhe sobre todas as ilhas que visitei, sobre como James salvou minha vida ao me aceitar como seu funcionário e me dar um lugar para ficar. Contei sobre o Argo, sobre como quase morri afogado e sobre o meu salvador misterioso, sendo interrompido por Harry, nesse momento, que reafirmou ser o momento mais desesperador de sua vida, e por James, que disse que quase enlouqueceu.

– Isso me lembra quando você me doou seu oxigênio porque eu tinha usado todo o meu durante a travessia daquela caverna, lembra? – Liam disse risonho.

– Quase morremos os dois dividindo aquele cilindro. – Rimos juntos e sozinhos, porque os outros dois nos olhavam incrédulos.

Liam alternava sua atenção entre minhas palavras e a cauda de Harry, que mexia-se sem parar. Tentei não ficar incomodado, porque eu sabia que ele ainda estava tentando digerir tudo e olhar para Harry fazia tudo ser real.

Relatei meu primeiro contato com Harry e talvez, apenas talvez, tenha soado apaixonado demais ao descrever seus olhos e sua voz, porque o tritão corou. Narrei cada encontro, cada contato e nossa primeira noite na ilha.

Harry lhe contou sobre as propriedades mágicas do lugar e muito alegre disse que teve pernas durante as noites de lua cheia e pode me amar, momento em que eu corei.

– Espere, você me disse que seria pai, não me diz que... – Liam arregalou os olhos e olhou diretamente para a barriga de Harry.

– Sim. – Disse calmo, como se não fosse algo extraordinário.

– Não! Não! Não! – Meu amigo levantou-se de abrupto. – Ok, eu já aceitei o fato dele ser um tritão, mas um tritão grávido? Não fode, Louis! – Ri.

– Como vocês descobriram? – James perguntou curioso.

– Poseidon me contou e contou ao líder de minha colônia, por isso estamos nessa situação. – Harry explicou.

– Poseidon te contou? – Liam levou as mãos aos cabelos. – Eu estou enlouquecendo.

- Li, você tem que começar a conceber que o que nós aprendemos no colégio e na faculdade não é uma verdade absoluta, que existe um mundo de realidades e mistérios entre nós, que não podem ser reveladas porque a maioria de nós não pode lidar com isso.

– Ah, jura? – Disse incrédulo. – Porque eu estou lidando muito bem com o fato de estarmos em uma ilha mágica feita por Afrodite e que você engravidou um tritão criado por Poseidon.

– Levando em consideração que eu estou ferrando todas as suas convicções, até que você está lidando bem. – Coloquei as mãos em seus ombros. – Você vai se acostumar com toda essa loucura e vai até deixar de ver isso como uma loucura. Por agora, deveria pensar que eu acabei de te mostrar uma das maiores descobertas biológicas da história.

Nós olhamos para trás e vimos Harry e James conversando animadamente sobre Poseidon, o trabalho de Harry e sobre o mar. James estava fascinado.

– Ele é mesmo um tritão, não é?

– Ele é.

– James tem razão, olhar para ele me faz sentir bem, como se realmente olhasse algo mágico e fora da minha realidade, mas ainda... – Suspirou.

– Cara, não fique secando meu garoto. – Revirei os olhos.

– Calma, eu posso ter aceitado o fato de que ele é um tritão, mas precisa de muito para que eu esteja habituado o suficiente com isso, imagina sentir algo por um tritão. É demais para mim.

– Pelo meu Harry, nunca vai acontecer. – Ele riu.

– Ciumento.

Voltamos a conversar e Harry contou a eles o que havia acontecido na colônia após a notícia de sua gravidez. Eu lhes contei sobre meu encontro com Desmond e sobre Niall.

– Niall é meu melhor amigo, ele é muito importante para mim. – Os olhos de Harry marejaram. – Eu não posso conviver com a ideia de que ele está passando por tudo isso por minha causa. Ele me ajudou e agora eu não vou poder fazer o mesmo. – Sua voz estava quebrada.

– Então, qual é o plano? – Liam perguntou e todos o olharam. – Foi pra isso que me chamou, não é?

– Sim. – Confirmei sorridente. Esse era meu melhor amigo, um cara de um coração enorme, sempre disposto a ajudar. – Temos só uma chance de resgatá-lo, amanhã à noite. Vocês querem fazer parte disso?

– Eu tenho um barco. – James ergueu o braço animado.

– Sinto que nasci para resgatar tritões. – Liam sorriu.

Passamos a próxima hora decidindo o que faríamos a seguir. Harry nos ajudou a situar o local e deduziu quem seriam os guardas mandados por Desmond. Ele não estava muito feliz por ficar na ilha enquanto nós iríamos salvar seu amigo, mas eu jamais iria arriscar desse jeito.

James e Harry estavam conversando e rindo, o homem havia pegado comida em seu barco e eles estavam se divertindo, trocando histórias sobre o mar como dois velhos pescadores.

– Me desculpa por ter te trazido para essa loucura. – Eu disse assim que cheguei ao lado de Liam, que caminhava na praia.

- Já sentiu uma areia mais macia do que essa? Ou uma água mais agradável? Ou uma brisa mais perfeita? – Ele riu quando a água bateu em seus pés. – Ainda parece loucura, mas eu não posso deixar de ver como tudo aqui é simplesmente perfeito e deslumbrante e, como você disse, como um biólogo, eu não posso simplesmente ignorar a existência de tudo isso. É a maior descoberta científica da minha vida e está entre as maiores da história!

