Ainda com os olhos fechados, senti meus lábios se erguem em um sorriso apaixonado. A alegria, naquele começo de dia, se fazia inevitável. Espreguicei-me na cama, abraçando o travesseiro que sobrava. Inspirei com vontade e senti o cheiro dele. O perfume amadeirado que enchia os pulmões junto ao cheirinho gostoso de pós-banho.
Um ano…, pensei, ao me levantar da cama.
Taehyung e eu estávamos completando um ano de namoro e pensar naquilo me fazia querer rir de incredulidade. Às vezes, por medo da seriedade de um namoro, eu temia que não conseguíssemos levar aquilo adiante. Mas, veja bem, estamos prestes a comemorar um ano juntos!
Meu celular começou a vibrar loucamente sobre minha cabeceira. Sorri ao ver quem me ligava.
“Alô?”
Ele iria surtar em três… dois… um!
“Yah! Meu bem, sou eu! Cadê o “Bom dia, amor da minha vida”?”
Rolei os olhos. Taehyung podia ser um grude no sapato quando queria.
“Mais dramático, impossível. Bom dia, amor!”
Ouviu-o rir ao fundo.
“Sabe que dia é hoje?”
Suspirei como quem está muito pensativo.
“Quarta-feira?”
“Ah, nem! Amor! Um ano! Nossa data!”
Ele dizia, ofendido. Taehyung conseguia ficar fofo até com raiva. Eu sempre adorava aquilo nele.
“ Eu sei, seu mimado! Calma! Você está muito eufórico!”
“ Impossível! Eu estou louco ‘pra te ver.”
“ Você me viu ontem a noite, Tae.
“Eu sinto sua falta o tempo todo. Dá licença.”
Não importava quanto tempo passasse, ele ainda continuava debochado e implicante.
“Tudo bem. Nos vemos na universidade. Tchau.”
“Tchau, pequena.”
***
Cheguei à cozinha e logo o aroma delicioso do café recém coado invadiu minhas narinas. Seokjin estava sentado à mesa, deslizando o dedo pela tela do IPod.
Deixei um beijo estalado em sua bochecha.
— Bom dia, Jiko! — sentei-me à sua frente.
— Bom dia! — ele sorriu, desviando a atenção do aparelho — Está animada hoje. Aniversário de namoro, não é?
Assenti, mordendo uma torrada cheia de geléia de laranja.
— Vamos sair para comemorar a noite com Lia e Yoonginnie. Você quer se juntar à nós? — ele se atentou às notificações do chat de conversar. Espiei ao esticar o pescoço e vi o contato da mulher que vinha arrancar suspiro do meu irmão.
— Não poderia ir, Maynie-ah. Tenho um compromisso. — explicou, erguendo o olhar à ela.
— Ah, entendo o porquê. — sorri, ladina — Esse compromisso se chama “Jennie”?— provoquei.
Ele enrubesceu como um tomate maduro.
— Ei! Pare com isso. Coma logo... ou vai acabar se atrasando. — desconversou, envergonhado, fazendo-me rir.
— Espero que dê tudo certo entre vocês, Jiko-ah! — lhe dei um beijo na bochecha e corri para fora da cozinha antes que ele conseguisse me acertar com uma uva roxa.
***
Ao chegar à universidade encontrei Lia e Yoongi conversando, porém estranhei o fato de que Taehyung não estar com eles. Os três sempre me esperavam na entrada. Sempre.
— Bom dia! — disse, me referindo aos dois.
— Bom dia, unnie! — Lia me deu um abraço apertado e Yoongi sorriu.
— Hmm... Cadê o Tae? — perguntei, correndo os olhos ao redor.
Lia colocou um bico emburrado nos lábios pequenos. Yoongi franziu o cenho.
— Aah... — percebi a frustração na voz de Lia — Está na sala. — a analisei, desconfiada.
— Por que essa cara? — questionei a mais nova.