– Sabe que não pode falar sobre isso com as pessoas, não é? – Senti a preocupação crescer em mim. – Nem sobre esse lugar, nem sobre os tritões, nem Harry e nem nenhum deles.

– Eu não sou idiota, Lou.

– Eu só estou preocupado. Sinto toda a responsabilidade pela vida dele e do meu bebê agora. Eles precisam de mim.

– Lou, você ficaria muito chateado se eu fizesse um exame de gravidez nele? Não me leve a mal, eu só estou muito chocado com isso. – Gargalhei. – Qual é, ele é um tritão, o que significa ser mágico e homem. – Disse risonho. – Isso não poderia ser possível.

– Eles não são divididos por gênero, então tanto dois tritões quanto duas sereias podem gerar bebês. – Expliquei. – Mas eu também pensei em fazer um exame, então tudo bem você também querer.

– Sabe, Lou... – Parou e olhou para a imensidão do mar a nossa frente. – Estou ansioso para encontrar esse tritão Niall. Acho que ver outro deles vai me fazer sentir melhor.

– Tenho certeza que vai adorar Niall. Ele é muito divertido. – Fiz uma pausa ao lembrar do tritão sorridente e curioso que conheci. – Espero que esteja bem.

– Eu também e espero que a essa hora amanhã, o tritão Niall já esteja a salvo conosco.

– Eu vou te recompensar por isso, eu prometo. – Liam me olhou e sorriu, fazendo seus olhos sumirem e dando aquela imagem fofa sobre o quão amável ele era.

– Você não precisa, sei que se eu estivesse em seu lugar, você seria a primeira pessoa pra quem eu ligaria. – Sorriu para mim. – Quando eu penso em um irmão, também penso em você.

– Mas nem posso imaginar o que Simon acha de alunos que abandonam as aula.

– Eu disse que era uma emergência familiar. – Ergueu os ombros.– Não menti. De qualquer forma, eu volto para lá depois de amanhã.

– Sim, sua família está cheia de tritões. – Brinquei e ele riu. – Você é quase um peixe mesmo.

– Sempre me gabei de minhas habilidades de mergulho. – Ergueu os ombros altivo.

– Isso é porque nunca viu Harry ou qualquer outro tritão mergulhando. – Sorri ao lembrar das vezes em que eu pude estar com Harry. – É magnífico! Eles sabem tanto sobre o oceano, Li. Sabem tanto sobre as espécies. Eu queria que pudesse ficar mais tempo e que pudéssemos ter a liberdade de aprender com ele e Niall. Seria mais enriquecedor do que qualquer grupo de pesquisa de qualquer biólogo do mundo.

– Tenho certeza que sim. – Liam sorriu. – Eu estou dividido, não sei se ficar aqui faria com que eu me sentisse lúcido e me acostumaria a ele ou se me sentiria ainda mais louco.

– Se você ficasse, ia acabar caindo de amores por toda essa história e por qualquer um deles e Deus sabe o quanto eu quero que seja Niall. – Ele gargalhou.

– Ei! – Exclamou surpreso, como se tivesse descoberto os números da loteria. – É a minha chance de encontrar minha sereia e irmos juntos ao Caribe! Harry não tem uma amiga?

– Não sei se o Caribe seria uma boa, aqui na ilha você tem as bênçãos da noite de lua cheia. – Pisquei.

– Tem razão, nada bom ter uma sereia e não poder fazer nada.

– Sobre a amiga, Harry não está em condições de ter muitos contatos, mas Niall está chegando por aí.

– Desculpa, bro, eu ainda gosto de peitos.

– Eu também amava peitos antes de conhecer o Harry. – Coloquei a mão em seu ombro. – Eles são literalmente abençoados por Afrodite e o gênero realmente não importa. – Ele riu. – Por falar nisso, Harry quer que você use protetores auriculares e não olhe para os guardas por muito tempo.

– Por quê? – Ergueu uma sobrancelha.

- Os tritões defendem as criaturas do oceano dos humanos, digamos que eles não gostam muito de nós, a voz e a aparência deles é feita para nos seduzir e posteriormente... – Fiz uma pausa, eu não queria usar a palavra errada e traumatizá-lo. – Algo não tão agradável acontece. – Uma ruga de preocupação surgiu em sua testa. – Só não se concentre muito neles ou escute o que tem a dizer.

– Você também tomará esses cuidados?

– Não exatamente, por alguma razão, o único tritão que me afeta é Harry. Mas James estará da mesma forma.

– Tudo bem, eu estou tão ansioso para ver mais deles que isso nem me assustou tanto quanto deveria.

– Vamos entrar, parar os guardas, pegar Niall e sair. Vai dar certo.

– Sim. Vai dar certo.

Fizemos uma pausa, apreciando a calmaria do mar e a última noite de lua crescente.

– Louis... – Me chamou. – Me desculpe por ter sido um babaca e não ter te defendido quando Simon o atacou.

– Tudo bem.

– Não, ele debochou de você por acreditar na existência deles e olha só para você agora. – Me olhou profundamente. – Me desculpe por também ter duvidado de você.

– Você não tem que pedir desculpas, você está aqui e vai me ajudar, isso já é mais do que eu poderia te pedir.