— Ele está estranho, triste e... até um pouco irritado. Não quis me contar — ouvir aquilo me deixou ainda mais confusa.
Ele estava feliz e como, do nada, iria ficar mal? Estranho, pensei.
Yoongi parecia pensativo.
— Tae não está muito bem, May. — Yoon se pronunciou, preocupado.
Antes que eu pudesse perguntar se ele sabia de algo, o sinal chamou nossa atenção, nos fazendo ir para a sala.
Ao adentrar nossa sala, o vi sentado no canto, quieto. Quieto demais.
— Meu bem? — ele continuou encarando a janela — Tae? — chamei o mesmo novamente, tocando seu ombro.
Como se tivesse despertado de um pesadelo horrível, ele saltou da carteira. Os olhos arregalados procuravam algo.
— A-aah... Oi — gaguejou, nervoso.
— ‘Tá tudo bem? Tem algo te preocupando, te incomodando? — repentinamente, seu olhar parou em mim, tão desesperado a ponto de gritar por ajuda.
Ele abriu, lentamente, a boca pronto para falar o motivo de tanta estranheza, porém seus olhos desviaram por um mísero segundo e ele emudeceu os lábios. Corri os olhos pela sala, procurando o quê teria feito o mais velho se calar.
— Não é nada. Estou bem. — respondeu, ríspido. Travou o maxilar e apertou a caneta nas mãos.
— Tem certeza? Você está nervoso… — disse, tocando seu rosto, porém ele se esquivou.
— Já disse que estou bem.
Aquele gesto nada comum dele, me chateou e me deixou muito preocupada. Tentei mudar de assunto. Conversaria sobre quando não estivesse em sala de aula.
— Então, eu pensei que o Hamtaro Gust seria um bom lugar para comemorarmos… Se você concordar, é claro. — já não estava tão certa de que ele quisesse qualquer coisa àquele dia.
— May, deixa isso pra lá. É um dia como qualquer outro. — aquelas palavras proferidas com tamanho desprezo e desinteresse, me machucaram profundamente. Eu não sabia o porquê de ele estar triste ou irritado, mas eu não tinha que servir de saco de pancada. Aquilo me magoou.
— Tae…
— Bom dia, alunos — o professor irrompeu pela porta, fazendo com que eu me calasse. Antes de voltar ao meu lugar, olhei-o com desgosto.
Fiquei tão chateada e preocupada com a situação que não percebi quando chegou o horário da pausa, nem que todos já haviam saído.
— May, você vem? — me virei na direção da mais nova. Lia me esperava com uma sobrancelha arqueada.
— Hum. — assenti, indo até ela e pude notar que Tae não estava mais ali.
Sentei-me em uma das mesas do refeitório junto com Lia e Yoongi. Taehyung chegou em seguida e fez questão de sentar longe de minha, na ponta da mesa. Yoon percebeu o "climão" que se instalou ali e puxou Lia para outro lugar. Observei-o por alguns segundos, até ter coragem de falar. Levantei do meu lugar e fui para perto dele.
— Tae, o que aconteceu ‘pra você ficar assim? — tentei soar o mais acolhedora e paciente possível. Ao perceber sua relutância em me responder, toquei seu ombro — Fala comigo, por favor.
— Não aconteceu nada. Me deixa! — respondeu com rispidez.
Aquilo me feriu. Ele nunca havia me tratado daquele jeito.
— Taehyung, eu não ‘tô entendendo. Hoje mais cedo você estava feliz, cheio de planos e, agora, está sendo um idiota. O que aconteceu ‘pra você ficar assim? — indaguei-o.
— Não aconteceu nada, ‘tá legal?! — seu tom de voz, me fez recuar — Só… não vejo necessidade de comemorar, só isso. — meus olhos marejaram e meu peito doeu.
Comprimi os lábios, furiosa. Ele só podia estar tirando uma com a minha cara.
— ‘Tava tudo bem. Você me ligou, feliz. E, do nada, você aparece assim? Me tratando mal? Colocando nosso dia como algo insignificante? O que deu em você? — questionei sem desviar os olhos dos dele.
Os lumes dele estavam avermelhados como se fosse começar a chorar. Fiquei mais brava ainda. Fiz questão de que aquela discussão não saísse do controle e nem chamasse a atenção de ninguém.
— Taehyung, eu não quero olhar ‘pra sua cara hoje.
Após isso, passei o resto do dia evitando-o, sem sequer lhe olhar. Ele tinha estragado o dia. Tinha ferrado com tudo. Além de tudo isso, estava escondendo algo de mim.
***
Cheguei a minha casa e dei graças aos céus por Jin não ter chegado. Joguei minha mochila no sofá, sentando-me no mesmo, arfando, exausta e com raiva. Não demorou muito até que alguém tocasse a campainha. Olhei através do olho mágico.
Abri a porta.
— Eu disse que não quero te ver hoje. Vê se me erra, Taehyung. — disse ao tentar mandá-lo embora.
— May-
— Vai embora — tentei fechar a porta, porém ele era mais forte do que eu e acabou entrando contra a minha vontade. Respirei fundo, tentando manter a calma — O que você quer? — sem mais nem menos ele me empurrou contra a parede e atacou os meus lábios.
Era um beijo violento e desesperado. Um beijo cheio de urgência. Fiquei com mais raiva ainda e o empurrei para longe de mim. Ele não podia tentar resolver as coisas daquele jeito.
—Não, Taehyung! Um beijo não vai consertar o que você fez! Suas palavras me machucaram muito! Como pôde ser tão babaca?! — esbravejei com os olhos cheios d'água. Nada respondeu, apenas chorou em silêncio. Aquilo me deixou furiosa — Ótimo! Agora, você chora? — ri soprado, sarcástica — Você faz a merda e depois chora?! Olha ‘pra mim — disse, tentando retomar a calma — Olha ‘pra mim. — pedi, mostrando que eu queria conversar e resolver as coisas. Lentamente, ele ergueu o olhar para mim.
— May, eu... eu... — emudeceu os lábios e pôs-se a chorar copiosamente.
O que diabos estava havendo?, pensei.
— Taehyung, tem noção do quanto suas palavras me magoaram? Saber que o nosso dia não significa grande coisa... Não se fala uma coisa dessas! — enfim deixei as lágrimas rolarem.
— May-
— Olha, eu… — hesitei — Eu preciso de um tempo. — seus olhos demonstraram um desespero que eu nunca tinha visto.
— May, não... — pediu em suplício, negando veementemente.
— Taehyung, você me magoou muito. Fingir que nada aconteceu não vai ajudar. Me deixa pensar um pouco, por favor. —
— Amor, não. Por favor, não faz isso. — disse, chorando em puro desespero.
— Eu não ‘tô terminando com você, okay? Eu só preciso pensar um pouco. Me deixa pensar. disse, dando-lhe as costas.
Quando ouvi a porta ser fechada, me encolhi no sofá, abraçada aos joelhos.
Um tempo depois ouvi o trinco da porta e Jin irrompeu pela mesma, logo se espantando comigo.
— Pequena, o que houve? — disse, largando o blazer e a maleta com pressa para me envolver em seu abraço.
Afundei o rosto em seu peito, puxando o tecido de sua camisa para mim. O cheiro familiar dele me acalmava.
— Tae e eu brigamos. — falei entre soluços e lágrimas que inundavam minha face, me impedindo de enxergar o oppa.
— Calma, meu amor. Vai ficar tudo bem. — disse, afagando meus cabelos.
— Por que ele foi tão idiota? E por que logo no nosso dia?! — disse, erguendo o olhar para o mais velho.
— Eu realmente não sei — percebi a frustração em sua voz — Mas eu estou com você... sempre.
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